HOJE
FAMÍLIA PAULISTANO - parte 1
Por Juvenal Dias
Com três pares de irmãos no elenco, Paulistano mostra que a palavra "família" vai muito além do lema do clube, não só no Natal, mas durante todo NBB CAIXA e até fora das quadras
Quem entra no Ginásio Antonio Prado Junior, logo observa atrás de uma das cestas o seguinte lema escrito em destaque: “Família Paulistano”. Poderiam apenas palavras aleatórias escolhidas para estampar a quadra do clube fundado em 1900, mas não é o caso. Ser uma família está entre os valores da instituição centenária e a equipe de basquete exemplifica isso perfeitamente. No elenco que disputa o NBB CAIXA 2023/24, há três pares de irmãos de sangue: Victão e Henrique Silva, Lucas e Alex Doria e Gui e Léo Abreu.
Entre 24 e 26 de dezembro, as partidas do NBB CAIXA são interrompidas e retomadas apenas no dia 27. É uma oportunidade para que jogadores e comissões técnicas, que treinam e viajam tanto durante o ano, possam passar um tempo com suas famílias e pessoas queridas no Natal. Nesse sentido, dá para dizer que no Paulistano o espírito natalino é quase cotidiano, afinal, a família está sempre reunida – tem os irmãos de sangue, os irmãos de time e o paizão da galera, o técnico Demétrius Ferracciú.
Na temporada 2023/24, essa união já rendeu frutos com a conquista do Campeonato Paulista. E nos próximos dias o Papai Noel ainda pode trazer um esperado presente: a vaga na Copa Super 8. No momento, o Paulistano é quinto do NBB CAIXA, com 11 vitórias e cinco derrotas. Se ganhar uma das próximas duas partidas, a equipe se classifica para a competição. E dependendo dos outros resultados, é capaz que o Tigre fique com a vaga mesmo se perder ambos os duelos. Se a classificação vier, a festa vai ser maior do que no amigo secreto dos jogadores (mas essa história será publicada apenas no dia 25).
Dificilmente alguém encontrará um time com seis irmãos no mesmo elenco. Capitão, o ala-pivô Victão Silva está há 11 anos no clube, entre times de base e principal, e é irmão do caçula do grupo, o ala Henrique Lúcio Silva, de 18 anos, que ainda não estreou na equipe principal. Eles têm um irmão do meio, Vinicius, que também passou pelo Paulistano e hoje joga no Class Bàsquet Sant Antoni, da Espanha.
Os gêmeos Lucas e Alex Doria são sócios desde criança do Paulistano. Aos 11 anos, entraram para a equipe de basquete do clube. Lucas deixou a base para jogar em uma universidade dos Estados Unidos. Alex iniciou sua carreira no time da capital e depois passou por outras equipes antes de retornar ao Paulistano. Os dois só se tornaram companheiros de time na temporada passada, 2022/23.
Por fim, ainda tem os irmãos Abreu, Gui e Léo, ala e armador, que são tão parecidos que até a avó que assiste aos jogos confunde quem é quem. Eles já atuaram juntos no Sesi/Franca e encontraram no Paulistano um lar para continuarem compartilhando a quadra.
O capitão
Victão não é o jogador mais velho do time. O mais veterano é o ala-armador norte-americano Kevin Crescenzi, que tem 30 anos, quatro a mais que o ala-pivô. No entanto, Victão atua desde o NBB CAIXA 2015/16 no Paulistano, alcançando a experiência e a serenidade que o levaram ao patamar de capitão da família.
“Sem sombra de dúvidas é uma grande responsabilidade de ser o capitão da família. Em janeiro, completa 11 anos que estou aqui. Tem toda uma história, muito trabalho envolvido. Vem uma responsabilidade para meu irmão também. Mas é uma coisa boa, ele vem chegando bem, está nas categorias de base ainda, mas temos esse contato, conversamos todos os dias, nos encontramos, vejo como ele está. Falamos bastante nos pós-jogos. É muito bom ter essa relação próxima com ele”.
