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O andarilho do NBB

10-12-2023 | 10:13
Por Juvenal Dias

Destaque da Unifacisa, André Góes coleciona amigos e arremessos decisivos do Sul ao Nordeste do Brasil em 15 anos de NBB CAIXA

Quando a Unifacisa perdeu dois de seus principais pivôs – Gerson e Antônio – por lesão, parecia que as pretensões da equipe no NBB CAIXA 2023/24 teriam que ser mais modestas. Mas não foi isso que aconteceu. Neste momento, o time de Campina Grande está na sétima colocação, com oito vitórias e quatro derrotas. E muito desse desempenho se deve à liderança e à experiência de André Góes.

Trata-se de um atleta que tem quase 30 anos de vivência no basquete, que já rodou o país do Sul ao Nordeste, que jogou em grandes clubes, conquistou títulos importantes e está presente em quase todas as edições do NBB CAIXA. Mais do que só um andarilho no esporte, André Góes, com 36 anos, é um cultivador de amizades, bem quisto pelos lugares que passou e que tem a família como um grande pilar . O ala da Unifacisa ainda não pensa tanto em aposentadoria, mas já sabe os dois lugares onde gostaria que isso acontecesse.

+ Veja as estatísticas da carreira de André Góes

Encaminhando-se para 500 partidas no NBB CAIXA, o ala natural de Chapecó (SC) é um dos mais longevos jogadores em atividade no basquete nacional. Não esteve presente apenas na temporada 2014/15, mas viu o NBB CAIXA nascer, tomar forma e consolidar-se no cenário nacional como o principal campeonato do esporte no Brasil.

André começou a carreira no estado onde nasceu, no Joinville, time que defendeu por duas temporadas, antes de despertar o interesse do Pinheiros, clube paulista onde jogou por um ano. Na sequência, voltou para o Joinville e de lá partiu para rodar o país, com passagens pelo Fortaleza, Macaé, Vitória, Franca, Mogi e, finalmente, Unifacisa, o seu clube atual. O ala tem médias de 9,4 pontos, 3,5 rebotes, 2,9 assistências e eficiência de 10,6. Podem não ser números espetaculares, mas André é considerado o cara para as bolas decisivas, com a frieza e a experiência necessárias para garantir vitórias importantes.

O início

André Goes, do Joinville

André Goes defendendo o Joinville

“Comecei a jogar por influência dos meus irmãos. Eles são mais velhos e começaram antes de mim. Aí era aquele negócio do caçula querer fazer a mesma coisa que os mais velhos. Quando eles começaram a jogar, abriu uma escolinha de iniciação lá em Chapecó. Eles me convidaram e eu fui. Eu já jogava futebol, mas desde quando joguei basquete pela primeira vez, nunca mais larguei. Aos 10, minha família inteira mudou-se para Joinville, já era um dos grandes centros de Santa Catarina. Dei essa sorte de meus irmãos serem contratados lá. Minha família mudou e joguei minha base toda lá. Aos 18, saí de casa pela primeira vez para finalizar minha categoria de base, fui jogar o juvenil em Araraquara. Foram dois anos e, depois, voltei já como profissional para Joinville, aos 20 anos. Peguei o NBB CAIXA desde o início”, lembrou André.

+ Confira a tabela do NBB CAIXA

“Foi algo novo para meus pais também. Eles apoiaram muito a gente de levar nos jogos, assistir todas as partidas, levar para viagem. Às vezes não tinha transporte para todo mundo, mas eles davam um jeito, faziam rifa. Inclusive, lá em Joinville, abriram uma associação com os outros pais para ajudar a gente. Recentemente, jogamos em Pato e meu pai fez um bate-volta. Ele mora em Floripa, pegou um ônibus às 9h da manhã, passou o dia comigo, assistiu o jogo à noite e voltou de madrugada. Já faz quase 30 anos que ele está nessa comigo. Ele faz o possível para estar presente no maior número de jogos. Quando tem jogos no Sul, ele vai também. E vem para Campina Grande quando dá”, completou o ala, mostrando a importância que a família tem para sua carreira.

