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Os passos do campeão

18-06-2015 | 04:32
Por Liga Nacional de Basquete

Base em SP, Seleção aos 19 anos, 12 temporadas nos EUA e passagens no NBB: relembre a trajetória e a volta por cima de Leandrinho Barbosa até o título da NBA

O basquete brasileiro está em festa. Com o título do Golden State Warriors, conquistado na última terça-feira diante do Cleveland Cavaliers, Leandrinho Barbosa se sagrou campeão da NBA e colocou o Brasil no topo da maior liga do mundo na modalidade pela segunda vez na história, se juntando, assim, ao pivô Tiago Splitter, que faturou o anel com o San Antonio Spurs na temporada passada contra o Miami Heat.

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Leandrinho se tornou o 2º brasileiro a ganhar um anel de campeão da NBA (NBA/Getty Images)

Leandrinho se tornou o 2º brasileiro a ganhar um anel de campeão da NBA (NBA/Getty Images)

Mas antes de suas 12 temporadas no melhor basquete do mundo, Leandro Mateus Barbosa passou por muitas adversidades e teve de superar diversos obstáculos até chegar ao tão almejado anel de campeão da NBA.

Primeiros passos

Nascido em São Paulo (SP), o ainda franzino, mas determinado jogador, de família bastante humilde, iniciou sua trajetória no basquete no Continental (SP). Ainda nas categorias de base, passou por Tietê (SP), Espéria (SP) e Corinthians (SP), até chegar ao Palmeiras (SP). E foi no clube alviverde que o atleta começou de fato a se tornar um jogador e viu sua carreira decolar de vez.

Mesmo muito jovem, Leandrinho já mostrava ampla superioridade entre os garotos de sua idade, muito por conta de sua árdua rotina de treinamento e vontade de crescer, envolvendo treinos na madrugada e até no escuro. Toda essa gana foi potencializada em resultado, e o atleta rapidamente chegou à categoria adulta da do clube palestrino. Foi aí que, em 1998, Leandro se tornou o mais jovem jogador a entrar em quadra pelo Palmeiras na história – marca superada por Wesley Sena, hoje do Paschoalotto/Bauru, no NBB 5.

Em sua passagem pelo Palmeiras, o atual campeão da NBA teve a oportunidade de trabalhar com dois técnicos que hoje atuam ativamente no NBB: Lula Ferreira, consagrado técnico do Franca Basquete, Léo Costa, técnico do Macaé Basquete, e João Monteiro, o “Padola”, assistente da Liga Sorocabana na última temporada do maior campeonato do basquete brasileiro, que se disse lisonjeado em fazer parte da formação de Leandrinho e o parabenizou pelo título.

“Fiquei muito orgulhoso em ver o Leandrinho campeão da NBA. Nessa hora a gente acaba voltando no passado e lembrando de todas as dificuldades que ele já passou, pegando carona pra ir pra casa, chegando mais cedo no clube, treinando muito mais do que os outros e sempre buscando o objetivo de chegar a um alto nível. Sinto muito orgulho dele. Me orgulho também por ter participado da formação dele, não só eu como os outros técnicos também. Ele mostrou que é possível chegar longe desde que haja determinação e vontade de evoluir”, disse Padola, que treinou Leandrinho na categoria Sub-17 do Palmeiras.

Ainda juvenil. Leandrinho Barbosa já atuava efetivamente na equipe adulta do Palmeiras (Arquivo/Divulgação)

Ainda juvenil, Leandrinho Barbosa já atuava efetivamente na equipe adulta do Palmeiras (Arquivo/Divulgação)

Bauru e a consolidação

Em 2001, ainda com 18 anos, Leandro se transferiu para o Bauru, onde teve a oportunidade de trabalhar com o técnico Guerrinha, atual treinador do Paschoalotto/Bauru, e de quebra se sagrou campeão nacional no ano seguinte, ao lado de outros grandes craques do basquete brasileiro como os experientes Vanderlei Mazzuchini, Josuel, Raul Togni e o norte-americano Jeffty, além de outros jovens assim como Leandrinho, como Murilo Becker, hoje do próprio Bauru, e Marquinhos, tricampeão do NBB com o Flamengo.