Victão esteve na conquista do título do NBB CAIXA 2017/18, quando o Paulistano bateu o Mogi na final por 3 a 1. E nesta temporada o ala-pivô já teve a oportunidade de levantar mais um troféu, no Campeonato Paulista, em jogo único contra o Corinthians. Essas conquistas vêm como fruto do trabalho coletivo e da cultura de família dentro do clube. Victão explica:
“É a cultura que foi criada dentro do clube. Não temos a maior torcida do NBB CAIXA, mas as pessoas que torcem pela gente, são pessoas muito acolhedoras. São pessoas que olham o treino, que se preocupam em saber como você está. Estou aqui desde as categorias de base, tem associados aqui que sempre perguntam: ‘tudo bem? Como você está? Está precisando de alguma coisa?’. Tem uma associada/torcedora, a Beta, que sempre traz bolo para nós. Isso representa toda a cultura criada dentro do Paulistano, você realmente se sente em casa. Para mim, que estou aqui há muito tempo, esse lugar é minha casa. Tem esse ambiente familiar, que tento repassar isso ano a ano, quero que essa cultura continue, que está além dos jogadores, a gente dá continuidade. Carreira de atleta tem diversos desafios, tem momentos bons e ruins, lesões, uma série de percalços. A todo momento queremos que seja um ambiente familiar, que você saiba que poderá contar com a outra pessoa, com seu companheiro, com alguém que torce por você. Faz total diferença”, ressalta o capitão.
O ala-pivô tem 230 jogos com a camisa do Paulistano e está perto da marca de 1.500 pontos anotados. O fato de ser o irmão mais velho de Henrique não é um problema para Victão. Ele entende que se tornou um espelho para seu o caçula e para os demais integrantes da família.
“Eu costumo ver isso pelo lado positivo das coisas. Sou o irmão mais velho, isso me motiva, porque preciso ser o espelho para ele. É ele olhar para mim e pensar: ‘meu irmão tem atitudes boas, faz coisas boas’. Isso não tem a ver com jogar bem ou jogar mal, mas a minha atitude em todos os momentos, no trabalho do dia a dia, o durante o processo. Isso me motiva a ser uma pessoa e um atleta melhor. Sei que tem uma pessoa que se espelha em mim. Meu irmão vem assistir ao jogo, está na arquibancada e ele está pensando: ‘pô, é meu irmão’. Quando eu tinha 16 anos, eu era o menino que sentava lá na arquibancada para assistir os jogos dos adultos, falava: ‘será que um dia serei eu?’. Hoje me vejo nessa situação, sou muito grato e feliz por ter meu irmão por perto. É uma motivação a mais”.
Quando chegou ao Paulistano vindo de Sumaré (SP), no interior do estado, Victão contou com o acolhimento e apoio de outra família, os Doria. Isso mesmo, o ala-pivô, que tem a mesma idade dos gêmeos, convive com Alex e Lucas desde o início no clube.
“Nessa parte de família, posso falar com propriedade, em todos esses anos de Paulistano, fui praticamente criado com os irmãos Doria. Quando tinha 16 anos, fazíamos tudo na casa deles, tínhamos um time e no dia de jogo, saía todo mundo da escola e íamos para a casa deles, depois vinha todo mundo para o clube, era nosso ambiente de concentração. A família Doria sempre me acolheu muito bem, o Celso (pai) e a Marcele (mãe) sempre me trataram com alguém da família mesmo. Eu praticamente cresci lá dentro, eles têm muita influência no meu caráter por esse contato”.
Os Doria
Alex e Lucas descobriram o que é basquete dentro do Paulistano. Cresceram como sócios do clube, se federaram aos 11 anos e fizeram as categorias de base na equipe. Depois, sua carreiras tomaram rumos distintos. Lucas foi fazer faculdade em St. Edwards, nos Estados Unidos, onde jogou de 2015 a 2020. Após esse período, Lucas retornou ao Paulistano. Alex, por sua vez, permaneceu no clube e fez sua estreia profissional no NBB CAIXA 2017/18. Ele ficou dois anos na equipe, depois passou por Mogi, Cerrado e São Paulo, até voltar em 2022/23 para fazer dupla com o irmão.
