HOJE
SEI QUE MEREÇO ESTAR NESSE MEIO
Por Caio Hirai
No retorno do São José ao NBB após duas temporadas, conheça mais sobre a história do pivô Serjão
“A competição mais difícil que eu já joguei foi o NBB. O pessoal é adulto, né?! Mais experiente, mais físico. Em comparação, por exemplo, com a LDB, às vezes até tem jogadores físicos e rápidos, talvez por conta de serem jovens, mas quando você vai pro NBB, tem caras com mais experiência que já enfrentaram esse tipo de situação e sabem compensar essa falta de atleticismo que, às vezes, sobra na Liga de Desenvolvimento, isso torna a competição mais difícil”
Após duas edições fora do NBB, o São José Basketball retorna à elite do basquete nacional na temporada 22/23 e Serjão garante que a equipe do interior paulista não está na competição a passeio. A equipe conta com um elenco reformulado e muito diferente do que jogou o NBB em 19/20, apesar de velhos conhecidos ainda estarem no clube, é o caso do ala Nehemias Morillo, o argentino Diego Figueiredo e Serjão. O pivô de 22 anos se consolidou no basquete em São José, mas não foi lá que ele deu seus primeiros passos no esporte.
“Nasci em Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro, e meu pai trabalhava em Caxias. Morava com meus pais e minhas irmãs. Sempre joguei muito futebol, eu jogava em uma escolinha e o professor de basquete me viu, eu já era alto na época. Ele me chamou e eu nem sabia o que era basquete naquele momento, lembro muito vagamente. Ele me falou que estavam com uma bolsa em escola particular para quem jogasse basquete, eu estudava em escola pública e aquilo me atraiu. Eu comecei no final do ano, quando eu tinha 14 anos. Não sabia nada, nunca tinha pegado bola nem nada e assim começou. Nem sabia o que era, mas fui pegando gosto, melhorando, vendo os outros moleques jogarem, eles jogavam bem e aí eu queria jogar bem também né?
Eu estava no Rio, esse mesmo cara que me chamou pra jogar, Felipe Porto, hoje está na seleção sub-23, ele disse que eu tinha potencial e eu não sabia nada na época, mas em questão de dois ou três meses, já tinha pego as coisas de forma muito rápida. Eu estava no Tijuca e tinham mais dois outros moleques, também altos, que jogavam desde tipo, os 10 anos e eu já tava pau a pau com eles, brigando. Nesse tempo eu já estava fissurado, treinando demais e acabei tirando essa diferença de moleques que normalmente começam a jogar mais cedo. Uma vez que eu tomei gosto pelo basquete, passou a ser só isso! Basquete e basquete o dia todo, debaixo de sol do meio dia e foi isso.”
O basquete entrou na vida do garoto como algo novo que de início não passava de um hobby, mas assim é o esporte, e uma vez que Serjão se inseriu na modalidade, desenvolver seu talento foi algo natural. De cesta em cesta, o jovem pivô se viu frente a frente com a oportunidade de atuar em um clube profissional de basquetebol, a preço de deixar sua cidade e sua família para um lugar completamente novo. Sem recuar, Serjão não desperdiçou a chance.
“Em 2018 meu agente conseguiu um teste pra mim no São José, não foi nem uma proposta, foi um teste mesmo. Acabei indo pra lá com mais dois moleques, o que acabou me ajudando um pouco. Claro que a gente sente saudade de ver os pais todos os dias, passei a ver eles apenas algumas vezes no ano, é um peso no coração, mas no final das contas, a gente passa a aprender a conciliar melhor essas coisas e, com o tempo, fica mais fácil. Minha mãe ficou super preocupada e nem queria deixar eu vir, na época, eu tinha 17 anos e ela não gostou muito da ideia de eu sair de casa, mas acabou deixando. Meu pai foi até mais tranquilo, falou que se era aquilo que eu queria, que era pra eu ir mesmo e é isso! Eu nunca tinha saído do Rio na vida, cheguei em São José e já me deparei com um treino muito diferente, mais completo, com mais gente da minha altura, mais rápidos, melhores e eu já pensei: “É, aqui é outra coisa né”. Precisei correr bastante pra conquistar meu espaço aqui no São José. No primeiro momento, eu morava com os moleques no alojamento e nessa parte de estar morando sozinho, eu não senti tanto peso.
Eu comecei a acompanhar basquete mesmo quando eu vim pro São José. Apesar de não jogarmos na mesma posição, acho que meu maior ídolo é o Marquinhos, um cara alto que faz muita coisa mesmo com a altura dele, é diferente, sempre tive admiração por ele! Fora do Brasil, sou muito fã do Lebron James, um cara alto também que faz tudo dentro de quadra, pontua, arma, dá assistências. Um cara completo, não tem como não ter admiração por ele.”
Com o basquete correndo em suas veias, Serjão se voltou ao seu mais novo sonho: se tornar um jogador de elite! Foi o que aconteceu, o atleta chegou ao adulto do São José e entrou em quadra pela primeira vez no Novo Basquete Brasil, aos 18 anos, na edição 18/19 da competição. Na edição seguinte, Serjão já estava habituado ao jogo e conseguiu bons números no NBB. Foram 27 jogos, média de 4 pontos por jogo, além de 2,9 rebotes com uma média de 14 minutos em quadra. O que ninguém esperava era o impacto da pandemia do Covid-19 que deixou a edição 19/20 do NBB sem um devido final. Em meio às incertezas, Serjão acabou abraçando uma nova oportunidade em sua carreira.
