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Fala aí, Guerrinha!

08-12-2016 | 12:57
Por Liga Nacional de Basquete

Títulos, basquete mogiano, saída do Bauru e projeção de carreira: confira entrevista exclusiva com o técnico Guerrinha, campeão Paulista e da Sul-Americana com o Mogi

Comemoração do técnico Guerrinha

Guerrinha foi campeão dos dois primeiros campeonatos que disputou em 16/17 e deu títulos ao Mogi depois de 20 anos (José Jimenez-Tirado/FIBA Américas)

Guerrinha “chegou chegando” no Mogi das Cruzes/Helbor. Contratado no início da temporada, o experiente treinador deu seu toque de competência à boa equipe mogiana e o resultado não poderia ser outro: dois títulos nas duas primeiras competições que disputou em 2016/2017: o Campeonato Paulista e a Liga Sul-Americana.

Antes de pousar em Mogi, Jorge Guerra acumulou expressivas conquistas com o Gocil/Bauru Basket e incrementou ainda mais seu currículo no esporte da bola laranja. Pela equipe bauruense, foi bicampeão Paulista (2013 e 2014), campeão da Liga Sul-Americana (2014), da Liga das Américas (2015), vice-campeão da Copa Intercontinental contra o Real Madrid (2015) e vice-campeão do NBB CAIXA 2014/2015.

+Saiba mais: Com Mogi campeão, basquete brasileiro emplaca maior sequência da Sul-Americana

Depois de sua saída do Bauru ao final da edição 2014/2015 do NBB CAIXA, o treinador aproveitou para enriquecer seu conhecimento. Em quase um ano, fez viagens à Espanha e à Argentina, além de compartilhar sua bagagem como orientador técnico da LDB (Liga de Desenvolvimento de Basquete) 2015.

Guerrinha, técnico do Mogi

Guerrinha deu ao Mogi seu =primeiro título internacional da história (Gaspar Nóbrega/FIBA Américas)

Nascido em Franca (SP), Guerrinha teve uma brilhante carreira também como jogador. Pela equipe de sua cidade natal, em que atuou em grande parte de sua carreira, conquistou nada menos que o cinco títulos nacionais, cinco títulos sul-americanos e mais cinco estaduais.

Além disso, vestiu a camisa da Seleção Brasileira por 13 anos. Neste período, disputou 235 jogos), com direito a duas Olimpíadas (88 e 92) e mais dois Mundiais (86 e 90). A glória máxima, no entanto, foi em 1987, com o histórico título dos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, quando foi titular do time que conquistou o ouro diante dos Estados Unidos.

Na entrevista exclusiva concedida ao portal da LNB, Guerrinha fala sobre variados assuntos. Dentre eles o sucesso em Mogi das Cruzes logo de cara, sua filosofia de trabalho, basquete mogiano e torcida. Além disso, respondeu sobre o aprendizado de sua saída do Bauru, evolução da modalidade no Brasil e projeção para sua carreira. Confira o bate-papo na íntegra.

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete (LNB), em parceria com a NBA, e conta com o patrocínio master da CAIXA, o patrocínio da SKY e os apoios do Ministério do Esporte e da Avianca.

Você mal chegou e já conquistou dois títulos. Devolveu a alegria ao torcedor, que voltou a comemorar um título depois de 20 anos. Como se sente com esse sucesso todo logo de cara?

“Estou muito orgulhoso. Feliz por ter ajudado o Mogi com minha experiência e jeito de trabalhar. Esse é um trabalho que já tinha aqui, realizado por outros técnicos. Não diria que esse trabalho estava pronto, mas faltava dar aquela caracterizada, definir uma mentalidade, passar segurança e ter uma filosofia vencedora. Acho que meu jeito de trabalhar e pensar, por já ter sido jogador, ser técnico há 18 anos e saber a linguagem do jogador, ajudou muito na química com a equipe e está trazendo uma resistência mental para fechar jogos. Eles sempre foram guerreiros, mas às vezes não sabiam fechar jogos. Com minha tranquilidade, sistema de jogo, sempre dando liberdade aos atletas, é claro que com responsabilidade, passa confiança para o jogador. Tenho passado muitos valores de defesa. Fomos campeões nos dois torneios (Paulista e Sul-Americana) sabendo fechar os jogos e nunca desistindo, mas se olharmos nossa defesa, foram as melhores nesses jogos decisivos: contra Bauru na casa deles, nos jogos no Uruguai e na Argentina. Controlamos os jogos na defesa e aproveitando nossa qualidade individual”

