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Quem são eles?

23-03-2018 | 09:18
Por Douglas Carraretto

Tradição, lendas das Américas e campanhas parecidas: veja as semelhanças entre Mogi e Regatas Corrientes, adversários no Final Four da LDA

Único representante brasileiro no Final Four da Liga das Américas 2018, o Mogi das Cruzes/Helbor encontrará pela frente um gigante do basquete argentino: o Regatas Corrientes, que possui certas semelhanças com o time mogiano.

As duas equipes brigarão por um lugar na grande decisão neste sábado (24/03), em Buenos Aires (ARG), às 19 horas (de Brasília), com transmissão ao vivo através do sportv.com.

Quem ganhar disputará, no domingo (25/03), o título da “Libertadores do Basquete” contra o vencedor da outra semifinal entre o anfitrião San Lorenzo (ARG) e o Estudiantes de Concórdia (ARG), que duelarão às 21h30 (de Brasília).

Com campanha praticamente impecável na competição até aqui (cinco vitórias e uma derrota), o Regatas classificou-se ao Final Four ao ficar com a liderança do Grupo F da fase semifinal. Enquanto isso, o Mogi, que contabiliza um total de quatro vitórias e duas derrotas, encerrou a etapa semifinal como vice-líder do Grupo E.

A verdade é que, além das campanhas parecidas, Mogi e Regatas possuem outras semelhanças bem marcantes, o que indica um extremo equilíbrio na briga por um lugar na final do principal torneio do continente. Confira:

Tradição

– Mogi das Cruzes

O primeiro ponto em comum entre Mogi e Regatas é a tradição no basquete. Um dos grandes polos do basquete no Brasil, Mogi das Cruzes (SP) é daquelas cidades que respira o esporte da bola laranja e possui uma das torcidas mais fanáticas do país.

Localizada a 60km de São Paulo (SP), a cidade passou a ter o basquete enraizado em sua cultura esportiva a partir das décadas de 80 e 90, quando se tornou potência nacional da modalidade, principalmente com o título do Campeonato Paulista (competição estadual mais forte do Brasil) de 1996.

Mogi foi campeão da Liga Sul-Americana 2016 e disputa o Final Four da Liga das Américas pela segunda vez (Divulgação/FIBA)

Atualmente, Mogi das Cruzes vive o auge de sua história na modalidade. Em 2016, o time comandado pelo técnico Guerrinha faturou os títulos do Campeonato Paulista e da Liga Sul-Americana e passou a ocupar um patamar de respeito não só em território nacional, mas também continental, até porque também chegou ao Final Four da Liga das Américas daquele ano – sob o comando de Danilo Padovani, hoje assistente.

– Regatas Corrientes

A Argentina, como um todo, é um país extremamente “basqueteiro”, e Corrientes não é diferente. A cidade, localizada a mais de 900 km da capital Buenos Aires, tem dois representantes na elite do basquete argentino: o Regatas e o San Martín, o que movimenta ainda mais o esporte da bola laranja por lá.

Uma das maiores potências do basquete argentino, o Regatas também tem sua tradição um pouco mais “recente” e faturou seu primeiro e único título nacional na temporada 2012/2013. No entanto, antes disso, conquistou duas vezes a Liga Sul-Americana, ambas contra as equipes brasileiras: em 2008, em cima do Flamengo, e em 2012, sobre o Brasília. Já na Liga das Américas, foi campeão da edição 2011 – último título de um argentino na competição. Deu pra ver que tradição não falta no clube, que foi fundado em 1923 como clube de remo, mas viu o basquete virar o esporte número um décadas depois.

Regatas foi campeão da Liga Sul-Americana 2008 e 2012 (foto), além da Liga das Amércas 2011 (Infoliga/Divulgação)

Apesar de não ser a equipe número um da cidade, o San Martin passou a ocupar um patamar de destaque no basquete argentino nos últimos anos. Em 2015, foi à final da Liga Sul-Americana e ficou com o vice ao ser derrotado pelo Brasília. Atualmente, é o vice-líder do campeonato de seu país, com 19 vitórias e sete derrotas – atrás apenas do San Lorenzo, que tem 19 triunfos e quatro reveses.

