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Hiper decisivos

09-05-2025 | 08:50
Por Juvenal Dias

É inegável o poder de decidir uma partida pelo lado de Dontrell Brite, pelo Bauru Basket, e de Ricardo Fischer, pelo São Paulo. Agora começa o embate para decifrar qual segue adiante

Você tem um dilema e só pode escolher um para seu time: um pontuador nato, que pode ser o melhor da temporada, com característica de velocidade nos pés, ou um armador cerebral, com alta rotação de raciocínio e que tem a bola na hora H do placar apertado. Pense bem, pois a escolha certa vai representar um retorno à semifinal do NBB CAIXA, a errada, o fim da temporada 2024/25. Assim começa o duelo entre Bauru Basket, com Dontrell Brite, contra São Paulo, com Ricardo Fischer. A certeza é que o basquete brasileiro vai ganhar muito com esse embate.

Rápido e constante

Nas duras oitavas de final que o Bauru Basket enfrentou contra o Paulistano/CORPe, dois aspectos foram constantes do Dragão: Alex com todo seu pacote (entrega, dedicação, poder de marcação e assistências) e Dontrell Brite (com seu foco, velocidade e precisão nos arremessos). O americano teve uma média de 19,2 pontos, 4,2 rebotes e 5 assistências para 20 de eficiência nos cinco jogos contra o Tigre. Na temporada, a média é de 20,1, 3,38 rebotes e 4,38 assistências para 19,13 de eficiência. Ou seja, manteve uma constância próxima nos pontos e melhorou nos outros quesitos. Não é à toa que a torcida de Bauru grita MVP a todo jogo no Panela de Pressão.

Brite já declarou que na temporada 2024/25, o treinador do time, Paulo Jaú, montou o esquema de jogo que é voltado para seu estilo ser ainda mais potencializado. “Este ano temos um time que tem a capacidade de correr em quadra por 40 minutos, mas também muda para um estilo de jogo mais lento quando necessário. Este time também adora pressionar a bola em toda a quadra e, como mostramos até agora, nossa defesa consegue vencer os jogos”. Com tudo isso, é plenamente possível sonhar em retornar às semifinais do NBB CAIXA, tal como na temporada passada, que terminou entre as quatro melhores da competição, fato que não ocorria desde a temporada 2017/18.

Brite foi fundamental para o Bauru Basket passar pelo Paulistano/CORPe nas oitavas. Foto: Bryan Assis

O Dontrell de hoje é um reflexo de como precisou aprender a tomar decisões rápidas para ganhar espaço na forte concorrência que tinha. “Minha preparação para controlar meu ritmo veio desde cedo. Treinei com os colegas de time do meu irmão no Ensino Médio, que eram muito mais altos e rápidos. Então, ter que tomar decisões rápidas foi fundamental. Como nunca fui o mais alto, nunca precisei mudar meu jogo, apenas melhorar no que já fazia bem. Só preciso aproveitar o que a defesa me dá e esperar que isso crie boas oportunidades para o time também”, explicou o armador do Bauru Basket.

Brilho na hora que precisa

As oitavas de final em que o São Paulo enfrentou o CAIXA/Brasília não foram menos duras porque tiveram um jogo a menos. Elas se tornaram mais curtas, porque a visão e destreza de Ricardo Fischer guiaram caminhos mais ágeis para definir a favor do Tricolor. Ainda assim, foi no limite do relógio que a série não teve uma guinada psicológica a favor do rival. Mas o torcedor são-paulino não pôde contar com esses grandes momentos como o game winner do jogo 4 no MorumBis, que definiu a série. “Não só no basquete, mas todos os esportes coletivos dependem de atuações individuais e sempre caem momentos importantes em que certos jogadores assumem a responsabilidade. Sempre tive essa característica. Sempre fui um cara que se comunicou mais e, por ser armador, mais a bola na mão, sempre fui mentalmente muito tranquilo para esses tipos de ocasiões. Também é muito treino, você acaba tendo confiança do que pode fazer nesses momentos importantes. E a equipe também confia em mim, tem total confiança de todos para assumir essa responsabilidade. Hoje, falamos sobre a responsabilidade de tomar a decisão que deu certo, mas, muitas vezes na minha carreira, isso faz parte do esporte, acaba errando. Eu sempre gostei desses momentos, nunca tive problema de assumir essa responsabilidade, acertando ou errando. É uma coisa natural na minha vida e as coisas vão fluindo e os companheiros vão confiando em mim para certos momentos.”

 

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Em determinado instante da temporada, Ricardo precisou parar por causa do problema de hérnia de disco lombar e desfalcou o time para se submeter a um processo cirúrgico e ter uma recuperação mais adequada. “A recuperação da minha cirurgia foi muito boa, perto do que eu passei, seis meses de muitas dores, de não conseguir treinar, dormir, realmente estava me atrapalhando no dia a dia e foi uma recuperação muito boa, tenho muito a agradecer ao doutor Renato Huerta, ao Marquinhos, que é meu fisioterapeuta particular, ao Duda que é o fisioterapeuta do São Paulo, e ao Douglas Nazar, que é o preparador do São Paulo. Montamos realmente um time muito bem estudado para chegar nesse momento tão importante no campeonato, bem fisicamente.”

