#JOGAJUNTO

NBB Caixa

Pra ficar marcado

05-06-2014 | 03:58
Por Liga Nacional de Basquete

Com temporada histórica, Mogi mostra força do basquete na cidade e volta a figurar entre grandes potências do basquete brasileiro; relembre a trajetória da equipe

O Mogi das Cruzes/Helbor foi a grande sensação da temporada 2013/2014. Participando do NBB apenas pela segunda vez, a equipe do Alto Tietê superou as expectativas criadas em cima do time no início do campeonato e terminou a sexta edição do nacional na histórica quarta colocação, e consequentemente ficou com a vaga na Liga Sul-Americana, a primeira competição internacional do novo projeto mogiano.

Mantendo a base do elenco e reforçado com jogadores experientes e de qualidade, como os pivôs Daniel Alemão e Jeff Agba, o ala Marcus Toledo e o ala Ted Simões, além dos jovens Jefferson Campos e Pedro Macedo, (Jason Smith e Sidão chegaram no meio do NBB) o Mogi entrou na temporada mais confiante e sabendo que o desempenho seria melhor que o ano anterior – terminou o NBB5 em 14º.

“O diferencial dessa temporada foi que o Paco teve tempo para trabalhar e formar o time da maneira que ele queria, dar a cara dele na equipe. Ano passado ele chegou meio em cima da hora, quase dez dias antes do fim, e tinham jogadores que não eram da confiança dele. Mas esse ano as coisas foram diferentes e deu tudo certo para nós”, analisou o ala Guilherme Filipin.

Reforçado, o time comandado por Paco García melhorou seu desempenho em relação ao NBB passado (Allan Conti/Divulgação)

Reforçado, o time comandado por Paco García melhorou seu desempenho em relação ao NBB passado (Allan Conti/Divulgação)

No Campeonato Paulista 2013, o time do técnico espanhol Paco García encerrou a primeira fase na quinta posição e teve como adversário nas quartas de final o quarto colocado na etapa de classificação, Pinheiros/SKY. As duas equipes fizeram uma série de tirar o fôlego, que terminou apenas no quinto jogo, com vitória da equipe pinheirense.

Mesmo com a eliminação no Estadual, o Mogi havia dado mostras de que vinha para o NBB mais forte do que na última edição. E foi o que aconteceu. Depois de uma fase de classificação parelha e marcada pelo alto nível, os mogianos classificaram-se às Finais do NBB pela primeira vez na história ao ficarem com na 12ª colocação na primeira fase, com campanha de 14 vitórias em 32 partidas (43,8% de aproveitamento).

“Carregamos um peso durante o campeonato por termos perdido muitos jogos por um ou dois pontos na fase de classificação, jogos que estavam na nossa mão e perdemos. Mas o que nos deu confiança para os playoffs foram os nossos três últimos jogos do segundo turno, contra Macaé, Basquete Cearense e Flamengo. Jogamos muito bem essas partidas, a torcida compareceu em peso, e com isso a gente viu que poderíamos fazer um bom playoff”, contou Filipin.

Logo em seu primeiro playoff no NBB, o adversário nas oitavas, coincidentemente, foi o mesmo Pinheiros, ainda entalado na garganta dos mogianos. Mostrando a força de sua imensa torcida, que fez do Ginásio Professor Hugo Ramos um verdadeira caldeirão em todos os jogos, o Mogi deu o “troco” nos pinheirenses e levou a melhor na série melhor de cinco por 3 a 1 e se tornou o primeiro 12º colocado na primeira fase a chegar às quartas de final na história da competição.

Diante do Winner/Kabum/Limeira, quarto colocado na fase de classificação, a história foi a mesma: disputa do início ao fim, “caldeirão” Hugo Ramos completamente lotado e decisão apenas no quinto jogo. Mesmo fora de casa, a equipe do Alto Tietê não se incomodou com o também lotado Ginásio “Vô” Lucato todo jogando contra e venceu, de maneira emocionante, nos minutos finais, pelo placar de 75 a 70.

