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LDB

Encurtando Distâncias

29-08-2024 | 03:35
Por Gabriel Rocha

Do salto à distância para saltar nas enterradas do basquete brasileiro: a história do pivô Agapy Samoel, um dos principais nomes do Pinheiros na LDB 2024

A grande maioria dos jogadores de basquete que se tornam profissionais vivem o esporte da bola laranja desde a infância. A base é feita de forma completa, com todas as etapas concluídas em um processo comum, do sub 8 ao 18. Esse é o caminho ”normal”. Porém, as exceções sempre existem. E as exceções podem resultar em algo extremamente valioso!

Agapy Samoel de Melo Santos nunca havia experimentado a experiência de praticar basquete até os 14 anos de idade, seu esporte favorito e praticado era o atletismo, com foco no salto em altura e salto à distância. Foi a partir de uma mudança de cidade, de Brasília (DF), sua cidade natal, à Barra dos Garças (MT), com uma pequena quadra de basquete 3×3 e um jogo ”sem compromisso”, apenas na brincadeira, que uma mudança genuína na vida do candango se iniciou.

”Meu pai jogou basquete, mas não tive muito contato na infância, então nunca tinha me interessado. Não assistia e não entendia nada. Depois que me mudei, em 2018, vi os caras jogando e tive vontade. Tinha uma quadra de 3×3 na cidade, comecei a brincar, e em 2019, participei de alguns pequenos campeonatos que existiam lá. No mesmo ano, a escola Copema me assistiu em um desses campeonatos e me ofereceu uma bolsa de estudos para jogar. Joguei torneios escolares e regionais. No fim do ano, fui para São Paulo junto com meus treinadores, Hélio e Ivan, para fazer testes nas equipes do estado”, contou o atleta.

Apesar da expectativa de conseguir uma vaga em pelo menos uma das equipes do estado de São Paulo, os resultados dos testes não foram positivos e Agapy seguiu jogando no projeto escolar da Copema no ano seguinte (2020). Com a chegada da pandemia, tudo parou, Agapy começou a trabalhar e cogitou desistir da vida basqueteira. Mas Hélio, seu treinador, insistiu para que o menino seguisse focado em virar jogador.

”Quando eu voltei do teste em Franca, em 2020, comecei a trabalhar e estudar apenas. Só estava fazendo academia e alguns treinos. Mas o Hélio veio no meu pé, disse que eu iria conseguir e voltei a treinar. Ele é uma das principais razões para que tudo tenha dado certo. Só agradeço ao Hélio Barbosa e ao Ivan. Duas pessoas cruciais para conseguir chegar onde estou hoje, sou muito grato a eles e à escola Copema, foi com o projeto deles que consegui desenvolver”, agradeceu.

Foram diversas tentativas para ingressar em alguma equipe do estado de São Paulo. O que Agapy não sabia era que a oportunidade viria no local em que ele nasceu. O Brasília, time da cidade natal do atleta, foi a primeira equipe que ele vestiu a camisa, na LDB 2021, após uma ligação inesperada do treinador da equipe na época.

Agapy na LDB 2021, sua primeira participação no maior campeonato de base do Brasil. Foto: Bruno Lorenzo/LNB

Pelo fato de nunca ter disputado nenhum campeonato oficial de basquete, a primeira experiência na Liga de Desenvolvimento de Basquete foi como um ”choque de realidade”. Dos campeonatos escolares nas quadras de 3×3 para a maior competição de base do Brasil é um caminho atípico e de grande dificuldade de adaptação, contudo o jovem jogador perseverou e não abriu mão do ”novo sonho” que a vida havia lhe mostrado. ”A parte mais difícil foi quando cheguei no Brasília. Nunca tinha jogado um campeonato forte como a LDB. As jogadas eram diferentes, a energia era diferente, o jeito de correr era diferente. Tudo era diferente. Na LDB foi o que eu vi o que era o basquete de verdade”, ressaltou Agapy.

O desempenho de Agapy em sua primeira experiência na LDB foi modesto, com médias de 3.9 pontos, 7.0 rebotes e 8.2 de eficiência. Entretanto, o jogador, que havia recém completado 18 anos na época, demonstrou potencial e seguiu no time profissional do time da capital do Brasil, sem uma oportunidade de quadra no NBB CAIXA. ”No CBI-19, consegui me destacar. Não em pontos, porque não era de fazer pontos, mas sim de pegar rebotes, correr a quadra, dar tocos. Querendo ou não, eu ainda não havia tido muito contato com basquete”, relembrou.

