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Abriu o jogo

16-08-2013 | 11:50
Por Liga Nacional de Basquete

Antes do início oficial da pré-temporada do Brasília, técnico Sergio Hernandez fala sobre expectativas do primeiro ano em terras brasileiras

Hernandez será o sexto técnico estrangeiro a trabalhar em uma equipe que disputa o NBB (Divulgação)

Medalhista olímpico, seis vezes campeão da Liga Argentina, dono de dois títulos da Liga das Américas e muitas outras conquistas. Com um currículo de respeito, o técnico argentino Sergio Hernandez terá um novo desafio em sua carreira na próxima temporada. Contratado para comandar o Uniceub/BRB/Brasília, o treinador dirigirá pela primeira vez uma equipe brasileira e consequentemente disputará pela primeira vez o NBB.

Ainda sem iniciar os trabalhos à frente do esquadrão candango – a equipe iniciará sua pré-temporada a partir do próximo dia 27 -, “Oveja” (Ovelha, em português), como é conhecido em seu país natal, já sabe que terá uma pressão enorme em suas costas. Tricampeão do maior campeonato do basquete brasileiro entre 2009 e 2012, o time da capital federal acabou eliminado da última temporada da competição nacional nas quartas de final, pelo São José/Unimed. Porém, Hernandez passou pela mesma situação.

Após vencer a Liga Argentina três vezes seguidas com o Peñarol de Mar del Plata, também entre os anos de 2009 e 2012, o treinador amargurou uma eliminação na edição passada da competição para o Lanús na fase de semifinal. Depois de seis anos seguidos no comando da equipe da cidade litorânea do país vizinho, o treinador até pensou em ficar afastado das atividades de técnico por uma temporada, mas o convite da agremiação de Brasília mexeu com o argentino.

“Quando terminei a última temporada com o Peñarol, depois de seis anos seguidos, minha intenção era de parar por um ano. Mas quando o CEUB ligou para mim, eu não pensei duas vezes. Sabia que existiam duas ou três equipes no Brasil que poderiam ser uma boa opção para mim e o CEUB era a melhor delas. Sei que a pressão é grande por aqui, que a equipe sempre quer sair campeã, mas no Peñarol, no Boca Juniors, na seleção argentina, era igual. Então, estou acostumado com a pressão e me sinto bem quando vou a um lugar onde todos querem vencer. Se não for para vencer, fico na minha casa”, disse Hernandez.

Ciente de que trabalhará em uma equipe que sempre é apontada por todos para estar no lugar mais alto do pódio nas competições que disputa, o comandante argentino sabe que a pressão por títulos é grande. Hernandez, que além do NBB também terá o desafio de levar o Brasília ao título da próxima Liga Sul-Americana, não quis prometer conquistas, mas mostrou um discurso animador para os torcedores do time candango.

“Eles (torcedores) têm que ficar tranquilos, ter confiança e dar muito apoio para a equipe. Sempre que a equipe estiver em quadra, vai tentar fazer seu melhor. Esta é a mentalidade. Se isso servir para ser campeão, genial. Se não der, temos que trabalhar para que a torcida sempre esteja orgulhosa de nós. Não posso prometer um título, mas posso prometer muito trabalho. Mas eles podem ter certeza que Alex, Guilherme, Nezinho, Arthur, Osimani e eu somos pessoas que estão no basquete há muitos anos e que queremos ganhar o título. Mas não podemos prometer isso. Existem outras equipes que também querem a mesma coisa e estou seguro de que o NBB6 vai ser muito forte. Mas nossos torcedores podem ficar seguros que vamos deixar a vida por essa camisa”, exaltou.

Experiente e currículo recheado de títulos: esse é o cartão de visitas do novo técnico do Brasília (Divulgação)

Apesar de ser um dos técnicos mais renomados de toda a América do Sul, Hernandez viverá apenas sua segunda experiência como técnico fora da Argentina. Na temporada 2002/2003, o treinador trabalhou no Alerta Cantabria Lobos, da Espanha. Agora, no Brasil, o técnico nascido na cidade de Bahía Blanca terá a oportunidade de comandar uma equipe em um país que sempre teve sua admiração. Profundo conhecedor do basquete brasileiro, o novo comandante do Brasília sabe muito bem o que encontrará em solo verde-amarelo.

“Não é importante como eu vejo o basquete brasileiro hoje, mas sim como eu vi em toda a minha vida. Por muitos anos, a Argentina olhou para o Brasil para aprender coisas sobre basquete. É um país como um potencial incrível, similar ao dos países poderosos da Europa. Uma vantagem é que aqui os jogadores têm o biotipo ideal para o basquete. O que faltava era uma melhor organização e agora nos últimos anos o basquete aqui tem uma organização mais séria e forte. Além disso, os times estão tentando jogar de uma maneira mais coletiva e quando uma equipe do Brasil consegue jogar coletivamente bem, se torna uma equipe muito poderosa”, explicou.

“O Brasil sempre teve muitos bons jogadores. A diferença para a Argentina é que nós não temos esses atletas, então sempre priorizamos o jogo coletivo. O Brasil está começando a jogar diferente e para mim é um grande momento para vir ao Brasil para dirigir uma equipe que conheço há muitos anos. A maioria dos jogadores do elenco do Brasília eu conheço desde que eles jogavam no COC (extinta equipe da cidade paulista de Ribeirão Preto). Estou muito feliz de estar aqui agora”, completou o argentino.

