HOJE
NÃO VOU PARAR DE BUSCAR MEU SONHO!
Por Caio Hirai
Conheça a história de Felipe Cardoso, um dos destaques da equipe do Bauru Basket na LDB 2022
“Meu contato com o basquete foi acontecendo aos poucos. Comecei no futebol de campo, joguei futsal, depois handebol. Em um campeonato da escola – jogando handebol – tinha um treinador do Praia assistindo o torneio e me chamou pra jogar basquete lá. No começo eu não levei muito a sério, eu tinha 13 ou 14 anos, e com 15 comecei a me dedicar mais, aí não parei. Eu já era muito alto, com 15 anos, tinha uns 2,10m. A primeira vez que joguei foi no Praia mesmo, só tinha jogado futebol, hand. Eu viajava, não sabia como eram as posições, falava que eu era pivô/armador!”
Felipe Cardoso tem 22 anos, 2,12m e é um dos destaques da Liga de Desenvolvimento de Basquete 2022, atuando como pivô do Bauru Basket. Apesar da pouca idade, o jovem nascido em Uberlândia já passou por muita coisa e tem bastante história para contar. A trajetória do mineiro começou na cidade mineira e com as primeiras cestas no Praia Clube, aos 13 anos de idade.
“Eu tenho dois irmãos, um tem só 7 anos, é bem novinho, mas o outro tá jogando no Praia já! Ele tem 17 anos e já com 2,05m, espero que ele consiga seguir meus passos, vir pra São Paulo, conseguir mais experiência. Minha família sempre me apoiou demais, eu era o único que praticava esporte e meu irmão começou agora! Quando tava fora de casa, eles ficavam preocupados e eu sempre falava que tava tudo bem, às vezes até evitava um pouco de falar com eles, porque ficava com muita saudade, sabe? Estava muito focado e só falava rápido com eles, mandava um beijo e um abraço, aí já voltava a treinar! Mas sempre tive o apoio deles, do meu pai, da minha mãe, minha avó”
O basquete se apresentou como uma possibilidade real na vida do jovem pivô quando se deparou com uma oportunidade única, aos 16 anos – apenas três anos depois de começar na modalidade. A boa adaptação ao esporte, junto de grandes atuações no Praia Clube, levou o garoto ao basquete europeu.
“Eu tava treinando a um tempo e um técnico falou pra mim que eu tinha potencial e poderia chegar longe. Na época eu jogava Campeonato Mineiro, Copa Municipal e fui me destacando, o que chamou a atenção de muitos agentes que chegavam falando que iam me levar pra jogar nos Estados Unidos, na Espanha, etc… Acabei fechando com um agente, que está comigo até hoje e ele me ajudou bastante. No começo, eu não tinha muita condição financeira, ele me deu um tênis, assim como o pessoal do Praia que me ajudou bastante também com alimentação, passagem e uma ajuda de custo que eu dava pra minha mãe. Meu agente falou que ia me levar para os Estados Unidos, mas não consegui na época por não estar estudando. Ele não desistiu e falou: ‘Vamos tentar te levar pra Espanha!’, eu fiz testes em alguns times – cheguei até a fazer no Barcelona, mas não deu certo – e acabei ficando em um clube em uma cidade próxima de Barcelona. Os caras foram em casa, conversaram com a minha família e todo mundo ficou muito feliz, falaram pra eu seguir meu sonho. E eu estou buscando isso! Eu morava em Badalona, uma cidade bem próxima de Barcelona. No começo fiquei um pouco perdido porque os caras falam catalão e espanhol, sabe? No começo, eu não sabia o que eles estavam falando direito, mas com o tempo fui aprendendo e hoje até sei um pouco de catalão. Joguei o sub-18 e uma temporada no adulto, mas depois disso voltei. Não tava muito bem psicologicamente, talvez pela saudade da minha família, aí acabei voltando pro Brasil.”
A adaptação em um novo país sempre é muito complicada, ainda mais para um jovem de menos de 20 anos que chega em um novo lugar, com novas pessoas e um idioma completamente diferente. Felipe sentiu a distância, a cultura do país e a saudade de sua família e amigos, algo que é muito natural entre atletas – não só no basquete. Entretanto, a ideia de seguir seu sonho continuou viva e o mineiro não deixou de aproveitar a oportunidade no exterior para melhorar o seu jogo. De volta ao Brasil, Felipe conseguiu uma chance na cidade do basquete.
“Lá (na Espanha) eu aprendi muito tecnicamente, quando eu saí daqui ainda estava muito cru, não sabia jogar direito ainda. Lá aprendi a fazer movimentos mais difíceis, melhorei meu chute, meu gancho. Mais tarde, em Franca e Mogi, evolui a parte tática do meu jogo, já tinha mais experiência também. No começo, eu jogava campeonatos de nível técnico mais baixo, nessa época eu só era o alto, sabe? Pegava a bola e fazia a cesta, não tinha muita noção.”
“Em nenhum momento eu pensei em parar, mas voltei porque queria ficar mais próximo da minha família, lá era tudo muito diferente, a cultura, as pessoas e não me entendia muito bem com o meu técnico. Quando fui pra Franca foi difícil pra mim porque as coisas começaram a acontecer muito rápido, eu entrei direto no adulto e passei a disputar um jogo diferente, com a bola na minha mão e mais chances de fazer cestas. Junto disso, tinha bastante gente boa no time, então foi um pouco complicada a minha adaptação. Cheguei até a me machucar jogando a LDB, lesionei os dois tendões de aquiles, o que me deixou um tempo parado. Depois disso, pra voltar foi bem difícil, estava fora de forma e confesso que nesse momento, eu desanimei!”
