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NBB Caixa

Força mental

09-06-2024 | 11:55
Por Juvenal Dias

LNB apresenta profissionais de Flamengo e Sesi Franca que ajudaram as equipes a chegarem na decisão de NBB CAIXA; agora, os psicólogos Adriana Lacerda e Rodrigo Salomão

Sesi Franca e Flamengo buscam o título do NBB CAIXA 2023/24 por causa de sua competência e talento nas quadras. Mas há outros fatores que os ajudam a obter um algo a mais. Além da estrutura para trabalhar, contam com profissionais nos bastidores que são fundamentais para o sucesso de cada equipe. São nutricionistas, fisioterapeutas, preparadores físicos, psicólogos, médicos e mordomos, cujo o trabalho é revertido em arrancadas, saltos, arremessos, enterradas e naquela bola capaz de decidir uma partida.

A Liga Nacional de Basquete conversou com Adriana Lacerda, psicóloga do Centro Unificado de Identificação e Desenvolvimento de Atletas de Rendimento (CUIDAR) dos esportes olímpicos do Flamengo, e Rodrigo Salomão, psicólogo do Sesi Franca, para entender o trabalho mental que é feito com os jogadores para acreditarem até a última bola e confiarem em seus potenciais e habilidades para serem campeões do NBB CAIXA 2023/24.

As perguntas foram exatamente as mesmas para os dois psicólogos. Confira o que cada um respondeu e conheça as particularidades que cada clube tem, mas que ajudaram ambas equipes a chegar em mais uma decisão.

Adriana Lacerda é a psicóloga do Flamengo. Foto: Divulgação.

Como funciona para manter uma unidade no mental dos jogadores? Pensar coletivamente e não deixar algo pessoal interferir no objetivo?

Adriana: É importante a psicologia pensar nas ações coletivas, que podem ser dinâmicas, encontros, rodas de conversa, mas conhecer individualmente cada jogador. Isso propicia um entendimento melhor dos indivíduos enquanto pessoas e como eles funcionam como um grupo. Um primeiro passo que eu faço nesses momentos é criar,  junto com os atletas, metas comuns. Comuns, mas que podem ser metas não só individuais, mas metas coletivas, então isso faz com que o grupo se comprometa, que ele se monitore e que se cobre também. O desenvolvimento dessas metas, sejam elas objetivas ou subjetivas, ajuda nesse sentido.

Rodrigo: Essa unidade mental é chamada, na psicologia do esporte, de coesão de grupo. Ela está ancorada em alguns pilares, o primeiro é o objetivo comum. É sempre importante relembrar pelo que jogamos, isso naturalmente traz identidade e cooperatividade aos atletas. A comunicação, que é outro pilar da coesão de grupo, também deve ser eficaz. Portanto, reuniões periódicas entre os jogadores e reuniões entre atletas e comissão técnica são de fundamental importância para manter a coesão do time em um bom nível. Lembrando sempre que clareza e transparência devem embasar essa comunicação. E o terceiro pilar, talvez o mais importante, pode ser resumido em duas palavras: empenho e comprometimento. Essas palavras fazem com que atletas e comissão técnica levantem da cama todos os dias com muita disposição para trabalhar. A responsabilização que acompanha o empenho e comprometimento é fundamental à construção de uma unidade de um time. Com esses três pilares alinhados e bem trabalhados com os atletas e comissão técnica, naturalmente os anseios individuais serão alcançados como consequência de um trabalho, que tem como prioridade alcançar os objetivos e metas do time.

Como o comportamento mental do atleta se altera nos momentos decisivos, comparado com a temporada regular?

Adriana: Isso é muito individual. Eu posso ter atletas que em momentos decisivos crescem mentalmente porque são pessoas que gostam de ser desafiadas e testadas. Para outros, dependendo de como eles interpretam a situação de momento decisivo, pode trazer um nível mais elevado de ansiedade e isso atrapalhar no momento de tomada de decisão. Temos alguns recursos, claro, entendendo como cada um funciona, para criar estratégias de enfrentamento dessas situações. Eles precisam confiar nas habilidades psicológicas que eles têm para esses momentos decisivos, para isso que serve o suporte emocional e a fonte de autoconfiança, para que eles consigam se desenvolver e fazer aquilo que eles pretendem em quadra.

Rodrigo: Em um momento decisivo muitas emoções e sentimentos vêm à tona. O atleta, assim como qualquer outro trabalhador que precisa ter um bom desempenho em um momento importante da sua jornada de trabalho. Deve lidar com seus medos, receios e todos os sentimentos que vivenciamos quando estamos sob maior carga de pressão, estresse, insegurança etc. O nível de atenção exigido é maior e as tomadas de decisões devem ser as mais corretas possíveis. Isso tudo pode contribuir e alterar o comportamento mental de um atleta em momentos decisivos. No entanto, cada atleta tem suas estratégias de enfrentamento dessas situações vivenciadas em jogos decisivos, alguns conseguem desempenhar até melhor do que o que desempenhou na temporada regular.

Como é possível controlar ansiedade dos atletas nas finais e convencê-los a manter a calma e colocar em prática o que foi trabalhado durante os treinos?