Você repetiu o feito realizado no Bauru, com título do Paulista e da Sul-Americana. Naquela ocasião, conquistou os mesmos títulos e ainda foi vice do NBB CAIXA. Diante dessa grande fase, o que espera para este NBB CAIXA?

“Esperamos continuar sempre competitivos. No NBB CAIXA, assim como no Paulista e na Sul-Americana, existem vários times que podem chegar ao título, mas nossa prioridade foi o início de temporada. Pelo prefeito, pelo torcedor, esse início de trabalho era muito importante. Mas como somos competitivos, queremos brigar no NBB CAIXA também. Fizemos 37 jogos em quatro meses, mas queremos mais. Por isso estamos reorganizando o planejamento, principalmente o físico. Queríamos um plantel maior, mas não estamos conseguindo rodar bem. Vamos dar treinos para os jogadores do revezamento para assim reduzir o tempo de jogo do Caio, Shamell, Tyrone e Larry. Esperamos contar com a volta do Gerson nas próximas semanas e isso certamente nos ajudará muito”.

Guerrinha treino Mogi

Guerrinha implantou sua filosofia de trabalho no Mogi e os resultados vem sendo animadores (Antonio Penedo/Mogi-Helbor)

Mogi sempre teve muito poder de fogo, mas percebemos que o estilo de jogo já mudou em relação aos outros anos. Com mais chutes de 3, Caio Torres arremessando de fora, Tyrone mais confiante. Isso é a mão do Guerrinha no time?

“Cada técnico tem sua filosofia. Eu gosto de passar confiança para os jogadores e treinamos para isso. Pela minha experiência sei que se o Tyrone tivesse mais confiança do chute seria um dos melhores “4” do basquete brasileiro. Sabemos que o Caio Torres tem um jogo interno fortíssimo, mas se ele fizer o pop out e chutar de fora será ainda mais efetivo. Temos que aproveitar isso. No Bauru eu tinha mais opções de chutadores, mas agora estou dando confiança para os daqui. O Gui (Filipin) já tem essa característica, o Shamell também. Diferente do Caio, o Rafael (Hettsheimeir) era um “4,5”, já chega chutando. Já o Caio tem um chute estático, mas pode ser eficiente também. Então estamos aproveitando a característica de cada um. O time não deixou de individualizar o jogo, mas agora sabemos a hora de individualizar. Antes era só o Shamell que chamava o jogo, agora temos mais opções. Isso complica muito a vida do adversário”.

Agora no Mogi você está voltando a trabalhar com Larry Taylor. É um cara que você conhece bem, confia e ganhou títulos junto. Como é sua relação com ele?

“Fora da quadra é como todos. Consigo tratar todos iguais, mas de uma forma diferente (risos). Cada um tem sua personalidade, suas necessidades, um é mais velho, outro mais novo. Todos têm seu valor. Eu e Larry temos uma parceria muito vencedora. Falar do Larry fica fácil. É um cara fantástico dentro e fora da quadra. Não conheço uma pessoa sequer que fale uma coisa ruim do Larry. É um cara dedicado, sabe seu papel e creio que sente mais confiança comigo de técnico. É uma troca. Eu sinto confiança nele e ele em mim. Com minha vinda pra cá ele cresceu muito e está fazendo ainda melhor as coisas que sabe fazer”.

Na vida os tropeços e decepções nos fazem aprender muito. O que você tirou de lição com sua saída do Bauru?

