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O "Padrinho" do Baska de Rua

10-11-2022 | 05:51
Por Gustavo Marinheiro

Campeão mundial e comentarista da ESPN, Agra possui uma grande história no basquete de rua

A cultura do basquete de rua é quase que requisito para todo fã de NBB, afinal, como torcer e vibrar pelo seu clube do coração, sem sentir a vontade de pelo menos uma vez entrar em quadra e mostrar as suas próprias habilidades? No Brasil, essa tradição tem crescido cada vez mais, seja com todo o ambiente criado em volta das quadras, as reformas que tem rolado, a presença de nomes importantes no movimento, como influenciadores, jogadores e até mesmo artistas, e os vídeos que, cada dia mais, viralizam na internet.

Agra como treinador do time do Ibirapuera (Arquivo Pessoal Eduardo Agra)

O que muitos dos fãs e apoiadores do basquete de rua não sabem é que um dos grandes nomes do esporte brasileiro tem uma influência gigantesca nessa história: Eduardo Agra. O recifense de 65 anos possui uma grandes vitórias, sendo a sua principal conquista o mundial de 1979 com o Sírio. Hoje, Agra integra o casting da ESPN e sempre está presente nas transmissões da NBA e NBB, mas também conta com um título inusitado, o de “Padrinho” do Ibirapuera e do basquete de rua de São Paulo.

Primeiro contato com Streetball 

Agra conheceu o basquete ainda na infância, com 10/11 anos, com a influência do seu pai Nilton Agra, que era um grande árbitro de basquete. Em 1981, após conquistar o mundial com o Clube Sírio, decidiu ingressar a universidade de Kansas State, que disputava a NCAA, e por lá conheceu pela primeira vez o basquete de rua.

Nos verões, o ex-jogador viajava para Nova York e ficava no bairro do SoHo, onde até hoje existem quadras extremamente tradicionais no streetball norte-americano.

“A principio foi muito difícil de jogar, eles não me deixavam entrar. Ficava 2/3 horas esperando, entrava, levava muita ‘porrada’ e eles sempre torciam para que eu desistisse e não voltasse mais. Depois de muito insistir, comecei a ganhar o respeito do pessoal e começaram a me aceitar por lá. Voltava todos os verões pra lá e jogava com o pessoal”, afirmou o ex-jogador.

Para ele, o que mais atraiu no basquete de rua foi a liberdade de jogar da maneira com que quisesse, sem se preocupar com esquemas. No Brasil, chegava a treinar pela manhã nos clubes que defendia, mas na parte da tarde ia para o Ibirapuera também jogar.

“Na universidade, nos clubes, sempre era um mesmo esquema fechado, onde você tinha que fazer da maneira que eles pediam, sem questionar, apenas obedecendo. Na rua é basquete. No jogo de rua, o que me atrai, é a liberdade de jogar!”, afirmou o ex-ala/armador.

Encontro com os parques de SP 

Após voltar dos EUA, Agra logo se envolveu com o movimento que acontecia no Parque do Ibirapuera, o centro do basquete de rua da cidade de São Paulo.

“O Ibira foi o primeiro lugar de São Paulo onde a rua realmente apareceu. Hoje temos Diadema, o Villa-Lobos, a Vila Madalena, mas o Ibira sempre foi a maior referência e hoje existe uma verdadeira meca do basquete por lá. Eu trouxe um pouco da vontade que eles colocam no jogo dos EUA, essa coisa do jogo mais agressivo, mas desde os anos 80 o Parque sempre teve um movimento muito legal”, disse Edu.

Jacaré, Manute, Agra e Jimi, quatro grandes nomes do basquete de rua de São Paulo

  • Agra afirmou que apesar de não curtir tanto a cultura hip hop e as músicas que sempre estão presentes, faz questão de participar de todos os eventos de basquete de rua, de conversar com todo mundo e de curtir desde a manhã até o fim da noite. Ele até brincou, afirmando ser um ‘tiozinho chato que gosta muito de basquete’.

“Sempre participei. Fui no Streetopia, na final, fui em todos os desafios dos parques, sempre que posso eu vou nos rachas que acontecem, porque gosto muito de participar. Meu filho, por exemplo, nasceu em 90, comecei a jogar muito nessa época porque foi quando aposentei, então levava meu filho para o parque, curtíamos juntos, ia jogar basquete e os meninos, o Jacaré, Manute e Jimi, que na época eram mais novos, olhavam ele pra mim. Isso mostra o nível do nosso carinho”

Agra ainda comentou sobre a falta de acesso ao esporte e como o basquete de rua foi um método de muitas pessoas sem oportunidades conseguiram pela primeira vez pisar em um quadra.

“Essa questão da elitização mudou muito de um tempo pra cá, tem melhorado. Lógico, está longe de ser o ideal, mas quando olhamos para os times de base, vemos que hoje, nos clubes paulistas, existem muitos pretos protagonistas. Isso é muito bom! A rua sempre foi a oportunidade para quem ama basquete, mas não teve acesso. Tem dois caras, o Israel e o Paçoka, que facilmente teriam jogado em qualquer clube do brasil. Eles só não jogavam porque não queriam! Tem um tal de Leandrinho, acho que você conhece, né? Que é um dos grandes nomes do Ibira”

Projetos atuais 

Hoje, com toda essa história, Agra é carinhosamente conhecido por diversos jogadores de streetball como “Padrinho do Ibira”, então sempre está presente nos diversos eventos de basquete de rua que acontecem. No dia de 20 de novembro, dia da Consciência Negra, acontece mais um evento do “Desafio dos Parques”, no qual o ex-jogador será técnico do time feminino da COHAB, equipe campeã do Streetopia. Inclusive, o apresentador ajuda no contato com federações, arbitragem e até mesmo em conversa com patrocinadores.

“Até hoje a minha rotina da manhã é acordar, dar uma volta de bicicleta e passar pelo parque. Conheço todo mundo que joga por lá, quem não me conhece passa a me conhecer. É impossível se desgrudar do basquete de rua!”

O NBB é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete (LNB), com chancela da Confederação Brasileira de Basketball (CBB) e em parceria com a NBA e o Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), e conta com os patrocínios oficiais da Penalty, EY, Sportsbet.io e apoio da IMG Arena, Genius Sports e Accor.