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Copa Super 8

Torres do xadrez

31-01-2025 | 06:48
Por Juvenal Dias

No duelo na zona pintada do tabuleiro da final da Copa Super 8, Paranhos, do KTO Minas, e Ruan, do Flamengo, disputam cada casa em direção ao título, com ajuda das outras peças

Nada mais justo para comparar uma grande final, que não é possível traçar um diagnóstico do que esperar, do que compará-la a um jogo estratégico como o xadrez. Assim, o duelo entre KTO Minas e Flamengo se desenha com diversas peças, muitos estilos de jogadas distintas e contando com uma apoio coletivo para buscar a tão esperada taça da Copa Super 8. Entre elas as torres mineiras Alexandre Paranhos e Luis Montero medirão forças com as torres rubro-negras Ruan Miranda e Taya Gallizzi para defender sua zona pintada e atacar o rei do adversário.

No xadrez, as torres avançam em linha reta e defendem território à distância. No basquete, os pivôs também têm movimentos diretos para a definir a cesta e, muitas vezes, enquanto o jogo se desenrola do lado de fora, estão fazendo o trabalho sujo de buscar o melhor posicionamento para defender do ataque oposto. Alexandre Paranhos e Ruan Miranda fazem isso com maestria e ainda se destacam pelos seus pontos na zona pintada. Mas ambos fazem questão de ressaltar que esse ataque em lança só é possível porque os bispos, os cavalos, os peões e demais peças cumprem com seu papel e todos acabam empurrando para a vitória. Resta saber se as peças azuis e brancas vão conquistar o bicampeonato ou as peças vermelhas e pretas têm o que é preciso para o tetra.

No esporte do tabuleiro, o melhor estrategista é aquele que sabe extrair o melhor do que cada peça pode oferecer e encontrar mais rápido os pontos fracos do adversário, para explorá-los a seu favor. Léo Costa, do KTO Minas, e Gustavinho de Conti, do Flamengo são dois dos mais estratégicos treinadores do basquete brasileiro. E usam o que Paranhos e Ruan têm de mais vantajoso, altura, força física e técnica para alternar com a qualidade dos seus chutadores de média e longa distância. Isso os impulsionou ao primeiro e segundo lugares, respectivamente da primeira metade do NBB CAIXA. Isso, além de os terem classificado com antecedência à Copa Super 8, os colocou em vantagem para decidir a competição, até esse momento, com o apoio de sua torcida.

Mas chegou a hora do embate final e é inevitável a imagem do xadrez, com a torre caída no tabuleiro, vencida e incapaz de manter guarda ao rei. Transportando para o basquete, mesmo com Paranhos e Ruan como destaques dentro de suas equipes, ambos fazem questão de ressaltar a importância de cada componente de KTO Minas e Flamengo exercendo exatamente a função designada.

Paranhos, “peça” fundamental no xadrez do KTO Minas. Foto: Hedgard Moraes/ MTC

“É muito importante darmos sequência no trabalho, um fator determinante ter continuado o processo aqui no KTO Minas, seguindo a filosofia de trabalho que a equipe tem. É uma estrutura que me proporcionou um crescimento muito grande nos anos que tenho estado aqui. Os números dentro de quadra só refletem nosso dia a dia. A forma como tenho criado meus espaços dentro do jogo, compreendido a filosofia do Léo (Costa), além da confiança que comissão técnica e elenco me transmite, tem contribuído para um rendimento e uma performance sólida, temporada após temporada. Muito contente com essa sequência, mas sabendo que a força maior do nosso grupo é o coletivo. Temos isso como filosofia e os números ajudam a contar isso”, avaliou Paranhos.

Nessa segunda passagem pelo KTO Minas, Paranhos já acumula sua terceira temporada. Ainda não é sua melhor na carreira, mas a proximidade dos números que ele se refere, sugere que o grande momento não terminou com o Troféu Olivinha de Melhor Reboteiro da temporada passada e que a conquista, em sua carreira particular, inédita da Copa Super 8, pode representar mais um avanço no tabuleiro. Líder de pontos do time (11 em média na temporada do NBB CAIXA), anotou dois contra o São Paulo e 15 contra o CAIXA/Brasília pela Copa Super 8, crescendo de produção conforme fases mais agudas se apresentam.

Em contrapartida, Ruan também está em sua segunda passagem pelo Flamengo. Começou na Liga de Desenvolvimento de Basquete com o o Rubro-Negro, não se firmou na posição em suas três primeiras temporadas como profissional. Com 23 anos, nove a menos que seu rival, já acumula três finais de Super 8, estando presente no elenco que venceu as edições de 2018 e 2021, mas sem o protagonismo que conquistou hoje. Foi daqueles casos que rodou outros centros, retornou ao Flamengo e era a torre que precisava para o elenco.

Ruan, igualmente importante para o jogo tático do Flamengo. Foto: Paula Reis/ CRF

“Essa temporada tem sido muito especial para mim. Voltar ao Flamengo e conseguir ter esse impacto dentro de quadra é algo que me motiva a cada jogo. Sei da minha importância no garrafão, e essa evolução é fruto de muito trabalho, tanto físico quanto técnico. Passei por outras equipes, ganhei experiência, aprendi a lidar com diferentes situações e isso me ajudou a chegar neste momento mais preparado. Mas sei que ainda posso crescer mais e seguir contribuindo para o time”, falou o pivô, se referindo ao fato de ser o quarto maior pontuador do time no NBB CAIXA (10,9) e líder de rebotes (5,9).

