HOJE
Retrato daexperiência
Por Douglas Carraretto
Cestinha aos 42 anos, Márcio Dornelles atinge feito histórico, se diz "em casa" no São José e luta pelo bi da Liga Ouro
Chegar a uma final de campeonato é algo que todo jogador sonha, independentemente da idade. No caso de Márcio Dornelles, veterano do São José, esse sonho já se tornou realidade diversas vezes ao longo de sua carreira. Mas agora, aos 42 anos, virou recorde.
Com a chegada do São José à decisão da Liga Ouro 2018, Márcio se tornou o jogador mais velho da história a chegar a uma final das competições organizadas pela LNB.
A marca pertencia a Ricardinho, que jogou a decisão da Liga Ouro 2016 pelo Vasco com 41 anos e 9 meses. Em seguida estava Marcelinho Machado, que jogou a decisão do NBB CAIXA 2015/2016 pelo Flamengo com 41 anos e 2 meses.
“Hoje em dia o atleta se cuida muito, e quem é mais velho se cuida ainda mais. O descanso tem que ser maior, porque você sabe que não será fácil correr atrás da molecada (risos). Mas vai muito da cabeça do atleta também, de estar disposto a ouvir os outros, ter a cabeça boa para treinar, seguir amando o que faz. Tudo isso leva a se preocupar com a forma física. Só tenho a agradecer pela energia e saúde que tenho até hoje”, disse Márcio.
Em quase 25 anos de carreira profissional, Márcio Dornelles passou por 12 clubes diferentes: Corinthians (RS), Ribeirão Preto (SP), Franca (SP), Uberlândia (MG), Minas (MG), Campos (RJ), Ulbra (RS), Rio Claro (SP), Pinheiros (SP), Macaé (RJ), Vasco (RJ) e Campo Mourão (PR).
+Estatísticas completas da carreira de Márcio Dornelles no NBB e na Liga Ouro
Desses 12 clubes, o camisa 15 do São José disputou pelo menos uma final de campeonato por dez deles. Sua passagem mais vitoriosa foi pelo Franca, onde foi campeão Brasileiro, tricampeão Paulista, campeão Pan-Americano e vice-campeão do NBB CAIXA 2010/2011. Além disso, pelo Pinheiros, foi campeão Paulista e da Liga das Américas 2013.
É cestinha
Mesmo aos 42 anos, o veterano Márcio Dornelles mostra que idade não é um número relevante em sua estatística. Com média de 12,8 pontos por partida, o gaúcho de Porto Alegre é o cestinha do São José na Liga Ouro e uma das grandes esperanças da equipe para o acesso ao NBB CAIXA.
Sua temporada vem sendo marcada pela regularidade. Dos 17 jogos disputados até aqui, pontuou em dígitos duplos em 11 deles. No entanto, nas demais partidas em que não atingiu a marca dos dez pontos, registrou nove pontos em cinco delas e oito na outra.
“Qualquer um na nossa equipe poderia ser cestinha, pois temos muitos atletas de qualidade e prezamos pelo jogo coletivo. Mas acredito que ainda tenho muita lenha para queimar. É lógico que vou sentindo temporada a temporada, porque o desgaste é grande, mas enquanto eu estiver com a cabeça boa, querendo jogar, amando esse esporte e com oportunidades, vou continuar”, afirmou Márcio.
São poucos os atletas que ultrapassagem a margem dos 40 anos e seguem atuando em alto nível. Na história do NBB CAIXA, foram, além de Márcio, somente Marcelinho Machado (42 anos), recém aposentado no Flamengo, e Helinho (40 anos) e Rogério Klafke (42 anos), ambos ídolos do Franca.
“Muita gente acha que por ter mais de 30, 35 anos, e no meu caso mais de 40, o jogador não rende mais. Mas enquanto eu estiver amando esse esporte que jogo por mais de 25 anos, quero aproveitar ao máximo. Espero seguir bem por mais uma ou duas temporadas para, aí sim, pendurar os tênis (risos)”, falou o camisa 15 do São José, que completou dizendo se sentir em casa defendendo a Águia do Vale.
“Quem acompanha o São José vê que estou sempre feliz nos treinos e jogos, porque me sinto em casa. Então enquanto eu estiver com essa energia física e mental, quero seguir usufruindo do basquete. Ainda mais agora nesse momento especial do nosso esporte, com NBB e Liga Ouro bombando. Quero muito seguir participando desse movimento em prol do basquete. Por isso só tenho a agradecer pela energia e saúde que tenho”, completou.