“Tudo na vida serve para agregar valor. Estamos de passagem pela vida para aprender com as dificuldades. As alegrias vêm para reforçar e valorizar o trabalho. Já as dificuldades vêm para nos mostrar que precisamos trabalhar mais, melhorar e evoluir em diversos aspectos. Nas dificuldades a gente procura mais essa melhora. Acredito muito em Deus e que às vezes ele nos coloca em lugares melhores e com pessoas melhores do que estávamos. Por mais feliz que tenha sido minha passagem por Bauru, meu ciclo estava acabado. Não por mim, mas pelas pessoas de lá. O tempo tem dado as respostas. Felizmente tenho o dom e o talento de trabalhar, dar sempre meu melhor onde eu estiver. Tenho mostrado em pouco tempo de trabalho quem estava errado nas decisões de Bauru. Mas independente de tudo, estou muito feliz em Mogi. É uma cidade que ama basquete, tem pessoas excepcionais e jogadores muito profissionais. Vejo aqui um profissionalismo exemplar, uma referência, e não posso falar um “a” dos jogadores. São pessoas que têm me agregado muito profissionalmente e pessoalmente”.

Certamente, o ano da equipe de Bauru é digno de muitos aplausos (João Pires/LNB)

“Meu ciclo já estava acabado”, disse Guerrinha, que ficou no Bauru por 8 anos e comandou a melhor fase da história do basquete de lá (João Pires/LNB)

Quais foram os fatores que fizeram você aceitar a proposta de trabalhar no Mogi?

“A proposta do Mogi era muito desafiadora. Era um tiro para um acerto. O time tinha que ser campeão. Então era uma responsabilidade muito grande. Eu tinha outras propostas de outros projetos que estavam se iniciando, mas tenho estilo competitivo e aqui poderia voltar a ser feliz sendo competitivo, sempre sabendo do grau de dificuldade. O Mogi já tinha um trabalho forte, dentro e fora da quadra, e eu sabia que se eu colocasse meu ‘tempero na comida’ da equipe poderia dar muito certo. Eles tiveram uma aceitação muito grande com a minha pessoa. São quatro, cinco meses de muito sucesso. Tudo foi muito desafiador. Como gosto de desafios, me motivei ainda mais e creio estar fazendo um ótimo trabalho”.

Como você enxerga a paixão do mogiano pelo basquete? É uma praça tradicional no basquete desde os anos 90 e agora esse sentimento está ainda mais aflorado. O que você acha que gerou isso?

“Primeiro que o povo mogiano é muito amável, muito receptivo. Esse perfil deles é muito interessante. E segundo que aqui tem pessoas como o Nilo Guimarães, que esteve presente no início da história do basquete em Mogi e trouxe essa paixão para essa cidade. Não podemos deixar de enaltecer a era Cláudio Mortari, que tinha atletas como Pipoka, Ratto, Nilo, Paulinho Villas-Boas, que trouxeram um título para a cidade. Um título é a cereja do bolo. E o Mogi, até na volta do projeto, sempre tratou muito bem o basquete, dentro e fora da quadra. Tem um ginásio bem localizado, em que qualquer um pode entrar e ver o treino, as famílias são muito envolvidas com tudo e é tudo muito agradável. Todos são muito abertos nessa parte social, então isso divulga o basquete de uma forma muito positiva por aqui”.

Nesta temporada o NBB CAIXA está bastante equilibrado. Nas edições anteriores sempre haviam duas ou três equipes destoando mais. Agora temos vários com condições de chegada. A que se deve essa mudança?

“Ao crescimento da LNB. Ano pós ano a LNB vem conseguindo parcerias, fazendo capacitação na área administrativa, na arbitragem. Com o momento financeiro do país os investimentos de alguns times foram menores, então isso ajudou a equilibrar um pouco mais. Temos ótimos trabalhos no Nordeste, como no Ceará, tivemos a entrada do Campo Mourão, a volta do Vasco. Para o basquete isso é muito legal. Uma pessoa do vôlei comentou comigo que há o vôlei ‘no Brasil’ e o vôlei ‘do Brasil’. E disse que com a gente, por mais que o basquete ‘do Brasil’, que é a Seleção, não tenha alcançado muitos resultados expressivos, o basquete ‘no Brasil’ é feito pelos clubes. Isso é muito positivo. No período que fiquei afastado estive na Espanha, na Argentina, e pude percebe o potencial que o Brasil tem é imenso. Temos uma das maiores ligas do planeta. Diversos jogadores e técnicos querem trabalhar aqui, isso não só em função do histórico que o basquete brasileiro já carrega, mas na forma que a LNB vem tratando o basquete ao longo desses oito anos de existência”

