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O basquete nos une!

17-02-2024 | 09:37
Por Gustavo Marinheiro

No Dia do Combate à LGBTfobia no Esporte, site da Liga republica matéria que foi ao ar no Dia Mundial do Orgulho LGBTQIAPN+ destacando vozes que promovem a inclusão

Reportagem publicada originalmente em 28/6/2023, Dia Mundial do Orgulho LGBTQIAPN+

O basquete, assim como qualquer outro esporte, é um movimento de inclusão. É nas quadras onde você exercita a empatia, o trabalho em equipe e o relacionamento entre os companheiros de time. Manifestos como o de Bill Russell na NBA, que nos anos 60 lutou pelo direito dos negros no basquete, exercitaram a mente de diversos torcedores, diretores e atletas para que o esporte se tornasse um lugar minimamente mais confortável.

Hoje (28/06), é o Dia Mundial do Orgulho LGBTQIAPN+ e a intenção dessa matéria é justamente destacar diversas vozes e projetos de membros da comunidade que lutam, da mesma forma que Bill Russell, para que as quadras do basquetebol se tornem um lugar mais receptivo e diverso. Dar visibilidade e liberdade para que esse assunto seja comentado, é uma oportunidade de que mais pessoas se sintam acolhidas e vejam possibilidades no mundo da bola laranja. Conheça a história de JP de Paula, Marcela Maeve e Jeff Campos, que são exemplos de como promover um dialogo e um movimento necessário.

 

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JP de Paula, primeiro jogador da LDB a falar publicamente sobre sua bissexualidade:

Há dois meses, através das redes sociais, JP de Paula, ala do Praia Clube na LDB 2023 falou publicamente sobre ser um homem bissexual. Essa foi a primeira vez na história que um jogador brasileiro filiado à LNB comentou sobre fazer parte da comunidade LGBTQIAPN+ enquanto ainda estava em atividade, o que logo de cara ocasionou uma comoção muito grande (e positiva) por parte da comunidade do basquete e até mesmo dos próprios companheiros de time. JP é mais um que enxerga no basquetebol a oportunidade de promover maior receptividade e tornar um ambiente onde esses assuntos sejam discutidos.

“Meus pais jogaram vôlei, minha irmã e meu irmão jogam basquete desde os 8 anos, nasci no esporte e vivi esse ambiente desde cedo, inclusive meu primeiro crossover foi aos 3 anos de idade. Minha relação com o basquete é inseparável, tudo o que eu vivi, conheci, estudei, tem relação com o basquete. E até por isso eu digo que é importante falar sobre todas essas pautas, afinal, se você convive com outras pessoas, você começa a desenvolver empatia por elas. Você se importa mais. O basquete tem esse poder de promover o respeito”, disse JP.

O jovem jogador faz parte de uma geração em que o debate sobre questões sociais é mais frequente e muito mais aceito, o que de certa forma o encorajou em algum momento para começar a falar mais sobre o assunto.

“Quando você se coloca no meio do esporte coletivo, você vive o tempo inteiro em um ambiente com outras pessoas. Eu ouvia muitas piadas, mas sempre que podia, falava alguma coisa, tentava ensinar, ajudar a pessoa a melhorar nesse sentido. Antes de falar sobre isso publicamente, levei anos para falar com familiares, amigos, companheiros de time, todo mundo. Quando escrevi aquele texto, minha intenção não era nem publicar, foi um desabafo, mas me senti no dever de postar para fazer aquilo chegar à mais pessoas, fui muito incentivado para isso”, disse o jogador.

“Olha, sempre esperamos algum tipo de resposta e repercussão, mas eu nunca imaginaria o quão longe isso poderia chegar. Me senti muito orgulhoso, sabia que tinha feito algo especial. Depois de 30 minutos, muitas pessoas já haviam respondido, fui muito acolhido, seja por amigos próximos ou até mesmo por gente do meio do basquete. Vários jogadores me responderam, tive o acolhimento do Renan Lenz, Gu Basílio, Didi, até mesmo a Fabi do vôlei. Encontrei ainda mais apoio”, disse o JP.

Para ele, é necessário dar visibilidade. Para tornar o basquete um lugar de maior receptividade e para que outros sejam bem recebidos como ele foi, é necessário que mais pessoas tenham a oportunidade de aparecer. Assim como nessa matéria, colocar LGBTs em posições de destaques e com liberdade para comentar sobre os mais diversos assuntos é um caminho para reeducação.

Marcela Maeve, a primeira narradora profissional trans do mundo:

Marcela é mais uma das diversas histórias de superação que se criam através do esporte. Junto com Luciana Zogaib, ela foi uma das escolhidas no concurso “Narra do NBB”, se juntou oficialmente ao casting de transmissões da LNB e se tornou a primeira narradora trans profissional do mundo. E assim como em diversos casos, Marcela teve como porto seguro o esporte e mais especificamente a narração.