A versatilidade do jogo em Franca ajudou Felipe a aprimorar ainda mais seu estilo de jogo e contribuiu na transformação do “jogador alto que só ia pra cesta” para um atleta mais inteligente, com mais recursos e efetividade dentro de quadra. É claro que o fato de estar em Franca ia na contramão da sua ideia de voltar a estar junto de sua família, entretanto, a lesão nos tendões colocou os caminhos do garoto de volta à cidade de Uberlândia, mas por pouco tempo.
“No começo, treinei no Franca só por treinar mesmo, meu agente falou que era melhor para não ficar parado e era uma cidade próxima. Os caras acabaram gostando de mim e perguntando se eu não queria ficar. Então, no fim das contas, não mudou muita coisa porque na Espanha eu não conseguia ver minha família e lá também não, mas com o tempo fui me acostumando com a ideia. Fiquei em Franca por nove meses, depois voltei pra Uberlândia e logo já tive oportunidade de ir pra Mogi. Voltei pra São Paulo 15 quilos acima do peso, mas cheguei bastante motivado, treinando bem e aí chegou a pandemia. Estranho, mas foi nesse momento que eu mais perdi peso, me dediquei demais treinando em casa e melhorei minha mente também. Voltando da pandemia, tinha perdido os 15 quilos e cheguei voando no paulista adulto!”
Mais uma vez longe de casa, Felipe chegou ao Mogi desempenhando o seu melhor basquete em boa forma física. Além disso, a cabeça do pivô estava no lugar e, nesse momento, ele exalta a importância de ter pessoas boas ao seu redor que contribuíram para a sua saúde mental.
“Voltei da pandemia muito magro, consegui focar na dieta, nos treinos em casa, tinha treino online com o preparador do Mogi. Era isso, treinava em casa, corria na rua e dieta. Eu não tinha nutricionista, pesquisava tudo no YouTube e no Instagram, foi meio loucura essa dieta! Estava me sentindo mal em me ver fora de forma e acabava deixando de comer, mas deu tudo certo, passei a quarentena toda sozinho em Mogi, aí fazia tudo em casa! Ao longo dessas viagens e lugares por onde passei, fiz muitas amizades. O Lelê, que estava no Mogi, foi uma das mais importantes, ele me ajudou bastante depois que acabou a pandemia a gente conversava bastante, ele me dava conselhos, falava o que eu tinha que melhorar, a gente morava junto e era sempre um ajudando o outro! Ele foi bem importante pra mim no tempo que eu estava mal, moramos muito tempo juntos, ele é como um irmão pra mim! Hoje em Bauru acredito que estou bem mais maduro, em relação ao fato de morar sozinho e tal, as coisas dependem tudo de mim, sabe? Acho que nesse momento comecei a focar mais também, porque com o tempo a gente vai aprendendo a ser adulto, sabe? Antes, a gente – eu e Lelê – tinha mais uma visão de moleque, mas fomos aprendendo juntos!”
Depois de uma bela passagem pelo Mogi, o basquete do pivô chamou a atenção do Bauru Basket que investiu na contratação de Felipe e o jogador já chegou mostrando a que veio. Na LDB, vem colecionando duplo-duplo em uma classificação incrível do time do interior paulista que agora se prepara para a fase final da competição de base. Na primeira etapa do torneio, Felipão enfrentou o União Corinthians e saiu de quadra com 25 rebotes na conta, a quarta maior marca da história da LDB. Contra o Coritiba Monsters, o pivô deu 7 tocos, também a quarta maior marca da história do torneio.
“Eu cheguei aqui duas semanas antes do início da LDB, treinei, conheci os moleques e já fomos pro pau! Na primeira fase senti o time um pouco ansioso, muitos nunca tinham jogado a Liga de Desenvolvimento ainda e, apesar de termos pego times muito fortes, conseguimos sair com algumas vitórias. Na segunda fase já tínhamos sentido mais o campeonato, estávamos mais treinados e fomos pra cima, jogando de forma mais coletiva. Pra mim, a chave de tudo até aqui foi a defesa, temos uma das melhores defesas da LDB e agora estamos indo pra cima, não importa contra quem seja! Agora o desafio é ainda maior, mas estamos prontos para enfrentar qualquer time. Os moleques são sub-18 e estão surpreendendo muito, não é à toa que estavam invictos no paulista sub-18. Me dou bem demais com todos, mas sou mais próximo do Kaique, que mora comigo. O Bauru tem uma das melhores estruturas que eu já tive! Aqui fazem tudo certinho e gostam bastante de mim, fazemos trabalhos específicos sempre, o Alex também sempre ajuda a gente. Esse cara é resenha demais, sempre explicando o que temos que melhorar em quadra, ajuda demais e eu sempre aprendo com ele!”
Felipe Cardoso é apenas um dos milhares de jovens ao redor do Brasil com o sonho de jogar basquete e, apesar da pouca idade, já está desfilando seu talento nas quadras há alguns anos. Apesar de ter muitas ambições no esporte, o garoto não se esquece de onde veio, onde está e aonde pretende chegar.
“Eu quero poder jogar uma Euroliga ainda! Jogar na europa é meu maior sonho, mas primeiro eu quero fazer meu nome no NBB, poder ser um dos melhores jogadores da competição, até porque pra ir pra fora, preciso representar aqui também. Penso que ainda não conquistei nada no basquete, venho treinando e me esforçando pra um dia voltar pra minha cidade e ajudar meus pais, dar uma vida melhor pra eles, poder dar uma casa pra minha mãe. Sempre falo pra eles que não vou parar de buscar meu sonho e ajudar eles”