São José é experiência
Experiência é o que não falta na equipe do São José. O elenco tem média de idade de 26,7 anos por atleta (3ª maior da Liga Ouro 2018) e possui, além de Márcio, mais cinco atletas com 30 anos ou mais: Hélio (37 anos), Atílio (36 anos), Alexandre Pinheiro (33) e Douglas Nunes (30).
Mas, apesar do número de veteranos, o ritmo da equipe se manteve alto ao longo da Liga Ouro. Não à toa, a equipe foi vice-líder da fase de classificação e chegou à decisão contra o Corinthians com uma varrida por 3 a 0 contra o “time sensação” da competição, Londrina Unicesumar Basketball.
“Nosso time é experiente, mas tem uma boa forma física. Apesar das idades elevadas, dá para ver que todos estão em forma nesse final de temporada, isso é mérito da nossa comissão técnica. Mas, como eu disse, quanto mais experiente fica o atleta, mais ele sabe se cuidar, e isso está ficando nítido nesse final de temporada em todos nós”, disse Márcio.
Junto dos cinco “veteranos” do time, o São José conta com atletas de meia idade de enorme potencial, como Rafa Moreira (27 anos), Feliciano (27 anos), Christian Panunzio (25 anos) e o “quase trintão” Emiliano Giano (29 anos). Além deles, o time tem também garotos promissores, como Pedro Rogério, Léo Williams e Baby, todos presentes no vice-campeonato da LDB 2017.
Mas será que o mais velho necessariamente é o “comandante” do grupo? Sobre esse papel de liderança, Márcio evitou abraçar o rótulo somente por ser o mais veterano e dividiu a função com outros atletas experientes.
“Nossa equipe tem vários líderes. Tem o Hélio, que já foi campeão do NBB, o Douglas (Nunes), que é outro cara muito experiente. Não é porque você é o mais veterano que você é obrigatoriamente um líder. É claro que, por ter mais experiência, consigo fazer isso com mais frequência, dar conselhos aos mais novos, puxar para conversar. Mas todos se respeitam muito aqui, o mais novo fala com o mais velho e vice-versa. Acredito que esse seja o grande segredo da nossa equipe”, destacou Dornelles.
Que venha o Corinthians
Vice-líder da fase de classificação (12 vitórias em 16 partidas), o São José chegou à decisão da Liga Ouro com a moral lá em cima ao varrer o Londrina na semifinal, por 3 a 0.
No caso de Márcio Dornelles, a luta será pelo bicampeonato da competição, já que foi campeão da edição 2016 pelo Vasco da Gama.
Embalado pela expressiva classificação na semifinal, o time do técnico Paulo Cezar Jaú terá seu primeiro compromisso da decisão contra o Corinthians neste sábado (16/06), no Ginásio Wlamir Marques, em São Paulo (SP), às 20h30 (transmissão a definir).
“Nosso elenco foi montado para chegar a esse momento. Nossa maior virtude é o entrosamento, a família que construímos aqui dentro. O Jaú (técnico) preza muito isso, essa amizade fora da quadra, essa união, jogo coletivo. Isso com certeza fez a diferença para chegarmos a essa final e será essencial para buscarmos o título”, declarou Márcio, que teve média de 13,6 na série contra Londrina.
Apesar da maré positiva do São José, o rival Corinthians foi um adversário indigesto durante a fase de classificação da Liga Ouro. Os dois duelos diretos entre eles foram vencidos pelo alvinegro do Parque São Jorge: no primeiro turno, derrota em casa por 83 a 76. Já no returno, desta vez em São Paulo (SP), valendo a liderança da fase de classificação, revés por 72 a 69.
“Perdemos os dois jogos contra o Corinthians por detalhes. No primeiro sofremos uma bola no finalzinho, no outro dominamos o jogo inteiro e tomamos a virada no último quarto. Acredito que para essa final não temos que mudar nada em relação ao que fizemos. Temos que manter nossa pegada, jogar com consciência e com a coletividade que mostramos durante o campeonato inteiro. Se fizermos isso, tenho certeza que faremos bons jogos nessa final”, finalizou Dornelles.
Calendário da série
Jogo 1 – 16/06 (Sábado), às 20h30, no Ginásio Wlamir Marques, em São Paulo
Jogo 2 – 18/06 (Segunda-feira), às 20 horas, no Ginásio Wlamir Marques, em São Paulo
Jogo 3 – 20/06 (Quarta-feira), às 20 horas, no Ginásio Linneu Moura, em São José
Jogo 4* – 22/06 (Sexta-feira), às 20 horas, no Ginásio Linneu Moura, em São José
Jogo 5* – 24/06 (Domingo), às 18 horas, no Ginásio Wlamir Marques, em São Paulo
*Se necessário