HOJE
“En la copa no se toca”
Por Liga Nacional de Basquete
Mística? Superstição? Figura atípica no basquete, argentino Walter Herrmann não encosta na taça do NBB sem antes ganhá-la: “só quando formos campeões”
Ao entrar para a sessão de fotos com o troféu de campeão do NBB 7 na véspera da abertura da Final, o argentino Walter Herrmann avisou: “en la copa no se toca”, o que no bom português significa “na taça não se toca”. Superstição? Coisa de argentino? Talvez. Mas a mística em cima do ala/pivô do Flamengo é enorme e sua comovente história de vida mostra que isso é muito mais do que uma simples crendice e que ele é realmente diferenciado.
“Desde pequeno escuto na Argentina que ‘na taça não se toca’ antes de um título. Isso é normal por lá e se aplica em todos os esportes, no futebol, no tênis, no basquete. Por isso, preferi seguir essa regra e preferi não tocar no troféu do NBB durante a sessão de fotos. Se der tudo certo e formos campeões, aí sim tocarei a taça. Primeiro subirei na cesta, depois tocarei na taça (risos)”, contou Herrmann.
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Figura carismática, de longos cabelos louros, 2,06m de altura e tênis número 52, Herrmann conquistou companheiros, diretoria e torcida do Flamengo. Logo em seu primeiro compromisso oficial pelo clube, o argentino foi campeão da Copa Intercontinental 2014 em cima do Maccabi Tel-Aviv. Na comemoração, mostrou mais uma de suas peculiaridades, cortou a rede do aro da HSBC Arena e depois subiu nele para festejar seu primeiro título pelo clube rubro-negro.
“Sempre subi na cesta e cortei a rede quando fui campeão, desde as categorias menores. Gosto de fazer isso porque na Argentina tinha um jogador chamado Marcelo Milanesio que sempre subia na cesta quando era campeão. Por isso faço isso desde pequeno e sempre que tenho a oportunidade subo na cesta e corto a rede para comemorar”, revelou o ala/pivô argentino.
Com nada menos que um ouro olímpico em 2004 pela seleção de seu país e três temporadas na NBA (com passagens por Charlotte e Detroit), Herrmann ainda possui em seu currículo, entre tantas conquistas, dois prêmios de MVP da liga argentina, em 2001 e em 2014, ambos com o Atenas de Córdoba, e um da Liga ACB (Espanha) em 2003, quando atuava pelo Fuenlabrada, além do título da Copa Intercontinental com o Flamengo no ano passado.
É certo que todos os títulos, troféus e conquistas representam grande parte de sua gloriosa carreira, mas talvez a real essência de sua pessoa se dê por conta de sua comovente história de vida. O jogador, nascido na pacata cidade de Venado Tuerto (ARG), perdeu praticamente toda sua família em um período de apenas dois anos e chegou a ver sua vida literalmente desmoronar, mas mostrou um raro poder de superação e deu a volta por cima anos mais tarde.
O drama
Em 2003, quando treinava com a seleção argentina, o jogador perdeu mãe, a irmã e a noiva em um acidente automobilístico acontecido nas redondezas da cidade de Córdoba, na Argentina. Mas o drama na vida do ala/pivô não parou por aí.
Um dia antes de completar um ano da tragédia, seu pai sofreu um ataque cardíaco fulminante e faleceu na mesma hora em que Herrmann estava em quadra na final do Sul-Americano de 2004, justamente contra o Brasil, fazendo a melhor partida de sua trajetória pela seleção da Argentina, com 39 pontos e 11 rebotes.
Os dias seguintes
O forte drama familiar foi um verdadeiro baque na carreira do ala/pivô argentino. Mas quando muitos pensariam que sua vida desmoronaria e ele não teria forças para continuar, Walter Herrmann se reergueu e decidiu reatar sua carreira no basquete, que ainda o reservava um ouro das Olimpíadas de Atenas no mesmo ano e ainda sua ida à NBA nos mais tarde.
Porém, em 2010, quando atuava pelo Baskonia (ESP) o atleta, na época com 30 anos, decidiu se aposentar, alegando que precisava se afastar para pensar nele mesmo e resolver algumas pendências pessoais. O período longe das quadras, no entanto, não durou tanto e, em 2013, o jogador retornou às quatro linhas para defender seu primeiro clube, o Venado Tuerto (ARG), segundo ele, apenas por amor ao jogo, para se divertir.
O amor apontado por ele mesmo foi convertido em sucesso, e Herrmann foi contratado pouco tempo depois para retornar ao Atenas de Córdoba (ARG), onde viu sua carreira decolar novamente, mesmo aos 34 anos de idade. Com médias de 22,4 pontos e 7,1 rebotes por jogo, o experiente ala/pivô foi eleito o MVP da Liga Argentina e posteriormente foi convocado pelo técnico Julio Lamas a integrar a seleção e seu país na Copa do Mundo da Espanha, em 2014.
Chegou chegando
Depois do sucesso em sua terra natal na temporada 2013/2014, Herrmann foi contratado pelo então bicampeão nacional e campeão da Liga das Américas, Flamengo. Aos 35 anos, o ala/pivô argentino chegou ao Rio de Janeiro já com uma missão dada: a Copa Intercontinental. O jogador nem bem havia chegado ao clube e já iniciara sua preparação para pegar o então campeão europeu Maccabi Tel-Aviv (ISR) na disputa pelo topo do mundo.
