HOJE
Cilada como Harden
Por Liga Nacional de Basquete
Em live no Instagram do NBB, Georginho fala sobre temporada histórica, período no Houston Rockets e combate ao racismo
A live #BasqueteEmCasa dessa sexta-feira (12/06) teve como convidado ninguém menos que um dos principais candidatos a MVP do NBB 2020/2021. Com cinco triplos-duplos e médias de 15,5 pontos, 8,7 rebotes e 7,5 assistências por jogo, a temporada de Georginho ficou marcada na história do NBB e foi o principal assunto do bate-papo com Rodrigo Lazarini.
“A primeira conversa foi: você tem que chegar, conquistar a torcida e o seu espaço como armador titular do time. Isso aconteceu muito mais rápido do que eu imaginava. Eu tive consistência nos meus jogos e a torcida foi abraçando. Tiveram vários momentos emocionantes na temporada. Um deles foi o jogo contra o Corinthians, que a torcida estendeu o bandeirão. Eu até tenho uma foto no meu Instagram em que eu falo que não estava chorando mas estava muito emocionado. Eu nunca tinha sido reconhecido daquele jeito. Foi sensacional”, afirmou.
Georginho começou a temporada de forma avassaladora. Ele fez quatro triplos-duplos nos seis primeiros jogos do São Paulo e foi eleito o King of The Month de outubro e novembro. As atuações de gala lhe renderam o apelido de Mr. Triplo-Duplo e comparações com Russell Westbrook.
“A sequência foi interrompida por alguns jogos que faltavam um rebote ou uma assistência. Mas eu sabia que eu estava com uma consistência nos números. Eu continuei jogando bem por bastante tempo e isso que era importante. Eu até brincava. Quando me perguntavam ‘vai ter triplo-duplo hoje?’, eu respondia ‘o outro time já sabe que eu faço isso, eu tenho que fazer alguma coisa diferente’. Isso me fez crescer em outros aspectos que acredito que ajudaram bastante o time”, disse.
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Além das estatísticas impressionantes, outro ponto que chamou atenção na temporada de Georginho foram os highlights. Ele tinha presença constante nos vídeos mensais de Top 10 Enterradas, Assistências, Tocos e Jogadas do NBB. Entre tantos lances marcantes, o game-winner no Pedrocão é considerado o mais especial.
“A bola que mais me marcou nessa temporada com certeza foi contra Franca. O time acreditou totalmente em mim e eu chamei a responsabilidade para decidir o jogo. Eu costumo falar que eu gosto de tomar decisões nesses momentos desde pequeno. Fiz uma bola bem decisiva pra ganhar um campeonato quando eu tinha doze anos, então eu sempre tive esse instinto de querer decidir nos últimos instantes. Na base eu tinha total liberdade. Já no adulto, você tem que provar que também pode decidir no alto nível e no São Paulo eu tive as primeiras oportunidades para fazer isso”, ressaltou.
⏰ CLUTCH!!!!
Como diria @everaldomarques: GEORGINHO VOCÊ É RIDÍCULO!!!!!
😱😱😱😱 pic.twitter.com/ZezkuhaGHT— NBB (@NBB) December 11, 2019
Cilada com o Harden
Depois de ser vice-campeão do NBB com o Paulistano, em 2017, Georginho assinou um contrato de training camp com o Houston Rockets. Ele jogou a Summer League, participou dos treinos com o time principal e integrou o elenco nos jogos de pré-temporada. Na live no Instagram do NBB, o armador do São Paulo disse que treinar com James Harden e Chris Paul foi a realização de um sonho e relembrou uma história engraçada com o Barba.
“Na NBA tem esse negócio de ficar fazendo brincadeira com os novatos, né? O time ia se preparar para o próximo jogo e todo mundo foi para sala de vídeo, um mini-teatro. As cadeiras já estavam mais ou menos marcadas, mas eu não sabia. Os caras se ligaram e falaram ‘senta naquela ali’, e apontaram para uma cadeira específica. Eu sentei e as pessoas foram sentando também, cada um no seu lugar. O último a entrar foi o James Harden. Na hora ele já levantou a cabeça, a barba foi lá para cima e ficou bem claro que aquele era o lugar dele. Ele colocou a mão na cintura, eu cocei a cabeça e os caras falaram ‘sai do lugar do cara’. Eu dei um pulo pra trás, fiquei ofegante e suando de nervoso porque eu não sabia se ele estava com raiva de mim”, lembrou, rindo.
Jogador do Rockets na época, Nenê Hilário teve um importante papel de mentor para Georginho naquele período. O pivô brasileiro o ajudou com o basquete, idioma, dia a dia e mostrou que a vida de novato na NBA também tem suas vantagens.
“Antes de viajar para Nova York, o Nenê falou que eu teria que carregar a mala do vídeo-game dele e eu falei ‘tá bom’. O que eu não sabia era que eu ganharia dinheiro fazendo isso. Nossa senhora! Lembro que eu fui para o quarto e fiquei sorrindo a noite inteira, impressionado com o tanto de dólar que ele me deu”, disse Georginho, que passou o resto daquela temporada no Rio Grande Valley Vipers, da G-League.
#VidasNegrasImportam
Ao final da live, o bate-papo saiu do basquete para tomar um rumo ainda mais importante: o movimento “Vidas Negras Importam” e a luta contra o racismo.
“Vejo nos posts de ‘Vidas Negras Importam’ algumas pessoas comentando ‘todas as vidas importam’. A gente sabe disso, isso não é dúvida para ninguém. Mas o problema é que nós, negros, estamos sendo mortos por racismo. Essas pessoas que comentam isso não passaram pelo que eu passei na minha infância e passo até hoje, com a diferença que agora eu sei lidar. Quando eu era pequeno, ninguém me falava em casa que eu ia chegar na escola e seria tratado de forma diferente”, afirmou.
Para Georginho, a conscientização na infância, dentro de casa e na escola, é fundamental para combater o preconceito racial.
“Uma criança de quatro, cinco anos não diferencia os amigos dela pela cor da pele. Mas com o passar do tempo, tendo exemplo de pessoas próximas a ela tratando negros de forma desigual, faz com que ela desenvolva um pensamento racista. A nossa maior luta é mudar o pensamento de pessoas que tem uma opinião formada há muito tempo. O que pode fazer diferença para as gerações futuras é a gente ensinar essas questões desde criança, passar a ideia de igualdade e respeito desde cedo”, completou.