“Sempre gostei muito de esporte, isso tem muito a ver com quem eu sou, meu maior desejo sempre foi contar histórias e eu encontrei essa oportunidade no jornalismo. Foi muito natural esse caminho até à narração porque é comum que o narrador seja o ‘cara das grandes histórias’, sabe? Se tornou muito fácil essa escolha”, afirmou Marcela.

Marcela Maeve em sua primeira transmissão oficial pelo canal do NBB (Divulgação)

Como explicado anteriormente, a Marcela Maeve fez parte do concurso “Narra do NBB”, que visava encontrar uma nova voz feminina para os jogos da maior liga de basquete do país. Luciana Zogaib, do Rio de Janeiro, se tornou a primeira escolhida, mas logo em seguida Marcela também recebeu essa chance. Se tornando oficialmente parte do casting do NBB, ela quebrou algumas barreiras e foi pioneira na área.

“Fiquei sabendo do concurso através de um amigo meu, e claro, fiquei receosa, não sabia como seria a aceitação da Liga com uma mulher trans. Mas a realidade é que fui muito bem recebida durante todo o processo e até mesmo pelos espectadores do canal do NBB, não cheguei a ver nada que tivesse relação com transfobia, fluiu tudo muito naturalmente. Quando entrei pro NBB, me tornei a primeira narradora trans profissionalmente do mundo inteiro. Na Europa, no meio do futebol, até existem comentaristas trans, mas nenhum narrador ou narradora”, afirmou Marcela.

“Eu não quero falar apenas para ajudar e encorajar outras pessoas trans a chegar no mundo do jornalismo, mas porque eu quero ver elas crescerem em todas as áreas possíveis. Quero que a pessoa me veja como a primeira narradora trans do mundo e saiba que ela tem a capacidade de ser médica, advogada, veterinária, o que for. Sei que falando, divulgando e aparecendo, tenho essa oportunidade de influenciar em outras vidas”, disse Marcela.

Para a narradora, o basquete a cada dia tem conseguido abrir mais portas e debates necessários para tornar o esporte um lugar mais confortável.

Jeff Campos, coordenador do primeiro time de basquete LGBTQIAPN+ do país:

Conhecido por seus feitos dentro das quadras, Jeff Campos é mais uma das diversas histórias de jogadores que fizeram a sua vida no basquetebol. Com sete anos de idade, conheceu a bola laranja pela primeira vez, através da sua irmã que praticava o esporte, e assim começou a sua jornada até a carreira profissional. Pelo NBB, jogou por 14 anos, desde os primeiros momentos de criação da Liga e pode conviver com diversos profissionais, ambientando vários clubes diferentes.

“O esporte me proporcionou conhecer culturas diferentes, pessoas diferentes, me levaram aos mais diversos lugares que você pode imaginar, me fez conhecer o mundo. Mas de certa forma, por muito tempo, foi muito angustiante. Eu tinha medo e me esforçava muito para esconder a minha sexualidade, gastava muita energia com isso o tempo todo, foi muito desgastante”, disse o pós-jogador.

Apesar de viver por tantos anos na elite do basquete nacional, a primeira vez que Jeff se sentiu confortável o suficiente para expor publicamente sobre sua sexualidade foi em 2022, quando completou um ano de namoro e decidiu fazer um post em seu Instagram se declarando para seu parceiro.

“Eu não me acolhia, não me aceitava, a primeira vez que eu decidi abrir isso para pessoas próximas de mim, foi em Brasília (2020), que foi quando eu percebi que precisava dar um jeito. Passei por um processo de mais de um ano com a Mari, minha psicóloga, tentando tratar isso com mais naturalidade. No dia que eu decidi fazer aquele post, nem pensei na visibilidade que eu teria, não achei que teria essa representatividade, mas depois recebi uma devolutiva do meio da comunidade e do meio do basquete que foi incrível”.

Hoje, o Jeff conta com um projeto chamado “Royalz”, que se trata de um time formado 100% por homens da comunidade LGBT. O projeto é formado por dois grupos, o Time A, que conta com jogadores que possuem experiência e competem no basquete, e o Time B, que tem muito mais o perfil de uma “escola de basquete”, para aqueles que nunca tiveram contato com o basquete.

“Passei por muito tempo pensando em como estruturar esse projeto. Nosso primeiro treino foi em setembro de 2021, quando juntei o primeiro grupo. Hoje temos portas abertas no SESC, onde já ministrei várias palestras, temos uma parceria com o Desafio dos Parques, estamos construindo um espaço maior. As pessoas LGBT, no geral, não frequentam esses esportes. Muitos não querem se misturar, não treinam publicamente em parques, exatamente pelo medo de como vão ser recebidas. No Royalz, eu sempre deixo claro ‘aqui ninguém vai te julgar, sinta-se confortável, é um espaço para todos'”, afirmou Jeff.

A ideia do pós-jogador é fazer com que o basquete se torne um meio de inclusão e relação entre diversos membros da comunidade. O Royalz Bkt é um lugar seguro, para acolher e quem sabe continuar crescendo ainda mais.

Royalz Bkt no Desafio dos Parques (Divulgação)