HOJE
Em boas mãos
Por Liga Nacional de Basquete
“Mais brasileiro dos estrangeiros”, ala norte-americano Shamell, do Mogi, assume posto de maior cestinha da história do NBB; conheça trajetória do atleta no país
Shamell Jermaine Stallworth, ou simplesmente Shamell. Esse é o nome do jogador que ocupa o posto de maior cestinha da história do NBB neste momento. Um dos grandes nomes do basquete brasileiro há anos, o norte-americano do Mogi das Cruzes/Helbor se encontra agora no primeiro lugar na lista dos maiores pontuadores de todas as edições do maior campeonato de basquete do país.
Cestinha da última temporada, com média de 20,8 pontos por jogo, e também líder do fundamento no NBB 7, com 20,2 pontos por partida, Shamell desbancou o até então líder isolado Marcelinho Machado, do Flamengo. Na reta final da fase de classificação da atual temporada, o camisa 24 mogiano teve grandes atuações individuais e assumiu a liderança histórica dos maiores pontuadores da competição nacional.
“É muito legal poder chegar a este posto. Isso mostra meu longo trabalho aqui no Brasil. Eu praticamente comecei a jogar basquete profissional aqui, desde 2004, e já adaptei completamente meu jogo ao estilo brasileiro. Claro que isso é uma coisa extra, mas quero ser um cara que faz a diferença, não só dentro de quadra, mas também ajudando o basquete brasileiro a crescer. Estou muito feliz em atingir essa marca e espero poder ficar bastante tempo no topo”, disse Shamell.
Principal cestinha das três primeiras edições do NBB, Marcelinho esteve sempre à frente da lista histórica, mas agora é Shamell quem está no topo. O norte-americano, de 34 anos e 1,94m de altura, tem 4.540 pontos em 236 partidas disputadas, enquanto que o ala rubro-negro aparece na segunda posição, com 4.520 pontos marcados. Ao lado de Alex Garcia, terceiro colocado na lista, com 4.018 pontos, os dois são os únicos a ultrapassarem a marca dos 4 mil pontos na história do campeonato.
Com uma diferença pequena em relação à pontuação de Marcelinho, Shamell tentará fechar o NBB 7 no topo da lista histórica dos maiores pontuadores da competição. Para isso, o ala norte-americano terá que desempenhar um bom papel nos playoffs. Quarto colocado da fase de classificação, Mogi aguarda o vencedor da série de oitavas de final entre Minas Tênis Clube e Macaé Basquete para conhecer seu adversário nas quartas de final.
“Estamos treinando muito para os playoffs. Sabemos que a partir de agora é um outro campeonato e sabemos também que as partidas não serão fáceis. Queremos brigar para levar Mogi o mais longe possível nesse NBB. Agora é o ‘campeonato de verdade’, a hora dos homens mostrarem seu valor. Estou muito empolgado, principalmente por poder jogar ao lado da grande torcida mogiana”, declarou o norte-americano.
“Individualmente sempre quero deixar minha marca e eu já estou fazendo isso. Ajudei Mogi a chegar à Final da Liga Sul-Americana, o que foi algo inédito para a equipe. Quero sempre competir com os melhores e esse time de Mogi me dá essa oportunidade. Fizemos uma grande campanha na fase de classificação e garantimos um lugar no G-4, outro feito inédito para o time. Estou muito focado para chegar o mais longe possível”, completou Shamell.
Quem é Shamell?
Nascido na cidade de Fresno, no Estado da Califórnia, Shamell iniciou sua carreira no basquete em sua terra natal. Depois de destaque no ensino médio, o jogaro foi para a Universidade de San Diego, onde disputou quatro temporadas do basquete universitário norte-americano.
Apaixonado pelo basquete, Shamell não hesitou em se tornar profissional e chegou a se aventurar na Liga de Verão da NBA. Mas foi no Brasil que o atleta realmente se profissionalizou e ganhou notoriedade. Atualmente, o norte-americano é o estrangeiro que atua há mais tempo no Brasil e já uma das referências do NBB. Além disso, o camisa 24 mogiano também estabeleceu sua vida pessoal no país e possui dois filhos brasileiros.
