HOJE
JDE Artístico
Por Juvenal Dias
O Jogo das Estrelas 2024 foi palco para os atletas, cantores, mas também para impulsionar projetos e sonhos; confira a segunda reportagem da série 'ESG no JDE'
Passado o Jogo das Estrelas 2024, o site oficial da Liga Nacional de Basquete (LNB) está realizando uma série de três matérias para mostrar como o evento abordou e dialogou com as práticas ESG na busca de um ambiente mais sustentável e acolhedor para todo o ecossistema da modalidade. Na segunda reportagem da série ‘ESG no JDE’, falaremos de como o evento ajuda a trazer visibilidade para pessoas que, às vezes, nem tem uma ligação direta com o basquete, porém que carrega o mesmo sonho de vencer na vida e batalha diariamente para tornar o seu redor um lugar agradável.
O Jogo das Estrelas de 2024 foi uma grande festa para os atletas do NBB CAIXA, para o público presente no ginásio e para quem acompanhou o maior evento de entretenimento esportivo do país através das transmissões ao vivo pela TV e plataformas digitais. Mas também serviu para impulsionar projetos de vida com os holofotes que o evento traz. Sejam dançarinas vindas de Paraisópolis, sejam pequenos empresários produtores de roupas personalizadas ou sejam artesãos que buscam o ganha-pão vendendo suas produções artísticas na Paulista. E o que isso tem a ver com práticas ESG?
Práticas ESG – Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança) – são uma grande tendência no mundo corporativo e representam um conjunto de padrões e boas práticas que posicionam empresas como socialmente conscientes, sustentáveis e corretamente gerenciadas. Seguindo a estratégia ESG da Liga Nacional de Basquete e reforçando a consciência social que a entidade visa transmitir em todos os seus eventos, abrir o espaço do Jogo das Estrelas para artistas populares em ações pontuais traz a representatividade de tantos profissionais autônomos que “equilibram pratos” no dia a dia para se sustentar.
Nesta segunda matéria conheça um pouco sobre a Companhia de Dança Quadrela, que veio da comunidade de Paraisópolis, a Resisto OPM, a roupa que vestiu o grupo em sua apresentação na quadra principal, e a Lê Baiser Arte, que produziu ecobags personalizadas para presentear os atletas do Jogo das Estrelas. Sonhos que já são uma realidade, mas que engrandecem e são engrandecidos pelo evento.
Quadrela – o caminho de Paraisópolis para o Ibirapuera
Imagine um projeto que começou em 2004, portanto completa 20 de existência, em uma comunidade em situação de vulnerabilidade e que a primeira ideia era de ser uma companhia de dança com o mesmo reconhecimento de grandes conjuntos que são referência no cenário da dança, mas, aos poucos, mudou para acolher artista que não estavam tendo oportunidades e que possuíam muito potencial. Assim é a origem do Projeto Quadrela, que é tocado por Roberto dos Santos, diretor e coreógrafo, um projeto que atende 16 jovens a partir de 12 anos na comunidade de Paraisópolis e que propõe trazer dança contemporânea.
Inicialmente, o projeto não tinha ligação com o basquete diretamente. Mas, ao serem convidados a participar, Roberto revelou uma mistura de sentimentos entre felicidade e profissionalismo:
“Recebemos o convite com muita empolgação e alegria acompanhado de muita seriedade de entregar uma dança que conversasse com o evento. Nossos bailarinos são da Comunidade de Paraisópolis e, para eles, foi um marco que sempre estará em suas lembranças. Para mim, sonho realizado de contribuir com esses bailarinos para oportunidades maiores depois dessa apresentação”, comentou o coreógrafo.
Ele comentou também o que foi pensado para a apresentação no Jogo das Estrelas:
“Mudamos a questão da linguagem corporal para entrarmos na mesma atmosfera que o evento proporcionava. Um fator que ajudou muito foi meu histórico com a linguagem do Jazz dance. Fizemos, então, uma fusão dos estilos acompanhado de material cênico como os guarda-chuvas e as carteiras para alimentar a criatividade. Decidimos as músicas que consideramos alegres, para cima e o resultado foi esse que todos viram”, completou Roberto, explicando que tiveram dois meses de ensaio para sua a apresentação do último final de semana.