Leandrinho comemorando o título nacional de 2002 com o Bauru ao lado do craque Vanderlei (Divulgação)

Leandrinho comemorando o título nacional de 2002 com o Bauru ao lado de Vanderlei (Divulgação)

“Ele já era um atleta de bastante talento, tanto que era titular daquela equipe que tinha vários jogadores renomados na época. Ele teve participação fundamental no título do Brasileiro de 2002, com atuações brilhantes. Lembro bem de um jogo nos playoffs contra o Minas em que estávamos perdendo até os últimos minutos e ele fez a cesta que virou o jogo e nos deu a vitória. Mesmo garoto naquela época, ele já tinha muita personalidade e sempre foi um jogador que atuou com muita intensidade”, disse o ex-pivô Josuel, companheiro de Leandrinho nos tempos de Bauru.

Após o título, Leandrinho buscou novos horizontes e decidiu se inscrever no Draft de 2003 da NBA. Na loteria da principal liga de basquete, o paulista de 1,91m de altura foi selecionado na 28ª posição do primeiro round pelo San Antonio Spurs. Em uma troca, o ainda jovem atleta foi parar no Phoenix Suns, franquia no qual deu início à sua trajetória no melhor basquete do mundo e ficou por mais sete temporadas.

“Na época a gente não imaginava que ia acontecer tudo isso na carreira dele, até porque ainda não era comum para o jogador brasileiro atuar por tanto tempo na NBA. Mas ele sempre buscou melhorar e treinava demais para isso. O irmão dele (Arthur Barbosa) pegava bastante no pé dele nos treinos e não é à toa que ele alcançou todas as glórias na carreira. Fico muito feliz pelo Leandrinho chegar aonde chegou, por toda a história dele”, exaltou Josuel, hoje treinador de pivôs do Paschoalotto/Bauru.

Aos 19, o Mundial com a Seleção Adulta

Com 19 anos, Leandrinho disputou o Mundial de 2002 em Indianápolis com a Seleção Adulta (Divulgação/CBB)

Com 19 anos, Leandrinho disputou o Mundial de 2002 em Indianápolis com a Seleção Adulta (Divulgação/CBB)

Em 2002, Leandrinho, ainda com 19 anos, foi convocado pelo técnico Hélio Rubens para defender a Seleção Brasileira no Mundial de Indianápolis (EUA). O elenco contava com algumas jovens promessas que treinador apostou, como o também campeão da NBA, Tiago Splitter (San Antonio Spurs), na época com 17 anos, Alex Garcia (Bauru), Guilherme Giovannoni (Brasília), Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers) e Rafael “Bábby” Araújo (ex-Flamengo, Paulistano, Mogi e Pinheiros) que também passou pela NBA – Toronto Raptors e Utah Jazz.

“Fiquei muito feliz pelo Leandrinho. Quando cheguei à Seleção naquela época disse que só aceitaria o cargo se eu pudesse promover uma renovação, então convoquei seis atletas com menos de 20 anos para o Mundial de 2002. E quando pensei em convocá-lo, liguei para o técnico dele no Bauru na época, o Guerrinha, e ele me deu todo o aval e elogiou demais o Leandrinho. Foi aí que começou a trajetória dele na Seleção. Até hoje ele me chama de professor e agradece por ter o convocado naquela oportunidade”, falou Hélio Rubens.

O Brasil terminou aquela Copa do Mundo na oitava posição e teve como principal destaque o ala Marcelinho Machado, hoje ídolo do Flamengo e na época atleta do rival Fluminense (RJ). No entanto, o principal ponto daquela experiência em Indianápolis foi o início de uma trajetória de jovens atletas de extremo potencial, que hoje, quase 13 anos depois, são referências na nossa Seleção.

“A imprensa de Indianápolis falou muito da nossa equipe naquela época e disse que se o grupo fosse mantido o Brasil seria uma potência. Agora, 13 anos depois, todos aqueles jovens são as referências na Seleção, então me sinto muito gratificado. Fico muito feliz em ver que os dois campeões da NBA foram lançados por mim na Seleção. Fiz minha parte e eles corresponderam. Me sinto parte desses títulos deles na NBA tudo e estou muito orgulhoso”, completou Hélio Rubens.