“Como todo norte-americano, meu sonho era jogar na NBA. Não consegui e não sabia o que seria da minha carreira fora do meu país. Mas agora posso dizer que me sinto realizado com o que venho fazendo aqui no Brasil, é algo muito bacana. Consegui jogar aqui em alto nível todos esses anos e mostrar meu trabalho. Fora de quadra também já me sinto muito bem acostumado às pessoas, à língua e à comuda. Quero ajudar o basquete brasileiro a crescer sempre”, disse Shamell.
Dono de um estilo descontraído e sempre sorridente, Shamell está no país há dez anos e já atuou por Araraquara, Paulistano/Unimed, antes da criação do NBB, Winner/Limeira (NBB 1) e Pinheiros/SKY (NBB 2, NBB 3, NBB 4, NBB 5 e NBB 6), além é claro do Mogi, sua atual equipe.
“Quero ser lembrado por tudo o que fiz dentro de quadra, mas também como um cara legal. O basquete brasileiro está crescendo muito e agora já ultrapassou a Argentina como a principal liga latino-americana. É muito bom pode fazer parte disso e não imaginava que todas essas coisas aconteceriam quando cheguei aqui, em 2004. Me envolvi demais com as coisas aqui no Brasil e estou muito feliz por atingir marcas históricas”, argumentou.
Os primeiros anos no Brasil…
Seu primeiro clube no país foi o extinto Uniara/Araraquara, em 2004. Depois, no ano seguinte, o jogador acertou com o Paulistano/Unimed e começou a construir sua carreira gloriosa em território verde-amarelo. Logo em sua temporada de estreia na equipe, o norte-americano foi um dos destaques do histórico vice-campeonato paulista conquistado pelo clube. Pelo Paulistano, Shamell ainda teve grandes desempenhos nos Campeonatos Brasileiros de 2005 e 2006 (organizados pela Confederação Brasileira de Basketball), sempre figurando entre os principais cestinhas da competição.
“Eu estava jogando em uma liga menor nos Estados Unidos e meu empresário me falou que um time do Brasil precisava de um ala/armador com urgência. Eu não conhecia muita coisa do país, sabia apenas que era o ‘país do futebol e que tinham muitas mulheres bonitas (risos). Não sabia nada língua, mas logo que cheguei em Araraquara passei a me interessar demais pelo país. A adaptação não foi fácil e não joguei bem, mas também não fui mal e aí surgiu o interesse do Paulistano”, explicou o jogador.
“Quando fui para o Paulistano, consegui entender mais meu jogo e preparei melhor. Aprendi a ser mais regular e pensar na temporada toda de maneira igual. Consegui ser lá no Paulistano um cara que pontua, mas sempre com uma grande equipe ao meu lado. Passei a ser mais profissional e a jogar mais duro. Consegui me adaptar bem ao estilo do jogo brasileiro e também ao país”, completou Shamell, que vestiu a camisa do Paulistano por quatro anos (2004, 2005, 2006 e 2007).
“Aqui é o meu lugar”
Depois de brilhar com a camisa do clube da capital paulista, o norte-americano chegou a se aventurar como profissional longe do Brasil, com rápidas passagens por Croácia e China. Mas o “coração” falou mais alto e o atleta rapidamente voltou ao país. O retorno de Shamell ao Brasil se deu logo na primeira edição do NBB, quando foi contratado pelo Winner/Limeira. Na equipe do interior do Estado de São Paulo, o norte-americano conquistou o título do Campeonato Paulista 2008/2009.
“Naquela época fiquei longe dos meus filhos e não pensei duas vezes quando surgiu o interesso do Limeira. Eu já tinha uma base no Brasil e foi então que me dei conta que aqui era minha segunda casa. Conhecia muitos jogadores daquele time de Limeira, como o Nezinho e o Renato, e isso facilitou minha adaptação. Cheguei para ajudar e acabamos nos tornando campeões paulistas. Foi muito bacana”, declarou Shamell.
