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BRAZUCANO DRAFT

08-05-2020 | 07:48
Por Vinícius Guimarães

Filho de ex-jogadores, destaque na Liga Argentina e decisivo na Seleção de base: saiba mais sobre o armador brasileiro inscrito no Draft da NBA de 2020

Bruno Caboclo já fazia parte da rotação do Pinheiros, aos 18 anos, antes de ser selecionado pelo Toronto Raptors. Georginho liderou o Paulistano até as Finais do NBB antes de receber uma oportunidade no Houston Rockets. Didi foi eleito Jogador que Mais Evoluiu e Destaque Jovem da liga brasileira antes de ser draftado pelo New Orleans Pelicans.

Quando o nome do armador Caio Pacheco, de 21 anos e 1,89m de altura, apareceu na lista de inscrições do Draft de 2020, foi a primeira vez em muito tempo que o fã do NBB não conhecia um jogador que poderia estar na NBA em um futuro próximo. Isso aconteceu porque Caio não está se destacando no basquete brasileiro, e sim no argentino.

Na sua segunda temporada na liga argentina, Caio Pacheco é o líder do Bahía Basket (Prensa Weber Bahía Basket)

A relação de Caio com o basquete vem do berço. Prova disso é que seus pais se conheceram em um ginásio. Álvaro Pacheco foi um dos maiores armadores da história do Palmeiras e conquistou o Campeonato Brasileiro pelo time de Rio Claro. A mãe, Ana Paula, disputou campeonatos regionais representando a cidade do interior paulista. A família respira basquete e nem o irmão mais novo de Caio fica de fora. Cauã, nascido em 2005, é um dos destaques da base na sua categoria.

“Pelo fato de eu ter sido jogador, o Caio nasceu na quadra de basquete. Você o via direto no ginásio, batendo bola e arremessando no intervalo desde pequeno. Ele jogava com a tabela do quintal de casa e eu sempre o desafiei a melhorar em certos detalhes, que depois acabam fazendo a diferença. Por exemplo, quando ele fazia uma cesta com a mão direita, eu dizia ‘legal, agora quero ver com a esquerda'”, lembrou Álvaro, que hoje é técnico do time Sub-15 do Clube de Campo de Rio Claro.

Caio começou a disputar campeonatos aos oito anos, em Rio Claro, e se transferiu para Limeira aos 13. Após ser convocado para a Seleção Brasileira Sub-16, o armador foi morar em São Paulo para jogar pelo Palmeiras, clube no qual o seu pai fez história.

Caio Pacheco foi convocado para a Seleção Brasileira Sub-16 junto com Yago e Didi, entre outros jovens jogadores do NBB (Facebook/Reprodução)

Atual técnico da Unifacisa no NBB, Luiz Felipe Santana, o “Filet”, foi um dos treinadores de Caio no período de dois anos que ele jogou pelo Verdão.

“O Caio chegou ao Palmeiras após ter tido uma ótima preparação na equipe de Limeira. O que fizemos foi dar continuidade ao seu desenvolvimento, não apenas dentro, mas também fora das quadras. Como sempre foi muito interessado em aprender e desenvolver seu jogo, ficou muito fácil de trabalhar com ele, pois estava sempre observando, perguntando e pedindo para fazer treinos extras”, disse Filet.

“Ele chegou ao Palmeiras com mais características de um pontuador do que de armador, mas queríamos que ele fosse um armador “puro”, pois é uma posição rara no nosso basquete. Desde esse momento foram inúmeros treinos individuais, estudos das nossas partidas, estudo de armadores consagrados através do Synergy, enfim, tudo que estava ao nosso alcance na época para que ele evoluísse”, completou o coach da Unifacisa.

Antes de brilhar no NBB pelo Paulistano, Yago dividiu quadra com Caio sob o comando de Filet. Da mesma posição, os armadores se enfrentavam constantemente nos treinos e construíram uma grande amizade.

“Caio é um irmão que considero muito. Sou fã dele não só dentro mas também fora de quadra. Ele possui um coração que poucas pessoas têm. Desejo toda felicidade e sorte do mundo para ele. Aprendemos juntos e fico feliz em ver o quanto ele evoluiu e está podendo mostrar para todos do que é capaz. Tenho saudades do Pachequinho”, afirmou o armador do Paulistano e da seleção brasileira.

