Faça cestas e se mantenha vivo!

Se manter vivo. Esse é o mantra para muitos jovens que entram na LDB com o sonho em jogo e oportunidades escassas, e talvez, esse seja um dos pontos que mais traz um senso de proximidade à Liga de Desenvolvimento. Tal sede é normalmente acompanhada de um perfil caótico e de uma constante necessidade de se provar, que formam uma equação perigosa com fortes indícios de auto-sabotagem. Os meninos entendem que a competição é a vitrine máxima, e quando não controlam a fome, deixam escancaradas as dúvidas que os colocaram nesse mesmo ciclo perigoso. Porém, quando essa gana é canalizada do jeito certo, se torna evidente a evolução de alguns personagens e a consolidação destes se torna consequência da maturidade adquirida.

Com o fim da etapa de Santa Cruz do Sul, é momento de posicionar o holofote e apresentar uma dupla com passado compartilhado que aproveitou como poucos o palco da LDB até agora.

Conhecido nos tempos da base como um dos mais explosivos atletas de sua geração, o ala-armador Gabriel Camargo, chegou ao União Corinthians com um protagonismo nunca antes confiado em sua carreira. Camargo é um jogador elétrico e dinâmico, daqueles que possuem todas as características de um grande sexto homem que muda o jogo com sua entrada, mas na LDB22, o seu papel é de líder ofensivo de um time muito inexperiente e jovem – essencialmente um protagonista. Curiosamente, o aumento no volume de jogo não afetou negativamente Camargo, que, com quase 34 pontos tentados de média, fechou a primeira etapa da LDB com 18 pontos por jogo (53.6% dos pontos tentados). Contextualizando, o ala-armador é o único de sua posição na história da LDB, ao lado de Danilo Sena (2019), a ter tal aproveitamento com dezoito pontos ou mais de média.

Camargo, do União Corinthians 

O jovem de 21 anos, também se tornou mais ativo nos rebotes (5.4), um passador mais criativo (3.6 assistências por jogo) e manteve índices de aproveitamento ótimos: 41% de acerto nas bola de 3; 62% de conversão nas tentativas de 2 pontos e apenas 3.2 erros de média. Mesmo com poucas idas à linha dos lances livres (4.4 – a menor entre os 10 maiores pontuadores da LDB), Camargo vive uma crescente e joga um basquete que comprova suas responsabilidades como o grande destaque no time de Santa Cruz do Sul.

Já Gabriel Soldi jogou ao lado de Camargo em um timaço do Palmeiras de 2019, e por fazer parte da geração 2000, sofreu com poucas chances no período de isolamento social por conta do COVID. Paranaense, o ala é um dos grandes destaques do bom time do Coritiba Monsters e terminou a etapa da LDB de Santa Cruz como o único jogador a ter mais de 16 pontos de média em menos de 30 minutos jogados por partida.

Soldi representa a classe mais faminta da LDB, já que, essa é a última edição para atletas nascidos em 2000 e sem uma “filial” no NBB, o ala precisa de cada minuto jogado para conquistar seu espaço. Gabriel Soldi já chegou a “trabalhar registrado” fora do basquete e começou no esporte com tardios 15 anos de idade, fatalmente, ele nunca esteve tão perto de consolidar o seu sonho, motivo que me deixa confiante em outras grandes performances do ala na segunda etapa da LDB.

Além disso, seu time segue com chances reais de fazer história em 2022. O Coritiba Monsters venceu 2 das suas 5 partidas no Rio Grande do Sul, e não saiu com cinco triunfos por muito pouco. Se na derrota contra o Vasco/Tijuca (76×68), foram os 13 pontos de Matheusinho no último período que sacramentaram a vitória carioca frente os rivais paranaenses, no jogo contra os donos da casa, os 9 pontos de Gabriel Soldi no quarto decisivo não foram suficientes para a virada. No último jogo da primeira etapa, mesmo com mais 11 pontos de Soldi nos últimos dez minutos de jogo, a bola da partida sobrou para o Caxias que venceu seu rival sulista com uma dramática falta e cesta no último segundo.

Gabriel, do União Corinthians

Com tudo em jogo, o futuro desses dois ex-parceiros de equipe segue incerto mesmo que com alguns requintes de segurança. Camargo tem jogado muito, e é o ponto mais positivo de uma equipe, literalmente “em desenvolvimento”, e com objetivo centrado em amplificar e afiar o jogo de alguns meninos que devem figurar o elenco do NBB. Já Gabriel Soldi, não tem a mesma certeza da continuidade por fazer parte de um projeto sem time na elite do basquete. Mesmo assim, sua garantia mora na sua intensidade e disposição que atraem qualquer técnico com olhar aguçado e que buscam jogadores tão famintos que fazem de tudo para seguirem vivos.