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Liga Ouro

"10 e faixa"do Timão

14-06-2018 | 07:20
Por Douglas Carraretto

Capitão do Corinthians, Gustavinho assume "lado torcedor", explica camisa 10 e vira "embaixador" do clube na luta pelo acesso ao NBB CAIXA

Gustavinho: capitão e camisa 10 do basquete do Corinthians (Ale da Costa/Portrait Imagens)

Sabe aquele cara de “responsa”? Aquele craque, líder, figura de respeito dentro de um certo ambiente? Pois bem, na linguagem contemporânea de jovens e torcedores de futebol em geral, esse é o “10 e faixa”. E no time de basquete do Corinthians que disputa a Liga Ouro 2018, esse cara é Gustavinho Lima.

Experiente, líder, torcedor do Timão e capitão. As características batem perfeitamente. Não é à toa que a camisa 10 caiu perfeitamente nas costas dele. De quebra, Gustavinho é armador, que em uma comparação com o futebol, é como aquele meio-campista clássico, ponta de lança, organizador, cabeça pensante, que geralmente carrega a camisa 10.

Agora, o armador de 32 anos tem a missão de liderar o Corinthians ao primeiro título de sua “nova história” no esporte da bola laranja. Será na decisão da Liga Ouro 2018, divisão de acesso ao NBB CAIXA, contra o São José Basketball.

O primeiro compromisso dessa grande final, que será decidida em uma melhor de cinco jogos, está marcado para este sábado (16/06), no Ginásio Wlamir Marques, no Parque São Jorge, às 20h30.

Em entrevista exclusiva ao site da LNB, Gustavinho Lima falou sobre diversos assuntos, como sua identidade com o clube, a mística da camisa 10 do Timão, o grupo de trabalho que encontrou na equipe e, é claro, sobre a grande decisão contra o São José.

Sangue corintiano

Vestir o manto corintiano e defender o clube com toda a raça possível não foi tarefa nada difícil para Gustavinho, que se revelou torcedor assíduo do Timão. Frequenta estádios, adora a torcida e tem total identidade com o clube.

“Não é segredo para ninguém que é um sonho de criança vestir o manto alvinegro. Nos primeiros dias que fui assinar o contrato eu estava deslumbrado, falando com os diretores, fiquei admirando o clube, os troféus, as estátuas, o memorial. Sou um torcedor assíduo, frequento estádio, e isso foi uma identidade muito grande logo de cara, por isso é uma honra defender esse clube”, disse o armador.

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Quem acompanha o dia-a-dia do Corinthians ou então de Gustavinho vê que o atleta é um dos mais engajados com a torcida e com o clube. Isso inclui postagens nas redes sociais, postura em quadra e contato bastante próximo com os torcedores.

Carisma não falta ao capitão e camisa 10 do Timão. Basta acabar o jogo e correr para os braços da massa corintiana. Por isso, ele vem se firmando cada vez mais como um dos grandes ícones dessa nova fase do basquete alvinegro.

“Além de torcedor, sou um apaixonado pelo basquete, e a volta do Corinthians foi algo que me motivou ainda mais. É sensacional para o basquete brasileiro. O Corinthians é um time de uma tradição enorme, de camisa e tem uma torcida apaixonada, que no basquete compareceu em peso. A torcida compareceu em todos os jogos, tanto em casa quanto fora, em todas as cidades que jogamos, Campina Grande, Macaé, Londrina, Brusque e Blumenau, Brasília, todas. É uma paixão que com certeza fez a diferença para nós”, contou Gustavinho.

“10 e faixa”

Pode se dizer que Gustavinho “ousou” ao escolher a camisa 10 para estampar seu uniforme. Como dito no início do texto, o “10 e faixa” é aquele cara de responsabilidade, bom de bola, que merece máximo respeito pelas coisas que faz – em uma linguagem mais comum no futebol, é claro.

No entanto, a decisão de pegar a #10 promoveu uma mudança um tanto quanto “drástica” na carreira de Gustavinho Lima. Antes de ir para o Corinthians, ele sempre usou a camisa 4. Era como uma marca registrada. Era Gustavinho #4 para lá e para cá, em todos os clubes que jogou.

4 dias pro Nbb ♣ 4 jogos em casa ♣ 4/11 o 1° jogo no Caldeirão ♣ 4 temporadas no Mogi

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Mas, por motivos de força maior, esse “xodó” do jogador cedeu lugar à mística camisa 10 do Corinthians, que na história do futebol já foi usada por mitos como Rivellino, Neto, Edilson “Capetinha” e Carlitos Tevez. Hoje, pertence ao meia Jadson.

