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O efeito da dupla

29-05-2014 | 06:27
Por Liga Nacional de Basquete

Contratados no início da temporada, norte-americanos Holloway e Dawkins dão nova cara ao Paulistano e são umas das esperanças da equipe para a Final do NBB

Holloway e Dawkins, do Paulistano

Donos de um basquete ousado e envolvente, Holloway (à esq.) e Dawkins deram cara nova ao finalista Paulistano (Allan Conti/Divulgação)

Muitos fatores podem ser levados em consideração para que o Paulistano/Unimed conquistasse a histórica vaga na Final do NBB, tais como a organização do clube, união, disciplina tática da equipe, entre tantos outros. Mas um, ou melhor, dois deles, também foram fundamentais para a ida inédita à decisão do maior campeonato do país: os norte-americanos Holloway e Dawkins.

Cestinhas da equipe na atual temporada, com médias de 18,1 e 12,1 pontos por jogo, respectivamente, Desmond Holloway e Kenny Dawkins chegaram ao Paulistano no início da temporada após serem contratados junto à Liga Sorocabana, onde foram uma das “sensações” do NBB5 e chamaram a atenção do cenário nacional com suas atuações de encher os olhos.

Com isso, os dois despertaram o interesse de grandes equipes do basquete brasileiro, dentre elas, o Paulistano, que não perdeu tempo e tratou de contratar os gringos para a temporada 2013/2014. De chuá! Junto com a chegada de cinco novas caras – Mineiro, Pilar, César, Arthur Pecos e Arthurzão –, a dupla deu uma cara nova ao time, uma cara, talvez, mais ousada, veloz e eficaz, exatamente igual às características dos dois atletas nascidos nos Estados Unidos.

“Perdemos muitos jogadores em relação à temporada passada e precisávamos de outros que fossem referência ofensiva na equipe. Fomos buscar os dois na Liga Sorocabana justamente por suas condições de ataque, pontuação, velocidade, potencial ofensivo. Os dois são excelentes arremessadores, infiltram bem. A gente achou que combinariam com o elenco e felizmente eles encaixaram muito bem”, analisou o técnico do Paulistano, Gustavo De Conti.

“Os dois têm um potencial muito grande no jogo de um contra um, o isolamento, como falamos. O time do ano passado jogava muito de dupla, a bola andava mais, pois tínhamos o Elinho (do Minas) que fazia isso muito bem. Agora preciso explorar as características do que eu tenho. Criamos muitas situações de isolamento para eles, para o Pilar. Nosso jeito de jogar mudou muito por conta das contratações que fizemos”,  completou o treinador.

Holloway recebeu o troféu de cestinha das mãos do diretor de basquete do Paulistano, Silas Grassi (Divulgação)

Durante o Campeonato Paulista, Holloway recebeu o troféu de Cestinha do NBB5 (Divulgação)

O ala Desmond Holloway chegou ao Brasil na temporada passada, com 22 anos, para sua primeira experiência como atleta profissional – antes, ele só havia disputado torneios universitários nos Estados Unidos –. E logo em seu primeiro NBB, o jogador mostrou o basquete ousado e eficaz que encantou a todos e terminou o campeonato com o posto de cestinha, com a expressiva média de 20,3 pontos por jogo.

“Você pode querer chegar onde você quer, mas você tem que ir atrás para conseguir. De verdade? Não, eu realmente não esperava estar na Final. Eu sabia que tínhamos um bom time quando eu vim para o Paulistano, mas eu não sabia que chegaríamos na Final.Quem achava que chegaríamos à Final? Sempre achamos que iríamos bem, mas não sabíamos iríamos tão bem a esse ponto. Começamos em oitavo no ranking de equipes e terminamos em segundo. Isso em surpreendeu e eu estou muito feliz”, contou Desmond Holloway, que ainda é o reboteiro da equipe, com média de 5,1 rebotes por jogo.

Kenny Dawkins, do Paulistano

Pelo segundo ano consecutivo, Dawkins participou do Desafio de Habilidades do Jogo das Estrelas (Luiz Pires/LNB)

Já o baixinho armador Kenny Dawkins, de 1,80m, pousou em terras brasileiras no ano de 2011 para defender a Liga Sorocabana no processo de chegada à elite do basquete nacional, também em sua primeira experiência fora do basquete universitário norte-americano. Na temporada 2011/2012, assim como a equipe de Sorocaba, Kenny disputou seu primeiro NBB, sendo o destaque de seu time ao terminar o campeonato com média de 16,4 pontos por partida.

