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Muito prazer,Michael Jordan

14-05-2020 | 04:45
Por Liga Nacional de Basquete

Ainda universitário, Jordan enfrentou a Seleção Brasileira duas vezes no Pan de 1983 e deu sinais de que seu futuro poderia ser brilhante

No mundo do basquete é raro não conhecer os feitos de Michael Jordan durante sua carreira, até mesmo as pessoas que não fizeram parte da mesma geração. Hoje, a vida do considerado por muitos o melhor jogador da história está ainda mais em evidência, devido ao sucesso da série “Arremesso Final”, produzida pela ESPN e Netflix.

Com isso, outros detalhes não tão explorados ao longo da carreira de Jordan começam a aparecer, junto de boas histórias dos personagens presentes. Um desses momentos é o Pan de Caracas (Venezuela), em 1983, a primeira competição internacional do jogador que ainda defendia a Universidade de North Carolina.

Sem poder atuar com os profissionais, a seleção norte-americano viajou para a Venezuela com um elenco muito jovem e cheio de promessas dos times universitários. Além de Michael Jordan, também estiveram presentes Chris Mullin, Mark Price, Wayman Tisdale e Sam Perkins, todos com futuras carreiras de sucesso na NBA e no selecionado nacional.

Com a camisa 5, Michael Jordan liderou o jovem elenco norte-americano na conquista do Pan (Divulgação/USAB)

A campanha dos Estados Unidos no Pan foi perfeita, com oito vitórias em oito partidas disputadas, que resultou na medalha de ouro (o último conquistado pelo país na competição). Na caminhada vitoriosa, a equipe de Jordan enfrentou a Seleção Brasileira em duas oportunidades, uma na segunda partida e a outra valendo a medalha de ouro.

“A gente não conhecia muito a equipe deles, mas sabíamos que tinham uns 2,3 caras com contrato da NBA na gaveta. E um deles era o Jordan. Ele já se destacava dos demais, tinha uma impulsão fantástica, um cara de 2 metros, atlético, com muita habilidade e arremesso, é duro marcar um jogador assim”, afirmou Nilo Guimarães, atual presidente interino da LNB e que esteve presente como jogador naquele Pan.

A Seleção Brasileira não contou com a presença de Oscar Schmidt no torneio, mas com um elenco experiente e vindo de uma conquista sul-americana em São Paulo. O elenco brasileiro era composto por Marcel de Souza, Nilo Guimarães, Marcelo Vido, Israel, Adilson, Carioquinha, Fausto, Silvio, Guerrinha, Gerson, Cadum e Marquinhos.

O primeiro confronto entre Brasil e Estados Unidos foi marcado pelo equilíbrio. O time brasileiro liderou a partida por muito tempo, chegando a ficar com dez pontos de vantagem no placar. Mas no final, a estrela de Jordan brilhou. Usando a camisa 5, o ala de 20 anos anotou 27 pontos e foi fundamental na vitória da seleção estadunidense por 72 a 69.

“Acabou o primeiro jogo contra eles e fomos para o vestiário. Estávamos tomando banho e alguém estava vendo a súmula do jogo, que só mostrava os pontos na época. Lembro que perguntamos quantos pontos tinha feito o número 5, se não me engano foram 27, 20 deles só no segundo tempo, que decidiu o jogo. Depois perguntamos o nome: Michael Jeffrey Jordan. Dissemos: ‘Bom, então vamos guardar bem esse nome porque ele pode dar o que falar’ (risos)”, contou Marcelo Vido.

Dez dias depois, as duas seleções se enfrentaram novamente, dessa vez valendo a medalha de ouro do Pan de Caracas. A pontuação de Jordan foi menor, mas isso não diminui sua importância na vitória. Ele anotou 14 de seus 16 pontos no segundo tempo, que começou com o placar empatado (51 x 51).

“No segundo jogo, apesar do Jordan ter feito menos pontos que no primeiro, ele fez oito cestas de fora do garrafão. Naquele tempo, em 1983, não existia ainda a linha dos 3 pontos. A gente estava marcando uma zona bem fechadinha e eles erraram muito no primeiro jogo. Mas no outro jogo ele conseguiu explorar bem os espaços da nossa defesa, acho que ele não errou nenhum chute e fez a diferença”, avaliou Marcel de Souza.

Seleção Brasileira, medalha de prata, ao lado dos norte-americanos em Caracas. Detalhe para Jordan em pé no palco, com o ouro no peito (Arquivo/Nilo Guimarães)

A seleção norte-americana venceu o segundo confronto por 87 a 79 e garantiu o ouro pan-americano. O primeiro título de Michael Jordan com o selecionado do país, que ainda viria a ganhar duas olimpíadas, uma no ano seguinte, em Los Angeles (EUA), e a outra em 1992, em Barcelona (ESP), ao lado do famoso “Dream Team”.

“Ele ainda não era o Michael Jordan que todos conhecem, era uma futura promessa. Mas foi uma honra poder jogar contra ele duas vezes nesse torneio, ainda mais agora vendo toda a história que ele construiu no basquete”, completou Nilo Guimarães.

Atual treinador do Mogi das Cruzes, Guerrinha está acompanhando de perto a série sobre a carreira de Jordan. Para ele, as lembranças de toda a carreira do norte-americano dão o sentimento de proximidade dos basqueteiros com o ídolo, que “explodiu” de vez pouco tempo após o Pan de Caracas.

“Estou assistindo a série sobre ele e a gente começa a recordar de vários momentos. Parece que fizemos parte da história dele, mesmo não estando próximo, mas como adversário e fã. Depois do Pan, aconteceu tudo muito rápido pra ele. Nas olimpíadas de 1984 ele já era o dono do time, depois pareceu um meteoro na NBA. Muito legal ter vivenciado essas partes”, disse Guerrinha, que ainda contou mais uma história:

“Teve um lance que o Jordan roubou uma bola e foi para o contra-ataque. O Marcel deixou ele fazer a bandeja para pegar ele no toco, já que ele pulava muito, passava um braço do aro. Na hora que pulou para dar o toco, no lado certo, o Jordan passou por baixo e quase arrancou o aro. A gente ficou enchendo o Marcel durante o Pan inteiro (risos)”, finalizou.

A partir daí, a estrela de Jordan não parou mais de brilhar. Ele conquistou títulos, prêmios individuais, contratos milionários, protagonizou até um filme e atraiu a admiração das pessoas por onde quer que fosse. Até quem não viveu nesse período está conseguindo conhecer mais de perto a história dessa lenda. Que sorte a nossa!