Cultivando amigos

Durante esses 30 anos de convívio no basquete, André Góes acumulou amigos. Um deles é o o ala-armador Jimmy, do Pinheiros, que falou muito bem de André, revelando que é um atleta de grupo e que tem bastante amizade com o camisa 40 da Unifacisa.

“O Jimmy é um irmão meu, nós somos família, nos conhecemos lá de Joinville. Assim como ele, tem outros ótimos amigos no basquete e uma das coisas mais importantes e prazerosas de toda minha carreira é cultivar essas amizades, que ficam para vida. É bem legal ouvir elogios dele e ele sabe que é recíproco também. É importante na tentativa de liderar, de ser um cara que puxa para coisas boas e hábitos bons da equipe. Fico feliz com esse reconhecimento e espero continuar assim até acabar a carreira”, respondeu Góes.

Outro parceiro que Góes fez no basquete é simplesmente o atual MVP do NBB CAIXA, o ala-pivô Lucas Dias, do Sesi/Franca.

“É outro irmãozão meu. Na época que estive no Franca, era um time muito unido, o Lucas Dias ficou muito meu brother, o Helinho também, são os caras que tenho mais contato até hoje. Tinha o Hettsheimer, o Cipolini, o próprio David Jackson, que é mais quieto, no jeito dele… Mas o Lucas Dias e o Helinho foram caras que viraram meus irmãos para a vida. O Lucas se encaixa nesses ídolos, pela carreira, por tudo que já conquistou e tem para conquistar. Nesse período de Franca, criamos essa amizade e de conseguir ajudá-lo com algumas coisas. Ele também me ajudou inúmeras vezes, mas eu consegui mostrar coisas para ele, que, talvez, ele não via claramente na época. Pude ajudar um pouco nessa carreira maravilhosa. Ele já era vitorioso antes de ir para lá, o que fez no Franca foi absurdo, ganhou tudo, MVP, títulos individuais, todos os títulos coletivos possíveis. Ficou lá nos momentos de dificuldades do time, foi um cara que abraçou a cidade e a equipe, fez muito e merece tudo o que está vivendo”, afirmou.

Comemoração Lucas Dias e André Góes, Franca campeão paulista 2020

O NBB CAIXA e Super 8

André Góes atua no NBB CAIXA desde o início da competição e pôde testemunhar toda a evolução do torneio de 2008/09 até os dias de hoje.

“Acho que a Liga conseguiu estipular um padrão de excelência, para nível de jogos, de organização, desde a apresentação até as quadras, a parte de mídia, de promoção do NBB CAIXA. Acho que quando alguém pensa em NBB CAIXA, já tem essas coisas bem definidas. Nos grandes jogos, já sabe o que vai assistir, tem um layout da TV, da transmissão, que é um padrão ótimo, conseguiu qualificar muito. Se olhar desde o começo, não demorou tanto, teve bastante evolução até a quinta temporada até alcançar o padrão que vem se mantendo. Ajudou muito por essa estabilidade. Sabemos o que a Liga entrega, essa organização que os clubes têm de forma conjunta. Isso fez muito bem para o basquete, para nós atletas”, analisou André, que se sente um privilegiado por ser contemporâneo da competição.

“Coincidiu muito com minha carreira, foi um privilégio ter vivido esse início também. Foi muito importante para quem está jogando desde aquela época, assim como para os meninos que seguem surgindo via Liga de Desenvolvimento, o próprio funcionamento dos clubes, que funcionam até hoje dentro do NBB CAIXA. Eu diria que foi um grande acerto, um ponto bem marcante na minha carreira e para o basquete brasileiro”, afirmou.

André Góes defendendo a Unifacisa

André Góes vê bastante equilíbrio no NBB CAIXA 2023/24.

“Nesse ano que temos 19 equipes, há umas 10 brigando para ficar de quinto a oitavo, que vai para o Super 8. Tem um grupo consolidado, acho que a Unifacisa, nesses últimos anos, conseguiu se colocar ali também, com Bauru, Pinheiros, Paulistano, Corinthians, Pato, Caxias… Acho que tem muito time fazendo muita coisa legal, da sua maneira, com seu investimento, conseguindo fazer grandes campanhas”, analisou o ala, que colocou a Copa Super 8 entre os objetivos da Unifacisa na temporada.