Mogi Guerrinha Larry

“Temos uma das maiores ligas do planeta”, afirmou Guerrinha sobre a LNB e o crescimento do basquete (Gaspar Nóbrega/FIBA Américas)

E o que deve ser feito para seguir fazendo o basquete crescer?

“Precisamos agora ampliar e, mesmo sabendo que não é da alçada da LNB, precisamos de basquete nas escolas. Na minha época tinham diversas escolas e prefeituras investindo, hoje o poder público raramente está ativo nas equipes de alto nível. As escolas seriam a salvação não só do basquete, mas do esporte em geral. Teríamos muito mais material humano e condições de crescer em diversas modalidades”.

Para finalizar, o que você espera para sua carreira daqui pra frente? Quais são os planos que você traça?

“Minha meta sempre foi chegar a uma maturidade de não querer provar nada para ninguém. Hoje tenho isso. Isso te dá uma autonomia e uma confiança que não te fazem tomar decisões por causa disso ou daquilo. Eu faço basquete porque amo, me deu tudo na vida e sou muito agradecido. Gostaria de continuar com dedicação e comprometimento. E hoje em Mogi, como foi em Bauru, em Campos, Rio Claro, e como jogador 99% do tempo em Franca, graças a Deus pude realizar isso. Ser um profissional que está onde quer, trabalhando da forma que quer. Sempre foi assim nos meus mais de 40 anos de basquete. Então muito objetivo para carreira é continuar fazendo basquete dessa maneira, porque estou muito feliz”.

NBB Caixa

Fala aí, Guerrinha!

08-12-2016 | 12:57
Por Liga Nacional de Basquete

Títulos, basquete mogiano, saída do Bauru e projeção de carreira: confira entrevista exclusiva com o técnico Guerrinha, campeão Paulista e da Sul-Americana com o Mogi

Comemoração do técnico Guerrinha

Guerrinha foi campeão dos dois primeiros campeonatos que disputou em 16/17 e deu títulos ao Mogi depois de 20 anos (José Jimenez-Tirado/FIBA Américas)

Guerrinha “chegou chegando” no Mogi das Cruzes/Helbor. Contratado no início da temporada, o experiente treinador deu seu toque de competência à boa equipe mogiana e o resultado não poderia ser outro: dois títulos nas duas primeiras competições que disputou em 2016/2017: o Campeonato Paulista e a Liga Sul-Americana.

Antes de pousar em Mogi, Jorge Guerra acumulou expressivas conquistas com o Gocil/Bauru Basket e incrementou ainda mais seu currículo no esporte da bola laranja. Pela equipe bauruense, foi bicampeão Paulista (2013 e 2014), campeão da Liga Sul-Americana (2014), da Liga das Américas (2015), vice-campeão da Copa Intercontinental contra o Real Madrid (2015) e vice-campeão do NBB CAIXA 2014/2015.

+Saiba mais: Com Mogi campeão, basquete brasileiro emplaca maior sequência da Sul-Americana

Depois de sua saída do Bauru ao final da edição 2014/2015 do NBB CAIXA, o treinador aproveitou para enriquecer seu conhecimento. Em quase um ano, fez viagens à Espanha e à Argentina, além de compartilhar sua bagagem como orientador técnico da LDB (Liga de Desenvolvimento de Basquete) 2015.

