HOJE
RAIO X DAS FINAIS! - SESI FRANCA X SÃO PAULO
Por Gustavinho Lima
A Prancheta do Gustavinho analisa o momento mais importante da temporada 22/23 no NBB. As duas equipes que decidirão as finais da elite do basquete brasileiro estarão frente a frente e nosso armador apontou cada detalhe destes duelos.
O nível dos playoffs do NBB nunca foi tão alto. A grande final desta temporada traz dois times que estão jogando um basquete de muita intensidade e qualidade elevada. O São Paulo chega com muita moral, após uma varrida histórica contra o Flamengo. Já o Franca, melhor time durante a fase de classificação, teve que suar diante do Minas para conseguir a classificação para a finalíssima.
O playoff é sobre ajustes. O objetivo é conseguir tirar vantagem e explorar variações táticas em cada jogo da série melhor de cinco. “É igual cadeira de barbeiro… Um por vez!”. A frase célebre de Cláudio Mortari se fez valer nesta série semifinal.
Seu filho, Bruno Mortari, soube tratar jogo a jogo com a devida importância para conseguir derrubar o Rubro Negro carioca, maior vencedor do NBB, por 3 a 0. Para delírio do torcedor tricolor, nenhum comentarista do NBB (inclusive eu) acertou em cheio qual seria a final. Motivo de chacotas merecidas pelos torcedores, sócios e cartolas do clube.
Mas o time do Morumbi mereceu demais a classificação. Contou com um ginásio completamente abarrotado e quebrou um tabu que já durava mais de 2 anos contra o time da Gávea.
Franca sangrou mais uma vez até o jogo 5 para carimbar o passaporte na grande final. A lenda francana, Hélio Rubens sempre foi conhecido por ser um motivador nas preleções. Seu filho Helinho herdou esse talento do pai e preparou seu time com o máximo de energia e atenção para essa partida, encarando a eliminação na semifinal. As arquibancadas lotadas do ginásio Pedrocão foram cruciais para empurrar o time e garantir a classificação.
Os torcedores francanos viram o conterrâneo Alexey, prata da casa, causar estrago e deixar as chances do Minas vivas até o último suspiro. O big 3 de Franca teve que trabalhar duro para ganhar o direito de defender o seu caneco contra o São Paulo.
Final é hora de separar os meninos dos homens. Tanto Helinho Rubens como Bruno Mortari são pupilos de dois dos maiores vencedores do basquetebol brasileiro. E conseguiram, entre outros feitos, serem os dois últimos campeões da BCLA e esse ano chegam a mais essa final de NBB dispensando credenciais. Cada um tem seu estilo de dirigir e estão acostumados a momentos decisivos.
O que pesa mais em um elenco, experiência ou vitalidade? Talento individual ou trabalho em equipe? Na Prancheta especial sobre as finais, eu faço uma análise jogador por jogador, posição por posição, daqueles que vão brigar pelo troféu mais cobiçado do basquete brasileiro. Confere aí:
RAIO X
São Paulo FC
Élinho – Armador clássico, líder dentro de quadra, “joga de terno”. Constantemente acha os companheiros dentro de quadra aproveitando seus bons momentos. Aprimorou sua defesa e vem sendo importante também na zaga. Prefere o passe (7,4 assistências por jogo) ao arremesso, mas nesta temporada vem sendo mais agressivo em relação à cesta (60 bolas de 3 convertidas, recorde da carreira). Leva vantagem de costas no poste baixo contra a maioria dos armadores, mas contra Georginho certamente não terá a mesma facilidade.
Corderro Bennett – É o melhor defensor do NBB (eleito em 21/22 com total méritos) e cada ano que passa fica mais sólido também ofensivamente (14,3 ppj com 61% de aproveitamento). Até o momento, na minha opinião, é o MVP dos playoffs pela consistência dentro de quadra neste mata-mata (fora o fator “cadeado”, anotou 16,2 pontos de média). Encarregado de defender os melhores jogadores rivais, pode ter um duro match com David Jackson e/ou Georginho.