Como já foi dito, os melhores estrategistas usam as melhores qualidades de suas peças. E o jogo dentro do garrafão é um trunfo para os dois lados, isso promete grandes e intensas disputas. “Nosso time tem uma arma muito clara que é trabalhar bastante também dentro da zona pintada, não só jogando de costas, mas com bandejas, infiltrações e criação de espaço para outros atletas. Nessa final, isso vai ser um jogo de xadrez mesmo, quem conseguir fechar mais os espaços da outra equipe vai levar a melhor. Nos preparamos bem, independente se for Ruan ou Gallizzi do outro lado. Temos que colocar a forma como as coisas foram trabalhadas na temporada inteira dentro de quadra”, refletiu Alexandre Paranhos.

“O Flamengo tem um jogo coletivo muito forte e sabemos explorar bem todas as nossas áreas. O jogo no garrafão é uma das nossas forças e, contra um time físico como o Minas, precisamos ser inteligentes, alternando as ações entre jogo interno e externo. Paranhos e Montero são jogadores de muita qualidade e energia, então, o foco será manter a intensidade, ser agressivo na defesa e na luta pelos rebotes, além de explorar bem os espaços quando tivermos a posse”, explicou Ruan. As falas podem até ser parecidas, mas é porque mostra quão equilibrado e imprevisível é o duelo entre KTO Minas e Flamengo. Os dois sabem o que fazer, só que tem alguém do outro lado para impedir.

Não dá para esquecer que se trata de uma decisão, vale título e há um componente que é o aspecto mental em quadra, experiências passadas e momentos que outros podem relatar na forma de ajudar o desempenho. “Ter tranquilidade para uma decisão como essa é lembrar do trabalho que é feito durante o ano. O KTO Minas não tem jogadores que foram campeões em 2022, mas temos muitos vitoriosos em outras equipes, com experiência com esse ambiente de final. Particularmente, é minha primeira de Super 8, mas me sinto totalmente tranquilo e contando com o trabalho que fiz no decorrer dos anos até chegar aqui. A ansiedade é um fator positivo de querer que chegue logo para colocarmos em prática aquilo que sempre nos é passado”, apontou Paranhos.

“Ter jogadores como o Balbi, Jhonatan Luz e o técnico Gustavinho, que já venceram essa competição três vezes, é um privilégio. Com certeza, vou conversar bastante com eles para entender os detalhes e a mentalidade necessária para jogos decisivos como esse. São atletas acostumados a momentos grandes e, sem dúvida, a experiência deles pode ajudar não só a mim, mas todo o time a entrar em quadra com ainda mais confiança”, Ruan mostrando que a qualidade de saber ouvir quem já trilhou o caminho das peças do tabuleiro pode contribuir para ter uma conquista e chamá-la de sua.

Há outro fator, à beira da quadra, importante para o ambiente, seja apoiando ou pressionando. A partida deste sábado (01/02), às 17h, terá transmissão do sportv, TV Cultura, FlaTV+, YouTube do NBB CAIXA e NBB BasquetPass para quem não tiver oportunidade de ir à Arena UniBH. No entanto, esmagadora maioria que estiver na instalação vai incentivar o KTO Minas e tentar desestabilizar o Flamengo. Tem o fator de conquistar o título novamente em seu ginásio. O Flamengo já venceu a competição jogando distante do apoio de seu torcedor, contra o Sesi Franca.

“Conquistamos esse privilégio de poder decidir o título em casa. Jogar para nossa torcida tem sido um diferencial nessa temporada. Ainda não perdemos aqui, pode ser um fator determinante para sairmos com a vitória e o título”, lembrou o pivô da Tempestade. “Jogar com a torcida contra é um desafio, mas, ao mesmo tempo, é uma motivação extra. O ambiente será de pressão, mas temos um time experiente e sabemos lidar com esse tipo de situação. Em quadra, precisamos focar no que controlamos: nossa execução, intensidade e mentalidade. O mais importante é estarmos conectados como equipe e impor nosso jogo”, ponderou na balança o pivô Rubro-Negro.

Disputa na parte pintada do tabuleiro, no jogo do primeiro turno entre Flamengo e KTO Minas. Foto: Paula Reis/ CRF

Por fim, o que é preciso de atenção maior para ficar precavido às peças vindas do outro lado? “O Flamengo tem jogadores bons em todas as posições. Estudando, deu para ver que têm o perímetro bastante afiado. Alexey consegue colocar todos para jogar, é uma equipe bem qualificada, mas sabemos muito bem como neutralizar isso. Tivemos um jogo contra eles no primeiro turno do NBB CAIXA (81 a 70 para o KTO Minas, no Rio de Janeiro). A história é totalmente diferente, mas sabemos um pouco do antídoto para jogar contra o Flamengo. Eles têm muitas peças perigosas, mas temos muitos defensores para pará-las. Vai ser um grande confronto para quem estiver vendo de fora e para nós, do KTO Minas, vai ser desfrutar e deixar o melhor dentro de quadra para levantar o troféu”, decretou Paranhos.

“O Minas é um time muito bem treinado, com jogadores de muita qualidade e um jogo coletivo forte. Um físico muito forte dentro do garrafão, bons arremessadores e uma transição rápida. Precisamos estar atentos ao controle dos rebotes e minimizar os erros”, recordou Ruan mencionando um ponto chave: “atenção aos rebotes”. O tabuleiro está posto e as peças, nas posições iniciais, para o primeiro movimento. Quem vai dizer xeque-mate para o outro? Vai ser preciso assistir.

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Penalty e UMP e apoio oficial Infraero, IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.