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Jogo das Estrelas / NBB Caixa

Capitão de Ferro

13-03-2024 | 06:32
Por Gustavo Mesa

Como Márcio superou um problema no coração para se tornar o Homem de Ferro no ano perfeito do Sesi Franca e ser nomeado capitão do Jogo das Estrelas 2024

NBB CAIXA, Copa Super 8, BCLA, Intercontinental FIBA, Campeonato Paulista, Liga de Desenvolvimento de Basquete, NBA Summer League, Jogos Pan-Americanos e Eliminatórias AmeriCup. Esta é a lista de TODOS os campeonatos que o pivô Márcio, do Sesi Franca, disputou desde a metade de 2022 para cá. E também é importante citar que nos quatro primeiros da lista ele ainda foi campeão. Tanta durabilidade e evolução renderam ao jogador de 21 anos a honra de ser capitão do Time Jovens Estrelas no Jogo das Estrelas 2024, que acontece neste sábado (16/03) no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

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Nas duas últimas temporadas do NBB CAIXA, Márcio só desfalcou o Sesi Franca em um jogo. Quem vê o Homem de Ferro da equipe do interior paulista em quadra não imagina que, quando ele era criança, teve que superar um problema que colocou sua vida em risco.

Nascido no interior de Minas Gerais, Márcio se mudou para Sertãozinho (SP) aos quatro anos de idade. Aos cinco, o garoto foi diagnosticado com comunicação interatrial (CIA), uma cardiopatia que é, como o próprio jogador explicou, “um buraquinho pequeno no coração que faz os dois sangues se misturarem, o venoso e o arterial”. E a notícia foi ainda mais devastadora por conta de uma tragédia que já havia acontecido na família.

Márcio se firmou como titular do Sesi Franca na temporada 2023/24 (Marcos Limonti/Sesi Franca)

“Meus avós tiveram três filhas, a minha mãe (Katia), a minha tia Flávia e uma irmã do meio. Ela nasceu com o mesmo problema que no coração, só que ela morreu quando tinha meses. Eu lembro que, quando eu era pequenininho, assim que descobriu esse problema, meu avô e minha avó ficaram meio desesperados porque eles já tinham perdido uma pessoa para o mesmo problema”, revelou.

Cria francana

Márcio se recuperou totalmente da cirurgia e teve uma infância como a de qualquer outro garoto. Com o passar do tempo, foi tomando gosto pelo basquete. Ele tinha talento e tamanho para o esporte. Suas atuações em Sertãozinho chamaram atenção de um time tradicional localizado a pouco mais de 100 quilômetros dali:  o Sesi Franca.

Aos 14 anos, Márcio recebeu uma proposta para se mudar para lá, mas isso significaria deixar de viver com a mãe e os avós. Por sorte, na mesma época, a tia de Márcio, que é cinco anos mais velha, foi aprovada para fazer faculdade em Franca. Assim, o adolescente foi morar com a tia-quase-prima Flávia.

Quando se mudou para lá, Márcio encontrou outra realidade: uma cidade que respira basquete.

“A cidade é diferente. Hoje, eu vou no mercado e o torcedor chega e pede ‘Márcio tira uma foto, Márcio assina minha camisa’. Você está doente e no outro dia todo mundo sabe disso porque você foi no hospital e a notícia espalhou. Todo mundo vai no Pedrocão, todo mundo sabe do basquete, todo mundo entende. Essas coisas fazem a cidade respirar basquete”, relatou.

Márcio está com médias de 13,5 pontos e 6,7 rebotes no NBB CAIXA (Marcos Limonti/Sesi Franca)

Márcio passou a fazer parte de um dos mais tradicionais programas do Brasil para o desenvolvimento de talentos. Segundo o pivô, a proximidade dos jovens com o elenco profissional do Sesi Franca é um dos grandes trunfos da equipe para revelar tantos atletas.

“Você continua treinando, ganhando espaço e vai subindo. Eu tinha 15 anos quando treinei pela primeira vez com os adultos. Eu podia não entrar, não treinar tanto, mas duas ou três vezes por semana eu estava com o elenco. Isso dá a oportunidade da vivência, da cobrança como acontece no nível profissional. Hoje eu vejo os meninos mais novos fazendo a mesma coisa”, explicou.

De Franca para o mundo

Quem ouve Márcio falando e, principalmente, o vê em quadra, não tem a impressão de que seja um jogador de apenas 21 anos. Mas isso tem um motivo: apenas da pouca idade, o pivô já tem muita bagagem. Ele estreou no NBB CAIXA na temporada 2018/19, quando ainda era um adolescente. Ao longo do tempo, o jogador de 2,04m e 110 quilos foi ganhando seu espaço na equipe.

Em 2022/23, o Sesi Franca teve uma temporada perfeita. O time do técnico Helinho Garcia conquistou nada menos que Copa Super 8, BCLA, NBB CAIXA e Intercontinental FIBA. E quer saber se Márcio foi importante nesta trajetória? Bom, ele simplesmente disputou todos os jogos nas campanhas destes quatro títulos, somando um total de 63 partidas. Também vale citar que neste número não foram contabilizadas as vezes que ele entrou em quadra pelo Campeonato Paulista e pela LDB naquela temporada.

Márcio disputou a última Summer League da NBA pelo Atlanta Hawks (Arquivo pessoal/Facebook)

Nem o próprio pivô sabia que havia disputado tantas partidas em 2022/23, mas ele revelou sua fórmula para estar tantas vezes disponível para auxiliar seus companheiros.