Marquinhos – Reviveu o modo GOAT (greatest of all time, ‘melhor de todos os tempos’). É craque! Do alto de seus 2,08 faz parecer fácil jogar basquete. Impressiona a capacidade de pontuar de diversas maneiras. Uma espécie de Kevin Durant brasileiro. Quando cai no poste baixo, seu fade-away é uma aula à parte. Sempre mobiliza muitas ajudas adversárias e tem facilidade para fazer a bola correr. Contra Franca deve ter Jhonathan no seu encalço tentando reduzir suas ações.
Malcolm Miller – Esse é clutch! Sem medo de atirar bolas importantes, é o tipo de jogador que consegue criar arremessos a partir do drible ou através de saídas de bloqueio. Subiu demais de produção nas mãos de Bruno Mortari, que vem encorajando seu potencial de fogo (15,5 ppj). Foi o líder de bolas de 3 na temporada (125 bolas de três com 45 % de aproveitamento) e nos playoffs já matou 17 bolas em 6 jogos.
Lucas Pipoca – É um dos pivôs com a mão mais quente no NBB. Já matou 77 bolas de longa distância com 45 % de aproveitamento. Com boa mobilidade, costuma ser um jogador que “abre a quadra”. Com moral com o treinador Bruno Mortari é outro que tem carta branca para chutar. Com 2,08, ele tem ótima mobilidade e também a capacidade de defender jogadores da posição 5.
Túlio da Silva – O potencial atlético do pivô são paulino é invejável. Costuma brigar acima do nível do aro nos rebotes e enterradas (11,9 ppj e 7 rebotes). Se aproveita bastante da leitura de jogo dos bons armadores Élinho e Bennet para finalizar em boas condições. Jogando na posição 5, por muitos momentos terá a dura missão de defender Lucas Mariano. Mas correr a quadra em cima dos pivôs de Franca pode ser seu diferencial na série.
Coelho – Sem dúvidas é um dos melhores “sexto homem” da temporada. Reserva de luxo do Tricolor e sempre traz muita energia dos dois lados da quadra. Sabe bem o seu papel na equipe e a hora certa de “puxar o jogo”. Vai ser fundamental e um match muito interessante com o argentino Santiago Scala.
Betinho – O ala tem faro de cesta. Não à toa é o 10° cestinha da história do NBB (5.789 pontos na carreira). Muito competitivo dentro de quadra, cresceu nos playoffs vestindo a camisa tricolor e foi o responsável pela roubada de bola que deu a vitória ao São Paulo no jogo 3 da semifinal.
Ansaloni – É um dos jogadores mais elogiados por sua postura de equipe. Sempre que entra agrega coisas interessantes. Tem ótima leitura de jogo e boa mão nos chutes de média e longa distância. Mesmo com dificuldade nas ajudas da defesa de “pick and roll”, pode ser importante para tentar defender os homens grandes de Franca próximo ao aro.
Shamell – Jogou somente um jogo nos playoffs semifinal, mas mostrou seu talento e espírito competidor. É uma estrela do NBB, o maior cestinha da história (8406 pontos) sempre que entra em quadra deixa tudo o que pode. Tem usado sua experiência para ser um mentor na beira da quadra. Multicampeão atuando no Brasil, só falta o NBB no seu hall de títulos.
Maciel – Jovem pivô tem pouco espaço no plantel tricolor. Jogador de 2,06 tem boa mobilidade e bom arremesso.
Bruno Mortari – É muito inteligente e consegue arrancar o melhor de seus jogadores. O basquete é um esporte de confiança e Bruno consegue ter uma equipe que exala confiança e está pronta para jogar os momentos decisivos. Para as tomadas de decisão tem como assistente o experiente Ênio Vecchi que já foi treinador da seleção brasileira.
