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Gustavo De Conti:Uma históriade sucesso

14-05-2020 | 12:17
Por Rodrigo Bussula

Do sonho de jogar em alto nível no profissional a carreira de sucesso como treinador: conheça um pouco da história de Gustavo De Conti e sua obsessão pela excelência

Gustavo De Conti já pode ser considerado um dos maiores treinadores que já participaram do NBB ao longo dos 12 anos de história da competição. Obstinado pelo sucesso, o treinador do Flamengo já construiu um currículo de respeito, com direito a dois títulos do NBB, uma Copa Super 8, além de conquistas pessoais, como os três prêmios de treinador do ano do NBB (Troféu Ary Vidal de Melhor Treinador) – tudo isso com dez temporadas na conta.

Recentemente, o comandante vinha em sua melhor fase e defendia na temporada 2019/2020 (cancelada pela crise da Covid-19) o bi-campeonato do NBB – o primeiro veio na temporada 2017/2018, com o Paulistano/Corpore; já o segundo rolou na temporada 2018/2019, com o Flamengo.

Nesta quarta-feira (13/05), Gustavo De Conti participou da live da campanha #BasqueteEmCasa no Instagram oficial do NBB (@nbb), sob o comando da nossa repórter Giovanna Terezzino. Durante o bate papo, De Conti falou abertamente sobre sua vida, o sonho de se tornar um jogador de alto nível, o início da carreira como treinador e os objetivos a curto, médio e longo prazo. Confere aí!

De comandado a comandante

Antes de comandar à beira da quadra, De Conti esteve dentro dela como jogador (Divulgação/FIBA)

Muitos não sabem, ou talvez não tenham idade suficiente para ter visto isso acontecer, mas Gustavo De Conti foi destaque por onde passou nas categorias de base. Nascido em 1980, De Conti pegou uma geração de ouro do basquete brasileiro que lançou nomes como Bábby, Alex Garcia, Giovannoni e tantos outros em 80, e nomes como Fúlvio e Nezinho da geração seguinte, de 81.

Mesmo assim, De Conti, que teve passagens pelo clube Ypiranga, Corinthians, Monte Líbano e Paulistano, se destacou nas categorias de base e chegou a conquistar prêmios de melhor de jogador em 1992, 1994 e 1996.

“Ganhei esses prêmios na base. Joguei pelo Corinthians nesses anos. Comecei com 12 anos no Corinthians, onde fiquei quatro anos, depois um no Monte Líbano, um no Ypiranga e, depois, terminei no Paulistano. Joguei só um pouco de adulto, dois ou três anos. Um ano na primeira divisão e depois dois na segunda divisão”, afirmou.

Gustavo De Conti quando jogava pelo CAP (Divulgação/CAP)

Com a ideia de ser treinador já pairando sobre sua cabeça, De Conti fez uma auto-análise e viu um fator determinante para deixar o sonho de atuar como jogador profissional e começar a se dedicar a carreira de treinador.

“Já estava com a ideia de ser treinador na cabeça e jogava mais para ajudar a pagar a faculdade e ter uma renda extra. Vi que não conseguiria atuar em alto nível e quando vi que não conseguiria comecei a trilhar o caminho como treinador para continuar no basquete”, disse o treinador do Flamengo.

História com o Paulista e construção do DNA do clube

A figura de Gustavo De Conti e o Paulistano estarão eternamente ligadas. Lá, o treinador começou ainda na base como jogador, em 1998, e saiu em 2018, com duas finais e um título do NBB na conta – em 2017/2018, o primeiro da história do clube.

Peça importante na construção da trajetória vencedora do CAP, e com 21 temporadas de serviços prestados no clube da capital paulista, Gustavinho foi um dos que iniciou com o DNA hoje devidamente assumido pelo equipe: de revelar jogadores e, literalmente, como diz o slogan,  antecipar o futuro.

“Foi uma filosofia, uma ideia do clube que começou há muitos anos, desde que o Neto assumiu o comando do time. Na época, apresentamos para a diretoria um projeto de time modesto, mas apostando na base”, disse o treinador, que completou.