Lendas das Américas

– Shamell

É certo que, para chegar a um Final Four, são necessários elencos de bastante qualidade. No entanto, tanto Mogi quanto Regatas têm uma referência em especial, que é responsável pela liderança da equipe dentro de quadra. Pelo lado do Mogi, esse grande ícone é Shamell Stallworth, um dos atletas mais conhecidos e respeitados das Américas.

Campeão e MVP da Liga das Américas 2013 e vice em 2014 pelo EC Pinheiros, o norte-americano de 37 anos tem um dos nomes mais prestigiados na esfera dos torneios das Américas por conta das atuações exuberantes que apresenta neste tipo de competição. Em 2016, o jogador liderou o Mogi ao título da Liga Sul-Americana 2016 e também faturou o troféu de MVP.

Maior cestinha da história do NBB CAIXA, Shamell tem médias de 15,3 pontos na atual temporada da competição. Já na Liga das Américas, sua média é de 17,7 pontos por partida, com 40% de aproveitamento nas bolas de 3 pontos. Sua melhor atuação no torneio foi contra o poderoso San Lorenzo, que também está no Final Four, com 29 pontos.

Veja lances de Shamell na Liga das Américas 2018:


“Esse será o meu quarto Final Four, então quero aproveitar ao máximo e passar um pouco de experiência para os demais atletas. Não é fácil chegar aonde chegamos. Somos a única equipe brasileira com chances de ser campeã, então vamos entrar em quadra para representar o Brasil”, disse Shamell.

– Paolo Quinteros

Do outro lado, a grande referência é o genial Paolo Quinteros. Aos 39 anos, o ala argentino é daqueles “intermináveis”, que continua atuando em altíssimo nível mesmo com idade avançada, assim como fazem no Brasil nomes como Shamell (37 anos), Marcelinho Machado (42 anos) e Alex Garcia (38 anos).

Quinteros defende o Regatas desde a temporada 2011/2012, quando voltou ao seu país depois de quatro anos na Espanha defendendo o CAI Zaragoza. Foi campeão, MVP e MVP das Finais da edição 2012/2013 da liga argentina pelo time de Corrientes. Além disso, defendeu a Seleção da Argentina na campanha do bronze nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008 e no Mundial da Turquia em 2010.

Atualmente, o veterano é o cestinha do Regatas na liga argentina, com média de 17,9 pontos por partida. Na Liga das Américas, também é o maior anotador, com 16,6 pontos em média. Sua principal atuação no torneio foi justamente contra o Bauru, na fase semifinal, quando registrou expressivos 26 pontos (5/8 nas bolas de 3) e liderou o time argentino ao grande triunfo.

Veja lances de Paolo Quinteros na Liga das Américas 2018:

Elencos fortes

– Regatas Corrientes

Apesar de liderado por Paolo Quinteros, o Regatas Corrientes possui um elenco bem forte como um todo. O plantel possui cinco norte-americanos, um deles agregado antes da fase semifinal da Liga das Américas: o ala Brandon Thomas, de 33 anos, que tem passagens por Espanha, França e Alemanha, entre outros vários países. Nos três jogos do Grupo F, ele registrou em média 13,7 pontos por partida.

Além de Thomas, o experiente ala/pivô Fernando Martina (7,8 ppj), o jovem promissor ala/armador Juan Pablo Arengo, de 21 anos (8,2 ppj), o ala norte-americano Alexis Harris (9,0 ppj), e o “conhecido” ala Fabián Ramirez Barrios (9,2 ppj), que atuou pelo Bauru de Guerrinha e Larry Taylor na temporada 2013/2014 e inclusive foi campeão Paulista em 2013 pela equipe, formam a força do plantel do time de Corrientes.