Sesi Franca Basquete
Georginho – É totalmente fora de série ter uma armador com esse potencial. Fisicamente é um monstro! Mas erra quem acha que é só físico o seu talento. Capaz de definir no meio de tráfego, com bandejas, enterradas, bolas de dois tempos, também é capaz de chutar de dois pontos e também a partir do drible atrás da linha de três e ainda contribui com muitos rebotes e assistências (14,1 ppj, 8,1 rebotes e 6,2 assistências). Contra o São Paulo provavelmente vai ter Élinho e Bennet e Coelho se revezando para diminuir seu ímpeto ofensivo.
David Jackson – Tem 88/60/46 % de aproveitamento na temporada (lance livre, 2 pontos e 3 pontos respectivamnete). Ter DJ no time é ter a famosa “bola de segurança”. Eficiente em quadra, não requer muito volume de jogo mas costuma entregar quando é solicitado. Terá a missão de marcar Bennett em excelente fase e por momentos pode ter que defender Marquinhos e pode levar desvantagem em relação à altura.
Lucas Dias – vindo de uma temporada espetacular (17,1 ppj e 7,4 rebotes) chega a mais uma final para defender o caneco e seu título de MVP das finais. Jogador que não tem problemas em arriscar no fim de jogo, sem dúvida vai chamar a responsabilidade nesse final de campeonato. Contra o São Paulo, pode atrair muitas ajudas e ser peça chave para criar desequilíbrios e arremessamos livres de seus companheiros.
Lucas Mariano – É dominante dentro de quadra. Basquete é um esporte de intimidação e o pivozão vem se impondo com muita autoridade nesses playoffs (17 pontos de média no mata-mata). Dono de um arremesso excelente (91 triplos com 37 % de aproveitamento), obriga as defesas a saírem na linha de 3 para defendê-lo o que deixa o garrafão adversário vulnerável, possibilitando muito espaço para Franca criar as jogadas. Tão bom no poste baixo quanto nas bolas de longa distância, é muito complicado achar uma forma de marcá-lo no território nacional. Talvez a melhor forma de defende-lo seja ataca-lo nos “pick and rolls” do outro lado da quadra.
Márcio – Muitas vezes é quem muda o jogo vindo do banco. Sua volúpia defensiva coloca o time francano em outro patamar. O basquete moderno termina em “pick and roll” e Marcião é um dos jogadores mais hábeis para fazer ajudas, coberturas e segurar diferentes posições. Pode ser o jogador chave para tentar defender os miss match com Bennett, Élinho e o próprio Marquinhos.
Scala – É um chutador nato! São 146 tiros triplos com 47 % nas duas temporadas defendendo as cores francanas. Argentino frio e calculista é um dos melhores reservas do NBB. Acostumado a lidar com muitas decisões jogando pelo Instituto de Córdoba, encaixou muito bem no esquema de Helinho Garcia e tem coragem para arremessar nos minutos finais. É bom defensor e pode tentar desestabilizar os armadores são paulinos.
Jhonathan – Traz a experiência de ser tetracampeão do NBB por três times diferentes. Tem currículo invejável e venceu por Paulistano, Flamengo e Franca. Competitivo ao extremo, é dos jogadores que mais mantém a “bola viva” no NBB. É ótimo defensor e ataca com muita intensidade o rebote de ataque. Foi fundamental matando bolas importantes na última final do NBB no Pedrocão.
Reynan – Canhoto muito agressivo, conquistou o espaço na marra no elenco estrelar de Franca. Bate forte pra dentro do garrafão e tem personalidade para arremessar bolas importantes. Tem mostrado que não é somente um excelente prospecto e tem 10 minutos de média, estando pronto para sair como titular numa final de campeonato. O jovem pode ter seu arremesso “testado” pela defesa tricolor.
Mike Smith – “Tem a mão na cesta”! Tem facilidade para pontuar a partir de infiltrações e tiros de longa distância. Muitos fãs pedem sua permanência em quadra por mais tempo. O norte americano tem 10 pontos de média em pouco mais de 18 minutos jogados. É o atual MVP das finais da liga mexicana e pode não estar no radar do mapeamento adversário e “surpreender” nessas finais.