Realmente, Agapy se destacou no campeonato. O Pinheiros, um dos maiores formadores de atletas do Brasil, se interessou pelo atleta e logo na metade da temporada 2021/2022 do NBB CAIXA, contratou o pivô para fazer parte da base. No clube dos Jardins, a carreira de Agapy deslanchou, com relevância na equipe campeã da LDB 2022: foram 7.7 pontos, 6.7 rebotes e 10.6 de eficiência em 17.3 minutos de quadra por jogo. As boas atuações lhe renderam, novamente, a chance de participar do elenco profissional do Pinheiros. E com a camisa azul a história foi diferente.

Anteriormente, apesar de participar dos treinos com o elenco, Agapy não havia estreado profissionalmente no NBB CAIXA. No Pinheiros, logo após o título do maior campeonato de base do Brasil, o pivô não só estreou, como participou de 15 jogos da temporada 2022/2023 no profissional. ”Comecei a integrar no adulto. A caminhada do adulto oscila para os jovens, se você vai bem em uma partida, continua, se vai mal, fica alguns jogos sem entrar”, comentou.

O tempo passou e Agapy se destacou em mais uma edição da LDB (2023). Mantendo a consistência e o impacto dentro de quadra, o garoto aumentou as médias para 8.9 pontos, 8.3 rebotes e 15.6 de eficiência. Apesar de não alcançar o bicampeonato da competição, a crescente continuou não só no maior campeonato de base do Brasil, mas também na elite do basquete nacional. Agapy participou de 37 dos 38 jogos do Pinheiros no NBB CAIXA 2023/24 e se tornou presença constante no elenco profissional da equipe azul, somando médias de 4.9 pontos, 4.7 rebotes e 7.2 de eficiência em 13.4 minutos de quadra.

Do atletismo e começo tardio no basquete para um dos nomes com destaque de uma das principais equipes da LDB 2024. Após figurar em praticamente em todas as partidas do profissional do Pinheiros na última temporada, Agapy é uma das peças essenciais do time treinado por Guilherme Giovannoni na atual edição do maior campeonato de base do Brasil. Classificado para as semifinais e com 10.1 pontos, 7.9 rebotes, 15.5 de eficiência por jogo em 23.3 minutos de quadra, o pivô está vivendo a melhor temporada da carreira em questão de números e, se o gráfico seguir o padrão, a tendência é que o impacto no profissional também aumente na temporada 2024/25 do NBB CAIXA.

”É bom ter essa responsabilidade de ser um dos mais velhos para entrar mais focado, ter a responsabilidade de apoiar quando um jogador mais novo apoiar. Isso influencia porque no profissional te dá mais confiança. Errar na LDB já te mostra o caminho para não errar no adulto. O time está conectado e feliz”, analisou.

A capacidade atlética de Agapy chama a atenção. Com 2,05 metros de altura, o pivô se destaca pela forte presença no garrafão, grande capacidade de agarrar rebotes, defender infiltrações adversárias e também finalizar com dominância no ataque. Mesmo com essa altura, a rapidez com que se movimenta dentro de quadra nas transições também é um dos pontos positivos de seu jogo, que é inspirado em Bruno Caboclo.

”Quero pegar Seleção Brasileira e gosto do Bruno Caboclo, ele é referência, jogador monstro. Das jogadas que faço, o que eu mais gosto é de enterrar. Desde que cheguei no Pinheiros, senti uma evolução gigantesca, eles são bons demais em ensinar a técnica do jogo”, revelou.

 

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O que teria acontecido caso Agapy não tivesse se mudado? Se a pequena quadra de 3×3 onde tudo começou não existisse? Se Hélio Barbosa não tivesse insistido na motivação para fazer o jovem virar jogador? O atletismo pode ter perdido um saltador, mas agora Agapy não é mais do atletismo, não é mais apenas um garoto de 2 metros de altura inexperiente no esporte da bola laranja. Agapy é realidade nas quadras. É bola ao cesto. É enterrada. É toco. É rebote. É um dos principais jogadores do Pinheiros no maior campeonato de base do Brasil. E é uma das promessas do garrafão do basquete brasileiro. Saltando distâncias de jogos escolares para chegar ao adulto profissional.

A LDB é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete (LNB), com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal e Loterias Caixas, bola oficial Penalty, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), EMS, UMP e Genius Sports.