Guerrinha, técnico do Mogi

Guerrinha deu ao Mogi seu =primeiro título internacional da história (Gaspar Nóbrega/FIBA Américas)

Nascido em Franca (SP), Guerrinha teve uma brilhante carreira também como jogador. Pela equipe de sua cidade natal, em que atuou em grande parte de sua carreira, conquistou nada menos que o cinco títulos nacionais, cinco títulos sul-americanos e mais cinco estaduais.

Além disso, vestiu a camisa da Seleção Brasileira por 13 anos. Neste período, disputou 235 jogos), com direito a duas Olimpíadas (88 e 92) e mais dois Mundiais (86 e 90). A glória máxima, no entanto, foi em 1987, com o histórico título dos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, quando foi titular do time que conquistou o ouro diante dos Estados Unidos.

Na entrevista exclusiva concedida ao portal da LNB, Guerrinha fala sobre variados assuntos. Dentre eles o sucesso em Mogi das Cruzes logo de cara, sua filosofia de trabalho, basquete mogiano e torcida. Além disso, respondeu sobre o aprendizado de sua saída do Bauru, evolução da modalidade no Brasil e projeção para sua carreira. Confira o bate-papo na íntegra.

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete (LNB), em parceria com a NBA, e conta com o patrocínio master da CAIXA, o patrocínio da SKY e os apoios do Ministério do Esporte e da Avianca.

Você mal chegou e já conquistou dois títulos. Devolveu a alegria ao torcedor, que voltou a comemorar um título depois de 20 anos. Como se sente com esse sucesso todo logo de cara?

“Estou muito orgulhoso. Feliz por ter ajudado o Mogi com minha experiência e jeito de trabalhar. Esse é um trabalho que já tinha aqui, realizado por outros técnicos. Não diria que esse trabalho estava pronto, mas faltava dar aquela caracterizada, definir uma mentalidade, passar segurança e ter uma filosofia vencedora. Acho que meu jeito de trabalhar e pensar, por já ter sido jogador, ser técnico há 18 anos e saber a linguagem do jogador, ajudou muito na química com a equipe e está trazendo uma resistência mental para fechar jogos. Eles sempre foram guerreiros, mas às vezes não sabiam fechar jogos. Com minha tranquilidade, sistema de jogo, sempre dando liberdade aos atletas, é claro que com responsabilidade, passa confiança para o jogador. Tenho passado muitos valores de defesa. Fomos campeões nos dois torneios (Paulista e Sul-Americana) sabendo fechar os jogos e nunca desistindo, mas se olharmos nossa defesa, foram as melhores nesses jogos decisivos: contra Bauru na casa deles, nos jogos no Uruguai e na Argentina. Controlamos os jogos na defesa e aproveitando nossa qualidade individual”

Você repetiu o feito realizado no Bauru, com título do Paulista e da Sul-Americana. Naquela ocasião, conquistou os mesmos títulos e ainda foi vice do NBB CAIXA. Diante dessa grande fase, o que espera para este NBB CAIXA?

“Esperamos continuar sempre competitivos. No NBB CAIXA, assim como no Paulista e na Sul-Americana, existem vários times que podem chegar ao título, mas nossa prioridade foi o início de temporada. Pelo prefeito, pelo torcedor, esse início de trabalho era muito importante. Mas como somos competitivos, queremos brigar no NBB CAIXA também. Fizemos 37 jogos em quatro meses, mas queremos mais. Por isso estamos reorganizando o planejamento, principalmente o físico. Queríamos um plantel maior, mas não estamos conseguindo rodar bem. Vamos dar treinos para os jogadores do revezamento para assim reduzir o tempo de jogo do Caio, Shamell, Tyrone e Larry. Esperamos contar com a volta do Gerson nas próximas semanas e isso certamente nos ajudará muito”.

Guerrinha treino Mogi

Guerrinha implantou sua filosofia de trabalho no Mogi e os resultados vem sendo animadores (Antonio Penedo/Mogi-Helbor)

Mogi sempre teve muito poder de fogo, mas percebemos que o estilo de jogo já mudou em relação aos outros anos. Com mais chutes de 3, Caio Torres arremessando de fora, Tyrone mais confiante. Isso é a mão do Guerrinha no time?