Depois de terem se apresentado com maestria e arrancarem aplausos do público, veio a sensação do sonho, do esforço e da dedicação ter valido em cada segundo:
“Minha sensação é indefinida no sentido de estar no caminho, mas tem que continuar acreditando nessa missão. O evento foi a experiência mais incrível para a Quadrela Cia de Dança. As meninas querem repetir essa experiência o mais breve possível pelo tamanho do bem que fez a todas elas. Se sentiram capaz, se sentiram importantes, se sentiram iguais. Isso me emociona a todo momento. Quem venham mais pessoas para desfrutarem dessa experiência ímpar”, finalizou o emocionado diretor.
Resisto OPM – vestindo a camisa
Os irmãos Julio e Leandro Ramos fundaram a Resisto Original pano metropolitano (OPM) em 2010, no desejo intenso de explorar símbolos que construam o perfil do autêntico ser afro metropolitano. Trazem em conceito, toda a representação cultural do brasileiro que vive o a realidade do cotidiano das ruas e percebe nisso uma forma de construção estética, identidade e resistência cultural. Em uma das apresentações da Quadrela durante o Jogo das Estrelas, as dançarinas entraram com as camisas da marca para dar o recado.
“Quando recebemos o convite foi interessante, pois é uma oportunidade que tivemos de integrar de alguma forma nossa marca e nossas ideias a um evento desse porte, organizado por uma grande Liga. Foi se dúvidas incrível”, comentou Julio, um dos irmãos fundadores.
Resisto OPM fala do Brasil e de ancestralidade, resgata ícones da cultura urbana, música, arte e política que se misturam nas ideias desenvolvidas para as artes em cada estampa, em cada malha e em cada costura. E a cultura do basquete vai ao encontro dessa filosofia da Resisto OPM, principalmente no NBB Caixa e no Jogo das Estrelas, evento que teve toda sua identidade visual pautada pela ideia do urbano de uma grande metrópole alinhado com a cultura negra que é resultado de um acúmulo de experiências e lutas de seus ancestrais.
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Roberto, do Quadrela, explicou o que representou para a Companhia de Dança o que foi entrar na quadra para se apresentarem com essas camisas:
“Na primeira apresentação, seguimos uma sugestão que abraçamos desde o primeiro momento. Usamos as camisetas da Resisto OPM que trouxeram imagens estampadas de personalidades muito relevantes na ideia de uma sociedade mais igual, de mais respeito pelo próximo, de educação igual para qualquer faixa social. Essas personalidades eram Paulo Freire, Martin Luther King, entre outros. Isso trouxe uma força maior a nós da Quadrela, pois nos sentimos nesse lugar de contribuir através da nossa Arte de da dança para que todos estejam nesse alinhamento social”.
Le Baiser Arte – um presente sustentável e único para os astros
Os jogadores do NBB CAIXA são astros e como tal, muitas vezes, vão a compromissos comerciais e neles, recebem alguns mimos e presentes. No Jogo das Estrelas não foi diferente. No kit que receberam de boas-vindas ao evento tinha bastante agrado para quem representa tão bem o basquete brasileiro. Um desses presentes é muito especial, produzido a mão com muito carinho e dedicação. São as ecobags personalizadas que a Le Baiser Arte confeccionada em sarja coletadas de forma sustentável, são diversos retalhos de empresas têxtil que seriam descartar por serem cortes de tecidos considerados fora do padrão para uso de comércio por não serem cortes pequenos fora das métricas usadas. Ou seja, é um presente duplamente bom em termos ecológicos, já que diminui o descarte do material em aterros e os jogadores não precisam de tantas sacolas plásticas na hora de levar uma troca de roupa, um tênis ou até uma bola de basquete.
Ao todo, foram 58 ecobags confeccionadas uma a uma em cinco dias de trabalho árduo. Mas se você pensa que houve uma grande linha de produção para todos os processos das bolsas, saiba que a Le Baiser Arte é formada por um casal de artesãos apenas: Lisandra Abranches e Leonardo Buarque. A Le Baiser Arte nasceu na adolescência de Lisandra, com o sonho de ir a Paris, uma meta de uma jovem que admira a França e sua cultura. Inicialmente, ela oferecia serviços de pinturas personalizadas em camisetas. Depois, passaram a criar ecobags com pinturas exclusivas, cada uma feita apenas uma vez. A nova Le Baiser Arte adotou uma estética mais urbana, com referências a grafites, hip-hop e à periferia, refletindo sua identidade como artistas independentes periféricos. Além disso, incorporaram diversos estilos e referências artísticas. Em três anos e alguns meses de atividade nesse novo formato, já criaram e venderam mais de 1500 obras únicas e exclusivas feitas à mão.