Adriana: Essa pergunta sobre ansiedade é muito boa, mas eu nem gosto de falar muito nesse termo: controle da ansiedade. Na verdade, não controlamos a ansiedade, nós usamos o termo manejar. A ansiedade, na verdade, simplesmente vem e, não necessariamente, é negativa. Você ansiar, estar ansioso por algum momento que seja muito importante para você pode ser uma coisa boa. Você imagina nesse momento os atletas que estão vislumbrando estar na final de um campeonato, aquele momento sonhado durante uma temporada. Pode ser uma ansiedade que impulsiona esses atletas para um nível de ativação ideal, para eles estarem ligados no jogo, para estarem autorrealizados, conquistando seus objetivos. A ansiedade não é de todo negativa, ela pode ser bem positiva, principalmente para esses momentos.

Rodrigo: A ansiedade faz parte da vida de um atleta desde a sua primeira competição. Com o passar do tempo, ele aprende a lidar com isso a sua maneira. É sempre bom lembrar que a Psicologia do Esporte tem ferramentas para auxiliar e treinar os atletas também nestes momentos. Uma das possibilidades é exatamente essa que está na questão, relembrar sempre do que foi treinado e de que estão preparados a partir do treino da temporada. A isso podemos somar técnicas de respiração, visualização e treinamento psicológico como ferramentas criadas e amplamente e utilizadas pela Psicologia do Esporte. É importante ressaltar que, quando os atletas vivenciam esse processo de ansiedade pré-competitiva de uma forma nociva, ou seja, com sintomas emocionais e físicos como vômito, diarreia, medo e insegurança excessivos, insônia constante, tremor forte pelos membros do corpo, calafrios etc., é imprescindível o encaminhamento a um profissional da Psicologia do Esporte, a fim de compreender e aprender a lidar com essas situações de uma maneira saudável.

Rodrigo Salomão é o psicólogo do Sesi Franca. Foto: Marcos Limonti

Qual desafio de conciliar pessoas mais tranquilas para se “energizar” e pessoas mais “pilhadas” para se acalmar e todos contribuírem no time, não tomar uma falta técnica ou não entrar desligado demais?

Adriana: O que se chama de energia – uma das habilidades psicológicas que eu gosto muito de trabalhar – eu chamo de ativação. A ativação é o nível de acertabilidade física e mental do atleta. É um nível que é individual. É muito importante o atleta perceber, aprender a regular esse nível de ativação. Eventualmente, alguns atletas vão precisar de um nível maior de ativação e isso tem várias estratégias. Às vezes, há atletas que gostam de ouvir música, que gostam de se concentrar mais. Se um atleta tem um nível de ativação um pouco maior naturalmente, ele precisa regular essa ativação para estar mais concentrado. O próprio aquecimento na quadra funciona como uma ativação. Temos os recursos para, se precisar aumentar o nível de ativação ou diminuir com relação aos perfis, executarmos. Ter um atleta um pouco mais energizado e um outro pouco mais calmo, às vezes, na dinâmica de funcionamento do grupo, pode ter um encaixe perfeito.

Rodrigo : A essa altura da carreira profissional desse atleta, jogando uma final de NBB CAIXA, a maioria deles já conhece, ou pelo menos tem um delineamento do seu ponto ótimo de ativação. A combinação de rituais individuais e rituais grupais podem e devem alcançar esse nível individual ótimo de ativação. No entanto, é preciso relembrar que um atleta que têm o auxílio de um profissional da Psicologia do Esporte pode identificar com mais clareza e consistência qual seu melhor estado emocional para competir e como alcançá-lo antes de entrar em uma partida, já que a ativação é um mecanismo muito estudado e trabalhado na Psicologia do Esporte.

Como é feito o trabalho de aceitação de uma derrota e seguir para o próximo confronto? E o contrário: depois de uma vitória, não entrar em euforia e focar para a próxima partida?

Adriana: Eu gosto muito de trabalhar na linha da aceitação da derrota, eu gosto muito de uma máxima que fala: ‘não perdemos, nós aprendemos’. A derrota também tem o seu papel, a sua função de aprendizado. Conseguimos analisar também pelo viés emocional o que a equipe vivenciou, o que poderia ter sido feito diferente, como é que podemos trabalhar futuramente para o que não funcionou, reestruturarmos. Se pensar na euforia de uma vitória, é importante valorizar esse momento das conquistas, mas, pensando em campeonato que tem vários jogos, várias etapas, é entender cada jogo como sendo um degrau, com um objetivo específico. Já pensar no próximo desafio, mas ter a vitória como uma valorização do trabalho que vem sendo feito. Estimular esses atletas a se avaliarem. O Bernardinho (técnico do vôlei) fala que ‘o mais difícil não é chegar, mas se manter’. Se, eventualmente, tiver essa situação de uma vitória trazer uma certa acomodação, temos que identificar isso de uma forma quase que preventiva antes que o próximo desafio aconteça.

Rodrigo: Em ambas as ocasiões é necessário um esforço emocional de não deixar o que passou anteriormente ditar, mesmo que inconscientemente, o que se vai suceder. Ou seja, independentemente da derrota ou vitória é necessário focar no que se pode performar melhor. É como deveriam dizer: time que está ganhando se mexe sim! Já que mudanças, tanto técnicas, táticas, como mentais e de atitude são importantes para manter uma equipe bem preparada para os próximos desafios. Portanto, a própria comissão técnica, como uma unidade, deve manter seus procedimentos de análises e trabalho, com o objetivo de estar sempre bem preparado para o próximo desafio.

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal e Loterias Caixas, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Sportsbet.io, Penalty, EMS e UMP e apoio IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.