“Jogador de NBA”

Depois de sua participação decisiva no título nacional do Bauru e também de fazer parte da Seleção Brasileira no Mundial de 2002, Leandrinho chegou à NBA com um futuro obscuro à sua frente. Ainda em uma época em que os jogadores internacionais tinha poucas chances nas franquias norte-americanas, Leandrinho conseguiu se firmar no Phoenix Suns.

Humilde, o promissor ala comprou uma bicicleta para ir aos treinos do Phoenix Suns e assim deu início à sua rotina na Terra do Tio Sam. Motivo de piadas por parte de seus novos companheiros, Leandrinho tomou um susto ao ver sua bike destruída no lixo ao final do treino. Foi aí que os colegas de time deram um carrão de luxo ao brasileiro. Ainda em seus primeiros contatos com os Suns, Leandro, impressionado com a estrutura do ginásio, perguntou ao técnico se podia dormir por ali mesmo. Seu treinador o alertou sobre a falta de conforto, mas o brazuca insistiu e assim ficou, dizendo que passaria a noite do chão e apoiado em uma bola de basquete.

Leandrinho foi eleito o Melhor Reserva da NBA em 2007 (Divulgação)

Leandrinho foi eleito o Melhor Reserva da NBA em 2007 (Divulgação)

Em sua primeira temporada na NBA (2003/2004), Leandrinho até teve mais partidas como titular (46) do que como reserva (24), mas foi vindo do banco que o brasileiro se firmou de vez no maior campeonato de basquete do planeta. Em uma equipe liderada pelo brilhante armador Steve Nash, Barbosa passou a ter um importante papel, sempre iniciando as partidas como suplente.

Foi então, que na temporada 2006/2007, o basquete de Leandrinho explodiu e o jogador se tornou o primeiro brasileiro a faturar um prêmio individual na NBA, ao ser eleito o Melhor Sexto Homem da competição. Para isso, atingiu a maior média de pontos em uma temporada de sua carreira em solo norte-americano: 18,1 pontos por partida.

A primeira passagem de Leandrinho pelos Suns durou sete temporada e neste tempo a equipe chegou duas vezes seguidas à decisão da Conferência Oeste – acabou derrotada pelo San Antonio Spurs em 2005 e pelo Dallas Mavericks no ano seguinte. Em 2010, depois de um grande desmanche na franquia do Arizona, o brasileiro acabou trocado para o Toronto Raptors.

O NBB e a recuperação

Durante a paralisação na NBA, Leandrinho acertou com o Flamengo para a temporada 2011/2012 e fez sua estreia no NBB. Sua passagem pelo clube da Gávea foi curta e durou apenas seis partidas, pois o lockout da liga norte-americana chegou ao fim e o jogador voltou para os Estados Unidos. Nas partidas que fez pelo Fla, o paulista somou médias de 19,0 pontos e 4,0 assistências.

Em dezembro de 2011, o atleta retornou ao Toronto Raptors após sua passagem pelo Rio de Janeiro e deu continuidade à sua trajetória na NBA. Na temporada seguinte, Leandro rodou por algumas franquias, como Indiana Pacers, Boston Celtics e Washington Wizards, mas as lesões e a falta de uma sequência de partidas o atrapalharam nestas franquias, o que ocasionou seu retorno ao Brasil.

Leandrinho, do Flamengo, e Pedro, do Paulistano

Durante a paralisação da NBA em 2011, Leandrinho defendeu o Flamengo no NBB 4 (Alexandre Vidal/Fla Imagem)

Vindo de uma grave lesão que o impossibilitou de disputar um jogo sequer pelos Wizards, Leandrinho voltou ao seu país de origem para um recomeço na carreira. Com a temporada 2013/2014 em andamento, o ala de 1,91m de altura acertou com o Pinheiros para a disputa do NBB 6. A fim de ganhar ritmo de jogo para retornar à NBA, o atleta mostrou que realmente é diferenciado e sobrou nas quadras da principal competição do basquete brasileiro.

Sua estreia foi justamente contra o Flamengo, equipe no qual defendeu em sua primeira passagem pelo NBB. Na ocasião, o jogador anotou 16 pontos e liderou a vitória pinheirense sobre os rubro-negros, pelo placar de 74 a 62. Após a estreia com o pé direito, Leandrinho seguiu apresentando um basquete de alto nível e acumulando grandes atuações em solo verde-amarelo.