Em pleno solo limeirense, Mogi conseguiu a histórica classificação à semifinal do NBB (Cleomar Macedo/Helbor)

Em plena casa limeirense, Mogi conseguiu a histórica classificação à semifinal do NBB (Cleomar Macedo/Helbor)

Com mais um recorde do NBB batido ao ser o primeiro 12º colocado também a chegar a uma semifinal, o Mogi das Cruzes pegou ninguém menos que o líder da fase de classificação e atual campeão, Flamengo. Embalados, os paulistas fizeram jogo duro com os detentores do título da Liga das Américas, venceram o Jogo 2 em pleno solo carioca, por 69 a 65, mas no fim, foram derrotados nos dois jogos seguintes realizados em Mogi e foram eliminados, por 3 a 1.

“Foi uma temporada brilhante para nós. Não perdemos nada, só conquistamos. Mesmo sendo derrotados, todo mundo ficou feliz. Somos o quarto melhor time do Brasil. Fomos derrotados apenas pelo Flamengo, melhor time das Américas. À frente deles está só NBA e Liga ACB (Espanha). Fizemos o que pudemos e o que não pudemos para onde chegamos nessa temporada. Tivemos garra. Foi na dedicação e na força de vontade”, analisou o pivô Daniel Alemão.

Mas apesar da eliminação, um fato chamou a atenção e certamente ficou marcado não só na história da equipe, mas na história do basquete. Após o término do Jogo 4, vencido pelo Flamengo, por 79 a 71, a torcida mogiana se levantou e aplaudiu incessantemente o time do Mogi e, por aproximadamente dez minutos, ecoou o grito de “Eu sou mogiano, com muito orgulho, com muito amor!”. Depois, gritou o nome de cada jogador, um por um, como forma de agradecê-los pelo empenho e dedicação na história temporada.

“Sem palavras. A torcida foi fundamental para nós. Basquete é um jogo de emoção, de empolgação, adrenalina. Quem já jogou com torcida pode falar. Ela te dá um algo a mais, uma motivação a mais. Esse certamente foi um fator que nos ajudou muito a chegar aonde chegamos nessa temporada”, disse Filipin.

Mesmo depois da derrota, jogadores do Mogi foram calorosamente ovacionados pela torcida (Cleomar Macedo/Helbor)

Mesmo depois da derrota, jogadores do Mogi foram calorosamente ovacionados pela torcida no ‘caldeirão’ Hugo Ramos (Cleomar Macedo/Helbor)

Há três anos, o basquete mogiano ressurgiu após sete anos sem atividades profissionais na modalidade ao disputar o Campeonato Paulista de 2011. Forte e tradicional nas duas últimas décadas, a equipe do Alto Tietê conquistou um título Estadual em 1996, e chegou até as semifinais do nacional em 97, quando tinha em seu plantel atletas consagrados como Pipoka, Danilo Castro, Paulinho Villas-Boas, Ratto, Luisão, e o treinador Nilo Guimarães, hoje um dos dirigentes da agremiação.

Mais tarde, o Mogi ainda repetiu sua melhor posição na história mais duas vezes e chegou às semifinais dos Campeonatos Brasileiros de 1999 e de 2004, quando fez uma parceria com o Corinthians e montou um elenco cheio de grandes nomes  no basquete nacional, como Paulinho Boracini, Marquinhos, Fúlvio, Murilo Becker, Felipe Ribeiro, Alírio, os ex-jogadores Dedé Barbosa e Demétrius Ferracciú, entre outros.

“Eu até brinco com o pessoal aqui. Todo mundo fala dos times passados, que era tradicional e tinham grandes jogadores, mas agora a única diferença deles para nós é que eles já conquistaram um Campeonato Paulista. Agora o Mogi também tem grandes jogadores experientes, rodados, de nome. O que faltava para nós era uma boa campanha como essa que fizemos no NBB para deixarmos de ser coadjuvantes e sermos os principais. Todo mundo mostrou que tem valor e agora estamos igualados aos times anteriores”, declarou Guilherme Filipin.

Equipe do Corinthians/Mogi em 2004 (Paulo Arruda/Divulgação)

Corinthians/Mogi chegou à semifinal do Campeonato Brasileiro de 2004 (Paulo Arruda/Divulgação)

Desde a retomada do projeto, em junho de 2011, o Mogi percorreu um longo caminho até voltar à elite do basquete nacional. Primeiro, veio a Copa Brasil Sudeste, em que o esquadrão do Alto Tietê ficou na terceira colocação e conseguiu a vaga na Supercopa Brasil, competição que dava aos dois primeiros colocados a vaga no NBB – hoje os dois primeiros vão à Liga Ouro, divisão de acesso ao NBB.

