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Entrevista com Valtinho

02-04-2012 | 05:06
Por Liga Nacional de Basquete

Em um bate-papo aberto, o experiente armador do Uberlândia fala sobre sua relação com a cidade, Seleção Brasileira e planos para o futuro. Confira!

Valter Apolinário da Silva, ou apenas “Valtinho”, como ficou conhecido no mundo do basquete. Natural de Rio Claro, no interior de São Paulo, o armador fez de Uberlândia a sua casa. Defendendo o time da cidade, conquistou o título nacional de 2004 e o da Liga Sul-Americana em 2005. Permaneceu até 2007, quando a equipe encerrou suas atividades. Com o retorno da equipe em 2010, o camisa 9 também voltou.

Aos 35 anos, o experiente jogador do Unitri/Universo bateu um papo com a equipe da Liga Nacional de Basquete e falou sobre o momento na carreira, a relação com a cidade onde é ídolo, Seleção Brasileira e planos para o futuro. Confira abaixo a entrevista:

Valtinho, do Uberlândia - Interligas

Valtinho em ação no Torneio Interligas 2012 (Célio Messias/LNB)

LNB: Você já teve oportunidade de jogar em outras equipes no país, mas foi aqui em Uberlândia que criou raízes. Como é essa sua relação com a cidade e com a torcida?

Valtinho: Na minha carreira não passei por muitos clubes. Comecei em Rio Claro, joguei em Ribeirão, Franca, Uberlândia e Brasília. E aqui em Uberlândia é minha oitava temporada e desde que eu vim para cá foi uma época muito boa. A equipe estava em ascendência, sempre buscando as primeiras colocações. Disputamos várias finais, fomos campões brasileiros, sul-americanos… Eu gosto daqui, minha família também, meus filhos cresceram aqui, a gente também tem amigos fora do basquete. Então quando fazemos planos para o futuro é sempre em Uberlândia.

Valtinho, 2004

O armador comandou a equipe campeã brasileira de 2004 (Gaspar Nóbrega/CBB)

LNB: Com toda essa história construída aqui, como foi quando a equipe encerrou as atividades e você teve que buscar outra equipe para continuar jogando?

Valtinho: Foi complicado. Não pensava em sair daqui. E não imaginava que a equipe fosse acabar. Eu e minha família fomos pegos de surpresa. Mas é a nossa vida, somos profissionais e temos que nos adaptar. E nos adaptamos em Brasília, foram três anos muito bons. Mas voltar para cá era algo que a gente queria porque tínhamos planos de continuar nossa vida aqui não só no basquete. Agora estou com 35 anos, já começo a pensar de um modo diferente, planejando outras coisas. Quero jogar forte mais duas ou três temporadas para depois pensar no futuro, se Deus quiser aqui em Uberlândia.

LNB: Temporada passada a equipe conseguiu montar um elenco forte e nessa temporada chegaram mais alguns reforços. Como você analisa essa temporada em que a equipe chegou a liderar o campeonato até a sua lesão. Até que ponto sua ausência influenciou no desempenho da equipe?

Valtinho: Esse ano é o segundo que eu a maioria dos jogadores estamos juntos. Então já tinha aquela afinidade, todo mundo se conhece e estávamos jogando muito bem. Mas quando você tem um grupo e alguém machuca, não é mais a mesma coisa. Ainda estou longe de estar 100%, mas acho que agora é a hora importante, chegando os playoffs e a equipe precisa voltar a fazer aquele basquete que vinha fazendo. Sabemos como fazer, então agora é a hora de concentrar e voltar a jogar bem nessa reta final de campeonato.

LNB: Como você enxerga as chances de Uberlândia nos playoffs? Dá para pensar em título?

Valtinho: Dá sim, essa é a nossa intenção. Na primeira fase ganhamos de todo mundo desses que estão no G4. Playoffs é outro campeonato e se estivermos bem podemos ganhar deles. Lógico que é difícil, mas conhecemos nossa equipe, sabemos que ela é forte e é difícil de ganhar da gente, principalmente em casa.

LNB: Nesse momento, já experiente e aos 35 anos, o que você busca na sua carreira?

Eu sempre quero fazer uma boa temporada, penso em título. Penso sempre em dar o meu máximo, fazer a equipe jogar. Estou com 35 anos, quero jogar bem até 37, 38 anos e eu me cuido para poder estar bem. Estatisticamente falando, essa vinha sendo minha melhor temporada dos últimos anos. Infelizmente machuquei e é uma lesão que não tem muito o que fazer, a recuperação está sendo lenta. Se eu operasse perderia a temporada inteira, então estou tentando voltar, mas está difícil. Vou tentar voltar e ajudar a equipe no que eu puder.