“A participação do Leandrinho no Pinheiros teve duas etapas. A primeira foi a que ele pediu para somente treinar conosco para readquirir a forma física depois da lesão. E a segunda foi o momento em que ele passou a fazer parte da equipe. Foi uma gratíssima experiência e ele foi muito útil para os resultados que alcançamos. Ele sofreu bastante e foi muito contestado por lesões e uma série de coisas, mas mesmo muito desacreditado ele teve a superação de dar a voltar por cima e agora foi coroado com um título da NBA”, disse o técnico de Leandrinho no Pinheiros, Cláudio Mortari.

Em alta do Pinheiros, Leandrinho é só elogios ao experiente técnico Cláudio Mortari (João Pires/Divulgação)

Para retomar o ritmo de jogo após grave lesão, Leandrinho jogou oito partidas do NBB 6 pelo Pinheiros e deu início a sua volta por cima (João Pires/LNB)

Depois de oito jogos e com ritmo lá em cima, Barbosa recebeu uma proposta para voltar à NBA e deixou o clube pinheirense com média de 20,7 e 3,1 assistências nas partidas do NBB. Em seu retorno a Terra do Tio Sam, decidiu arriscar e acertou um contrato de dez dias com o Phoenix Suns. Seu rendimento nas partidas deste curto período agradou, e seu primeiro time na liga norte-americana estendeu o contrato até o final da temporada 2013/2014.

“Essa passagem pelo Pinheiros permitiu a ele voltar a nível de competição. O NBB tem um nível muito bom, é um campeonato muito forte e com isso ele conseguiu readquirir sua forma física e se adaptou a realidade do basquete brasileiro. Sabíamos que na medida em que ele triunfasse muitas portas se abririam. E foi o que aconteceu. Foi muito bom para ele e todos nós ficamos muito felizes com esse título que ele ganhou”, concluiu Cláudio Mortari.

No Golden State, a volta por cima e o anel

Ao final de seu contrato com os Suns, Leandrinho foi contratado pelo Golden State Warriors, que apesar do técnico novo, apostou na continuidade de seu elenco ao manter praticamente todos os atletas que atuaram na temporada anterior. Desta forma, a franquia da Califórnia conquistou a melhor campanha da temporada regular e chegou aos playoffs como uma das fortes favoritas ao título. Sempre vindo do banco, o brasileiro somou média de 7,1 pontos.

O favoritismo foi confirmado e a equipe de Oakland chegou ao topo. Sob o comando de Stephen Curry, eleito o MVP da temporada regular, o Golden State fez vítima atrás de vítima e conquistou o título da Conferência Leste ao bater o Houston Rockets, de James Harden, por 4 a 1. Na decisão da NBA, Leandrinho e os Warriors encontrariam ninguém menos que o formulado Cleveland Cavaliers, do astro LeBron James.

Logo nos dois primeiros jogos, duas prorrogações e uma vitória para cada lado, e a já prevista emoção se concretizou na decisão pelo troféu (1 a 1). Os Cavs ficaram em vantagem na série após vencer o Jogo 3 (2 a 1). Mas os Warriors justificaram o nome da franquia e mostraram seu espírito de guerreiro para vencer os três duelos seguintes e comemorar um título após 40 anos.

O brasileiro teve médias de 4,8 pontos e 10,5 minutos nos seis confrontos da decisão da maior liga de basquete do mundo. Com destaque para sua atuação no Jogo 5, no qual ficou em quadra por 17 minutos e contribuiu com importantes 13 pontos, com direito a bolas importantes em momentos cruciais do jogo. Assim, além de se tornar o segundo atleta verde-amarelo a ser campeão da NBA, Leandrinho virou o primeiro jogador que já passou pelo NBB a conquistar o título da liga norte-americana.

Após muita luta e superação, Leandrinho Barbosa chegou ao histórico título da NBA com o Golden State Warriors (NBA/Getty Images)

Após muita luta e superação, Leandrinho Barbosa chegou ao histórico título da NBA com o Golden State Warriors (NBA/Getty Images)