Clube sede da Supercopa 2012, os mogianos fizeram valer o mando de quadra e venceram todos os jogos que fizeram na competição. A vaga no NBB veio através da vitória sobre o Univates Lajeado (RS) na semifinal, que classificou os donos da casa para a grande decisão ao lado do Palmeiras (SP). Já com um lugar garantido na elite do basquete, o Mogi ainda bateu os palmeirenses na final e ficou com o troféu de campeão do torneio de acesso ao NBB. Agora, o clube do Alto Tietê vai para sua terceira temporada na elite e a cada dia que passa se consolida entre as grande forças do basquete brasileiro.

 

Renovações

Pensando em manter o sucesso e o alto nível da equipe na próxima temporada, a diretoria do Mogi das Cruzes já acertou a renovação de quatro atletas, três deles remanescentes do início do projeto mogiano da volta à elite do basquete: o armador Gustavinho, o ala Guilherme Filipin e o ala/pivô Thomas Gehrke.

“Criar uma base é essencial para o crescimento da equipe. Nós estamos aqui desde o começo  e quando um jogador chega tem referencia de como as coisas funcionam. Nós nos estabelecemos no cenário nacional, mais complicado que chegar e se manter entre os grandes.  Acredito que teremos um bom grupo e com a torcida se mantendo ao nosso lado podemos continuar em crescimento”, disse Thomas Gehrke.

Remanescentes do início do novo projeto, Filipin, Thomas e Gustavinho permanecerão na equipe (Guilherme Peixinho/Divulgação)

Remanescentes do início do novo projeto, Filipin, Thomas e Gustavinho permanecerão na equipe (Guilherme Peixinho/Divulgação)

Além do trio, o pivô Daniel Alemão, mesmo em meio a propostas de outros clubes, também ficará no esquadrão mogiano por mais um ano. O atleta, contratado junto ao Winner/Kabum/Limeira no início da temporada, foi um dos destaques da campanha mogiana no NBB6 e colecionou médias de 9,7 pontos, 8,0 rebotes (6º melhor do campeonato) em 25 minutos por jogo, os melhores números de sua carreira.

“Tive meu melhor ano e tudo o que nos passamos e conquistamos me ajudaram na decisão de permanecer. A torcida também foi fundamental, as pessoas pedindo para que eu ficasse, nenhum lugar tem uma torcida dessa e me sinto bem aqui. Quero repetir o que foi bom. Estou animado em jogar um torneio internacional e quero mais, chegar mais longe, pensar em Liga das Américas e brigar para repetir a boa atuação no campeonato nacional” explicou Alemão.

Daniel Alemão, do Mogi

Daniel Alemão também ficará no Mogi por mais uma temporada (Allan Conti/Divulgação)

Após a eliminação na semifinal do NBB 2013/2014, a diretoria renovou imediatamente o contrato do espanhol técnico Paco García, que vai para sua segunda temporada em solo brasileiro e ficou muito agradecido com o carinho e confiança que recebeu em Mogi das Cruzes.

“Quando você recebe o tanto de carinho e respeito que recebi em Mogi das Cruzes existe muita vontade de permanecer. Eu tenho um compromisso moral com quem apostou em mim quando ainda era um desconhecido no Brasil”, declarou Paco García.

Do elenco que encerrou o último NBB, Paco García não contará com o ala Marcus Toledo, Ted Simões e o jovem armador Jefferson Campos, todos eles contratados pelo Pinheiros/SKY, do ala Pedro Patekoski e do pivô norte-americano Jeff Agba, além do também estadunidense armador Jason Smith e o gigante pivô Sidão, de 2m15 de altura, que pousaram em solo mogiano com a temporada em andamento.

“Seguimos querendo melhorar. Ainda vamos acertar a equipe, arrumar algumas coisas, mas as expectativas são as melhores e a vontade de melhorar sempre é o principal em meu trabalho. Jogamos um jogo coletivo e com um time forte temos chances de continuar evoluindo”, explicou o treinador do Mogi.