Junto da oportunidade de trabalhar em um dos maiores times da América Latina, Hernandez também aproveitou o bom momento que vive o basquete brasileiro para acertar sua vinda ao país. Com o NBB em sua sexta edição e a cada temporada com o nível técnico mais forte, o treinador argentino aproveitou o embalo. Além do ex-técnico do Peñarol,  oito jogadores que estavam na Liga Argentina se transferiram para equipes brasileiras.

Em sua bagagem, “Oveja” trouxe para o Brasília o armador uruguaio Martín Osimani, que estava no Obras Sanitarias. Enquanto isso, Lucas Tischer que trabalhou com Hernandez na última temporada no Peñarol, retornou ao Brasil para atuar pelo Paschoalotto/Bauru. Outros atletas que saíram da Argentina para atuar em times que disputam o NBB até o momento são: os norte-americanos David Jackson (Winner/Kabum/Limeira), Ed Nelson (São José/Unimed) e Jerome Meyinsse (Flamengo) e os argentinos Pablo Espinoza (Macaé Basquete), Juan Manuel Torres (Flamengo) e Nicolás Laprovittola (Flamengo).

“Para os argentinos o Brasil sempre foi um país importante no cenário do basquete mundial. Me recordo da época do Ubiratan, Carioquinha, Marquinhos, Marcel, Oscar e tantos outros jogadores que fizeram história por aqui. Tenho muito conhecimento do basquete brasileiro. Se o NBB está bem organizado e forte, é normal que alguns jogadores venham jogar aqui, assim como é normal que alguns brasileiros joguem na Argentina.  Neste mundo globalizado dos dias de hoje é normal isso. Na Europa, os italianos jogam na Espanha, os espanhóis jogam na Itália, os russos jogam na Grécia, e acho que isso está virando uma tendência nas Américas também. Acho que isso pode ajudar o Brasil a crescer ainda mais”, comentou.

Ainda sem se mudar de vez para terras brasileiras, Hernandez esteve em Brasília no início do mês de agosto e aproveitou para acompanhar duas partidas (contra Universo/Goiânia e Minas Tênis Clube) da equipe candanga Sub-22 na segunda etapa da LDB 2013, realizada na capital federal. Além disso, o treinador aproveitou para conhecer um pouco mais da cidade onde morará durante toda a próxima temporada.

Ao lado de seu assistente Bruno Savignani e José Vidal, Hernandez acompanhou alguns jogos da segunda etapa da LDB 2013 (Brito Júnior/Divulgação)

“(Brasília) É uma cidade que me fascina. É uma cidade diferente e não parece como uma cidade tipicamente brasileira. Tem algo da Europa e algo dos Estados Unidos também. É uma cidade muito moderna, com uma estrutura praticamente ideal para que muita gente que more em Brasília viva como se vive em uma cidade pequena, mas estando em uma cidade grande e isso é muito difícil de conseguir. Eu conheço a história, com seu arquiteto Niemeyer. Esta é a terceira ou quarta vez que estou aqui, e sempre consigo conhecer alguma coisa nova, como a Catedral, o Congresso, o Lago, o Parque. É uma cidade muito interessante”, concluiu o argentino.

Currículo

Com 49 anos, Hernandez exerce a função de treinador desde 1992. Após passagens por modestos clubes, “Oveja”, foi contratado para assumir o Estudiantes de Olavarría, que contava com jogadores como Nicolás Gianella e Daniel Farabello em seu elenco. Lá, o técnico argentino iniciou sua trajetória vitoriosa. No time de Olavarría, o técnico acumulou o bicampeonato da Liga Argentina entre 2000 e 2001, além dos títulos do Torneio Panamericano de Basquete (2000) e da Liga Sul-Americana (2001).

Hernandez em ação no comando da seleção argentina (Divulgação)

Após “explodir” na Argentina, Hernandez despertou o interesse do basquete europeu e partiu para o Alerta Cantabria Lobos, da Espanha. Depois de uma temporada sem muito brilho em solo espanhol, o treinador retornou a seu país natal para comandar o Boca Juniors. À frente do clube mais popular da Argentina, o treinador voltou a se sagrar campeão da Liga Argentina (2004) e ainda subiu no lugar mais alto do pódio em outras duas competições locais: Copa Argentina (2003 e 2004) e Torneio Super 8 (2004).

Em evidência, Hernandez foi escolhido para substituir Rubén Magnano no comando da seleção argentina. Ao todo, o técnico permaneceu cinco anos na função e conquistou sua maior glória. “Oveja” conduziu o selecionado “hermano” à medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Pequim 2008. Simultaneamente a seu trabalho no time nacional, Sergio foi contratado pelo Peñarol de Mar del Plata e deu sequência ao “reinado” em seu país.

No clube da cidade litorânea, o treinador escreveu seu nome de vez na história do basquete argentino. Hernandez levou o Peñarol a três títulos seguidos da Liga Argentina (entre 2009 e 2011), ao bicampeonato da Liga das Américas (2008 e 2010), além de ter se sagrado duas vezes campeão do Torneio Interligas (2010 e 2012). Com as conquistas, o novo técnico do Brasília se tornou o primeiro técnico de seu país a vencer todos os campeonatos nacionais e internacionais possíveis.