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As armasdo Mogi

16-05-2018 | 07:55
Por Douglas Carraretto

Big Three, formação leve e “casca grossa”: veja quais serão as armas do Mogi para sua primeira final de NBB CAIXA

O Mogi das Cruzes/Helbor não chegou à sua primeira decisão de NBB CAIXA à toa. São muitos motivos que fizeram esse sonho de anos se tornar realidade e os mesmos que fazem a cidade sonhar com o inédito título nacional.

Levamos em conta toda a temporada mogiana e trouxemos a você algumas das principais armas da equipe para as Finais, que terão início neste sábado (19/05), no Ginásio Hugo Ramos, às 14 horas, ao vivo nos canais Band e SporTV.

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O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete (LNB), em parceria com a NBA, e conta com o patrocínio master da CAIXA, os patrocínios da SKY, INFRAERO, Avianca, Nike, Penalty e Wewi e os apoios do Açúcar Guarani e do Ministério do Esporte.

O Big Three

São pouquíssimas as equipes não só no Brasil, mas em toda a América Latina, que têm um trio norte-americano do calibre do trio do Mogi. A expressão “Big Three”, muito comum na NBA, se encaixa perfeitamente para esses três atletas, que são referência máxima para o elenco mogiano:

Shamell, um dos jogadores mais respeitados no continente e maior cestinha da história do NBB CAIXA, Tyrone, destaque da Liga das Américas 2018 e de toda a temporada do Mogi, e Larry Taylor, que disputou uma Olimpíada e um Mundial pela Seleção Brasileira e há tempos é um dos grandes armadores do basquete nacional.

O “Big Three” formado por Tyrone, Larry e Shamell é a referência do elenco do Mogi (João Pires/LNB)

“Eles passam muita segurança a todo o elenco, não só pela qualidade técnica e tática, mas também pelo comprometimento com o time. Geralmente estrangeiros jogam por estatística, eles não. Eles jogam para ganhar os jogos, não pensam em estatísticas pessoais para arrumar contrato. Esse espírito faz uma diferença muito grande. Eles com certeza são referências e serão muito importantes nessas Finais”, disse o técnico do Mogi, Guerrinha.

Mais do que os currículos desses atletas, o que mais chama a atenção são os momentos que vivem os três.

Dono de um dos maiores arsenais ofensivos da história do basquete brasileiro, Shamell viveu altos e baixos na temporada, mas finalizou a série semifinal contra o Flamengo registrando nada menos que 40 pontos na vitória que selou a classificação do Mogi às Finais.

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Com a épica atuação, o camisa 24 se firmou ainda mais como cestinha da equipe no NBB CAIXA, com média de 15,7 pontos por partida. Seu poder de decisão foi provado em diversas oportunidades e certamente será um diferencial para o time do Alto Tietê nas Finais contra o Paulistano.


Tyrone vem sendo o atleta mais regular do Mogi na temporada e está jogando o “fino da bola”, a ponto de ser considerado grande destaque individual do time no ano. Muito versátil, ele contribui de diversas formas, seja pontuando, dando assistências, pegando rebotes e também na defesa.

O ala/pivô foi o segundo cestinha (18,6 pontos por jogo) e jogador mais eficiente (21,3 de valorização) da Liga das Américas 2018, que terminou com vice-campeonato dos mogianos. No NBB CAIXA, é o reboteiro (7,1 rebotes por jogo), segundo cestinha (11,9 pontos) e jogador mais eficiente (15,0 de valorização) do Mogi na atual edição.

E por fim, Larry Taylor é aquele atleta que dispensa comentários. Ele literalmente faz de tudo na quadra e entrega o melhor possível à sua equipe: pontua, dá assistências, controla o jogo, briga em todas as bolas com a raça de um menino. Tudo isso aos 38 anos.

Dentre os três gringos da equipe, Larry é o único que já esteve nas Finais do NBB CAIXA. Foi em 2014/2015, pelo Bauru – acabou derrotado pelo Flamengo em série melhor de três, por 2 a 0. Atualmente, acumula sólidas médias de 11,8 pontos, 5,0 rebotes e 4,7 assistências (14,7 de eficiência).

