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Racismo:como lutar contra?

04-06-2020 | 08:49
Por Liga Nacional de Basquete

Participantes da Live #VidasNegrasImportam comentaram sobre as maneiras de se combater o racismo

Com o intuito de dar voz a quem sofre com os estigmas do racismo dia após dia, o NBB realizou uma Live em seu Facebook (@NBB), na noite de ontem (03/06), para falar sobre o tema. Para argumentar sobre o assunto, vozes ativas dentro do cenário do basquete brasileiro, como Léo Figueiró (treinador do Botafogo), Thiago Mathias (pivô do B. Cearense), Gustavo Basílio (ala do Pato Basquete) e Gui Deodato (ala do Minas Tênis Clube), com a apresentação de Rodrigo Bussula, produtor de conteúdo da LNB, foram convidados para falar.

Durante a live (disponível no Facebook do NBB), vários assuntos foram abordados, desde histórias reais que cada um viveu com o racismo, até ao debate de maneiras e atitudes que podemos ter para mudar esse cenário, por vezes tão cruel com o povo negro.

A comoção no entorno dessa luta chegou a grande massa. Hashtags e campanhas de apoio ao povo negro foram levantadas aos montes nas redes sociais nos últimos dias. Mas para Gustavo Basílio é necessário mais do que isso para realmente alcançarmos uma mudança real.

“Mais do que uma frase ou fazer post com a hashtag, é você estar disposto a lutar pela causa, disposto a mudar essa situação. Muitos negros já foram confundidos, já tomaram bala perdida. Tivemos João Pedro recentemente, tivemos a Ágata, tivemos o caso do cara que levou 80 tiros em uma favela no Rio. Vidas negras importam, mas tem que ter a ação, tem que ter a vontade de querer a mudança. Mais do que a fala, tem que entrar com ação, com poder da mudança”, falou Basílio.

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Mudança se faz necessária para que comentários, como o do foto, não existam mais (Divulgação/Facebook do NBB)

Outro ponto abordado durante a conversa foi a questão de representatividade em alguns espaços onde o povo negro é minoria. Para se ter ideia, segundo censo do IBGE em 2018, negros e pardos (homens e mulheres) eram maioria entre pessoas com empregos informais – 47,3% contra 34,6% de brancos. Além disso, essa população também é a maior em taxas de analfabetismo, com 9,1% contra 3,9% de brancos.

Isso, em larga escala, gera um atraso nessa fatia da população em comparação a outras. Segundo Gui Deodato, uma das maneiras de lutar contra essa desigualdade é se questionar, observando os ambientes em que se vive e suas relações com as pessoas.

“Outra coisa é se questionar. Por que vemos menos pretos na TV? Em cargos de decisão… Ler escritores negros, eu mesmo nunca tinha lido, agora já acabei um e estou lendo outro. Conversar, se perguntar quem são as pessoas pretas que estão ao nosso lado, por que são poucos… Isso faz parte do meu aprendizado também e é uma troca que eu tenho tido com amigos brancos e vem sendo muito bom”, finalizou o atleta campeão do NBB 2016/2017 pelo Bauru.

Gui Deodato é atleta do Minas Tênis Clube (Orlando Bento/MTC)

Outro que também a mesma linha de raciocínio foi o ala do Pato Basquete, Gustavo Basílio. Para o atleta, se incomodar com toda a estrutura que discrimina e oprime pessoas de pele negra já é um grande passo.

“Tenho recebido mensagens de pessoas que têm se sentido incomodadas com a situação, com elas mesmas em relação ao racismo. E eu digo que só de a pessoa se incomodar já é um grande passo. Então se está acontece esse incômodo, agora é hora de ir atrás de informação, procurar saber, e contestar. Ir na empresa e contestar porque tem poucos negros em cargos de alto escalão, porque tem poucos negros em universidades particulares, por que os negros em maioria ocupam mais cargos de limpeza, manutenção… Não que não sejam trabalhos dignos, pois são dignos para qualquer um. Mas a palavra é contestar. É brigar pela causa. Não é só postar #VidasNegrasImportam, é tomar a ação de mudança, estar disposto a fazer esse trabalho. Não só os brancos, nós negros também aprendemos diariamente, não somos melhores que ninguém, mas só estamos pedindo por igualdade”, afirmou Gustavo Basílio.

Para Basílio, se incomodar com o racismo já é um grande passo (Lu Koba/Pato Basquete)

Léo Figueiró, técnico do Botafogo, foi outra figura que também falou do assunto. Segundo ele, a educação é a única saída para o cenário que nos encontramos hoje, sistema esse desigual nas oportunidades.

“Independentemente de ser branco, mestiço, negro, vejo que isso é papel da sociedade inteira. E isso vem através da educação, e educação começa em casa. Você como pai, tio, amigo, têm que fazer com que essa educação chegue a todo mundo. Quando falamos de meritocracia e igualdade social, as pessoas têm que entender que essa igualdade tem um preço para quem já tem privilégios. É entender se você está disposto a pagar esse preço de aumentar a concorrência. A igualdade vai gerar uma concorrência maior. A igualdade faz com que todos saiam do mesmo lugar. Então tem um preço para os dois lados. Às vezes vejo gente falando que não gosta de cotas. Ok, então vamos trabalhar para que todos tenham as mesmas oportunidades. Assim não vai ser mais a questão de vermos apenas negro fora da curva chegando longe”, disse.

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Técnico do Botafogo, Léo Figueiró luta por igualdade de oportunidades para o povo negro (Antonio Penedo/Mogi Basquete)

Claramente, não basta somente alcançar o conhecimento e parar por aí, mas sim compartilha-lo, de maneira que a partir de uma porta aberta outras também se abram para essa questão. Para Léo, o pensamento individualista neste sentido não é o caminho.

“Outra coisa que acho: quando alguém de pele negra conseguir vencer os desafios, conseguir um status, dinheiro ou o que for, ele tem que retornar para possibilitar que mais cheguem. Não pode ser só uma coisa minha e fim de papo. ‘Eu cheguei aqui e você que se vire’. Se esse é um momento que é um divisor de águas para a sociedade, temos que entender que quem venceu também tem que retroalimentar e contribuir na vida de pessoas para que elas cheguem também”, finalizou.