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Minha quadra, minha vida

11-12-2024 | 09:58
Por Marcius Azevedo

Na série minha quadra, minha vida, conheça o Paçoca, que há quase 35 anos trabalha no ginásio do Pedrocão nos dias de jogos do Sesi Franca Basquete

Se você chegar no Pedrocão, em Franca, e perguntar se o Alvaro está no ginásio, ninguém vai saber te responder. Agora se perguntar pelo Paçoca, aí tudo muda. Ele é o profissional que há mais tempo trabalha naquele que é considerado o Templo do Basquete. São quase 35 anos de dedicação ao clube francano, que já teve muitos nomes por causa dos patrocinadores, mas atualmente é conhecido como Sesi Franca Basquete.

“Meu nome é Alvaro de Oliveira Roque, mas ninguém conhece esse nome. É Paçoca”, afirmou. Foi na década de 1990 que o Alvaro, ou melhor Paçoca, entrou pela primeira vez no Pedrocão. “O Carlinhos era o roupeiro. Ele teve oportunidade de ir para outro lugar e o Nelsinho Salomão me indicou para trabalhar no Franca Basquete”, contou.

Paçoca se sente em casa no ginásio Pedrocão. Foto: Marcos Limonti/SFB

Antes de continuar é necessário explicar o surgimento do apelido. “Eu tinha 16 anos, jogava futebol na várzea e fui fazer um teste na Francana. Era meia-esquerda, mas me pediram para quebrar um galho na lateral. Fiquei no clube e sempre que ia treinar, eu passava em uma vendinha para comprar uma paçoca para comer. Aí começou: olha o Paçoca, olha o Paçoca, e ficou”, relembrou o septuagenário.

O apelido se tornou nome, o futebol ficou no passado e ele foi trabalhar no Franca. A lembrança mais forte é do convívio com o lendário Hélio Rubens Garcia. “Foi o primeiro treinador com quem eu trabalhei no Franca. Ele me ensinou muitas coisas. É um exemplo para minha vida. Ele me ensinou como viver e trabalhar com prazer neste clube. Todo mundo fala que o Hélio era um cara muito fechado e não tem nada disso. Era um educador. Ele me colocou diversas vezes no meio da roda dos jogadores. Até ficava com vergonha, achava que iria levar bronca, mas era sempre para valorizar o meu trabalho”, afirmou Paçoca, que até hoje tem uma foto que o treinador tirou sem ele perceber e autografou como lembrança. “Aquilo foi o fim da picada”, completou, rindo.

Paçoca trabalhou também com o filho, Helinho, atual treinador do Sesi Franca, em dois momentos: como jogador e agora na função de técnico. “Helinho é um cara muito educado, está sempre acessível para todo mundo, cumprimenta todo mundo, trata todo mundo igual. Com ele, não preto, não tem branco, amarelo, não tem rico nem pobre. Mas é diferente da época de jogador. Hoje temos menos comunicação, mas ele sempre me trata muito bem.”

Aliás, quando o assunto se torna os jogadores com quem Paçoca trabalhou ao longo dos anos, é impossível lembrar de todos os nomes. Mas toda vez que um nome é dito, um sorriso surge no rosto do roupeiro. A lista é enorme: Rogério Klafke, Fernando Minuci, Anderson Varejão, Chuí, Fernando Penna, Leandrinho, Léo Meindl, Paulão Meindl, Didi Louzada, Dexter Shouse, Jose Vargas…. E muitos outros. “Não dá para lembrar de todo mundo, foram muitos jogadores”, se defende.

Atualmente trabalhando na base do Sesi Franca, Paçoca cuida dos uniformes com muito carinho. Foto: Marcos Limonti/SFB

As histórias vão retornando aos poucos. “Lembro do Anderson Varejão no juvenil, com o João Marcelo de treinador. Ele ficava no ginásio muito tempo depois do treino. Eu ficava com ele, pegando bola e depois íamos embora de bicicleta porque minha casa era no caminho da dele”, contou. “O Didi Louzada eu vi crescer. Fomos campeões sub-20, em 2016, em um time que tinha Gui Abreu, Alexey…”

Entre os estrangeiros, dois nomes merecem menção especial. “O Vargas era um leão. Você desacreditava o que ele fazia em quadra. Jogava pesado, resolveu muito jogo para nós”, disse, referindo-se ao pivô dominicano. A relação com o americano Dexter Shouse era muito próxima. “Ele era muito exigente, gostava de tudo certinho. Quando eu chegava no ginásio, ele já estava aquecendo, arremessando. Eu passava várias bolas para ele, que agradecia.”

+ Veja mais fotos do Paçoca no Pedrocão

Ajudar os jogadores na série de arremessos se tornou parte da rotina diária de Paçoca. “Gosto de fazer isso, me sinto bem. Um ajuda o outro. É uma coisa que faz parte da minha rotina. Eu chegava, já pegava e passava para um, passava para outro e íamos entrosando”, afirmou.

Atualmente Paçoca trabalha nas categorias de base do Sesi Franca, mas, sempre que tem jogo da equipe profissional, ele vai ao Pedrocão ajudar Wellington Pereira, o Baianinho, titular hoje da função de mordomo (ou roupeiro, como era nos tempos em que ele começou no Franca) . “Venho para o ginásio todos os jogos para dar assistência para o meu amigo”, disse, com orgulho. A rotina começa quatro, cinco horas antes de cada jogo. “Tenho de ajustar aquelas placas de patrocinadores, vejo altura da tabela, o material que o adversário precisa para aquecer…”, enumerou.

Aos 70 anos, Paçoca está presente em todos os jogos do Sesi Franca no Pedrocão. Foto: Marcos Limonti/SFB

Depois de tantos anos, Paçoca prefere não escolher apenas um jogo como inesquecível. Ele gosta mesmo é de uma boa reviravolta em quadra. “Às vezes você acha que vai perder… e depois vira o placar. O que manda no basquete não é apenas o treinamento físico e sim o mental. Pode estar ruim em um momento e, de repente, vira. Vi muitos jogos em que pensei que não iria dar, mas ganhamos. Todos os jogos aqui são difíceis. Todo mundo que vem aqui quer ganhar do Franca. Se ganhar do Franca está tudo certo.”

Agora, entre os títulos (e foram muitos, como o tricampeonato brasileiro em 1997,98 e 99 com Hélio Rubens e o mais recente tri do NBB CAIXA, com Helinho), o mordomo lembra com carinho da primeira conquista do Sesi Franca no NBB CAIXA, na temporada 2021/22. Naquela oportunidade, o time francano superou o Flamengo no jogo quatro por 80 a 65 para fechar a série por 3 a 1. “Todos os títulos são bons. O que mais me marcou foi o primeiro do NBB CAIXA. Fiquei empolgado. Trabalhamos todos os dias para ver o resultado. Foi um dia inédito. Eram duas equipes fortes e conseguimos conquistar o campeonato. Foi uma alegria enorme para todos.”

Aos 70 anos, Paçoca se emociona ao responder sobre o significado do Pedrocão para ele: “É minha vida. Me encaixei aqui, só vivi coisas boas, fiz muitos amigos. Adoro trabalhar aqui. O Pedrocão é minha vida.”

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Sportsbet.io, Penalty e UMP e apoio oficial Infraero, IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.