“Temos uma confiança muito grande um no outro. Sabemos da nossa qualidade e que juntos podemos fazer a diferença. Somos três americanos (Larry se naturalizou brasileiro) que entendem um ao outro e por isso conseguimos formar um belo trio. Muitas vezes começamos a vibrar e isso acaba virando a chave de todos os outros do time”, declarou Shamell.

“Já joguei em um trio, que era eu, Marquinhos e Olivinha (Pinheiros), mas esse de agora com Larry e Tyrone é bem diferente. Temos personalidades diferentes e conseguimos ajudar um ao outro a crescer. Se você for ver o Tyrone nos últimos quatro anos, cresceu muito. Larry conseguiu ser aquele Larry antigo, jogando com felicidade. Somos amigos, irmãos, não trocamos isso por nada e estamos crescendo juntos”, concluiu o maior cestinha da história do NBB CAIXA.

Formação leve

Um dos grandes trunfos do Mogi para eliminar o Flamengo foi a formação leve, sem um pivôzão “5” imposta pelo técnico Guerrinha. Em diversas oportunidades, o treinador formou seu garrafão com os alas/pivôs Fabrício e Tyrone, que atuam mais abertos e deixam o garrafão livre para infiltrações no 1×1.

Diante do Flamengo, essa formação, que ficou conhecida como “Small Ball” pelo que fez o Golden State Warriors na NBA, funcionou muito porque os rubro-negros sempre atuaram com um pivô 5 em quadra, seja Varejão ou JP Batista, que acabavam ficando em desvantagem contra Tyrone ou Fabrício (como no vídeo abaixo).


Até mesmo na defesa esse sistema funcionou muito bem. Fabrício e Tyrone são capazes de trocar de marcador a todo momento não só entre os pivôs adversários, mas também com atletas menores, o que não deixou o Flamengo obter vantagem nos corta-luzes e não causou desequilíbrio tão grande à defesa mogiana.

“Essa formação sempre foi útil e eu sempre usei. É claro que você não consegue usar 40 minutos, pois tem momentos que exigem outras coisas. É como se você tivesse uma caixa de ferramentas, você usa o que precisa para cada situação. Mas com certeza essa é a nossa melhor formação hoje”, revelou o técnico Guerrinha.

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O Paulistano também usa formações mais leves, com os pivôs David Nesbitt, Du Sommer e até o ala/pivô Lucas Dias, que são mais móveis e versáteis. Com isso, o plano com Tyrone e Fabrício pode ajudara a igualar as ações conta o CAP. Caberá agora ao técnico Guerrinha desvendar esse mistério e achar uma nova forma de causar desequilíbrio à defesa adversária.

Jimmy e os “coadjuvantes de luxo”

O “Big Three” formado por Shamell, Larry e Tyrone costuma receber significativas ajudas de alguns de seus “coadjuvantes de luxo”, que em diversas oportunidades aparecem e atuam como verdadeiros protagonistas. O principal deles é o ala Jimmy Dreher.

Um dos atletas de maior evolução nos últimos anos, Jimmy vem agregando cada vez mais atributos ao seu jogo e se tornou um dos principais alas do basquete brasileiro, mesmo não sendo um “criador” de jogadas.

Conhecido por sua defesa fulminante, o que inclusive lhe rendeu o prêmio de Melhor Defensor do último NBB CAIXA, o ala de 27 anos demonstrou uma incrível melhora na parte ofensiva, com bolas de 3 pontos (principalmente da zona morta), enterradas e novos recursos de arremessos de 2 pontos.


“Toda essa minha evolução se resume em trabalho. Todos os dias fui aprendendo, com vitórias e derrotas, trocas de técnico, mudanças de estratégia, tudo isso influencia. Jogamos muitos torneios internacionais e ainda tive algumas idas para a Seleção Brasileira, então isso também me ajudou a ter uma evolução muito boa nos últimos anos”, comentou Jimmy.

O elenco mogiano ainda tem outros nomes de tamanha importância, como o experiente pivô Caio Torres, único campeão do NBB CAIXA da equipe. O jogador conquistou o título pelo Flamengo na temporada 2012/2013 e ainda foi eleito o MVP das Finais contra o Uberlândia.

Além dele, nomes como o capitão Filipin, um dos grandes chutadores do NBB CAIXA, o jovem armador Vithinho Lersch, autor do único triplo-duplo da temporada, e o ala/pivô Fabrício, fator chave para o bom desempenho do time nos playoffs, são atletas importantíssimos vindos do banco que podem fazer a diferença para o Mogi nessas Finais.