“Com certeza (a Super 8) está no nosso radar, até porque ficamos de fora na última temporada. Pelo elenco que tínhamos no ano passado, não foi legal ter ficado fora. Tínhamos time para posições melhores. Essa temporada sofremos com duas lesões bem significativas dos nossos dois pivôs titulares. O Antônio é o nosso melhor jogador desde o ano passado, faz muita falta. Mas acho que ainda temos um elenco muito bom, temos opções para conseguir disputar, estar entre os oito e, talvez, até classificar em quinto ou sexto. Temos condições e é nosso objetivo, a gente sabe o quão difícil é alcançar isso. Vamos brigar muito para estar no Super 8 e até estar em uma posição mais alta para, quem sabe, avançar”, conluiu.

Momentos marcantes na carreira

Em sua 15ª temporada no NBB CAIXA, André Góes coleciona momentos incríveis. Mas é difícil não apontar um lance que aconteceu na temporada 2019/20 como o mais marcante deles. Quando defendia o Mogi, o ala converteu uma cesta fantástica no estouro do cronômetro para concluir uma virada histórica, justamente, contra a Unifacisa.

“Eu brinquei aqui que foi a bola que fechou meu contrato com a Unifacisa. No outro ano até tive uma oferta aqui, antes do técnico ser o César (Guidetti). Acabei vindo quando ele já comandava. Foi um jogaço, foi um dos melhores momentos da minha carreira, todos aqueles meses que passei no Mogi, foi um jogo muito especial. Estávamos perdendo de 11, 13 pontos, faltando três minutos, mas a sensação em mim era que dava para virar. Eu falei no banco: ‘calma, ainda dá para virar’. Fomos reagindo e buscando, era uma das valências do nosso time, até que culminou naquela bola. Foi um dia muito especial na minha carreira”, relembrou. Mas essa bola também rendeu pressão quando foi contratado pela Unifacisa.

“Fui muito cobrado quando cheguei aqui. ‘Ah, tem que fazer para a gente também, fez contra nós, agora tem que fazer aqui também. Tem que dar umas alegrias dessas para nós’. Aí, no primeiro jogo, contra o Fortaleza, eu converti umas bolas finais e brinquei novamente, falando que estava pago. Foi uma coisa legal, ajudou, quando é um momento que o atleta está muito bem, foi um dia muito especial”, concluiu.

André também relembrou quais foram as temporadas mais marcantes de sua carreira.

“A temporada no Mogi foi bem marcante, infelizmente não acabou pela pandemia, mas foi um bom ano individual. A parte coletiva lá era muito boa. Esse primeiro ano de Franca, que perdemos apenas três jogos na temporada do NBB CAIXA e acabamos a fase regular em primeiro, foi maravilhosa, com muito boas lembranças. Conquistar a BCLA, a reta final foi muito especial, bati 10 lances livres no último minuto para matar o jogo do título. Outro time que me marcou bastante foi no primeiro ano do Universo/Vitória, que acabamos em terceiro, foi um desses times que precisava dar tudo certo para a gente surpreender, conseguimos eliminar Mogi, perdemos na semifinal. Mas foi um terceiro lugar bem marcante”, concluiu.

André Goés, do Vitória

Os ídolos do caminho

Durante sua trajetória, André Góes se inspirou em outros grandes jogadores para evoluir seu jogo e conseguir ter uma carreira tão longeva. Um deles é o armador Valtinho, que defendeu a Seleção Brasileira e disputou nove temporadas do NBB CAIXA.

“Isso até virou piada de quando consegui o Valtinho. Eu cheguei em Araraquara quando tinha 18 anos, na época não tinha muitas transmissões na TV, não era fácil acesso. Eu vi um jogo entre Araraquara e Uberlândia, eu tinha acabado de chegar, então nem me troquei. Mas fiquei alucinado de ter visto ele jogar ao vivo, depois do jogo enchi o saco dele, pedindo tênis. É uma lembrança que tenho de falar: ‘esse cara é muito bom, como nunca vi ele jogar, como ele está no Brasil e não na NBA?’. Foi um cara que marcou muito, que sempre tive prazer de jogar contra pelo estilo de jogo. Ele foi um dos que me inspiraram muito, assim como o Fúlvio, que eu lembro nesse começo. Tinha outros grandes craques, o Marcelinho Machado, vi o auge dele e era absurdo, o Alex Garcia também”, revelou.