Na temporada seguinte, o atleta se transferiu para o Pinheiros/SKY e construiu grande história por lá. Com a camisa pinheirense, Shamell se consolidou como um dos principais atletas do basquete brasileiro. Ao lado de outros grandes jogadores, como Marquinhos, Olivinha e Figueroa, o camisa 24 participou do primeiro primeiro troféu conquistado pelo Pinheiros na história, o Campeonato Paulista 2011, além de levar a equipe duas vezes às semifinais do NBB e a três vice-campeonato internacionais (Interligas 2011 e 2012 e Liga Sul-Americana 2012).
“O Pinheiros é uma organização muito bacana. O planejamento feito pelo João Fernando Rossi (diretor) foi certinho e, ano a ano, fomos melhorando. Foram ótimos anos e formamos um belo time. Eu, Marquinhos e Olivinha formávamos um trio muito bacana e vivemos uma fase muito boa. O Figueroa, que chegou um 2010, também nos ajudou muito”, disse Shamell
“Fizemos duas grandes séries semifinais do NBB contra Brasília, que sempre foi a grande equipe aqui no país, figuramos três vezes na final do Campeonato Paulista, com direito ao histórico título de 2011. Internacionalmente, também tivemos grandes campanhas. . Levamos o clube a um patamar acima e conseguimos nos firmar como uma potência”, complementou.
A consagração
A glória máxima veio em 2013. Depois de um longo período afastado das quadras por conta de uma grave lesão no tendão de aquiles, Shamell liderou o Pinheiros à histórica conquista da Liga das Américas, o primeiro título internacional de basquete conquistado pelo clube da capital paulista.
Já em um elenco mudado, sem Marquinhos, Olivinha e Figueroa, o norte-americano brilhou no torneio continental. Shamell foi o principal cestinha Liga das Américas 2013, com média de 20,2 pontos por jogo (182 no total) e acabou nomeado o MVP (Jogador Mais Valioso) da competição.
Na temporada seguinte, ainda pelo Pinheiros, Shamell levou a equipe novamente à decisão da Liga das Américas, desta vez com derrota para o então campeão Flamengo. No NBB 6, o norte-americano teve grande desempenho individual e o conquistou pela primeira vez o troféu Oscar Schimidt, premiação dada ao cestinha de uma edição do campeonato nacional. Porém o clube da capital paulista acabou eliminado pelo Mogi, sua atual equipe, nas oitavas de final.
“Me machuquei nas semifinais do NBB 5, mas consegui voltar em alto nível. Ninguém acreditava que poderíamos vencer a Liga das Américas, mas conseguimos aquele título histórico. Isso nos credenciou para a disputa com o Olympiacos pelo título mundial e isso foi algo muito importante não só para mim mas para todo o clube. No ano seguinte, voltamos à final da Liga das Américas, algo que não é nem um pouco fácil”, disse Shamell.
Agora, com a camisa do Mogi, Shamell segue fazendo história. Além de se tornar o maior cestinha da história, o jogador também está isolado na primeira colocação entre os maiores pontuadores da temporada, com média de 20,2 pontos por jogo. Dos 29 jogos que disputou, o jogador não atingiu dígitos duplos na pontuação em apenas três oportunidades.
“Aqui em Mogi é um pouco diferente. Basquete aqui em Mogi é o grande esporte e somos realmente tratados como estrelas, mas para mim é tranquilo. Sou um cara bastante humilde e tento ser sempre o mesmo. Tenho uma torcida incrível ao meu lado e ela me dá muita força para querer ganhar todos os jogos. Quando joguei com o Pinheiros nos playoffs da temporada passada, vi uma atmosfera incrível em Mogi. Então estou muito animado e ansioso para os playoffs. Tenho certeza que a torcida virá ainda mais e sonho todos os dias em poder levar o time o mais longe possível”, concluiu Shamell.