“Quando eu cheguei ao Brasil eu estava em Sorocaba e era um bom time, mas não tínhamos uma boa estrutura e as coisas acabaram não indo tão bem quanto eu esperava. Eu vim para o Brasil pensando em ganhar um campeonato. Quando eu cheguei ao Paulistano eu vi um time, joguei com um time, treinei com um time. Era diferente e eu tinha um sentimento bem positivo quanto a isso, mas eu não sabia que chegaríamos até a final do Paulista e então à do NBB. E, sabe, é tudo o que eu sempre sonhei para um campeonato e eu fiz isso duas vezes em um ano”, declarou Dawkins.

O bom trabalho feito pelos norte-americanos na agremiação sorocabana chamou a atenção do técnico Gustavo De Conti, que por filosofia e preferência pessoal, opta sempre por contratar estrangeiros que já tiverem alguma experiência no Brasil, para evitar problemas de adaptação com a língua, adversários, árbitros e etc. Tendo em vista que Holloway e Dawkins tinham extrema qualidade e ainda estavam bastante ambientados em terras brasileiras, o Paulistano fez a escolha pela dupla e acertou na mosca.

“Dificilmente você verá em um time meu um estrangeiro que não tenha passado pelo NBB. Todos os estrangeiros que passaram por aqui já haviam jogado o NBB. Para um estrangeiro chegar no Brasil e arrebentar tem que ser um cara que tem experiência em outras ligas e ter uma qualidade indiscutível, que é o caso do David Jackson (do Limeira, MVP do NBB6). O estrangeiro que cabe no nosso orçamento ele precisa já ter passado por alguma coisa aqui no Brasil, já conhecer o campeonato, os árbitros, os outros times, os ginásios, os jogadores, tudo. Então para não ter essa coisa de esperar uma temporada se adaptando e jogar só a segunda, eu prefiro pegar um que já conheça tudo”, contou Gustavinho.

Unidos dentro e fora de quadra: Holloway Dawkins seriam a melhor dupla do NBB6? (João Pires/LNB)

Unidos dentro e fora de quadra: Holloway e Dawkins formam a melhor dupla do NBB6? (João Pires/LNB)

No basquete e na maioria dos esportes coletivos, algumas duplas, trios, ou até quartetos se destacam e marcam história em suas equipes e nos campeonatos. Caso das lendárias duplas da NBA dos anos 80 e 90, Michael Jordan e Scottie Pippen no Chicago Bulls, John Stockton e Karl Malone no Utah Jazz, além de Kobe Bryant e Shaquille O’Neal nos Los Angeles Lakers entre 1999 e 2003. Também vale citar as mais atuais, como Kevin Durant e Russel Westbrook no Oklahoma City Thunder, LeBron James e Dwayne Wade, e o trio do San Antonio Spurs formado por Tony Parker, Manu Ginobili e Tim Duncan.

No NBB não é diferente. Duplas como Fúlvio e Murilo pelo São José entre NBB3 e NBB5, os norte-americanos Robert Day e Robby Collum no Uberlândia nas três últimas temporadas, Shamell e Joe Smith campeões da Liga das Américas 2013 pelo Pinheiros, e o “quarteto fantástico” do Brasília nas cinco primeiras edições do NBB, formado por Nezinho, Alex Garcia, Guilherme Giovannoni e Arthur, marcaram história no maior campeonato do Brasil. Mas agora, pilares da campanha finalista Paulistano no NBB6, Holloway e Dawkins entraram para esta seleta lista, algo, inclusive, conversado pelos dois gringos.

“Às vezes a gente sente e conversa sobre isso, sobre quais são as melhores duplas de americanos em uma equipe do NBB. Então, às vezes a gente senta e conversa sobre isso, mas quando estamos em quadra nós estamos jogando, apenas jogando. Não focamos em ‘somos a melhor dupla do NBB’. Estamos apenas jogando e acho que é isso o que nos separa dos outros jogadores. Quando estamos jogando nos divertimos. E quando o jogo acaba e vamos conversar, falamos sobre como as coisas aconteceram em quadra como estávamos planejando, os nossos instintos, como crescemos dando o nosso melhor, o que aprendemos do basquete como tradição, o que aprendemos de nossos técnicos e tudo isso”, disse Kenny Dawkins.