Sua estreia com a camisa do Flamengo aconteceu no Campeonato Carioca, mas seu primeiro e real compromisso foi mesmo no Mundial de Clubes. Na HSBC Arena, o Flamengo foi derrotado pelos israelenses no Jogo 1, por 69 a 66. Herrmann ficou 30 minutos em quadra e anotou nove pontos e cinco rebotes. Já no Jogo 2, quando o argentino fez oito pontos e pegou cinco sobras, o clube rubro-negro levou a melhor, por 90 a 77, superou o saldo da derrota no primeiro duelo e conquistou o inédito título mundial.
A boa e rápida adaptação do atleta ao Rio de Janeiro teve a colaboração de um outro jogador: o também argentino Nico Laprovittola. O armador, que está no Flamengo desde a temporada passada, é visto por Herrmann como peça fundamental em sua adaptação não só à cidade carioca, mas também ao time e ao esquema do técnico José Neto.
“O Nico me ajudou muito e foi muito importante na minha adaptação. Quando cheguei, não conhecia nada do Brasil e do Rio de Janeiro, mas ele me ensinou coisas. Ele me auxiliou também com o time e com a maneira que eu deveria jogar no Flamengo. Com isso me facilitou muito e a presença no Flamengo dele foi muito importante para mim”, declarou Walter Herrmann.
O NBB 7
Passados os títulos do Campeonato Carioca e da Copa Intercontinental, chegou o NBB 7 e com ele a missão de ajudar o Flamengo a defender o bicampeonato. Na fase de classificação, no qual o clube rubro-negro terminou na terceira posição e classificado direto às quartas de final, Herrmann somou médias de 11,1 pontos e 4,9 rebotes em pouco mais de 25 minutos em quadra. Suas boas atuações o renderam uma convocação para o Jogo das Estrelas 2015, em Franca (SP), para defender o NBB Mundo.
Já nos playoffs, nas partidas das séries de quartas de final contra o São José e na semifinal contra a Winner/Limeira, o ala/pivô de 35 anos foi responsável por 10,2 pontos de média e sua experiência e eficiência foram cruciais para o Flamengo chegar à sua terceira Final de NBB consecutiva, a quinta em toda a história.
“Para mim é um orgulho muito grande poder dirigir um jogador como o Walter (Herrmann), não só pelo currículo que ele tem. Uma coisa que nos chamou bastante a atenção, além das conquistas e da experiência, foi a pessoa que ele é. É um orgulho muito grande ter um cara como ele no time e a presença dele foi muito importante para chegarmos onde chegamos”, disse o técnico do Flamengo, José Neto.
Mesmo tendo altura de pivô – 2,06m – Herrmann sempre teve técnica e habilidade para jogar aberto e exercer a função de ala (3), posição esta em que atuou em grande parte de sua carreira. No entanto, o jogador passou a atuar como ala/pivô (4) no Flamengo, o que não foi problema para ele, que diz se sentir bem e satisfeito com os resultados alcançados pela equipe.
“Essa temporada está sendo muito boa para mim. Cheguei aqui para cumprir um papel diferente do que eu sempre joguei. Sempre atuei na posição 3, a de ala, mas esse ano joguei como 4, de ala/pivô. Mas nada disso foi problema, pois com o (José) Neto ficou bem fácil, pois ele é muito inteligente e conhece muito bem seus jogadores. Me sinto muito cômodo aqui, apesar de estar exercendo outra função, pois a equipe está conseguindo resultados muito importante”, disse Herrmann.
“Antes de acertarmos conversei bastante com ele e disse que precisávamos de um jogador para a posição de ala/pivô (4). E a maneira com que a gente joga era basicamente ele fazer a função de um 3, pois é como se jogássemos com dois jogadores na posição de ala 3. Ele me disse que faria o que fosse preciso, que não joga mais para ser protagonista e sim para ajudar o time chegar onde precisa. Isso foi um mérito muito grande dele e tudo que conquistamos teve uma grande participação dele”, comentou o treinador do Flamengo, José Neto.
A Final
Com o 3 a 2 sobre o São José nas quartas e a “varrida” (3 a 0) sobre a Winner/Limeira na semifinal, o Flamengo chegou à Final da sétima edição do NBB diante do líder da fase de classificação Paschoalotto/Bauru.
No primeiro jogo da série melhor de três da decisão, na última terça-feira, na HSBC Arena, os rubro-negros não tomaram conhecimento dos atuais campeões das Américas e venceram com autoridade, pelo placar de 91 a 69, a maior diferença de toda a história das decisões do NBB. Na ocasião, o ala/pivô argentino saiu do banco e anotou sete pontos e duas assistências.
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Agora, Herrmann e Flamengo ficaram a um passo do título do NBB 7. Mas para isso se concretizar, é necessário vencer mais uma partida diante do Bauru. A próxima será neste sábado (30/06), no Ginásio Neusa Galetti, em Marília (SP), às 10 horas (de Brasília), com transmissão ao vivo da TV Globo e dos canais SporTV.
“Creio que falta pouco (para o título), mas ao mesmo tempo falta muito. Ainda temos um jogo e é contra o Bauru, que é muito forte. Acho que são os dois melhores times do NBB. Temos que estar concentrados, só na partida, não podemos pensar que se ganharmos seremos tricampeões e tudo mais, temos que estar concentrados, entrar bem no primeiro quarto e assim construir o tricampeonato”, finalizou Walter Herrmann.