“Não sabia que tinha jogado todas, não. Mas não tem muito segredo. É se cuidar bastante, cuidar do corpo, cuidar da mente. Antes eu tinha muita dificuldade de alimentação, comia muita besteira. Faz uns dois, três anos que eu venho melhorando isso e tem me ajudado bastante. Às vezes, fora da quadra, tem coisas que atrapalham, mas você tem que ficar com a consciência limpa, com a cabeça no lugar, sempre estar disposto a conversar e mostrar suas intenções. Isso resolve 99% dos problemas”, explicou.

Um dos grandes testes nesse aspecto para Márcio aconteceu após o título do NBB CAIXA, quando o pivô tentou ir atrás do objetivo de jogar na NBA. Apesar da incerteza, ele se inscreveu para o draft de 2023, mas não foi escolhido. Ainda havia mais uma oportunidade, a Summer League, um campeonato de tiro curto onde as franquias testam seus novatos e também dão oportunidades a outros jogadores que não foram selecionados.

Márcio conseguiu uma vaga no elenco do Atlanta Hawks, porém, de cinco jogos, só entrou em quadra em um. O mais difícil para o pivô era entender porque isso estava acontecendo.

“Todo dia eu tinha a expectativa de jogar e não jogava. Eu lembro que no segundo jogo começou bater uma bad. O que eu tenho que fazer para jogar? Eu não sou ruim, eu sei que eu consigo jogar, sei que consigo estar aqui, mas o que eu tenho que fazer? Não entendi. Eu fiquei muito triste e tal, minha namorada estava lá comigo e a gente conversava todo dia por muito tempo. Eu treinava muito, todo dia eu tentava, tentava, chegava na hora do jogo e eu não jogava. Mas eu continuava. Independente se vai jogar ou não, é dar o melhor com o que você tem e esperar o resultado porque uma hora ele vai vir”, relatou.

Depois de jogar a vida inteira no Sesi Franca, Márcio encontrou um ambiente praticamente oposto no elenco de Summer League do Atlanta Hawks.

“Era totalmente diferente. Aqui em Franca eu estava acostumado por ser uma família o tempo todo. Lá não tinha tanto essa amizade assim, era uma disputa para ver quem conseguia aparecer mais. Todo mundo conversava e tal, todos queriam ganhar, mas a prioridade para cada um era mostrar o próprio trabalho”, disse.

Após a experiência na NBA, Márcio retornou à família francana para tentar coroar a temporada perfeita com a conquista da Copa Intercontinental FIBA, disputada em Singapura. E o título não poderia ter vindo de forma mais incrível: com um arremessos de Lucas Dias no último segundo da final para garantir o triunfo sobre o Baskets Bonn, da Alemanha. De quebra, Márcio entrou como titular em todas as partidas da competição e ainda foi o cestinha francano na decisão, com 15 pontos. Para o pivô, esse foi o grande momento da temporada.

“Intercontinental foi um título diferente de todos. Pelo contexto, para carimbar a nossa temporada, para ganhar o título que ainda faltava para Franca. Pela cidade, pela forma que a cidade tratou esse título, de sair para viajar e lotar o shopping, ter fogos, ter essas coisas, acho que em nenhum outro time do país teria. A gente tem essa mentalidade de não desistir, mesmo contra a adversidade”, relembrou.

Multidão recebeu o Sesi Franca após o título intercontinental (Marcos Limonti/Sesi Franca)

Márcio começou a temporada 2023/24 como titular absoluto do Sesi Franca no NBB CAIXA. Com médias de 13,5 pontos e 6,7 rebotes, ele é o vice-líder da equipe nas duas categorias, atrás apenas de Lucas Dias. O pivô também passou a figurar nas convocações de Gustavo de Conti para a Seleção Brasileira. O atleta foi chamado para as disputas dos Jogos Pan-Americanos 2023 e das Eliminatórias para a AmériCup.

O reconhecimento desta ascensão chegou com a confirmação de que Márcio será o capitão do Time Jovens Estrelas no Jogo das Estrelas 2024, que acontece neste sábado (16/03), no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. O pivô não escondeu a alegria com a indicação.

“Eu já estou no Jogo das Estrelas há três anos. Ser o capitão nesse terceiro ano é muito legal, é uma coisa que todo mundo espera um dia poder ser. Ser capitão do Jogo das Estrelas é uma honra, é ter seu trabalho valorizado”, celebrou.

Se Márcio já conseguiu alcançar tanto com apenas 21 anos é porque lá atrás, nos bastidores, ele tem apoio incondicional. Um suporte que vem desde antes que ele fosse uma das principais promessas do basquete brasileiro.

“Minha família sempre foi muito unida. Minha mãe me teve muito nova, meu avós cuidaram da gente até minha mãe ter condição de cuidar de mim, de eu crescer e viver sozinho. Em todos os problemas a gente sempre se ajuda muito. Hoje eu estou namorando, vai fazer dois anos que a gente mora junto. Se tem algo que eu quero destacar é que minha família é minha base de tudo: minha mãe, meus avós, minha tia, minha namorada e até minha cachorra”, completou o capitão do Jogos das Estrelas.

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal e Loterias Caixas, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Sportsbet.io, Penalty, EMS e UMP e apoio IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.