Para uma dupla obter sucesso não basta apenas ter talento e entrosamento. Além de terem uma química impressionante dentro de quadra, os dois são grandes amigos fora das quatro linhas, estão sempre juntos, como se fossem irmãos. “Irmão mais velho”, Dawkins, de 26 anos, trata Holloway como se fosse o caçula e usa de sua maior experiência no Brasil para orientar e ajudar seu maior parceiro.

“Conversamos muito, jogamos videogame, saímos para comer. Nós temos um bom relacionamento. Eu o trato como o meu irmão mais novo. Eu cuido dele quando ele se perde e não consegue encontrar o caminho do shopping. Aí ele me liga, pergunta para onde ir e me coloca para falar com o motorista. Eu o vejo como meu irmão mais novo e o ajudo porque ele chegou aqui assim como eu, não sabia nada, não conhecia ninguém, então eu quis ajuda-lo. Eu dou uma força com o português… ele não está muito afim de aprender português, mas eu o ajudo”, revelou o “irmão mais velho” Kenny Dawkins.

Dawkins, do Paulistano, e Shamell, do Pinheiros

Com 20 pontos cada, Dawkins e Holloway comandaram a bela vitória do Paulistano contra seu rival Pinheiros (João Pires/LNB)

Durante todo o campeonato , o Paulistano se destacou pela regularidade de seu grupo, de seu jogo em conjunto. Como o técnico Gustavo De Conti costuma dizer, cada um tem sua função e sua importância no time, desde o que vem do banco para defender, até o que joga de titular e é cestinha da equipe. A missão dos norte-americanos, no entanto, não se limita ao ataque, e sim, dos dois lados da quadra, ainda mais quando se trata de uma Final de NBB.

“Espero que eles façam bem o básico que eles fazem sempre, que é uma boa defesa. O Kenny faz uma boa defesa quadra inteira, ele perturba o armador adversário a quadra inteira, marca muito bem a linha do passe, passa muito bem no pick and roll. Já do Des (apelido do Desmond Holloway), defensivamente eu espero que ele ajude muito dos rebotes. Não parece, mas ele é o reboteiro do Paulistano. Ele pega uns rebotes mais importantes dos jogos, como por exemplo contra Franca, contra São José, ele sobe com os principais pivôs e pega bolas importantes. Ele já tem um pouco de dificuldade no um contra um, mas marca muito bem fora da bola, está sempre bem na cobertura”, disse o técnico Gustavo De Conti.

“Os dois têm uma função importante no time, que é fazer pontos. E quando eles fazem pontos geralmente o time vai bem. O Des forçando um pouco mais, que é o que ele tem que fazer, e o Kenny já vai mais na boa, explorando o pick and roll, abrindo a defesa adversária. Espero que eles façam o básico deles e nos ajudem nessa Final”, concluiu De Conti.

Holloway, do Paulistano

Holloway, do Paulistano

Antes de irem à decisão do Paulista no início da temporada, tanto Holloway quanto Dawkins nunca haviam disputado uma final de campeonato na carreira, já que suas primeiras experiências como atletas profissionais foram na Liga Sorocabana. Depois de ficar com o vice do Paulista, a dupla chega para o jogo decisivo contra o Flamengo com mais bagagem e, agora, esperam fazer diferente e saírem com o inédito título.

“Eu acho que dessa vez nós temos que entrar muito mais focados do que entramos na Final do Paulista. Era um time novo naquela época. Chegamos à final, mas ainda estávamos nos acostumando uns com os outros. Mas agora nós temos uma unidade melhor no time. Eu estou me dando melhor com o Gustavinho, temos uma comunicação melhor. E agora eu acho que só precisamos entrar e dar nosso melhor, jogar o nosso estilo de jogo. Não é estilo do Flamengo, mas o estilo do Paulistano”, analisou Dawkins.

“Para o nosso time, o que esperamos é entrar em quadra e jogar um bom basquete. Fazer arremessos, passar a bola, cada um fazendo o seu arremesso. Vamos entrar e competir o tempo inteiro. É por causa dos detalhes que conseguimos seguir em frente. De detalhe em detalhe. São como treinos. Treinamos essas coisas pequenas, tidas como menores. Por exemplo, ontem nós tivemos o treino de defesa para o jogo contra o Flamengo e eu tive que treinar a defesa. O Gustavinho me disse umas seis vezes para fazer o movimento certo.  Então são essas coisas pequenas que você tem que fazer da maneira correta”, finalizou Holloway.