Mudança para a Argentina

Parceiro de Caio no Palmeiras, o pivô Rafael Paulichi estava de saída para a Argentina ao final do seu primeiro ano de Sub-19. O Bahía Basket recorreu ao basquete brasileiro para reforçar seu elenco da Liga de Desenvolvimento Sub-23. Quando o olheiro da equipe argentina mencionou ao agente de Rafael, que era o mesmo de Caio, que também estava em busca de um armador, não deu outra. Bastou assistir um treino para identificar o potencial no menino de 18 anos e fazer uma proposta.

O Palmeiras não tinha uma equipe adulta e Caio viu no Bahía Basket a possibilidade de fazer sua transição para o profissional, em um clube que tem como cultura o desenvolvimento de jovens atletas. Foi o que aconteceu. Logo no primeiro ano na cidade natal de Manu Ginobili, Caio já estava treinando com o elenco principal.

 

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“A adaptação foi muito melhor do que eu esperava. Eu tinha aquele preconceito bobo que se cria pelo futebol, de que os caras não iam me aceitar bem, mas foi totalmente o contrário. Eles me abraçaram, me fizeram parte da família. Obviamente eu tive um pouco de dificuldade com o idioma, porque eu cheguei sem falar nada de espanhol, mas em questão de dois ou três meses eu já estava conseguindo me comunicar bem”, contou Caio.

Outro fator de grande importância para a decisão de Caio foi estar perto de Pepe Sanchez, fundador e presidente do Bahía Basket. Primeiro argentino a jogar na NBA, o ex-armador fez parte da Geração Dourada que conquistou o ouro olímpico para a Argentina em 2004. Hoje, ele usa toda sua experiência para ajudar no desenvolvimento do jovem brasileiro.

“Nós conversamos bastante. A gente criou uma relação muito legal e ele tem me ensinado coisas que eu vou levar para o resto da minha vida, não só dentro como também fora de quadra”, disse Caio.

“O Caio veio do Brasil com ótimo passe e leitura de jogo e precisava desenvolver seu lado pontuador. O que nós mais trabalhamos com ele nesses últimos anos foi o arremesso de três. Ele tem boa mira, mas precisava corrigir alguns detalhes relacionados ao posicionamentos dos pés, equilíbrio e de como levava a bola de baixo para cima. Além disso, focamos em treinamentos que desenvolvam sua verticalidade, para que ele possa atacar o garrafão agressividade, com diferentes tipos de finalização, buscando ângulos e absorvendo o contato”, disse Martín Luis, técnico do Bahía Basket.

O resultado do trabalho nos arremessos e infiltrações foi visto na temporada 2019/20, a segunda de Caio na Liga Argentina. Até a paralisação dos jogos por conta do novo coronavírus, ele foi o cestinha do Bahía Basket com médias de 19,4 pontos e 6,0 assistências por jogo.

“O mais importante é que o Caio evoluiu a partir do seu crescimento em diferentes áreas do esporte. É um menino que cuida muito da sua alimentação e do seu físico, lê bastante, estuda o jogo, e está sempre tentando entender movimentações e como executá-las. Hoje ele é um exemplo para os outros jovens de como ser profissional”, elogiou Martín Luis.

 

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Desde que se mudou para a Argentina, o maior contato de Caio com o basquete brasileiro tem sido na seleção. Ele foi um dos cinco jogadores que sagraram-se bi-campeões do Sul-Americano Sub-21 no ano passado. Em 2018, o armador protagonizou a jogada mais emocionante da campanha do primeiro título: o game-winner contra o Uruguai.

Não é todo jogador que consegue matar uma bola dessas. Também não é todo jogador que tem a mentalidade e o extra-quadra elogiados pelos seus treinadores mesmo sendo tão jovem. A trajetória de Caio Pacheco no basquete é diferente e surpreendente. Ficamos na torcida para que ele siga surpreendendo e representando tão bem o basquete brasileiro.