Lucas ficou cinco anos longe do Paulistano. Mas, quando retornou, percebeu que a essência continuava a mesma.
“Quando voltei dos Estados Unidos, estou aqui há quatro anos, e continua nesse mesmo espírito. Tinha esse receio porque não sabia se no profissional ia ser diferente, sempre ouve alguém falando que no profissional não é a mesma coisa. No entanto, aqui no Paulistano mantém isso, nos times de todas as temporadas no NBB CAIXA eu tenho amizade com todo mundo que passou por aqui. O nosso presidente está sempre na quadra nos acompanhando. Nós temos essa sensação de irmandade mesmo, fazer o que precisar de um pelo outro, estar feliz pelo outro, não pensar só em nós mesmos”, explicou Lucas.
O período nos Estados Unidos serviu para ganhar mais experiência, mas deixou bem nítido que é jogando ao lado do irmão que Lucas se sente bem: “Agora, nos últimos dois anos, estou jogando junto com meu irmão, depois de ficar seis ou sete anos sem estarmos na mesma quadra. Foi algo indescritível jogar com ele novamente, até esquecemos como funcionava o entrosamento. Foi legal jogar contra, uma experiência totalmente diferente. Mas jogar junto, estar no dia a dia, é outra coisa, sua relação fica mais forte, sabe como o outro atua, nas viagens ficamos no mesmo quarto, é legal. E é mais do que ser os irmãos de sangue, todo mundo aqui carrega essa característica”.
Não é só dentro das quadras que eles mostram entrosamento. Nas respostas, Alex também esbanja sintonia com o irmão: “É sempre muito bom poder estar ao lado dele, seja dentro ou fora de quadra. Começamos nossa caminhada no basquete juntos, então ter o privilégio de ter chegado ao nível profissional e conquistar títulos juntos é realmente extraordinário, algo que nem poderia sonhar! Sou muito grato por isso”.
Desde cedo, Alex aprendeu sobre a Família Paulistano: “Esse lema eu aprendi jogando na base, junto do meu irmão e do Victão; depois, mais adiante, com o Anderson também, e com certeza isso se reflete na quadra. O basquete é um esporte coletivo e quando você joga um pelo outro como se fosse um dos seus, não tem como dar errado”.
Quando um membro da família não pode estar em uma conquista, o outro se esforça ainda mais para trazer o título. Foi assim que Lucas representou Alex na final do Campeonato Paulista.
“Estávamos em Rio Claro e o Alex ficou sabendo que sua mulher teria o filho, ele foi embora. Todo mundo apoiou, a gente precisava muito dele, já estávamos desfalcados. Sabíamos que tínhamos que fazer um pouco a mais para conseguir essa conquista. No jogo, estávamos para baixo, tivemos que voltar para vencer. Continuamos com essa energia no NBB CAIXA. Já passamos por algumas adversidades, mas todo jogo fazemos um pelo outro, em cada vitória nossa é um destaque diferente. Vai sempre ter um que está melhor, mas está todos ajudando e querendo o melhor para o time”, relembrou.
Alex também leva o mesmo espírito aguerrido e de união para dentro das quadras: “Acredito que isso só nos torna mais fortes e resilientes como equipe. Eu mesmo ‘mato e morro’ por eles. No momento em que a gente deixa a individualidade e ego de lado, o time cresce muito, e acredito que todos os laços familiares ajudam nesse quesito”.
Se pensa que a história da Família Paulistano acaba por aqui, não deixe de conferir neste domingo a segunda parte do especial para saber mais curiosidades, a expectativa de quem quer entrar de vez na família, como é comandar esse grupo e o que aconteceu no amigo secreto.
O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal e Loterias Caixas, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Sportsbet.io, Penalty, EMS e UMP e apoio IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.