“Quando começamos, por exemplo, tínhamos o Huertas e Jefferson William subindo para o adulto. Só para citar dois, por exemplo. Em certo ponto investiram um pouco mais, mas não deu certo. Neste momento o clube voltou para o DNA de revelar jogadores. O Paulistano descobriu, através da diretoria, como encontrar uma identidade e por isso é um clube que tem sucesso no cenário nacional”, frisou.

Gustavo De Conti ficou oito temporadas do NBB à frente do Paulstano (Luiz Pires/LNB)

À frente da equipe na conquista do NBB 2017/2018, De Conti contou com uma equipe com a cara e DNA do CAP, jovem e livre. Alguns nomes como Yago Mateus e Lucas Dias, hoje jogadores nível Seleção Brasileira, foram alguns dos jovens que despontaram na época. Para De Conti, isso não é por acaso e vai de encontro com a filosofia da equipe, não só de revelar, mas também de aproveitar jovens, mesmo que oriundos de outras equipes – caso de Yago, que veio do Palmeiras, e de Lucas Dias, que veio do rival Pinheiros.

“O Paulistano dava oportunidade para jogadores que, às vezes, não tinham oportunidade nos times adultos em que jogavam. Até trazendo meninos do Pinheiros. Por exemplo, o Pinheiros tinha uma outra mentalidade na época, com um investimento forte, e acabamos trazendo o Georginho e o Lucas Dias, que no CAP tiveram mais projeção. A função é essa”, afirmou.

Novos desafios no Flamengo

Assim como no Paulistano, De Conti venceu um NBB com o Flamengo (João Pires/LNB)

Após a conquista do NBB na temporada 2017/2018, Gustavo De Conti encerrou um ciclo no Paulistano, que durou de 1998 a 2018, e acertou a sua transferência para o Flamengo. Para o treinador, o que motivou a mudança de ares foi o sentimento de buscar maiores desafios após 21 temporadas na equipe paulista.

“Quando alcancei o título em 2017/2018, juro que passou pela minha cabeça o que eu falaria para o pessoal na próxima temporada. O sentimento de dever cumprido me fez pensar o que eu poderia fazer mais ali. Ficou meio que uma sensação de dever cumprido. Isso pensando profissionalmente, porque pensando só com o coração eu ficaria lá eternamente, porque eu amo o clube, adoro as pessoas, mas pensando profissionalmente eu sentia que devia ir atrás de outro desafio”, disse.

Gustavo De Conti assumiu o Flamengo após o título da temporada 2017/2018 do NBB com o Paulistano (João Pires/LNB)

Com uma das melhores estruturas do basquete brasileiro, Gustavinho encontrou no Flamengo um clube estruturado, onde pôde, assim como no Paulistano, trabalhar com uma ótima infraestrutura, tendo liberdade e tranquilidade para a montar o elenco e um projeto da melhor maneira possível. Para De Conti, esse fator, assim como a confiança depositada sobre seu trabalho, foi essencial para a ida para o clube da Gávea.

“Sempre tive muito respeito e apoio de todo mundo aqui. Estou onde gostaria de estar e o Flamengo é muito mais do que eu esperava. Eu não ia sair de um clube com muita estrutura como o Paulistano para outro que não tivesse isso. Então, estou num clube que me dá uma ótima estrutura, autonomia e a oportunidade de melhorar meu trabalho e o do meu time”, afirmou.

A relação deu mais do que certo. Tanto que logo em sua primeira temporada foram três títulos: Campeonato Carioca, Copa Super 8 e NBB, esse vencido no Jogo 5 contra o Franca em pleno Pedrocão.

Amizade e rivalidade: a relação com José Neto

As histórias de Gustavo De Conti e José Neto se encontram em diversos pontos. Trilhando os mesmos caminhos do amigo, De Conti passou pelo Paulistano, onde fez história, e agora busca fazer o mesmo no Flamengo, onde José Neto conquistou o tetra-campeonato do NBB.

Amigos de longa data, o primeiro contato entre os dois aconteceu ainda em 1998, quando De Conti acabará de chegar na base do Paulistano e José Neto ocupava o cargo de preparador físico do clube.

