NOTA DE PESAR

É com extremo pesar que a Liga Nacional de Basquete (LNB) comunica o falecimento de Antônio Carlos Vendramini, símbolo histórico do basquete brasileiro, aos 74 anos.

Com mais de quatro décadas dedicadas à modalidade, Vendramini construiu trajetória memorável à frente de grandes clubes como Presidente Prudente, Sorocaba, Ourinhos, Marília, e, especialmente, Vera Cruz/Unimed Campinas. No comando de Americana, foi tricampeão da Liga de Basquete Feminino (LBF) – em 2014, 2015 e 2017 – e conquistou seu último título nacional pelo Vera Cruz Campinas em 2018.

Helen Luz, ex-jogadora histórica da Seleção Brasileira e que teve oportunidade de trabalhar com Vendramini, detalhou o perfil vencedor e carismático do histórico treinador: “O Vendra era um técnico que tinha DNA de campeão, o que ele fez na geração da Hortência… eu ainda era muito jovem, em Araçatuba tinham os jogos abertos do interior e o Vendra era o técnico e ele já era essa referência de comandar jogadoras de nome, ajudar nesse desenvolvimento do basquete feminino. O trabalho dele foi super importante. Eu tive a felicidade de jogar com o Vendramini durante muito tempo. Fui muito feliz, principalmente quando eu joguei com as minhas irmãs sob o comando dele, a Cintia e a Silvia, na época do Paraná”.

“Não só pelas vitórias e as conquistas, mas pelo ambiente de trabalho. Era sempre muito agradável fazer parte dos times do Vendramini. E era sempre muito leve, ele era muito alto astral e muito inteligente, muito estrategista. Me ajudou demais no meu desenvolvimento como atleta, como ser humano também, não só ele, mas como a família toda. A Alba, uma mulher espetacular que sempre esteve do lado dele. A família era muito torcedora, vibrava em cada campeonato, em cada jogo”.

“Eu só tenho boas lembranças do Vendra como técnico e tinha uma sensação de que toda jogadora queria jogar com o Vendramini porque ele sempre ajudou demais. O ambiente e o dia a dia com ele eram gostosos. Porque não é fácil você estar em um time e o ambiente não ser leve, ele precisa ser leve. É uma temporada muito longa, sempre as mesmas pessoas ali envolvidas, muito sacrifício, muito treinamento. O Vendra tinha esse perfil, era uma qualidade dele que eu acho que ninguém tem. Ninguém teve como técnico, que eu tratei e que eu tive a oportunidade de conviver. E era muito do Vendramini ser essa pessoa com esse astral lá em cima. Sempre querendo ajudar, sempre disposto a se entregar pela equipe. Então, esse era o Vendra e vai fazer muita falta, com certeza”.

“O basquete feminino vai sentir muito a perda dele, não só dentro da quadra, mas como fora também, ele ajudou no desenvolvimento principalmente da LBF, nesse momento que a LBF ficou independente, ele teve uma parcela importante nesse novo basquete feminino, nessa nova liga de basquete feminino. Enfim, apenas boas lembranças do Vendramini”, finalizou Helen, campeã do Mundial Feminino da FIBA em 1994 e medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de 2000.

Vendra estará eternamente em nossos corações. Foto: Divulgação

Vendramini foi campeão de 18 estaduais, 13 nacionais, 6 Sul-Americanos, 1 Pan-Americano e 2 títulos intercontinentais por clubes. Como treinador da Seleção Brasileira Feminina, venceu o Campeonato Sul-Americano em 1989 e conquistou a medalha de prata no Campeonato das Américas, reforçando seu lugar entre os técnicos mais vitoriosos da história do basquete brasileiro.

Paulo Bassul, diretor técnico da Liga Nacional de Basquete e ex-técnico da Seleção Brasileira feminina, relembrou sobre momentos vividos com Vendramini em homenagem à partida do histórico técnico: “O Vendra tinha a admiração e, ao mesmo tempo, o carinho de todo mundo que milita e militou no basquete feminino. Era extremamente competente, trabalhou em times de altíssimo nível por muitos anos e comandou projetos relevantes com competência. E fez tudo isso sempre com um sorriso no rosto, uma generosidade muito grande, era uma pessoa muito acessível”.

“Eu tive a oportunidade de conhecê-lo bem no início da minha carreira. Eu era muito novo e comandava a equipe da AABB de Brasília quando eu tive o primeiro contato com o Vendra. Ele foi lá para a disputa de uma Taça Brasil de clubes, que naquela época contava com as principais equipes do país. Ele dirigia a Minercal, que era o time da Hortência e foi muito acessível, com uma disponibilidade muito grande para conversar. Naquela época ele e a Maria Helena Cardoso, que comandava o time da Paula, em Piracicaba, eram os dois ícones, os dois técnicos mais representativos do país e eu me espelhava muito neles”.

“Ele sempre foi muito generoso, tranquilo e correto, então é uma dor muito grande você ver uma pessoa dessas, com tudo que ele contribuiu, com tudo que ele representou, ir embora”’.

“É uma perda muito grande para a comunidade inteira do basquete feminino, por tudo que ele representou e, ao mesmo tempo, pela pessoa humana, pelo jeito que ele era”.

“Isso tem muito valor para mim, quando alguém se porta da mesma maneira nas duas situações. Antes de eu ser conhecido eu tive a oportunidade de conhecer esse lado dele, e depois, quando eu já estava trabalhando em alto nível, em São Paulo e passamos a nos confrontar em vários jogos em Ourinhos e também em Americana ele sempre manteve a mesma postura, a mesma classe, o mesmo comportamento e vai ter a minha eterna admiração”, finalizou Bassul.

Desde 2017, Vendramini atuava como gestor técnico no projeto Unimed Campinas Basquete, na LBF, provocando impacto direto nas conquistas do Campeonato Paulista nos anos de 2019, 2020 e 2024. Também integrava o conselho administrativo da LBF, onde sua sabedoria e dedicação eram referências para todos.

A LNB reafirma sua gratidão e respeito por Vendra, cujo legado vai muito além dos títulos: foi mentor, líder, amigo, e pai para tantas atletas. Sua passagem nos deixa um exemplo de comprometimento, humanismo e amor incondicional ao basquete. Éramos privilegiados por ter sua presença entre nós. Nossos sentimentos aos familiares, amigos e a todos que conviveram com esse grande nome da nossa história.