“Não bastasse a grande honra jogar no Corinthians, ainda consegui pegar a camisa 10. A camisa 4 era meu xodó, mas apesar de todo o carinho por esse número, aqui no Corinthians sempre teve essa mística da camisa 10. Muita gente fala ‘pega a 10 e a faixa’. Peguei a 10 e ainda acabei sendo o capitão do time”, disse o ex-camisa 4, que revelou outro motivo para a escolha do número.

“Outro motivo para eu pegar a camisa 10 foi o Eduardo Agra, hoje comentarista da ESPN. Ele fez história no Corinthians usando a camisa 10. Temos uma relação muito boa, conversamos muito sobre basquete, táticas, e também sobre cultura, como filmes e livros. Ele acabou sendo um mentor na minha decisão de fechar com o Corinthians, então essa minha escolha também foi uma homenagem a essa figura de respeito que é o Agra”, completou.

Sobre ser o capitão, ou então, o dono da “faixa” do Corinthians, Gustavinho afirmou que foi uma consequência natural gerada pelo próprio grupo e agradeceu pela oportunidade.

“O capitão, muitas vezes, é o grupo que escolhe. O grupo confia em um certo perfil de liderança, e aqui foi assim comigo. Não tenho nenhuma vaidade, divido tudo com os companheiros de time, tenho uma ótima relação com o Bruno (Savignani, técnico) e toda a comissão. O grupo confia em mim e eu confio muito neles, por isso é muito legal ter a faixa do Coringão”, concluiu Gustavinho.

Embaixador do Timão

Não é a primeira vez que Gustavinho abraça um projeto no início e o leva a um patamar mais alto. Em 2012, o Mogi das Cruzes (SP), tradicional equipe nos anos 80 e 90, ressurgia no basquete depois de quase uma década sem atividades profissionais na modalidade. E quem foi um de seus líderes? Ele mesmo.

Para a disputa da Supercopa Brasil, competição que daria a vaga no NBB CAIXA, Gustavinho, então ex-Pinheiros, era o armador titular da equipe e uma das grandes esperanças do acesso. E não deu outra. O time mogiano foi campeão do torneio, com direito a vitória sobre o Palmeiras na final, e conseguiu o acesso à elite do basquete nacional.

Sexto homem

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Gustavinho permaneceu no Mogi por mais três temporadas, virou ídolo máximo na cidade e ajudou o time a deixar de ser um mero “novato” para voltar a ser um gigante no cenário nacional. Com ele por lá, o time moigano foi à semifinal do NBB CAIXA 2013/2014 e conquistou o histórico vice-campeonato da Liga Sul-Americana 2014.

“Estou muito feliz por representar o Corinthians e ser como um embaixador nesse processo de volta do clube à elite do basquete brasileiro. Tive uma história parecida em Mogi, onde acreditamos em um projeto que estava recomeçando. Eu saí do Pinheiros e trilhamos o mesmo caminho. Em três, quatro anos, estávamos na final da Sul-Americana. Esse pode ser um dos caminhos do Corinthians nessa volta, pela magnitude, pelo tamanho da camisa. Não é só voltar à elite, é brigar por todos os títulos das competições que formos disputar”, disse o capitão do Timão.

Mais do que apenas retornar à elite do basquete brasileiro, Gustavinho viu no Corinthians uma oportunidade de recuperar o papel de protagonista na carreira que teve durante alguns anos em Mogi e também no Banrisul/Caxias Basquete, onde jogou na temporada 2015/2016. Logo na partida de estreia pelo Timão, fez a bola da vitória sobre a Unifacisa em plena Paraíba e iniciou sua nova caminhada com a “mão direita” (vídeo abaixo) .

🏀🎯😎 #VaiCorinthians

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Titular absoluto do Corinthians e homem de confiança do técnico Bruno Savigani, o armador de 32 anos é o líder em assistências não só da sua equipe, mas de toda a Liga Ouro 2018, com média de 4,1 servidas por partida. Além de melhor passador, o capitão tem média de 7,9 pontos por jogo – que não é um número alto, mas mostra o senso de coletividade predominante em seu jogo.

“Recuperar o protagonismo em um time da grandeza do Corinthians é sensacional. Tenho experiência de levar um time de volta à elite (Mogi) e conseguir com que esse time se consolidasse. Sinceramente, o basquete é questão de oportunidade, do técnico acreditar no seu perfil, no seu estilo de jogo. Sou dedicado, adoro treinar, estudar o jogo, gosto de ver basquete quando não estou jogando, então me sinto preparado. Foi bacana ter um técnico como o Bruno, que acreditou no meu estilo de jogo e liderança, e ainda me escolheu como capitão do time”, falou Gustavinho.