“Cada técnico tem sua filosofia. Eu gosto de passar confiança para os jogadores e treinamos para isso. Pela minha experiência sei que se o Tyrone tivesse mais confiança do chute seria um dos melhores “4” do basquete brasileiro. Sabemos que o Caio Torres tem um jogo interno fortíssimo, mas se ele fizer o pop out e chutar de fora será ainda mais efetivo. Temos que aproveitar isso. No Bauru eu tinha mais opções de chutadores, mas agora estou dando confiança para os daqui. O Gui (Filipin) já tem essa característica, o Shamell também. Diferente do Caio, o Rafael (Hettsheimeir) era um “4,5”, já chega chutando. Já o Caio tem um chute estático, mas pode ser eficiente também. Então estamos aproveitando a característica de cada um. O time não deixou de individualizar o jogo, mas agora sabemos a hora de individualizar. Antes era só o Shamell que chamava o jogo, agora temos mais opções. Isso complica muito a vida do adversário”.

Agora no Mogi você está voltando a trabalhar com Larry Taylor. É um cara que você conhece bem, confia e ganhou títulos junto. Como é sua relação com ele?

“Fora da quadra é como todos. Consigo tratar todos iguais, mas de uma forma diferente (risos). Cada um tem sua personalidade, suas necessidades, um é mais velho, outro mais novo. Todos têm seu valor. Eu e Larry temos uma parceria muito vencedora. Falar do Larry fica fácil. É um cara fantástico dentro e fora da quadra. Não conheço uma pessoa sequer que fale uma coisa ruim do Larry. É um cara dedicado, sabe seu papel e creio que sente mais confiança comigo de técnico. É uma troca. Eu sinto confiança nele e ele em mim. Com minha vinda pra cá ele cresceu muito e está fazendo ainda melhor as coisas que sabe fazer”.

Na vida os tropeços e decepções nos fazem aprender muito. O que você tirou de lição com sua saída do Bauru?

“Tudo na vida serve para agregar valor. Estamos de passagem pela vida para aprender com as dificuldades. As alegrias vêm para reforçar e valorizar o trabalho. Já as dificuldades vêm para nos mostrar que precisamos trabalhar mais, melhorar e evoluir em diversos aspectos. Nas dificuldades a gente procura mais essa melhora. Acredito muito em Deus e que às vezes ele nos coloca em lugares melhores e com pessoas melhores do que estávamos. Por mais feliz que tenha sido minha passagem por Bauru, meu ciclo estava acabado. Não por mim, mas pelas pessoas de lá. O tempo tem dado as respostas. Felizmente tenho o dom e o talento de trabalhar, dar sempre meu melhor onde eu estiver. Tenho mostrado em pouco tempo de trabalho quem estava errado nas decisões de Bauru. Mas independente de tudo, estou muito feliz em Mogi. É uma cidade que ama basquete, tem pessoas excepcionais e jogadores muito profissionais. Vejo aqui um profissionalismo exemplar, uma referência, e não posso falar um “a” dos jogadores. São pessoas que têm me agregado muito profissionalmente e pessoalmente”.

Certamente, o ano da equipe de Bauru é digno de muitos aplausos (João Pires/LNB)

“Meu ciclo já estava acabado”, disse Guerrinha, que ficou no Bauru por 8 anos e comandou a melhor fase da história do basquete de lá (João Pires/LNB)

Quais foram os fatores que fizeram você aceitar a proposta de trabalhar no Mogi?

“A proposta do Mogi era muito desafiadora. Era um tiro para um acerto. O time tinha que ser campeão. Então era uma responsabilidade muito grande. Eu tinha outras propostas de outros projetos que estavam se iniciando, mas tenho estilo competitivo e aqui poderia voltar a ser feliz sendo competitivo, sempre sabendo do grau de dificuldade. O Mogi já tinha um trabalho forte, dentro e fora da quadra, e eu sabia que se eu colocasse meu ‘tempero na comida’ da equipe poderia dar muito certo. Eles tiveram uma aceitação muito grande com a minha pessoa. São quatro, cinco meses de muito sucesso. Tudo foi muito desafiador. Como gosto de desafios, me motivei ainda mais e creio estar fazendo um ótimo trabalho”.

