HOJE
Lenda viva
Por Liga Nacional de Basquete
Há exatos 49 anos, Brasil conquistava o Bicampeonato Mundial de basquete. Para lembrar a data, confira entrevista exclusiva com Wlamir Marques, o ‘Diabo Loiro’
Neste dia 23 de maio, o Brasil comemora 49 anos da conquista do Bicampeonato Mundial masculino de basquete. Em 1963, no Rio de Janeiro, a Seleção Brasil superava os Estados Unidos e chegava a glória máxima da modalidade pela segunda vez na história.
Pelo caminho, ficaram as poderosas União Soviética e Iugoslávia, e os Estados Unidos, além de França, Porto Rico e França. Nenhum adversário foi capaz de bater o esquadrão brasileiro, que conquistou o título de forma invicta.
E para relembrar o feito de quase meio século, a Liga Nacional de Basquete (LNB) falou com exclusividade com o capitão daquela equipe Wlamir Marques, o “Diabo Loiro”.
LNB – Relembrando o dia da conquista histórica, como foi a sensação de erguer o troféu de Campeão Mundial no Brasil?
Wlamir: Ali foi a conquista do nosso bicampeonato. Uma coisa muito importante para ser dita é que entramos como um dos favoritos. Vínhamos do Mundial de 59 e éramos uma seleção que disputava com os EUA e União Soviética os grandes títulos. Essa conquista precedeu de muita coisa. Desde janeiro, teve o Sul-Americano, em Lima, depois a Seleção não se desfez pois tínhamos o Pan de 63, em São Paulo, onde perdemos para os EUA. E, em seguida, começaria o Mundial, no Rio. Nossa equipe estava preparada.
O Maracanãzinho estava totalmente lotado naquele dia. Depois do jogo teve invasão de quadra e ficamos quase pelados (risos)… O pessoal queria tudo de material que a gente tinha. Quando fui receber a taça, eu só estava de agasalho. Foi espetacular, foi o grande momento do basquete brasileiro.
LNB – Na campanha do Bi Mundial, qual foi o momento mais marcante? E o jogo mais difícil?
Wlamir: O jogo mais difícil foi o último, contra os EUA. Vínhamos engasgados com a derrota no Pan em São Paulo. Éramos as mesmas equipes. E aquele foi o jogo que decidiu. Se os EUA vencessem, não seriam eles os campeões porque eles tinham perdido para a União Soviética e Iugoslávia, mas se nos ganhássemos, seríamos campeões, estávamos invictos.
LNB – Você fez parte de uma época de ouro do basquete brasileiro. Como você enxerga o atual momento da modalidade no país?
Wlamir: Depois daquela situação acontecida nas décadas de 50 e 60 até 1970, quando fomos vice-campeões do mundo, o Brasil não teve mais nenhuma grande conquista, assim, em nível mundial. Até aquele momento, tínhamos três forças no basquete, que eram Estados Unidos, União Soviética e Brasil. Na metade da década de 60 entrou a Iugoslávia como quarta força. A partir de 70, até os dias de hoje o basquete foi evoluindo muito. A Europa progrediu muito. Hoje, embora os EUA sejam sempre favoritos, você não tem certeza de quem serão os medalhistas. Tem sete, oito equipes no mesmo nível. Acho que dificilmente o Brasil, embora não seja impossível, repetirá aquelas conquistas.
LNB – Falando de Olimpíadas, você é dono de duas medalhas de bronze, conquistadas em Roma 1960 e Tóquio 1964. Acredita que em 2012 o Brasil pode voltar a figurar no pódio olímpico?
Wlamir: Teoricamente, nossa seleção, agora, está mais forte do que era antes. Mas não quer dizer que está mais forte em relação ao mundo. Tem um aglomerado de seleções muito fortes e hoje estamos com melhores condições de enfrentá-los. Se a equipe estiver completa, temos condições de jogar de igual para igual. Ganhar ou perder é no detalhe.
LNB – Nos tempos de jogador, você ganhou o apelido de “Diabo Loiro”, pelo seu estilo de jogo muito rápido, que atormentava os adversários. Hoje, qual jogador mais se assemelha com as suas características e qual você mais admira?
Wlamir: É difícil fazer esse tipo de comparação, porque você não pode comparar épocas. Para ter ideia, eu era um lateral, relativamente alto com 1,85m. Hoje, com essa altura eu seria baixo, seria um armador. E era um jogo diferente, de contra-ataque, ganhávamos de nossos adversários na velocidade. Não vejo ninguém hoje que possa ser comparado com o que eu fazia, ou Amaury, Rosa Branca… Era uma época diferente. Naquele tempo, não tinha muito essa de ‘sou jogador da posição 1, 2 ou 5’, onde caíamos nós jogávamos.
Falando mundialmente, o melhor que vi foi o Michael Jordan, e dificilmente vai aparecer outro. Apesar de que hoje apareceu o Kevin Durant, que vai ser espetacular. Aqui no Brasil, o maior que vi jogar foi o Amaury.
LNB – Durante a carreira, você atuou por grandes clubes, como Corinthians, e como treinador comandou o Palmeiras. Como você vê o retorno de equipes de camisa ao basquete, como o Palmeiras que recentemente conquistou o direito de pleitear vaga no NBB?
Wlamir: Nessa época de ouro do basquete brasileiro tínhamos algumas equipes de futebol que tinham basquete. Ainda não existia o profissionalismo e os gastos não eram acentuados. Mas hoje, esses clubes de futebol dependem muito da vontade política do presidente do clube. Eu vejo com bons olhos essa volta do Palmeiras, mas tem que formar uma equipe de ponta. Um clube como o Palmeiras, para ter sucesso, tem que ter uma equipe de ponta, assim como o Corinthians, se voltar. Esses clubes tem que entrar para ganhar e, assim, conquistar a atenção do torcedor.
LNB – Já há algum tempo, você trabalha como comentarista de basquete na televisão e hoje trabalha na ESPN. Como é estar do outro lado? Comentar as partidas é tão prazeroso como era estar em quadra?
Wlamir: Desde 1971 que eu faço esse trabalho, esporadicamente. Já comentei jogos na Cultura, Bandeirantes… Fiz as Olimpíadas de 1984, em Los Angeles, Seul, em 1988, 1992, em Barcelona, 1996, em Atlanta. São quase 40 anos que faço esse tipo de trabalho e gosto de fazer. É preciso ter uma boa didática, porque quando você comenta, muitas vezes é para alguém que não conhece. Então é como uma aula. E eu faço com muito prazer, muita felicidade. É uma das formas de eu contribuir para que as pessoas entendam um pouco mais.
LNB – Para finalizar, tem um palpite de qual equipe leva o NBB este ano?
Wlamir: Eu acho que não dá para fazer uma previsão. Está muito equilibrado. Mas o time mais organizado que vejo é o São José, que é uma equipe mais coletiva e acaba levando um pouco mais de vantagem. Não digo que está mais forte, mas é o que joga o melhor basquete, na minha visão.