Democracia Corintiana 2018

Na década de 80, no período em que a Ditadura Militar tomava conta do Brasil, surgiu no time de futebol do Corinthians um dos maiores movimentos políticos da história do esporte: a Democracia Corintiana.

Liderado por jogadores como Sócrates, Casagrande e Wladimir, o movimento pregava que as decisões do clube, como contratações, liberdade de expressão política, regras de concentração e consumo de bebidas alcoólicas, eram tomadas em voto igualitário entre seus membros. Tudo isso contrariava, e muito, a falta de liberdade de expressão tão presente no período da Ditadura.

Já no caso do Corinthians que disputa a Liga Ouro 2018, não existe apelo político, mas o conceito é o mesmo. Como bem explicou Gustavinho, as decisões também são tomadas em conjunto por todos na equipe, algo raro não só no basquete, mas no esporte em geral.

“Na nossa equipe todas as decisões são tomadas em conjunto durante todo o campeonato. Eu até brinco falando que é a ‘Democracia Corintiana 2018’, parafraseando Dr. Sócrates, Casagrande e Wladimir. É claro que a palavra final é do técnico, mas tudo é decidido em conjunto, todos opinam, e isso é muito legal. Acredito que seja inédito e pouco usual no basquete brasileiro. Por isso eu digo que é muito legal fazer parte dessa família que é o Corinthians”, contou.

E a democracia não está presente só nas decisões extra-quadra, como treinos e coisas do tipo. Dentro das quatro linhas, essa coletividade é refletida na média de assistências do time na Liga Ouro 2018: 17,0 por jogo, a maior de todo o campeonato. Esse trabalho em equipe predominante, certamente, pode fazer a diferença na final contra o São José.

Agora é Final

Às vésperas do início da decisão da Liga Ouro 2018 contra o São José, Gustavinho Lima destacou o extremo equilíbrio entre as duas equipes. Não à toa, os dois times terminaram a fase de classificação com campanhas muito semelhantes: Corinthians com 14 vitórias em 16 partidas (líder), e São José com 12 vitórias em 16 partidas (vice-líder).

A diferença entre eles, querendo ou não, foram as duas vitórias alvinegras nos duelos diretos entre eles. No primeiro turno, em São José dos Campos (SP), o Timão venceu por 83 a 76, enquanto no returno, no Ginásio Wlamir Marques, o triunfo foi por 72 a 69, em duelo que definiu o primeiro lugar da primeira fase.

“É uma final muito equilibrada. São José é uma equipe experiente, conta com a melhor defesa do campeonato. Já o nosso time tem o melhor ataque. Será um duelo interessante, mas o diferencial será a intensidade. As duas equipes têm acesso a informações do outro, já jogamos duas vezes contra eles e estudamos bastante, mas acredito que a intensidade nesses cinco jogos decidirá quem será o campeão”, analisou Gustavinho.

Corinthians x São José, líder x vice-líder, melhor ataque x melhor defesa: quem levará a melhor? (Rodrigo Coca/Agência Coca)

Como Gustavinho citou acima, o Corinthians é dono do melhor ataque da Liga Ouro 2018, e de maneira disparada, com média de 81,1 pontos – o segundo colocado Macaé Basquete tem média de 74,5.

Mas, mesmo com esse número relevante ofensivamente, o camisa 10 preferiu destacar a defesa e a entrega do time, características marcantes do time que lutará pelo caneco da Liga Ouro 2018.

“Temos o melhor ataque da Liga Ouro, mas acredito que isso se deve à defesa, que, para mim, é nossa grande virtude. Uma coisa leva à outra. O Bruno Savignani, nosso técnico, foi preciso na montagem do elenco. Ele formou um time aguerrido e disposto a executar o plano dele, principalmente defensivamente. É um time que briga por todas as bolas e marca muito duro. Isso nos possibilita jogar em transição e fazer contra-ataques, que é a forma mais fácil de fazer cesta hoje em dia. Acredito que esse é o nosso algo a mais, que pode nos dar o título”, finalizou Gustavinho Lima.

Calendário da série

Jogo 1 – 16/06 (Sábado), às 20h30, no Ginásio Wlamir Marques, em São Paulo

Jogo 2 – 18/06 (Segunda-feira), às 20 horas, no Ginásio Wlamir Marques, em São Paulo

Jogo 3 – 20/06 (Quarta-feira), às 20 horas, no Ginásio Linneu Moura, em São José

Jogo 4* – 22/06 (Sexta-feira), às 20 horas, no Ginásio Linneu Moura, em São José

Jogo 5* – 24/06 (Domingo), às 18 horas, no Ginásio Wlamir Marques, em São Paulo

*Se necessário