HOJE
#BrasilÉHistória – 1980
Por Liga Nacional de Basquete
Após fim da Era Kanela, Brasil encara sétimo lugar em 72, fica fora das Olimpíadas em 76, e, renovado, retorna ao torneio em território soviético na quinta colocação
Com o fim da Era Kanela, sem Amaury Pasos e Wlamir Marques, a Seleção Brasileira de Basquete sofreu com as reformulações de uma ótima safra e passou tempos complicados no auge do período ditatorial que o Brasil vivia. Com novos atletas, equipe nacional retorna aos Jogos Olímpicos de Moscou e, em quinto lugar, ressurge no cenário mundial do esporte.
Após a quarta colocação em 1968, o elenco verde e amarelo nas Olimpíadas de 1972 foi treinado por Pedroca, do Clube de Bagres, em Franca. A Seleção formada por Hélio Rubens, Edvar Simões, Mosquito, Menon, Adilson, Dodi, Marquinhos Abdalla e Bira. No começo o conjunto brasileiro conseguiu boas vitórias, inclusive diante da Tchecoslaváquia, por 83 a 82, todavia sofreu três derrotas seguidas e acabou na sétima colocação da competição.
Em 1976, o Brasil não se classificou pela primeira qualificatória das Américas. Então, partiu para a segunda tentativa e na fase preliminar bateu Israel, Islândia, Tchecoslováquia, Finlândia e perdeu para a Iugoslávia. Indo para a fase final, a equipe brasileira acumulou uma vitória e uma derrota da última etapa. Porém, após perder para México e Espanha, a Seleção precisava de uma combinação de resultados e, mesmo ganhando da Espanha, não se classificou para as Olimpíadas de Montreal no Canadá.
Ary Vidal colocou a Seleção nos trilhos novamente, ao vencer o Campeonato Sul-americano e alcançar a terceira posição no Mundial de 1978. Ao deixar a equipe brasileira, o técnico Cláudio Mortari, ex-treinador do Sírio, assumiu a posição e logo no Pré-Olímpico de 1980, todavia, os Estados Unidos da América boicotaram o torneio na União Soviética, pois viviam um momento de tensão, que foi a Guerra Civil. Com esse impacto geopolítico e ideológico, o Brasil se beneficiou e rumou à terra ‘socialista’ liderada por Brezhnev.
Nas Olimpíadas de Verão em Moscou (1980), o regulamento foi novamente mudado. Doze equipes se classificaram e foram divididas em três grupos, ficando quatro seleções em cada um deles. Seis se classificavam para um grupo único na fase final, portanto, dois times se classificavam por conjunto. Nossa Seleção foi sorteada para o Grupo A, composto por União Soviética, Tchecoslováquia e Índia.
Neste grupo da morte, o Brasil começou bem ao bater a difícil equipe da Tchecoslováquia, porém, logo depois a União Soviética, de Belov, Myshkin e Tkatchenko, vinha com um favoritismo absurdo principalmente por jogar em casa e conseguiu outra vitória no grupo diante da nossa Seleção. No último desafio, a equipe verde e amarela bateu a Índia e se classificou.
Confira os resultados dos jogos da Seleção Brasileira na primeira fase:
Brasil 72 x 70 Tchecoslováquia – Marcel 18 pontos e 11 rebotes, Oscar Schmidt 23 pontos e nove rebotes
Brasil 88 x 101 URSS – Belov e Oscar Schmidt 25 pontos
Brasil 137 x 64 Índia – Oscar Schmidt 26 pontos e 13 rebotes, Marquinhos Abdalla 22 pontos e 12 rebotes
No Grupo B, a Iugoslávia, prata na Olimpíada anterior e melhor ataque da competição, e a Espanha desbancaram a Polônia e Senegal da competição. Como primeiros colocados, foram para a fase final no grupo único. No Grupo C, Itália e Cuba foram à fase final após bater a Austrália e a Suécia. Portanto, as seis equipes mais bem colocadas formaram um grupo único, levaram os resultados diretos entre si para a próxima fase e fizeram mais quatro partidas que definiriam os classificados para a disputa do primeiro lugar e do bronze.
Como o Brasil já havia perdido para o país sede, já começava a fase semifinal com uma derrota. Seu primeiro adversário foi a seleção de Cuba e, com dificuldade, o Brasil venceu de forma emblemática e os melhores momentos desta partida histórica exibida pela TV Cultura estão aí.
Depois desta partida, o Brasil encarou a Espanha, no dia 26 julho, e o resultado não foi o esperado. Ainda sim, no dia seguinte, a equipe se redimiu do apagão e bateu a difícil seleção italiana. No último confronto desta fase, nossa Seleção enfrentou a Iugoslávia, invicta, melhor defesa e a melhor equipe da competição, e, novamente de forma icônica, perdeu por um ponto e até hoje Oscar Schmidt fala desta bola até hoje.
+Confira aqui nossa entrevista com Oscar Schmidt
Confira os resultados das semifinais:
Brasil 94 x 93 Cuba – Oscar Schmidt 24 pontos e Marquinhos Abdalla 22 pontos
Brasil 81 x 110 Espanha – Huguesis (ESP) 33 pontos e Marquinhos Abdalla 17 pontos
Brasil 90 x 77 Itália – Oscar Schmidt 33 pontos e Marquinhos Abdalla 20 pontos
Brasil 95 x 96 Iugoslávia – Dalipagic (IUG) 26 pontos e Oscar Schmidt 22 pontos
Nesta competição, Oscar Schmidt foi o cestinha da Seleção (24,1 ppg), seguido por Marquinhos Abdalla (17,6 ppg), logo atrás Marcel (17,1 ppg) e Setrini (14,9 ppg). O torneio foi inaugural para Oscar Schmidt, que mais tarde fará história no basquete mundial e para Marcel, um dos mais completos jogadores que já passou pela Seleção. Esta foi a última Olimpíada que João Carlos Saiani, André Stoffel, Gilson e Wagner da Silva foram convocados. Este quinto lugar que a equipe brasileira conquistou foi a primeira e iniciaria uma sequência de seis edições e em quatro delas na mesma posição.
O otimismo voltou a rondar o país e contagiou até o antigo técnico bi-campeão mundial, Kanela. Em entrevista à revista Placar (ed. 827, de 31/mar/86) dizia “nunca vi tanto craque. Depois dos bicampeões apareceram alguns bons jogadores, mas nenhum da capacidade de Amaury, Wlamir, Ubiratan, Menon e Waldemar. Hoje em dia, porém, vejo que estão surgindo jogadores com potencial que me fazem lembrar aquele time. (…) Gérson e Pipoka são geniais (…) temos Marcel que é um gênio como foram Wlamir e Amaury, e Oscar, que aprendeu a encestar quando estava ainda na barriga da mãe (…) Maury, irmão do Marcel, também é um monstro“, declarou Togo.