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LDB

Num piscar de olhos

14-10-2022 | 05:09
Por Arthur Salazar

Arthur Salazar fala sobre a emocionante decisão da Liga de Desenvolvimento 2022

Artigo escrito por Arthur Salazar via Collab NBBxPosterizamos

Basquete é um jogo de momento; de corridas; de maré; de oportunidades. É papel de quem analisa, ir atrás de sinais que sirvam de bússola para o aguardado ensaio sobre os entraves e as brechas em questão. Quando se trata de circunstâncias decisivas, nas horas em que tudo está em jogo, os prognósticos se liquidificam em milhares de presunções que somadas geram uma narrativa fadada à reavaliação futura. Normalmente, me apego ao sexto sentido pra criar algum caminho lógico nessa construção de um cenário imaginário. No caso da última partida da Liga de Desenvolvimento de 2022, entrei com uma suspeita de que tudo poderia acontecer, e que assim normalmente vem acompanhada de um palpite favorável ao dono da trajetória mais cativante ao longo dos quarenta minutos.

 

Mas afinal, o que é uma trajetória cativante? Tão subjetiva quanto qualquer outra avaliação que busca a objetividade, esse percurso fascinante é imensurável. Basquete não é receita de bolo, e exatamente por isso que é um jogo de ação e reação, sem juízo de valor às posturas, mas que cria uma narrativa acostumada a premiar o quinteto que aceita essa condição natural do esporte. Porém, o contexto joga junto. A tradição entra em quadra, e acompanhada das outras histórias prévias, formam uma raiz firme que tende a exaltar o caminho do conjunto mais magnético.

 

A final da LDB exemplifica toda essa filosofia da bola laranja.

 

São José e Pinheiros estavam a quarenta minutos da glória máxima; com um histórico idêntico ao que se limitava às vitórias e derrotas nas fases precursoras e com triunfos épicos nas 24 horas que antecederam a final. Superficialmente, pouco se separava entre os protagonistas. Factualmente, quase nada se assemelhava.

 

No lado da Águia, o conto da equipe de Cris Ahmed é baseado na reconstrução de um projeto que precisa de um sucesso novo, para abrir portas para um futuro diferente. Sanja viu seu basquete derrotado e em queda livre mas venceu a segunda divisão e voltou à elite. Assim, entendeu em seus jovens a possibilidade de um futuro mais equilibrado… um futuro quase “a Pinheiros”. Tal qual nos moldes do azulzinho paulista, que nesse mesmo período abdicou da receita de “medalhões” no elenco, e renovou o seu basquete com a juventude frenética.

 

O Pinheiros de 2021, essencial para a compreensão do seu sucessor em 22, venceu a LDB com folga. Para alguns leitores de bússolas da bola laranja, o timaço comandado por David Pelosini é o melhor que já pisou nas quadras do torneio da base. Para os diretores do Azul, foi tão bom que guinou aquele processo vanguardista baseado na superação da velha escola por esses atletas em formação na equipe principal. Esse mesmo grupo não deixou a desejar no NBB, pegou vaga para os Playoffs e virou história de sucesso para a construção de projetos da base.

 

Fora de quadra, Sanja usa o modelo do Pinheiros como prova de que é possível fazer basquete de baixo pra cima. Dentro de quadra, a Águia do Vale tem bem menos subordinação ao basquete do azulzinho. Como eu já disse, os quarenta minutos que restavam para coroar o melhor da LDB não eram alicerçados em estilos semelhantes de fácil destrinchamento. Um jogão nos aguardava!

 

Nos primeiros dez minutos, deu Pinheiros, assim como na semifinal contra o Paulistano. Porém, o São José respondeu, não deixou o rival crescer em casa e garantiu um empate no placar para a ida aos vestiários: 31 iguais e momentos iguais.

 

O terceiro quarto foi de Sanja. Foi tanto da Águia, que sinalizou uma vantagem sólida de seis pontos ao estouro dos trinta minutos. A narrativa se mantinha oportuna para os jovens do time do Vale.

João Pires/LNB

 

O relógio marca 01:23:

68 a 66.

São José precisa aguentar míseros noventa segundos de pressão pinheirense.

Já passaram 35.917 segundos de estresse suportados desde a estreia.

Não é preciso muita coisa.

Bola na mão do dono do time.

O jovem que eu rotulo e reitero como genial.

Léo Abreu é a bola de segurança.

Líder.

A coroa está nas mãos da Águia.

Um segundo a mais.

Um olhar a mais.

E a bola já não está mais nas mãos de Sanja.

Em um esforço reparatório, Léo para a jogada.

Reação atrasada.

Falta!

Antidesportiva…

A ação do tricampeão Jonas Buffat é recompensada.

O Bahia vai bater lances!

O relógio marca 01:22:

O momento é azul.

Azul-Pinheiros!