Valtinho, Seleção

Valtinho pela Seleção Brasileira em 2007 (Wander Roberto/CBB)

LNB: Falando de Seleção, você ainda pensa nisso? Estamos em um ano olímpico e você tem o sonho de jogar uma Olimpíada?

Valtinho: Eu busco sempre ser muito sincero. Com o passar do tempo, fui optando pelo outro lado, de família. E tive muitas contusões também. Ano retrasado [na convocação para o Mundial] eu optei por estar com meus filhos, foi uma coisa que eu escolhi. Então não penso mais nisso, penso só em estar bem, fazer uma boa temporada e descansar, cuidar dos meus filhos. Torço pela Seleção, a gente precisa disso, mas minha fase já passou.

LNB: Você é tipo de armador que é mais raro de se encontrar hoje em dia. Você sempre foi um jogador mais cerebral, que coloca o time para jogar e dá bastante assistências. Como você vê essa nova tendência dos armadores serem mais agressivos e mais físicos?

Valtinho: No começo da minha carreira eu também era muito mais agressivo. Mas já tinha esse lado de gostar de dar assistências de fazer o time jogar. Aí aconteceram algumas lesões e, não sei se foi só por isso, mas já não tinha o mesmo físico para poder bater para dentro o tempo todo, então mudei.  E por ter tido esse reconhecimento que eu tive no basquete eu me considero privilegiado. Sempre fui considerado um armador bom, que comandava a equipe, enquanto em outros lugares muita gente só quer ver quem faz mais pontos, quem fez isso, quem fez aquilo… Eu me considero um dos raros jogadores que foram reconhecidos mesmo fazendo poucos pontos.

LNB: Quando você começou sua carreira, tinha alguém em que você se espelhava e se inspirava?

Valtinho: Na época que eu comecei a jogar foi quando começou a passar NBA na televisão, então a gente só queria fazer coisa diferente. Aos 14 anos, eu via os armadores da NBA fazendo lances bonitos, daí ia para a quadra e treinava igual um maluco essas jogadas. Com o tempo você vê que só isso não é tão importante e adapta seu jogo a realidade.

LNB: Mas tem um cara que você era fã?

Valtinho: Na época, o Michael Jordan era o cara que fazia tudo, né? Mas eu gostava do Isiah Thomas, que era armador, baixinho, dava assistências bonitas. Não pensava em ser igual, mas ia para quadra e tentava fazer algumas coisas. Aqui no Brasil gostava muito do Ratto, do Maury…

Valtinho, 2007

(Wander Roberto/CBB)

LNB: Você teve o sonho de um dia chegar à NBA?

Valtinho: Quando era menino e comecei a jogar, meu sonho era ter uma carreira boa aqui no Brasil e conseguir minhas coisas por meio do basquete. Nunca pensei muito alto, como NBA, seleção. O pensamento sempre foi de “eu preciso treinar, ter uma vida legal e viver bem”.

LNB: Como você vê o trabalho do jovem Henrique Coelho aqui no Uberlândia? Quais dicas você procura passar para ele, quem sabe um dia, possa chegar aonde você chegou?

Valtinho: O Coelho está tendo oportunidade e está correspondendo. É um jogador fisicamente muito bom e tem um grande futuro no basquete. E o principal, gosta de treinar, dá duro todos os dias. As vezes ele fala “Valtinho, me dá uma dica”, e eu digo para ele fazer o que tem que fazer. É difícil dar muitas dicas, porque eu sou um jogador que gosta de comandar a equipe e ele ainda não está nessa fase… Se eu tivesse o físico dele também ia querer fazer outras coisas, bater pra dentro (risos). Mas ele ainda vai aprender isso daí, eu também passei por esse momento. O principal aqui é dar confiança para ele entrar na quadra e jogar. O jogador só amadurece com o tempo.

LNB: Para finalizar, que mensagem você deixa para a garotada que está começando a jogar e te vê jogando pela televisão, ou que vem ao ginásio vê-lo jogar?

Valtinho: Tem muita gente aqui que vem, acompanha e gosta mesmo. Tem muitos menininhos que amam o basquete. Acho que, se você gosta, tem que tentar e treinar bastante. No basquete, infelizmente, de muitos saem poucos. Se não der, parte para outra coisa, por isso estudo é muito importante. Mas durante essa fase da vida é legal treinar, praticar e correr atrás do seu sonho.