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Quem é Jelena Todorovic?

18-07-2025 | 10:57
Por Gustavo Marinheiro e Allana Alves

Conheça a história, planos e ambições de Jelena Todorovic, a primeira Head Coach da história do basquete masculino brasileiro

Recém-anunciada como nova treinadora do Fortaleza Basquete Cearense, Jelena Todorovic já escreve um capítulo histórico no basquete brasileiro: aos 31 anos, a sérvia-australiana se torna a primeira mulher a comandar uma equipe masculina no país. Com uma grande trajetória na Europa, passagens por clubes e projetos de desenvolvimento de jogadores, Jelena chega ao Brasil com um desafio inédito.

Em entrevista exclusiva, ela compartilha suas primeiras impressões sobre o clube, fala sobre os desafios dessa nova etapa, sua missão como referência feminina no esporte e os objetivos que traz na bagagem para deixar um legado no basquete brasileiro. Confira:

1. Como foi seu primeiro contato com o Fortaleza Basquete Cearense?

“Tudo começou de forma bastante espontânea. Enquanto eu observava os treinos com um dos meus mentores, o técnico Ioannis Sfairopoulos, no Estrela Vermelha, tive a oportunidade de conhecer Thális Braga e Felipe Ribeiro, que estavam lá para acompanhar o Yago. Nos conectamos instantaneamente, a nossa energia, valores e mentalidade estavam incrivelmente alinhados. Pouco depois, o Thális me convidou para realizar clínicas de basquete para jogadores e treinadores em Fortaleza, e foi aí que nossa colaboração teve início. Desde o primeiro dia, fui recebida com muito carinho, amor e respeito, não só pelo clube, mas também pelas pessoas incríveis do Ceará. Os brasileiros têm o coração aberto, são profundamente apaixonados por esportes e extremamente talentosos. Desde o início, tudo pareceu natural, e foi fácil me apaixonar por essa comunidade.”

2. Você já está acostumada a trabalhar em diferentes países, mas quais são suas expectativas para o Brasil?

“Minha visão é ver a arena cheia de torcedores apaixonados, aquele tipo de atmosfera elétrica que vemos nos jogos da EuroLeague ou nas lendárias partidas de futebol do Brasil. Eu realmente acredito que o Brasil oferece a combinação ideal de desafio e oportunidade. É um país com uma rica tradição no basquete e um potencial enorme, um lugar onde posso continuar evoluindo como treinadora e, ao mesmo tempo, causar um impacto real no time e na comunidade como um todo. Estou empolgada para mergulhar na cultura, aprender português e viver intensamente o jeito brasileiro de ser. E, sinceramente, acho que as pessoas vão se surpreender com o quanto os brasileiros e os sérvios, ou os povos dos Bálcãs em geral, têm em comum. Nossa energia, nosso calor humano e nossa paixão pelo esporte estão profundamente conectados.”

3. Você trará sua própria comissão técnica?

“Sim, levarei o treinador sérvio Vladimir Dosenović como meu assistente. Ele é um técnico jovem, talentoso e ambicioso, e foi um dos melhores treinadores da nossa academia de basquete da EuroLeague neste ano. Acredito que juntos podemos construir uma equipe forte e empolgante, que se conecte com os torcedores e com a comunidade.”

4. O que você já sabia sobre o Fortaleza Basquete Cearense?

“O que mais me chamou atenção de imediato foi a visão do clube. O presidente, Sr. Thális Braga, tem um objetivo muito claro de elevar o basquete brasileiro a um novo patamar. Depois de várias conversas com ele e de conhecer melhor as metas e a estrutura da organização, percebi que nossas visões estão alinhadas. É um clube com muita paixão e potencial, e estou animada para fazer parte do próximo capítulo dessa história.”

5. O que você já sabia sobre o NBB?

“O NBB é a principal liga de basquete da América Latina, uma liga altamente competitiva, em pleno crescimento, que exibe um talento impressionante e uma grande paixão pelo jogo. Já acompanho há algum tempo, especialmente pelo trabalho incrível de amigos e colegas como Leo e Pablo Costa, que vêm realizando grandes feitos com seus times. Costumamos nos encontrar todos os anos no congresso anual da EuroLeague Head Coaches Board, na Europa, do qual tenho orgulho de ajudar a organizar. Também tive conversas valiosas com o técnico Aleksandar Petrović, que construiu um legado importante no basquete brasileiro. As percepções dele me deram um entendimento mais profundo sobre a identidade da liga, a mentalidade dos jogadores locais e as características culturais únicas que moldam o basquete no Brasil.”

6. Quais você acredita que serão seus primeiros desafios?

“Definitivamente, a adaptação a uma cultura diferente, este é o quarto continente onde trabalho, e cada um é único. O desafio será sempre conquistar a confiança dos jogadores e construir um time desde o início. Mas não vejo isso como obstáculos, vejo como privilégios. Nosso ídolo do basquete europeu e atual técnico do Monaco, Vasilis Spanoulis, disse recentemente que nós, que vivemos do esporte, não devemos reclamar, pois transformamos nosso hobby em profissão, e eu concordo plenamente. Essa é a minha escolha, o meu sonho, e todos os dias sou grata por estar vivendo isso.” 

7. O que significa para você abrir caminhos e ser um exemplo como mulher treinando em uma liga masculina?

“Significa tudo porque o esporte tem o poder de unir pessoas e derrubar barreiras que vão muito além da quadra. Quando comecei, não havia muitas referências que se parecessem comigo. É por isso que carrego essa responsabilidade com orgulho. Se a minha trajetória puder mostrar a pelo menos uma menina que o sonho dela é possível, que vale a pena lutar por ele, então eu já terei vencido. 

Eu venho da Sérvia, um país onde o basquete não é apenas um esporte, é um modo de vida, uma religião, parte da nossa identidade. Assim como o futebol é no Brasil. Eu não vejo o cargo de treinadora como algo de homem ou de mulher, vejo como uma questão de ser a pessoa certa para o trabalho. E eu trabalhei muito para me tornar essa pessoa. A Sérvia, antiga Iugoslávia, produziu algumas das maiores mentes do basquete mundial, com uma população de apenas 7 milhões de pessoas. Tenho orgulho de carregar esse legado comigo. Estou aqui não apenas como técnica, mas como representante da minha família, do meu povo e do meu país. E estou totalmente comprometida em deixar uma marca significativa e duradoura no basquete brasileiro, uma marca que vá além das vitórias e derrotas, e que toque o coração da comunidade.”

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal e Governo Federal, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), chancela da Confederação Brasileira de Basketball e patrocínios oficiais Penalty, Universidades Cruzeiro do Sul, UMP, Whirlpool e apoio oficial Infraero, IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.