“Começou em 1998, quando cheguei no Paulistano. Ele era preparador físico e eu jogava no juvenil. Nos conhecemos, mas tudo ficou mais forte quando comecei a ser treinador de categorias de base. Teve uma situação em que o Paulistano estava para acabar com o projeto do time adulto de basquete e nós fomos a uma clínica no Sesc juntos. Na época, o campeonato era da CBB e a Liga nem existia ainda, os oito treinadores dos times que iam aos playoffs faziam uma clínica”, afirmou o comandante, que completou:

“Fomos assistir. O Neto, muito visionário e com uma ótima habilidade de gestão e de elaborar projetos, falou para mim para montarmos um projeto para apresentarmos para o Paulistano. Me lembro até hoje quando apresentamos esse projeto para a diretoria. Pedimos R$ 20,000 por mês para arcar com tudo, todas as contratações. Na época, o Paulistano conseguiu até mais, foi R$ 30,000. Montamos um time com mais jogadores de categoria de base, como Jefferson, Huertas. Até nos classificamos para o Campeonato Brasileiro. A amizade vem desde essa época”, afirmou.

Técnicos de Paulistano e Flamengo em 2013, Gustavo De Conti e José Neto começaram uma amizade nos tempos de Paulistano dos dois (Gaspar Nóbrega/Inovafoto)

Rivais na final do NBB 2013/2014, De Conti relembrou até de uma história curiosa que envolve o amigo durante a live,  que segundo ele nunca havia sido revelada.

“Nunca falei isso publicamente, mas o que mais me arrependo é de uma matéria que a Globo para o Jornal Nacional na final do NBB 6. A matéria mostrava o momento que Flamengo estava saindo do treino e o CAP chegando. Depois, eu vou lá, abraço o Neto e damos entrevista junto. Nunca mais eu faço isso na minha vida! A impressão que deu foi errada, de que estávamos satisfeitos. Entre a gente rola muitarivalidade e às vezes é um pouco difícil. Quando ele ganha ele já sabe que se ligar eu não vou atender e é assim também quando a situação é ao contrário (risos). No geral eu perdi mais vezes e nessas horas ficávamos um tempo sem se falar, mas daqui a pouco já voltávamos (risos)”, disse.

Experiência na NBA

Com uma carreira sólida no Brasil, De Conti recentemente foi convidado pelo Brooklyn Nets, da NBA, para participar de um período na equipe como assistente técnico durante a Summer League da atual temporada da NBA. Na época o treinador da franquia nova-iorquina era Kenny Atkinson, que chegou a treinar a Seleção da República Dominicana.

Neste período, De Conti teve contato com o treinador e com dois de seus assistentes quando trabalhou como assistente técnico da Seleção Brasleira. Consequentemente, a oportunidade surgiu e o treinador do Flamengo não deixou escapar a oportunidade.

“Posso dizer que foi a realização de um sonho. Já tinha participado de algumas coisas, mas não dentro da equipe como assistente. Eu ia, olhava treino, jogo, preleção e nada além disso. Dessa vez eu participei mesmo, dando treinos, participando de reuniões, falando com os jogadores. Apesar de ser uma Summer League e não uma temporada regular de NBA, para mim foi até melhor porque todos treinadores estavam juntos e nos reuníamos no mínimo duas vezes ao dia. Foi ótimo e aprendi bastante ali”, frisou.

O que esperar do futuro?

Após a experiência na melhor liga de basquete do planeta, dúvidas surgiram sobre a permanência de De Conti no Brasil no futuro e o seu sonho de construir uma carreira internacional. Para ele, a curto prazo, o pensamento está direcionado para buscar mais conquistas com as cores do Flamengo, deixando a carreira internacional em segundo plano, a médio e a longo prazo.

“Agora, sinceramente, não penso nisso. Ainda tenho muita coisa para fazer no Brasil, especialmente no Flamengo. Quero ainda ganhar muitos títulos no Flamengo. Quero tentar ganhar, né, muitos títulos importantes com essa camisa. Estávamos muito próximos nessa temporada, principalmente na Champions League, onde já tínhamos cumprido uma grande etapa”, afirmou o treinador, que completou:

“Sinceramente, vou para a Europa, EUA todos os anos para aprender, fazer contatos, mas nesse momento não penso em sair do Brasil. Penso mais em médio e a longo prazo. Hoje mesmo, caso eu tivesse uma oportunidade, acho que não iria. Gostaria de continuar no Brasil, especialmente no Flamengo, porque acho que tenho muita coisa para fazer”, finalizou.