#JOGAJUNTO

NBB Caixa

Um passode cada vez

09-11-2021 | 05:32
Por Gabriel Rocha

Início difícil no basquete, experiência na europa, NBA e retorno ao Brasil: conheça a história de Vitor Faverani, pivô do Flamengo

Para algumas pessoas, o basquete pode ser apenas um jogo ou uma simples brincadeira entre amigos, porém, existem seres humanos que tiveram suas vidas transformadas pelo esporte da bola laranja. Foi graças ao basquete que Vitor Faverani saltou da pequena cidade de Paulínia (SP) para viver na Espanha, chegou à NBA e hoje em dia defende as cores do maior campeão do NBB, o Flamengo.

Faverani foi um dos reforços do Flamengo para a temporada 21/22 (Helena Petry/CRF)

Nascido em Porto Alegre, o atleta viveu a maior parte de sua infância em Paulínia, cidade do interior do São Paulo, até o basquete mudar sua vida para sempre. Com 12 anos de idade, o jovem Vitor Faverani rumou para Santos (SP) com o intuito de participar de um simples evento de basquete na cidade litorânea. Alto para sua idade e com desenvoltura para o esporte da bola laranja, o pivô do rubro-negro foi convidado por João Marcelo, treinador da equipe de basquete juvenil de Araraquara, para uma semana de testes no time da cidade.

Na época, o esporte não era a principal prioridade em sua vida. Mesmo assim ele não faltava em nenhum treino no ginásio de sua cidade natal e praticava diversas modalidades, tudo com um objetivo em mente: poder comer.

”O prefeito de Paulínia passou muito tempo nos Estados Unidos, então ele quis fazer algo parecido em Paulínia. O esporte era grátis, então na parte da tarde, quando minha mãe estava trabalhando, eu ia para o ginásio de esportes. Passava o tempo fazendo todos os esportes porque depois de cada esporte eu recebia um lanche. Descobri o basquete por meio de dois treinadores: Júlio e o Chinês”.

E foi justamente pela barriga que João Marcelo conseguiu conquistar a atenção da jovem promessa, que queria, de uma maneira inocente, ajudar em casa atráves do esporte.

”Em casa, a gente era em quatro irmãos. Então ou eu comia, ou os outros três comiam, não tinha para todo mundo. Minha mãe me levou para lá e para me convencer, me levaram em um buffet livre e disseram que eu poderia comer o que eu quisesse, então eu fiquei”, contou o pivô.

A ida repentina para a Europa

A partir dessa experiência em Araraquara a trajetória de Vitor Faverani no basquete foi iniciada. Após um ano na cidade do interior paulista, o pivô foi convidado para participar de um training camp na Espanha e, aos 13 anos, foi para a Europa de forma definitiva. Os desafios de um jovem atleta em um país completamente diferente do Brasil são grandes. O maior deles, segudo o pivô, foi a saudade da família, que sempre lhe apoiou, mesmo de longe:

”Minha principal dificuldade na Espanha foi a saudade da minha família. Eu era muito moleque quando fui para lá e a falta que eu sentia deles era muito grande”, revelou o jogador do Flamengo.

Vitor Faverani defendeu um dos clubes mais tradicionais da Espanha, o Barcelona (Getty Images/Divulgação)

Praticamente toda a carreira de Faverani foi construída no basquete espanhol. Com passagens por Barcelona, Valencia, Murcia, Unicaja Malaga e Zaragoza, o atleta passou mais de uma década na Europa e construiu uma bonita história nos clubes espanhóis onde atuou.

”Devo tudo à Europa. Foi o que formou como atleta, fui para lá muito pequeno. É uma experiência totalmente diferente do que eu estou vendo no Brasil, um jogo diferente. Tiveram momentos melhores, momentos piores, melhores treinadores, piores treinadores, melhores vestiários, piores vestiários… isso resume a vida de um atleta”, disse o jogador, que completou:

”No basquete, foi o país que me deu tudo. Me formaram lá, tive treinadores individuais, então eu devo tudo ao basquete espanhol. Vou tentar trazer um pouco do que aprendi lá para ajudar o Flamengo a ganhar”, finalizou Faverani.

Um sonho realizado

O destaque de Vitor Faverani no basquete da Espanha aumentou quando o pivô atuou pelo Valencia Basket. O bom desempenho no clube abriu uma porta que todo jogador de basquete sonha: Faverani foi contratado pelo Boston Celtics no ano de 2013 e passou um ano e meio na NBA.

O começo do atleta nos Estados Unidos foi positivo – o pivô chegou a ser o titular do técnico Brad Stevens e, com o tempo, foi vendo seus minutos serem reduzidos. Após uma lesão grave no joelho, o jogador ficou um bom período sem atuar e uma troca entre Boston Celtics e Dallas Mavericks culminou em sua dispensa da franquia norte-americana. No total, Faverani disputou 37 jogos (8 como titular) e teve médias de 4,4 pontos, 3,5 rebotes e 0,7 tocos em 13,2 minutos na NBA.