“Quando saí pro Cerrado, eu já tinha dois ou três anos no São José e minha última temporada aqui foi a da pandemia, que o campeonato não acabou. Surgiu essa oportunidade, o Cerrado já tinha me observado e gostado de mim, aí eu fui. Outro lugar diferente, mas foi uma experiência boa pra mim. Eu curto mais São José por ser mais próximo do Rio, né?! Não é tão movimentado quanto o Rio, até por ser uma cidade menor, mas na minha folga posso visitar meus pais e tal, acho que por essa questão geográfica acabo preferindo aqui. Gostei muito de Brasília também, uma cidade muito boa, mas o ponto negativo é a distância pra mim. No Cerrado até tinham caras com quem eu já havia jogado junto, mas até que foi tranquilo, cara, acabei me acostumando com essa rotina. Muitos treinos também, a gente tá todo dia na quadra, passa a conviver bastante com o pessoal, nem dá pra pensar muito nisso.”
Após duas temporadas no Distrito Federal, o carioca voltou ao São José em 2022 bem a tempo de disputar uma competição que já conhecia muito bem: a Liga de Desenvolvimento de Basquete. Nesta edição da LDB, Serjão conseguiu seus melhores números da carreira, 15 pontos de média, 9.5 rebotes, além de uma eficiência de 18.5. É verdade que o time do interior paulista foi superado pelo Pinheiros na decisão do Torneio em um jogo emocionante com altos e baixos para as duas equipes, mas é de se destacar a excelente campanha do São José nesta LDB. Sobre a importância da competição no desenvolvimento do nosso basquete, Serjão não poupa elogios.
“Cara, eu acho que é muito importante, uma competição onde você pega os melhores do Brasil nessa idade e que às vezes não tem muito espaço na equipe adulta, uma minutagem maior faz falta. E a LDB é uma competição que você vem e você vai jogar, vai ter espaço e jogar com os melhores moleques da sua idade, aí dá pra ter um parâmetro de como você está, se está em um nível bom ou ainda precisa melhorar. É um marco na base pra você medir e se provar também, o NBB muitas vezes não te dá esse espaço para desenvolver sua qualidade técnica e seu entendimento de jogo. A LDB tem um papel fundamental nesse sentido. Desde o início a gente já estava bastante confiante para essa edição, eu cheguei quando o time já estava formado e eles já me falaram que a gente ia pra cima e tínhamos chances de levar essa LDB, temos um time qualificado com peças que se encaixam muito, sempre estivemos com essa ideia. No começo nem éramos um time que davam como certo, falavam que era um time bom mas que não iria chegar, mas a gente foi sabendo do nosso potencial. Com as nossas atuações, a expectativa foi aumentando, fomos sentindo que poderíamos chegar na final. O sentimento da final é de tristeza, não tem jeito, mas ficamos satisfeitos com o que nosso time fez e conseguiu. Por ser minha última LDB, eu queria bastante esse título mas não teve como, é uma final e é decidida em detalhes, se errar um pouco, já era. Eu acho que essa foi minha melhor LDB, as outras três também foram importantes, acho que jogando NBB também consegui levar um pouco de experiência para os outros moleques, mas pra mim foi a LDB em que eu mais tinha noção de jogo, tecnicamente e taticamente também.”
Agora o desafio do São José é outro. O time adulto estreia no NBB no sábado (15/10) quando vai ao Parque São Jorge enfrentar o Corinthians, às 19h. Com peças interessantes em seu elenco que mescla o talento de garotos da LDB com outros jogadores mais experientes, o time do interior paulista chega com boas expectativas nesse retorno à elite do basquete. Serjão já viveu quatro edições de NBB, está mais maduro na competição e conhece cada vez melhor seus adversários, e sobre esses, ele não se engana ao reconhecer os melhores que já enfrentou.
“Os melhores que eu já joguei contra são dois. Marquinhos, já enfrentei ele quando estava no Cerrado. Um cara com muito controle de bola, o chute dele de DPJ é muito alto e difícil de marcar, sabe controlar e proteger a bola. O outro é o Lucas Mariano, um jogador muito forte, tem um excelente chute de 3 pontos, muito recurso debaixo do aro. Estou bastante confiante no que sou capaz de fazer dentro do NBB, sei que mereço estar nesse meio! Estamos com uma equipe boa no São José, conseguimos juntar bastante jogadores jovens com outros mais experientes, acho que temos o que é preciso para ficarmos na parte de cima da tabela.”
Aos 22 anos, Serjão já vivenciou inúmeras experiências proporcionadas pelo basquetebol, seja dentro de quadra ou em cidades diferentes, mas uma coisa continuou da mesma forma durante todo esse tempo. Na zona oeste do Rio de Janeiro, sua família continua apoiando seus sonhos e acompanhando seu crescimento no esporte, sobre isso, Serjão não tem dúvidas.
“Eles estão muito orgulhosos de mim e agora aquela tensão que é normal de mãe em relação a eu estar longe já foi embora, ela tá mais tranquila. Eles acompanham todos os jogos, me mandam mensagem e tal. É muito legal ver meu pai também envolvido com o esporte, ele vê todos os jogos, virou amante do basquete.”