HOJE
Abriu o coração
Por Kauã Campos
Em visita à sede da LNB em São Paulo, Leandrinho concede entrevista exclusiva, passa a limpo sua carreira e comenta sobre o legado que pode deixar
Se tornar um dos grandes nomes da maior liga de basquete do mundo não é uma tarefa simples, ainda mais vindo de um país da América do Sul. Leandro Barbosa, mais conhecido como Leandrinho, se tornou um dos principais atletas da NBA, conquistando dois títulos da liga e um prêmio de Sexto Homem da temporada 2006-07. O bicampeão concedeu uma entrevista exclusiva para Alê Oliveira, apresentador do NBB CAIXA.
Início humilde em Pirituba
Com influência de seu irmão, que atuava pelo Continental Parque Clube, o garoto da periferia de São Paulo começou a jogar basquete em seu bairro com apenas 4 anos. ” O meu irmão arrumou um jeito de colocar uma tabela próxima à nossa casa e tudo começou ali. A minha mãe não se sentia muito confortável em me ver saindo de casa, as coisas não eram tão simples, então ela tinha muito medo de eu virar um criminoso ou algo do tipo. Para dar um pouco de paz para ela dentro de casa, meu irmão passou a me levar nos treinos do time e eu me interessei muito pelo basquete”
Alcançar a federação por algum clube ou modalidade é um objetivo muito claro desde o começo da trajetória de muitos atletas, uma tarefa nada fácil. Leandrinho concluiu esse objetivo com apenas 5 anos. ” Eu sempre tive muita facilidade em aprender coisas novas, aos 3 anos a minha família já tinha reparado nisso. Muita gente não sabe, mas eu comecei muito cedo, fui federado no Continental muito novo”
Salvo pelo esporte
Amigo de Leandro Barbosa, Serginho Dutra, um dos maiores levantadores da história do vôlei nacional, também saiu de Pirituba para o mundo e sempre comenta que o esporte salvou a sua vida. Na vida do ala-armador, não foi diferente. ” O esporte me salvou, eu digo o mesmo. Dentro da periferia, as pessoas sabiam que eu iria dar certo e me protegiam desde o começo, sabiam que eu tinha um norte, poderia seguir um caminho diferente do deles, então o Escadinha está certo, eu aprendi muito com o esporte, ele me deu um norte e me colocou no caminho certo. Isso jamais irá me fazer esquecer das minhas raízes, sempre vou manter a minha essência e vou sempre querer voltar para o meu lugar. Quero poder proporcionar o que aconteceu comigo, para algum jovem que tenha a mesma realidade que tive, querer ser alguém, vencer na vida de um jeito ou de outro, seja no basquete, no futebol, no vôlei ou qualquer outra modalidade. O esporte te proporciona isso, ele te tira de um lugar que você não sonha em ficar.”
“The Blur” respeitado na NBA

Leandro Barbosa, vencedor do prêmio Sexto Homem do Ano
Em 2003, o brasileiro foi selecionado pelo San Antonio Spurs, na 28° escolha do draft da liga norte-americana. Futuramente, seus direitos foram adquiridos pelo Phoenix Suns. Suas marcas impressionantes começaram cedo, Barbosa, em sua estreia, estabeleceu um novo recorde de pontos de um novato, anotando 27 pontos contra o Chicago Bulls, no dia 5 de janeiro de 2004. No meio desse período, uma situação inusitada marcou o seu início na liga americana, a sua bicicleta. “Eu sempre quis ter uma bicicleta quando eu era pequenininho. Então, quando eu cheguei lá, eu ganhei uma infraestrutura muito grande, que não estava acostumado, ter um tradutor só para mim, um motorista só para mim, não era meu costume em termos de dia a dia. Eu quis manter a mesma rotina que eu tinha quando eu jogava em Bauru em ir de bicicleta. Então eu acabei comprando uma, o que acabou não sendo legal, não sendo bem visto pelos próprios jogadores, né? E acabou virando uma história que viralizou.” Seu auge na equipe do Arizona foi na temporada de 2006-07, onde o atleta teve médias de 17.8 pontos, em 91 partidas disputadas. Esse desempenho lhe rendeu o prêmio de Sexto Homem da temporada. “É um troféu individual muito difícil e que representou muito na minha carreira, mas que eu dedico à minha equipe do Phoenix Suns, porque foi a confiança que a comissão técnica me deu para eu ser o jogador que eu sou hoje.”

