HOJE
PRONTO PARA BRILHAR!
Por Caio Hirai e Anderson Barbosa
Um dos jovens mais promissores do NBB, o ala do Paulistano, Anderson Barbosa contou um pouco da sua história no esporte e importância da LDB até chegar à elite do basquetebol nacional
“Minha mãe ouvia muita coisa dos outros na rua. Quando eu tinha 17 anos, não ajudava muito em casa ainda e o pessoal ficava no ouvido dela, tipo: ‘Coloca o Anderson pra estudar, o esporte é muito incerto’, as pessoas não acreditavam muito no que ela fazia por mim. Eu não tenho o que falar da minha família, meus tios e tias me levavam pra treino, jogo, quando minha mãe não podia e hoje em dia a família já me vê com outros olhos. Eu não sou o Anderson sobrinho, entende? Virei o Anderson jogador!”
Um dos jogadores mais promissores do NBB, o ala Anderson Barbosa já é um rosto conhecido pelo fã do basquete nacional. Aos 23 anos, o jogador se destaca pela sua força física e disposição defensiva, uma das peças mais importantes na campanha do Paulistano na temporada 2022/2023. A formação do ala no CAP começou em 2017 quando o jogador chegou ao clube e já faturou seu primeiro título de LDB, o maior campeonato de base do país, o qual Anderson seguiu jogando até realizar sua última participação na edição de 2022.
“Eu acho que meu primeiro contato com o basquete foi na rua, eu cresci em um lugar onde a gente fazia de tudo, brincávamos muito. Uns caras construíram uma cesta no fim da rua e todo mundo jogava, dos mais novos aos mais velhos. Nem sabia fazer nada, não sabia nem o que era basquete, eu só queria me envolver na brincadeira. Eu não sei porque minha mãe me colocou no basquete, eu jogava futebol no Corinthians. Eu lembro que ela tinha ouvido que rolavam essas aulas no Girafinhas do Basquete, em Mauá, e ela me inscreveu. No dia, ela nem me avisou, só me acordou de manhã, falou: “coloca o shorts, um tênis que dê pra você correr, uma regata e vamos embora, você vai treinar basquete!
A virada de chave pra eu deixar o futebol e ir pro basquete foi por conta dos meus atrasos nos compromissos do futebol, o basquete acabou virando prioridade por ser mais perto da minha casa, não precisava de condução, então minha mãe não tinha que gastar dinheiro pra isso. Ela não podia me levar pros treinos, então com 10 anos eu já pegava trem, ônibus pra São Caetano pra ir treinar, voltava tipo, 21h pra casa e minha mãe tinha medo, né? As coisas foram acontecendo pra que eu ficasse no basquete e eu também fui me apaixonando a cada ano”
Nascido em Mauá, município da região metropolitana de São Paulo, Anderson deu seus primeiros passos no esporte no Corinthians, mas jogando futebol. Sua mãe, Ana Paula, foi a principal responsável pela transição para o basquete, decisão que mudaria a vida do garoto que tinha apenas 12 anos quando começou na nova modalidade. O projeto Girafinhas do Basquete é uma entidade que promove o esporte para os jovens do município de Mauá, mantida por recursos públicos da prefeitura da cidade. Foi lá que o jogador deu início a sua carreira como jogador e, mesmo que jovem, seu potencial não passava despercebido.
“No meu primeiro treino, a Ivonete, treinadora do Girafinhas, já chegou com uns papéis pra minha mãe assinar pra eu jogar um torneio e disse que viram potencial em mim, que eu deveria jogar esse festival. Eu só batia a bola e saia correndo (risos). Eu nem sabia jogar direito, não sabia o que ela tinha visto em mim, mas minha mãe falou pra eu ir pra esse torneio que seria bom pra mim. Fiquei no Girafinhas até os 17 anos, lembro que tive uma conversa com um amigo e ele perguntou: “Mano, quais times te querem agora?” e eu respondi: “Todos” (risos). Foi nesse momento que eu decidi ir pro Paulistano e, de lá pra cá, você já conhece a história.”
Assim que eu cheguei no Paulistano caiu minha ficha de que eu seria jogador de fato. Eu lembro até hoje quando meu técnico, Eran, veio conversar comigo e com a minha mãe sobre contrato e tal, falou que eu poderia escolher entre uma escola pública e outra particular pra eu estudar, mas a particular seria em tempo integral. Naquele momento, eu falei para os dois que eu queria ficar na pública mesmo, porque iria me dedicar 100% ao basquete. Eu estudei, mas meu foco sempre foi o basquete, nunca foi meu segundo plano.”
Em seu primeiro ano, o Paulistano viveu uma temporada incrível! Além do título inédito do NBB, sob o comando de Gustavinho de Conti, o CAP faturou a Liga de Desenvolvimento de Basquete em 2017, torneio em que Anderson participou ativamente. A LDB é responsável pela formação de diversas grandes figuras do basquete nacional e é tida como o maior torneio de base do Brasil. Além do campeonato de base, Anderson teve contato com o elenco campeão do NBB 2017/2018 que foram essenciais para a evolução do ala ao longo dos anos.
“No meu primeiro ano, 2017/2018 foi a temporada em que o Paulistano ganhou tudo e eu participei do título no sub-17, sub-18, LDB e Interligas. A LDB era de longe o campeonato mais difícil que já tinha jogado, quando a gente jogava o Paulista, nosso time era predominante no sub-17 e sub-19. A LDB foi muito importante na minha vida porque eu entrei na rotação de um time que era muito bom e eu jogava contra caras muito bons também. Nas primeiras edições que eu participei, não apareci tanto, por ser muito defensivo, quem aparecia mais na minha primeira LDB eram o Gemadinha, Victão, Dikembe, esses caras. A LDB é o campeonato de base mais disputado do Brasil, então é outro patamar e quando eu fui ficando mais velho, a visibilidade que esse torneio me deu foi muito grande.”