Como você enxerga a paixão do mogiano pelo basquete? É uma praça tradicional no basquete desde os anos 90 e agora esse sentimento está ainda mais aflorado. O que você acha que gerou isso?

“Primeiro que o povo mogiano é muito amável, muito receptivo. Esse perfil deles é muito interessante. E segundo que aqui tem pessoas como o Nilo Guimarães, que esteve presente no início da história do basquete em Mogi e trouxe essa paixão para essa cidade. Não podemos deixar de enaltecer a era Cláudio Mortari, que tinha atletas como Pipoka, Ratto, Nilo, Paulinho Villas-Boas, que trouxeram um título para a cidade. Um título é a cereja do bolo. E o Mogi, até na volta do projeto, sempre tratou muito bem o basquete, dentro e fora da quadra. Tem um ginásio bem localizado, em que qualquer um pode entrar e ver o treino, as famílias são muito envolvidas com tudo e é tudo muito agradável. Todos são muito abertos nessa parte social, então isso divulga o basquete de uma forma muito positiva por aqui”.

Nesta temporada o NBB CAIXA está bastante equilibrado. Nas edições anteriores sempre haviam duas ou três equipes destoando mais. Agora temos vários com condições de chegada. A que se deve essa mudança?

“Ao crescimento da LNB. Ano pós ano a LNB vem conseguindo parcerias, fazendo capacitação na área administrativa, na arbitragem. Com o momento financeiro do país os investimentos de alguns times foram menores, então isso ajudou a equilibrar um pouco mais. Temos ótimos trabalhos no Nordeste, como no Ceará, tivemos a entrada do Campo Mourão, a volta do Vasco. Para o basquete isso é muito legal. Uma pessoa do vôlei comentou comigo que há o vôlei ‘no Brasil’ e o vôlei ‘do Brasil’. E disse que com a gente, por mais que o basquete ‘do Brasil’, que é a Seleção, não tenha alcançado muitos resultados expressivos, o basquete ‘no Brasil’ é feito pelos clubes. Isso é muito positivo. No período que fiquei afastado estive na Espanha, na Argentina, e pude percebe o potencial que o Brasil tem é imenso. Temos uma das maiores ligas do planeta. Diversos jogadores e técnicos querem trabalhar aqui, isso não só em função do histórico que o basquete brasileiro já carrega, mas na forma que a LNB vem tratando o basquete ao longo desses oito anos de existência”

Mogi Guerrinha Larry

“Temos uma das maiores ligas do planeta”, afirmou Guerrinha sobre a LNB e o crescimento do basquete (Gaspar Nóbrega/FIBA Américas)

E o que deve ser feito para seguir fazendo o basquete crescer?

“Precisamos agora ampliar e, mesmo sabendo que não é da alçada da LNB, precisamos de basquete nas escolas. Na minha época tinham diversas escolas e prefeituras investindo, hoje o poder público raramente está ativo nas equipes de alto nível. As escolas seriam a salvação não só do basquete, mas do esporte em geral. Teríamos muito mais material humano e condições de crescer em diversas modalidades”.

Para finalizar, o que você espera para sua carreira daqui pra frente? Quais são os planos que você traça?

“Minha meta é chegar a uma maturidade de não querer provar nada para ninguém. Isso te dá uma autonomia e uma confiança que não te fazem tomar decisões por causa disso ou daquilo. Eu faço basquete porque amo, me deu tudo na vida e sou muito agradecido. Gostaria de continuar com dedicação e comprometimento. E hoje em Mogi, como foi em Bauru, em Campos, Rio Claro, e como jogador 99% do tempo em Franca, graças a Deus pude realizar isso. Ser um profissional que está onde quer, trabalhando da forma que quer. Sempre foi assim nos meus mais de 40 anos de basquete. Então muito objetivo para carreira é continuar fazendo basquete dessa maneira, porque estou muito feliz”.