Edu Marília – Voltou bem de lesão, mas durante os playoffs não vem sendo muito utilizado. Não fosse o reserva da melhor dupla de pivôs do campeonato (e do Márcio), certamente seria mais aproveitado. O Pivô de 2,07 tem boas mãos e vai bem agredindo os rebotes.
Zu Jr – Grande prospecto da base francana, ainda tem poucas chances no elenco principal. Chama a atenção pelo potencial atlético nas bandejas e enterradas.
Helinho Garcia – É vibrante e cheio de energia na beira de quadra. Tem a difícil tarefa de administrar os egos de muitos candidatos a melhor jogador da temporada. E conseguiu a proeza de ter uma equipe sólida e motivada que quebrou o recorde de invencibilidade do basquete nacional nesta temporada. Como auxiliar técnico tem o detalhista Pablo Costa que também realiza bom trabalho na formação da base francana.
O jogo de ajustes de playoffs
Numa final, ter o melhor jogador em quadra pode fazer a diferença. Franca tem o seu Big 3, que é praticamente imarcável no 1 x 1, e vai demandar muitas ajudas pelo Tricolor. Já o São Paulo tem o maior vencedor da história do NBB para trazer tranquilidade nesse momento do campeonato. Marquinhos (ao lado de Olivinha) já venceu 6 títulos e nesta temporada, aos 38 anos, tenta mais um vestindo a camisa do seu time de coração.
“Talento ganha jogos, mas só o trabalho em equipe ganha campeonatos”. A frase é atribuída a Michael Jordan e deixa claro o caminho para conquistar a taça de campeão.
O coletivo sem dúvidas é o diferencial numa série melhor de 5 jogos. Cada comissão técnica vai trazer a sua estratégia para levar vantagem e tentar deixar o seu elenco o mais confiante possível para executar o plano de jogo a cada duelo.
Franca nas três vitórias na semifinal teve mais de 20 assistências e viu o seu trio de ferro, Lucas Dias, Lucas Mariano e Georginho, marcando mais de 50% dos pontos do time. Jogar em equipe não significa que muitos jogadores precisam pontuar e sim que todos precisam saber seu papel e trabalhar para conseguir as melhores opções de arremessos. E se no time de Helinho o Big 3 tá quente, bola neles! Em cada uma da vitória na semi contra o Minas um da trinca foi o destaque. Georginho deixou 28 tentos na 1ª vitória, Lucão fez 31 na 2ª e LD foi clutch com 28 pontos na 3ª e decisiva partida.
O São Paulo vem se garantindo na zaga. Tirando o jogo em que levou 115 pontos do Pinheiros (única derrota nos playoffs), teve média de 71,6 pontos sofridos nesse mata-mata. Nada demanda mais sintonia do que o trabalho defensivo. Na defesa, o atleta sabe quem começa marcando no início da posse de bola mas tem que estar disposto a correr, fazer rotações e múltiplos esforços e não sabe quem estará defendendo com os 24 segundos prestes a estourar. O Tricolor sustenta cada posição, persegue bem os chutadores e vende caro cada posse para poder evitar uma cesta.
O time dirigido por Bruno Mortari incorporou essa característica de defender em equipe, sempre com intensidade, boas leituras e principalmente uma postura extremamente altruísta e competitiva. Puxados por Bennet, Élinho e Coelho quando vem do banco, todos os jogadores têm um espírito de não ceder cestas fáceis o que numa final de campeonato pode ser o caminho para o ouro.
Prancheta é importante, treinar situações de jogo idem. No entanto, em uma final, o equilíbrio emocional (que também exige treino) e a confiança pode ser o fator decisivo numa série. Tomadas de decisão deixam marcas para o bem e para o mal. É preciso coragem para arremessar uma bola valendo o campeonato! Esta temporada foi super bem jogada e será lembrada por muitas histórias espetaculares e mais um capítulo especial está prestes a ser escrito.
Campeão só tem um e independente do resultado há de se valorizar a jornada tanto de Franca quanto de São Paulo. No entanto, somente um deles terá o nome cravado na história do NBB 15.