Leandrinho com o troféu da NBA
Após mais três temporadas, o brasileiro se despediu da equipe e, nos seis anos seguintes, passou por mais três times da elite do basquete mundial, Toronto Raptors, Indiana Pacers e Boston Celtics , antes de se tornar o novo reforço do Golden State Warriors na temporada 14-15. O elenco de Steve Kerr já era estrelado, contando com Stephen Curry, Draymond Green, Iguodala, Klay Thompson e David Lee. Leandrinho já era muito respeitado no cenário do basquete e reconhecia os talentos da equipe, antes mesmo de vencer a NBA. ” O que o Curry faz em quadra todas as partidas é mérito do trabalho dele, quem está de fora pensa que ele é um alienígena, ele tem o dom, mas ele trabalha muito para realizar dentro de quadra. Todos os dias ele fica com vários treinadores treinando depois do treino, são 500 bolas dinâmicas após o treino, eu marcava ele, então eu tinha que correr atrás dele sempre.”
Em duas temporadas de ouro, Barbosa fez parte do time que venceu a competição por dois anos consecutivos. ” É um sentimento inexplicável, só sabe essa sensação quem vive. Me deu um sentimento de missão cumprida, de tudo que passei, de toda a minha luta, da minha família, todos os times que representei, os técnicos que gritaram comigo, as pessoas que falaram mal. Após a minha primeira troca para o Toronto, eu perdi as esperanças e tudo isso vira um filme da minha carreira, como as coisas aconteceram e o desfecho que teve”
Marcado de perto por Kobe Bryant
Um dos episódios mais marcantes de sua carreira foi o duelo contra o astro norte-americano Kobe Bryant. Em uma partida entre Brasil x Estados Unidos, válida pelo Pré-Olímpico de 2007, Leandrinho tinha a dura missão de marcar a estrela da seleção adversária e vice-versa. Em determinado lance, no começo da partida, a bola acabou se perdendo entre os jogadores, tomando o caminho da linha lateral. Kobe e Barbosa correram em busca da bola até que o americano pulou com toda força no pé do brasileiro, gerando uma reação de surpresa no ala-armador. “Esse cara nesse dia me marcou Box One o tempo todo, a partida toda. Eu até achei que ele tinha alguma coisa pessoal, né? Mas após uma conversa que tive com ele para tentar entender, porque eu nunca vi ele marcar daquele jeito. E essa marcação que ele fez foi, ele ficou até 3, 4 horas da manhã vendo todos os meus vídeos de NBA e seleção, todos os meus movimentos, tudo, tudo que eu fazia dentro de quadra, até o jeito de andar, ele decorou, ele treinou para poder jogar no dia seguinte contra o Brasil. Então, teve um porquê, não era nada pessoal.”
Projetos futuros
Um dos projetos disponibilizados pela LNB é o “Basquete Cidadão”, um projeto social organizado para promover a inclusão social por meio do basquete, oferecendo atividade física, mental e social para crianças, adolescentes e adultos. Inspirado com o projeto, o ex-jogador comentou sobre seu interesse em auxiliar jovens que passam pela realidade em que passou. “Eu acho que o Leandro de hoje quer passar uma mensagem fora da quadra, buscando tudo que ganhei dentro de quadra. Então, eu acho que é importante e estou disposto a fazer isso. É o que eu mais quero fazer para ser sincero, é entrar num projeto, é poder dar clínica, conviver com aquela garotada, voltar na minha essência, tudo que aconteceu para mim, para poder ser alguém na vida, tentar compartilhar um pouco da minha história”, afirmou.
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