A equipe é comandada pelo técnico Gabriel Piccato, que possui no currículo um título da liga argentina em 2006 pelo Boca Juniors. Mas o atleta de maior impacto no grupo depois de Quinteros pode ser o talentoso armador uruguaio Santiago “Pepo” Vidal. O jogador é dono das médias de 10,8 pontos, 5,2 assistências e 43,5% de aproveitamento nas bolas de 3 pontos na Liga das Américas 2018.

Veja jogadas de Santiago “Pepo” Vidal na Liga das Américas 2018:


“O Regatas é um time bem argentino mesmo. Joga no erro do adversário, trabalha bem a bola, tem uma estrutura em função dos jogadores argentinos e os americanos completam muito bem. Não individualiza muito e joga coletivamente”, analisou o técnico do Mogi, Guerrinha.

“O (Paolo) Quinteros é a cereja do bolo deles. É um jogador que está há muitos anos na seleção e que puxa o time, assim como o Shamell no nosso, com bolas decisivas. Ele tem mais impacto no time deles do que o Shamell no nosso, pela dependência deles. Mas eles têm estrutura para os outros jogarem também. Tem o Fabían (Barrios), que já jogou comigo e tem um ótimo arremesso”, concluiu Guerrinha.

– Mogi das Cruzes/Helbor

Assim como o Regatas, o Mogi das Cruzes também tem uma referência principal, que é Shamell. Mas, o grande trunfo da equipe é o entrosamento de suas peças. Larry Taylor, Shamell, Tyrone, Filipin, Jimmy e Caio Torres são os tripés de sustentação do grupo, que costuma brigar “nas cabeças” de todos os campeonatos que disputa há três anos, com direito aos títulos do Paulista e da Sul-Americana em 2016.

Por isso, pode se dizer que experiência não falta para esquadrão mogiano, que tem como comandante o experientíssimo técnico Guerrinha. O renomado treinador tem no currículo nada menos que duas finais de NBB CAIXA, dois títulos da Liga Sul-Americana (um pelo Mogi) e um da Liga das Américas e um vice-campeonato Mundial, todos à frente do Bauru.

Toda essa trajetória de Guerrinha foi feita também pelo ex-Bauru Larry Taylor (12,2 ppj na Liga das Américas), norte-americano naturalizado brasileiro que serve a Seleção desde 2012, quando disputou os Jogos Olímpicos de Londres. Além disso, disputou também a Copa do Mundo da Espanha em 2014 pelo selecionado verde-amarelo.

Assim como Shamell, Tyrone Curnell é outro que eleva muito o nível de suas atuações quando atua em competições internacionais. E na presente edição da Liga das Américas não é diferente. O ala/pivô norte-americano é o segundo maior cestinha (18,2 pontos por jogo), terceiro maior reboteiro (8,2 rebotes) e jogador mais eficiente (21,7 de valorização por jogo) de todo o torneio, além de contabilizar um expressivo aproveitamento de 56,7% nas bolas de 3 pontos.

Veja algumas jogadas de Tyrone na Liga das Américas 2018:

Eleito melhor defensor da última edição do NBB CAIXA, o ala Jimmy Dreher é outro atleta de tamanho impacto no elenco do Mogi. O jogador tem importantes médias de 11,2 pontos e 3,3 rebotes, mas o que os números não mostram é a intensidade que ele coloca dos dois lados da quadra, principalmente na defesa. Já o experiente pivô Caio Torres, que também disputou os Jogos Olímpicos de Londres em 2012 pela Seleção Brasileira, contribui com 9,0 pontos e 6,7 rebotes nesta edição da Liga das Américas.

“Temos muito respeito pelas equipes brasileiras. Mogi fez duas grandes partidas contra o San Lorenzo, a última delas na casa do San Lorenzo, o que significa que é uma equipe que está muito bem. Eles têm jogadores de experiência, como Larry Taylor e Shamell Stallworth. A verdade é que eles estão bem, mas temos que focar em nós mesmos, em jogar como estamos jogando”, disse o armador Santiago Vidal, do Regatas, em entrevista ao site oficial do clube.