Fischer também é um reflexo daquilo que precisou aprender desde muito cedo. “Você treina os raciocínios rápidos, mas não tem muito uma coisa específica. Controle de bola eu treino desde quando tinha 10 anos de idade. Tive grandes técnicos na minha categoria de base que sempre me ensinaram a ter o controle de bola e ao mesmo tempo ver o jogo. Na Espanha, esse raciocínio rápido foi onde aflorou mais, lá é um jogo muito mais pegado, com poucos espaços, muito tático, então você tem que realmente pensar mais rápido”.

Velocidade e psicologia da autoconfiança

Mesmo com estilos de jogos distintos, Brite e Fischer têm aspectos comuns inerentes ao basquete, que se destacam em grandes esportistas, de modo geral. “Eu sempre digo que a posição mais difícil é a do armador, porque é o que tem a missão de organizar o time, de fazer o time jogar, qual o melhor momento, qual a melhor jogada. Sempre estamos em uma rotação mais rápida de pensamento, no lance livre da equipe adversária, já estou visualizando qual seria a melhor jogada, como é que podemos tirar vantagem do adversário. Com certeza, o armador tem uma rotação mais rápida”, explicou o armador do Tricolor.

Ricardo Fischer comemora cesta decisiva contra o CAIXA/Brasília. Foto: Rubens Chiri / São Paulo FC

Isso impacta nas horas mais críticas do jogo. “Para esses momentos de decisão, confio no quanto me esforcei. Não me sinto como se fossem situações diferentes. Tento pensar que são os mesmos arremessos que dou e acerto em todos os jogos. Sei que, nos playoffs, alguns jogadores se deixam levar pela psicose, pensando demais em cada ação. Mas você só precisa se ater ao que sabe”, ponderou Dontrell.

“A preparação é diária. Se você trabalha, se você faz todo tipo de treinamento físico, de arremesso, de passe, até no cinco contra cinco, coisas mais táticas, se você faz isso todos os dias bem focado, você automaticamente ganha essa confiança, porque você faz todo dia. Nos momentos decisivos, o mais importante é você manter a calma, porque quando começa a ficar ansioso ou tenta controlar alguma coisa, é o momento que sai do seu eixo e faz tomar as decisões erradas. O mais importante é manter a calma. Às vezes, é difícil. Você fica um pouco nervoso nos momentos que importam do jogo, mas tenho isso muito claro para mim, consigo manter a calma nesses momentos. E consigo, na maioria das vezes, tomar decisões boas”, completou Fischer.

O duelo de velocidades

“É sempre um bom confronto com o Fischer. Temos dois estilos de jogo completamente diferentes, ele é um bom armador, que faz boas leituras. Quando jogamos contra o São Paulo, também jogo contra o Bennett e o Coelho, e os três jogam com estilos diferentes. Então, será uma série interessante, com certeza”, projetou Brite.

“Vai ser um duelo muito decisivo, o Brite está tendo uma temporada realmente de MVP, é um cara muito rápido, com alto aproveitamento no arremesso e é um dos caras hoje mais difíceis de ser marcado. A minha preocupação é marcar ele e nosso time está trabalhando junto com o técnico para isso. Agora, não sei se o Brite precisa se preocupar comigo, tomara que não muito, porque aí eu fico mais livre para jogar. Mas, brincadeiras à parte, estamos trabalhando bastante para poder conter o Brite o melhor possível”, afirmou o espirituoso Fischer.

Velha idolatria e nova devoção

Como deu para notar, há muitos aspectos envolvidos no duelo entre Brite e Fischer (pontaria, poder de decisão, tipos de velocidade, confiança). Mas há outro aspecto que envolve pessoas fora da quadra, mais especificamente torcedores. Não há dúvidas de que o do São Paulo está em lua de mel com Fischer, ainda mais com a cesta que fez lembrar o Tricolor de três temporadas chegando a duas finais de NBB CAIXA e uma semifinal. Mas a questão aqui é o torcedor do Bauru Basket, que já viveu isso com o próprio Ricardo e encontra em Brite alguém para suprir a lacuna deixada por outro estrangeiro, Larry Taylor.

 

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“Foram quatro anos maravilhosos em Bauru, sempre vai estar no meu coração. Digo que ali, profissionalmente, foi um dos melhores anos da minha vida, são recheados de títulos, a cidade, nós sendo reconhecidos nas ruas, a cidade parando para assistir nossos jogos. Guardo com muito carinho. E a torcida faz a parte dela, de torcer contra, de vaiar, de tentar mentalmente me tirar do eixo. Particularmente, é muito bom ter a torcida a favor, mas é um estímulo a mais ter contra, eu gosto desse ambiente, entre aspas, hostil. Me dá mais vontade de jogar. Tenho certeza de que, como no MorumBis vai estar lotado sexta-feira, os jogos de lá estarão com ginásio cheio, e vai ser muito legal”, celebrou Fischer.

“É sempre uma sensação boa quando a torcida ama um jogador, sabe? O que o Larry fez pela cidade é um objetivo que só posso esperar alcançar no futuro. Por enquanto, estou feliz que a torcida me ame aqui e que eu possa dar um show para eles em todos os jogos”, enalteceu Brite.

Apenas prepare-se. Eles já estão.

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica e Governo Federal, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Penalty, Universidades Cruzeiro do Sul, UMP, Whirlpool e apoio oficial Infraero, IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.