“O tripé do time com certeza é Shamell, Larry e Ty, pelos minutos e pela qualidade dos três, isso é indiscutível. Mas nosso time conseguiu, principalmente contra o Flamengo, agregar muitas coisas com todos os atletas. Todo mundo que entrou ajudou muito, seja na defesa, no ataque ou na energia em quadra. Todos os atletas, como eu, Caio, Fabrício e etc., têm condições de aparecer como ‘elemento surpresa’ e estão preparados para ajudar a equipe da maneira que precisar”, declarou Filipin.

“Casca grossa”

Como já foi dito durante a série contra o Flamengo, o Mogi é um time “casca grossa”, daqueles duros de bater. Essa “casca” se deve não só à experiência de seus atletas e de seu técnico, mas também por todas as decisões recentes que esse grupo já passou.

Desde que o técnico Guerrinha assumiu o comando do Mogi na temporada 2016/2017, a equipe chegou a quatro finais em seis campeonatos possíveis: Campeonato Paulista 2016 (campeão), Liga Sul-Americana 2016 (campeão), Liga das Américas 2018 (vice-campeão) e agora o NBB CAIXA 2017/2018 (indefinido).

“Trouxe um pouco da minha experiência e meu tipo de relacionamento com os jogadores. Sei colocar para os jogadores uma linguagem que não agride, mas que ao mesmo tempo cobra. Já existia um trabalho muito bom aqui em Mogi. Quando cheguei e já tinha muita coisa trabalhada, desde a passagem do Paco (García) até o Danilo Padovani (hoje assistente). Com o tempo fui colocando algumas coisas minhas que acredito que tenha casado muito bem”, contou Guerrinha.

Seis campeonatos, quatro finais, dois títulos: esse é o Mogi das últimas três temporadas (Divulgação/FIBA)

Mas não são só as vitórias que aumentam a “casca” do grupo. As derrotas também ajudaram no processo de amadurecimento do time e os prepararam para novas decisões. Uma delas foi no último NBB CAIXA, em que o Mogi foi eliminado pelo Universo/Vitória nas quartas de final perdendo o Jogo 5 em casa.

Outra foi na semifinal Campeonato Paulista 2017, com virada sofrida justamente contra o Paulistano. Na ocasião, o time do técnico Guerrinha venceu os dois primeiros jogos da série em pleno Ginásio Antonio Prado Jr (2 a 0) e teve duas chances de fechar a série no Hugão, mas perdeu os dois jogos seguintes diante de sua torcida e acabou derrotado no Jogo 5 na capital paulista.

Você sempre aprende quando perde. Às vezes você tem que reconhecer que o adversário foi melhor, qual foi a postura que ele adotou, qual jogador foi diferente, qual estratégia foi diferente. Nós aprendemos e a cada ano ficamos mais fortes. Eu, Filipin, Vithinho… aí um jogador sai, outros chegam, é assim. Fomos ganhando, perdendo, sofrendo, tudo isso juntos. Assim ficamos mais fechados e prontos para agarrar as próximas oportunidades”, comentou Shamell.

Vale lembrar que um núcleo de cinco atletas do elenco do Mogi joga junto desde a temporada 2014/2015: Shamell, Tyrone, Jimmy, Filipin e Vithinho Lersch. No ano seguinte chegou Larry Taylor. Essa manutenção do grupo certamente é um dos fatores primordiais para o sucesso da equipe que, três anos depois, alcançou a tão sonhada decisão do NBB CAIXA.

“Costumo dizer que, para um trabalho ter resultado, não é da noite para o dia. Precisa-se de tempo, projetos a longo prazo. Aqui em Mogi eles entenderam isso. Foi plantada uma semente lá atrás, com o Paco (García, técnico espanhol), e foi dando resultado. Foram chegando peças, mas a base foi mantida. Nos conhecemos muito dentro e fora de quadra. Batemos na trave nos últimos anos, mas juntos vamos correr atrás desse título que ainda não temos”, disse o capitão Filipin, único remanescente do início do projeto do Mogi em 2012.

Mogi criou um núcleo sólido de atletas desde 2014/2015 e os frutos vem sendo colhidos a cada ano que passa (Divulgação/LNB)