Atualmente, o jogo virou: André Góes é o ídolo da Unifacisa e referência para a torcida e a nova geração.

André Goes é ídolo na Unifacisa

“Vejo bastante gente com minha camisa, com a 40, é super gratificante. Queira ou não, é um dos motivos para jogar, para inspirar os outros, foi assim que eu comecei. Foram vendo pessoas, profissionais, vendo ótimos jogadores atuarem em Joinville, desde minha categoria de base, quando comecei no profissional. Tive a chance de ver vários super jogadores, me inspirar neles, ter vontade de ser igual. É o lado de devolver, pagando o que eu já usufruí quando era jovem”, analisou André, que também exaltou o trabalho da Unifacisa para o crescimento da cultura do basquete em Campina Grande.

“O pessoal aqui reconhece, o time já tem uns bons anos competindo, desde a Liga Ouro que foi campeão, já tem o hábito do basquete, uma torcida bem fanática e que reconhece na rua. A Unifacisa também faz esse esforço bem grande para transmitir todos as nossas partidas, o que acaba fortalecendo. Além dos jogos em casa, os jogos fora também são exibidos, a galera assiste, colocam nos bares, pessoal se reúne. Acaba que sou reconhecido no prédio, no elevador, a criançada, ou no shopping, sempre tem alguém que pede uma foto, que fala que viu o jogo, dá aquele apoio moral, manda boa sorte para o próximo”, relatou o jogador, que acredita que Campina Grande tem tudo para se tornar uma das capitais do esporte no país.

“A galera sabe da tabela, sabe quando vai ter as partidas, é uma coisa que está se consolidando aqui. Campina Grande tem tudo para ser uma das cidades longevas no basquete, como é Bauru, Franca, cidades do interior que têm uma relação que o basquete é parte da cidade. Está caminhando para isso também. Espero que continue por muitos anos. Sabemos de todo o esforço que a família faz para manter o basquete de alto rendimento. A cidade merece, tem abraçado”, finalizou.

Fim de carreira

E até quando André Góes continuará acertando bolas importante no NBB CAIXA? Ainda não dá para saber.

“Já está mais perto do final do que imaginar que tenho longos anos  pela frente. É uma coisa que passa na minha cabeça. Um pouco mais desde o ano passado. Não tenho planos, meta de idade. Acho que vai ser um pouco do que meu corpo disser, de como estiver levando a temporada em si, enquanto estiver sendo prazeroso. Mas já passa que está perto do fim, de voltar para mais perto da minha família, da minha namorada também, que é lá de Joinville. Mas não tenho muitos planos definidos ainda”, disse.

Mesmo que André não tenha planos definidos para o momento de sua despedida, o ala revelou em quais locais gostaria de pendurar os tênis.

“Seria a situação perfeita: ter um time profissional em Joinville nesse momento da minha carreira, mais próximo do fim. Quando era mais novo, era uma coisa que eu imaginava. Faz alguns anos que não tem equipe lá. Teve uma volta com menos investimento, mas tinha a equipe e deu essa pequena esperança. Faz alguns anos que não tem de novo, acho que não estão participando nem dos campeonatos locais de adultos. Era um sonho, uma coisa que eu visualizava, que seria bacana para finalizar a carreira. Hoje, infelizmente, não é uma realidade, não tem como pensar nessa possibilidade lá em Joinville. Balançaria muito para tentar jogar um ano, para ajudar de alguma maneira. Se for aqui, também será um local muito bom, onde tem sido ótimos anos para mim, fui muito bem recebido e gosto daqui. Pensando em opções, seria um lugar marcante, caso venha a decisão de terminar e ficaria bem honrado”, completou.

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal e Loterias Caixas, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Sportsbet.io, Penalty, EMS e UMP e apoio IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.