Seguindo sua carreira pelo NBB, Anderson viveu sua quinta temporada na elite do basquete brasileiro e evolui cada vez mais na competição. Sua minutagem só aumentou de lá pra cá, bem como sua média de pontos, rebotes e roubos de bola. O camisa 32 é uma das peças mais importantes no sistema do Paulistano. A equipe de Demetrius Ferracciu terminou a temporada 2022/2023 com a quinta melhor campanha da competição na temporada regular. A característica defensiva foi fundamental para Anderson ser uma das peças de confiança do treinador do CAP e a metodologia de jogo do ala sempre esteve presente em seu DNA.
“Com certeza a característica defensiva está no meu DNA, mas na verdade, é muito treino também. Eu me sinto uma pessoa muito abençoada pela condição física que eu tenho, mas por outro lado, eu demorei pra amadurecer no ataque, então sempre fui muito realista comigo mesmo. Eu via o Jhonatan marcando e sabia que ele não pontuava tanto, ele conversava comigo bastante. Sempre fui uma pessoa que gostava muito de marcar e no ataque me falavam pra eu bater pra dentro ou bater e cortar, eu não chutava quando eu cheguei. Esse meu primeiro ano no Paulistano foi quando peguei uma paixão pela defesa e os caras foram me elogiando por isso, eu gosto de ajudar meu time no sistema defensivo, até porque eu não podia ser muito ofensivo naquela época. Entendi que se eu defendesse, teria mais oportunidades, e por ser alguém que treinava bastante, eles entendiam que eu poderia amadurecer mais tarde no ataque”
A vivência do jogador no NBB trouxe experiências únicas que foram capazes de aprimorar ainda mais as habilidades defensivas do camisa 32. Com boas médias em rebotes, roubos de bola e +/-, Anderson se tornou um jogador que trabalha pela equipe e possibilita boas condições para seus companheiros pontuarem com tranquilidade. Isso tudo em uma das ligas mais difíceis da américa latina e com jogadores de peso que tentam complicar a vida do ala.
“Falando de adversário, com certeza, o Shaq Johnson. Quando ele tá inspirado, é muito embaçado. David Jackson também é alguém que você tem que ficar ligeiro, ele sempre tira umas bolas da cartola. Acho que o DJ foi o mais difícil que já marquei, ele é muito constante, o Shaq até tem mais repertório, por ser mais novo, ele é mais ágil também. Tem bolas que você acha que o DJ vai fazer uma coisa e ele faz outra que você nem tá pensando, sabe? Ele nem tá posicionado do jeito certo, não tem ângulo para aquilo e ele faz, ele é um cara que eu tenho um respeito muito grande.
A parte mais legal de ser jogador é amar tudo isso que eu faço. A gente não tem muito tempo com a nossa família, vivemos meio bitolados com isso, a gente passa por altos e baixos tanto no pessoal quanto no coletivo. A grande vantagem de ser jogador é fazer o que você gosta e ganhar bem pra fazer isso, sabe? Eu amo o que eu faço!”
Todo o esforço do garoto de Mauá vem sendo recompensado e na última temporada, o ala foi indicado para o prêmio de melhor defensor do NBB, ao lado de Alex Garcia e Corderro Bennett. A crescente de Anderson fica evidente quando, aos 23 anos, ele é colocado ao lado de jogadores tão experientes do nosso basquete por uma premiação no campeonato de basquete mais importante do país.
“A sensação de ser indicado pro prêmio de melhor defensor do NBB é muito boa, é como se fosse um pequeno passo pra poder crescer ainda mais nessa próxima temporada, a indicação me deu muita confiança pra começar uma temporada em que eu não sou mais um prospecto. É agora! A LDB acabou e a indicação me deu um gás pra treinar ainda mais, voltar na melhor forma possível e fazer a melhor temporada da minha vida no NBB. Fiquei muito feliz com a indicação, pra mim, eu não precisava nem ganhar, só de estar do lado do Bennett e do Alex, eu já tô ótimo. Acho que na próxima temporada eu vou ganhar esse prêmio, pode botar fé”
“O maior conselho que eu já recebi na vida foi da minha mãe, em uma fase que eu não estava muito bem na quadra e nem na vida pessoal. Eu me pressionava muito e é algo que eu carrego comigo, me pressiono muito pra poder mudar a vida da minha família, entende? Então quando as coisas não davam certo, passava tudo isso na minha cabeça. Minha mãe chegou em mim e perguntou: “Filho, qual é a razão pra você fazer tudo o que você faz hoje?” e eu falei que era pra ajudar ela, colocar a gente em uma situação melhor. Ela disse que não era por isso e me perguntou de novo a mesma coisa. Eu disse que fazia porque eu amava e ela falou: “Sim, você ama isso, não tem que fazer por mim ou por seus irmãos, você gosta disso e, independente de qualquer coisa, você já sabe o caminho, ele está trilhado pra você!”, depois disso eu nunca mais me senti pressionado, nunca mais senti aquele peso nas costas. Hoje em dia eu tenho tantos sonhos, mas acho que tirar minha mãe das condições que ela está segue como o maior deles”.
O ala do Paulistano vem escrevendo seu nome no esporte nacional e, inclusive, esteve presente na conquista do Globl Jam 2022, defendendo a Seleção brasileira. Aos poucos, Anderson conquista seu espaço e o seu respeito na elite do basquete nacional e segue mostrando para o fã do NBB que é capaz de chegar cada vez mais longe em sua carreira que está apenas começando.