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Entre Reis e Cestas

21-08-2024 | 10:37
Por Natália Bergonso

Em ação no basquete americano e com experiência de enfrentar atletas da NBA, Kauê Kalinowski é o segundo maior pontuador da LDB 2024, mas desfalca o Thalia na Série Prata

O começo do curitibano Kauê Kalinowski no esporte da bola laranja se deu por meio de uma experiência um tanto quanto inusitada. A maioria das pessoas passa pela fase de matar aula no ensino fundamental. Mas faltar no futebol e no xadrez para assistir aos treinos de basquete da escola? Esse foi o início da trajetória do camisa 11 do Sociedade Thalia.

“Na escola, meus amigos praticavam basquete e me chamavam para jogar, mas eu estava ocupado com futebol ou xadrez. Até que um dia, depois de tanto insistirem, comecei a matar aula para assistir aos jogos de basquete. Só de ver, eu já sentia uma emoção. Passei a ir lá sempre que podia. Na época, tinha uns 11 ou 12 anos. Depois de umas duas semanas, o técnico percebeu e me chamou para treinar. No início, fiquei receoso, porque não sabia nada sobre o esporte, mas acabei aceitando.”

Kauê Kalinowski (dir.) se destacou pelo Sociedade Thalia na LDB. Foto: Yasmin Freitas/LNB

Anos depois, Kauê continuou a jogar basquete, mas em terras estrangeiras. Os Estados Unidos foram o país escolhido para dar continuidade ao seu sonho de viver do esporte. Após participar de um camp, recebeu uma bolsa de estudos para fazer o ensino médio. Quatro anos depois, foi contemplado novamente com uma bolsa, dessa vez para uma universidade americana.

Durante suas recentes férias no Brasil, Kauê acabou se destacando em um campeonato amador de basquetebol disputado na capital paranaense e foi convidado pelo técnico Fabio Pellanda para participar dos treinos do Thalia. “Fiz um treino, e ele me chamou no canto e me fez o convite de participar da LDB. Aceitei, mas precisava falar com meus pais para ver se conseguiriam mudar a passagem, e deu certo. Participei da primeira etapa em Pato Branco e logo fiquei sabendo da segunda etapa, que também não estava nos meus planos. Fui muito bem e, de novo, falei: ‘Pai, mãe, tem como prolongar um pouco mais?’. Na época, isso não era possível, porque eu tinha aulas de verão na universidade. Então, conversei com meus técnicos e expliquei que tinha uma oportunidade de jogar aqui no Brasil. Eles disseram que, se eu estivesse com um time e jogando, não haveria problema.”

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E realmente o esforço resultou em destaque na LDB. Ao fim da etapa inicial, Kauê é o segundo cestinha da edição, com média de 19,8 pontos por jogo. Além de fazer 37 pontos em uma única partida, contra o Flamengo, sendo a quarta marca da atual competição. Mas justamente por causa dos estudos, o jogador não vai poder finalizar a sua participação na LDB como desejado, deixando um gostinho de “quero mais”. A Série Prata começa neste sábado (22/08), em Caxias do Sul. “Toda vez que jogo, quero dar o meu melhor e ganhar tudo, obviamente. Ver essa fase final da fase prata e não fechá-la, não tentar vencê-la, deixa um gostinho amargo.”

Atletas da NBA

Em qualquer esporte, enfrentar adversários de alto nível pode ser uma experiência formativa, especialmente no basquete, que é um jogo tanto físico quanto estratégico. E os Estados Unidos, trouxeram uma experiência inusitada para Kauê: jogar com não só um, mas dois jogadores que foram draftados para a NBA. “Quando estava no segundo ano de high school (ensino médio americano), perguntei: ‘Com quem vamos jogar hoje?’. E a resposta foi: ‘Amen Thompson e Ausar Thompson’. Nosso time não era tão grande, mas achei que poderíamos dar conta. No início do jogo, um dos Thompsons estava no jump ball e o outro na posição de armador. Obviamente, o time deles ganhou o jump ball; na primeira jogada, um estava na posição 5 e o outro trazendo a bola. Eles se olharam e fizeram uma ponte aérea. Na primeira jogada! A gente acabou perdendo por uns 20 pontos, e cada um deles fez cerca de 25 pontos.”

Kauê Kalinowski em ação no basquete dos Estados Unidos. Foto: Arquivo Pessoal

Por mais que tenha diferença física, Kauê soube contornar a situação. Marcou um deles e ainda assim, fez uns 20 pontos. “Dá para ver a diferença porque eles não têm apenas habilidade de basquete, que pode ser igualada ou superada com treino, mas o que os diferencia é o porte físico. São longos, grandes e rápidos, e têm essa habilidade a mais. Mesmo assim, eu bati de frente. Se fosse só um dos Thompsons, o jogo poderia ter sido mais equilibrado, e teríamos feito outra estratégia. Mas senti que, mesmo assim, batemos de frente com eles, que eram os favoritos.”

Sobre estilo de jogo, o curitibano gosta de fazer um pouco de tudo. “No ataque, gosto de ser versátil: arremessar, driblar e infiltrar. Dois jogadores que me inspiro em termos de estilo de jogo são o Tyler Herro e o Mike James.”

Os planos para o futuro são cheios de possibilidades. Um jogador de basquete sabe que o sucesso não se limita ao talento natural, mas envolve planejamento e dedicação contínua. “No momento, estou terminando meu último ano de universidade. No cenário ideal, eu me transferiria para uma divisão 1 (NCAA), terminaria meus estudos e, obviamente, encerraria a temporada em um alto nível no torneio nacional. Dependendo de como eu me destacar, ou algo do tipo, vou tentar, quem sabe, a NBA, Europa, ou até voltar para o Brasil. Mas, por enquanto, vou permanecer aqui, terminar meus estudos, e ver o que acontece.”

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A trajetória de Kauê reflete sua incansável busca por crescimento e evolução. Seja nos Estados Unidos, ou no Brasil, o atleta chama atenção. E na maior competição de base do País, não foi diferente. “A LDB foi uma experiência muito boa para mim. Voltar para o Brasil depois de 5 ou 6 anos fora, bater de frente com times como Flamengo, Botafogo, Vasco. Foi uma experiência muito legal e que eu precisava. Sempre pensei ‘estou nos Estados Unidos, me esforçando, evoluindo’, mas ainda tinha aquela dúvida. Foi muito bom perceber o nível do Brasil, e eu provavelmente vou fazer o mesmo ano que vem.”

“Só tenho a agradecer, obviamente, aos meus pais por fazerem isso acontecer, porque, se não fosse por eles trocando a passagem, eu não teria jogado a LDB. Agradeço também aos meus avós por sempre me incentivarem e me ajudarem, minha tia, e ao meu tio Fernando, que sempre me apoia. Agradeço também aos meus técnicos de formação: João Lazier, Cléverson, Alexandre, Coxinha, Lorenzo Vercesi e um agradecimento especial ao meu técnico do Thalia, o Perna (Fabio Pellanda),  porque se não fosse por ele me chamar para treinar, eu não estaria aqui. Também quero desejar boa sorte aos meus parceiros de time e agradecer por essa oportunidade de jogar com eles.”

A LDB é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete (LNB), com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal e Loterias Caixas, bola oficial Penalty, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC), EMS, UMP e Genius Sports.