”Falando de basquete, eu ia lá, treinava, fazia meu trabalho e jogava. Claro que a experiência valeu muito porque pude ver e conviver com jogadores que são os melhores do mundo. Conseguir pisar naquelas quadras, jogar lá dentro, é o sonho de qualquer jogador, então sinto que realizei parte do meu sonho, que foi conseguir chegar onde todos os jogadores querem”, analisou o pivô.

Faverani em sua passagem pela NBA com a camisa do Boston Celtics (Getty Images/Divulgação)

Logo após a experiência nos Estados Unidos, Faverani desbravou terras israelenses e atuou por um ano no Maccabi Tel Aviv, clube tradicional de basquete de Israel. O pivô ainda retornou para a Espanha, mas sofreu com graves lesões e não teve continuidade nessa volta ao basquete europeu.

A chegada ao Flamengo após o período de lesões

Devido à gravidade das lesões que sofreu, pairava sobre Faverani a dúvida se conseguiria voltar a jogar em alto nível. A solução para esse problema foi retornar ao Brasil para, finalmente, ter a possibilidade de passar mais tempo com a família, e também fazer o tratamento da grave lesão na Gávea.

Durante esses meses de recuperação no clube carioca, Faverani fez uma promessa para Diego Jeleilate, diretor de basquete do Flamengo: se o pivô se curasse totalmente e conseguisse voltar a jogar, seria no Flamengo. E para Faverani promessa feita é promessa cumprida.

”Grande parte do motivo de eu ter ficado no Flamengo foi primeiro pela promessa, e segundo pela estrutura. O cuidar do clube, com o psicólogo, fisioterapeuta, médico, a relação que tenho com o Vinicius (preparador físico).. então foi o conjunto. É gratificante, depois de tudo o que passei, conseguir voltar a acreditar nisso por ver o que o Flamengo tem aqui dentro. Até arrepia”, falou o pivô.

Faverani é peça importante do elenco rubro-negro – participou de todos os jogos do Flamengo no NBB (Helena Petry/CRF)

Completamente recuperado, Vitor Faverani chegou à Gávea na metade de 2021 e vem causando uma boa impressão. Titular em três das cinco vitórias de um Flamengo invicto no NBB, o pivô já deu boas amostras de que será importante no elenco de Gustavo de Conti – na estreia dos cariocas, Faverani anotou 12 pontos, cinco rebotes e 13 de eficiência no grande triunfo contra o São Paulo.

”Depois do ano passado, o desempenho que eles tiveram, todos os títulos e a quantidade de jogos que ganharam seguidos, o mínimo é que minha meta seja essa: não fazer nada menos do que a temporada passada. Em todos os campeonatos que entramos para jogar, é para ganhar, porque é o que a Nação merece”, afirmou.

Mas antes dos títulos, Faverani prefere valorizar as pequenas conquistas que faz dia após dia, afinal, o pivô chegou a não ter a certeza de que conseguiria voltar a jogar em alto rendimento por conta do difícil período que passou lesionado.

”Poderia falar mais dos títulos, mas com tudo que passei, só de vir aqui hoje e poder treinar é uma conquista diária. Sabe, ter a alegria de poder levantar e vir e fazer o que gosto. Estou defendendo uma camisa que pesa muito e sonho com títulos. Vi a galera ganhar tudo ano passado. Então tenho mais de uma alegria para ter”, falou Vitor.

”Sempre gostei de morrer pela camiseta que eu defendo e com a do Mengão será a mesma coisa. Sou um jogador que adoro passar a bola – uma vez um treinador me falou que uma assistência fazem duas pessoas felizes e a partir disso passei a enxergar dessa forma. O egoísmo não é uma característica minha”, finalizou Faverani.

Dominante nos rebotes e forte no ataque a cesta, Faverani começou a temporada com moral (Helena Petry/CRF)

Um dos objetivos que o pivô traçou conquistar com a camisa do Flamengo já foi concretizado: a equipe carioca foi campeã do Campeonato Carioca 2021 e adicionou mais um troféu para a modalidade no clube carioca. Sem conhecer o sabor da derrota do NBB 2021/2022, as expectativas de evolução do pivô junto ao elenco do Flamengo são altas. Quem sabe, até, beliscando uma vaga na seleção.

Chefiado pelo técnico Gustavo de Conti, que recentemente foi anunciado como novo técnico do Brasil, o pivô prega cautela nas chances de defender a camisa do Brasil, mas não descarta as possibilidades.

”Eu nunca pensei tanto em Seleção Brasileira porque saí de casa muito cedo, perdi muito tempo com a minha mãe, meus irmãos… então queria ficar com eles sempre que possível. Agora, estou mais perto. Quem sabe? Mas prefiro pensar no dia a dia, no treino de hoje, no jogo de amanhã. Para chegar na seleção é preciso estar no mais alto nível e estou trabalhando para entregar tudo que posso para o Flamengo no momento”, frisou Faverani.

O NBB é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete (LNB), com chancela da Confederação Brasileira de Basketball (CBB) e em parceria com a NBA e o Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), e conta com os patrocínios oficiais da Budweiser, SKY, Penalty, EY, Betmotion e apoio da IMG Arena, Genius Sports e Accor.