+ Leia aqui como o Jogo das Estrelas também tratou da cultura Hip Hop
“A interligação das artes da Le Baiser Arte com o basquete tem a ver com a ligação do Leonardo, que foi atleta de basquete e jogou na federação, pelo Ipiranga e pelo Mackenzie, durante sua adolescência, totalizando dez anos de prática. Leonardo tem uma forte ligação com o basquete e a cultura de rua”, revelou Lisandra, que vende suas bolsas na Avenida Paulista, levando arte e produto sustentável em contato direto com os consumidores.
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Ao saber que suas bolsas presenteariam os atletas que estavam no Jogo das Estrelas, Lisandra (com o perdão da redundância) ficou lisonjeada:
“A sensação é indescritível, pois essa jornada de artistas independentes periféricos, de trabalhar na rua, nos traz muitas provações, muita luta e resistência para almejar nossos objetivos. Além de artistas independentes periféricos, somos pais, o que já é uma luta dobrada. Saber que, através das nossas artes e da nossa história, que se mistura com nossa arte, os melhores atletas da liga nacional do esporte, que é parte da essência e da história dos artistas da Le Baiser, tenham nossa arte em mãos é indescritível. É uma sensação de estar no caminho certo e de felicidade por alcançar um voo tão especial. É uma forma mais próxima de estar perto de um dos sonhos do Leonardo, que era poder jogar profissionalmente. De forma diferente e em outros caminhos, ele esteve presente com esses atletas e está com as artes que estão com eles”.
Lisandra também explicou o conceito do qual a artista teve de inspiração para fazer a pintura:
“A inspiração foi trazer a estética do jogo em um ângulo e momento que mostre empenho não só do ataque que está a fazer a bandeja enquanto o marcado tenta dar o toco. O posicionamento deixa um pouco de questionamento se será cesta, falta e cesta ou será interceptada. Ao fundo trouxemos o aspecto que remete a arquibancada e a torcida ao fundo com alguns efeitos como remetesse aos Flash das câmeras, por fim o logo do Jogo das Estrelas”.
Em suas redes sociais (@lebaiserarte) os artistas mostram o processo criativo das bolsas e quadros pintados com os capitães do Jogo das Estrelas de 2024, além de muitas outras referências ao basquete.
Artistas e o ESG da Liga
Tanto Roberto, quanto Lisandra elogiaram a consciência social que a Liga tem e a busca constante de práticas ESG:
“Nossa! Essa iniciativa é maravilhosa!!!! Outras instituições deveriam acompanhar esse exemplo da Liga e fortalecer esse propósito. Dentro das nossas comunidades estão as maiores potências do Esporte e Arte. Acho até que eventos como esse deveria acontecer com espaço de tempo mais curto para que todos acessem. Sempre estou muito sensibilizado com ações como essa. Parabéns a Liga e muita Gratidão por permitir que nossos bailarinos em potencial da comunidade puderam ser vistos em rede nacional”, exclamou o diretor da Quadrela.
“Acredito que a Liga está agindo de uma forma fantástica e, até, pioneira dentro do nosso esporte nacional, trazendo iniciativas social e ambiental. São essas iniciativas que traz públicos mais afastados e exclusos para próximo do esporte e de atitudes conscientes. É muito importante e necessário saber a Liga promove iniciativas como essa, que além de trazer conscientização e inclusão, fazem a ponte entre o esporte e a consciência ambiental e social. Isso realmente salva vidas, famílias e gerações, pois o esporte, juntamente com estudo, acesso à cultura e oportunidades mais igualitárias e inclusivas, aponta para o futuro, diferente do nosso presente tão desigual”, explicou a fundadora do Le Baiser Arte.
Comissão técnica e operacional do JDE, como mulheres e pessoas negras estiveram comandando e coordenando ações no evento será o tema da terceira e última reportagem da série sobre as práticas ESG da Liga no Jogo das Estrelas.
O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal e Loterias Caixas, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Sportsbet.io, Penalty, EMS e UMP e apoio IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.