HOJE
Orgulho do pai
Por Liga Nacional de Basquete
Novo recordista de pontos em um só jogo da LDB na história, Carioca revela emoção de seu pai com seu bom momento; pai também ajuda na sua preparação física
Todo filho é motivo de orgulho para o pai, seja nos estudos, no esporte ou em pequenos gestos. Mas no caso de Carioca, foi a LDB 2013 que proporcionou emoção a seu criador. Destaque do Allianz/Ginástico na atual temporada da maior competição de base do basquete brasileiro, o armador escreveu seu nome na história do campeonato para atletas de até 22 anos de idade.
Durante a terceira etapa da atual edição da LDB, no dia 29 de agosto, diante do São José/Unimed, o atleta, de apenas 19 anos, anotou expressivos 36 pontos e estabeleceu a melhor marca de pontos em uma só partida da história da competição – o recorde pertencia ao também armador Diego Gomes, da Liga Sorocabana, que na última temporada marcou 35 pontos. E o feito emocionou o pai do garoto, Luís Grecio Vieira, de 50 anos.
“Meu pai está muito feliz com este momento que eu estou vivendo. Logo depois do jogo contra São José, ele me ligou e disse que chorou muito por eu ter batido o recorde de pontos da LDB. Ele disse que aquilo era o maior presente que um filho poderia dar para um pai e que estava muito orgulhoso de mim”, revelou o camisa 4 do clube de Belo Horizonte.
“Eu acompanho os scouts (Tempo Real) de todos os jogos dele, e nessa partida não foi diferente. Depois do término do jogo, chorei muito na frente do computador. Passamos por muito momentos difíceis e não foi nada fácil para ele chegar onde está e poder mostrar seu jogo”, confirmou o pai do atleta.
Realmente, o choro do “Seo” Luís foi muito mais do que uma atitude de um pai coruja. Em 2012, Carioca sofreu uma fratura por stress na tíbia da perna direita e ficou praticamente um ano afastado das quadras. Foi então que o ex-jogador de futebol de areia fez e muito bem o papel de pai. Sem deixar com que seu filho desanimasse, Luís foi o principal incentivador do garoto no momento difícil.
“Foi muito difícil ficar parado. Fiquei muito desanimado e vi alguns garotos da minha idade se destacando em suas equipes. Fiquei com muito medo de não poder voltar a jogar. Mas nesse momento, tive muito apoio do meu pai e devo muito a ele. Ele sempre me apoiou em tudo, tanto nas fases ruins como nas boas e dessa vez não foi diferente. Ele sempre falava: ‘calma, filho, é um só uma fase ruim. Você vai superar isso’. E foi exatamente isso que aconteceu”, afirmou Carioca.
Além de todo a força que um pai pode dar a um filho durante um período ruim, Luís ainda tinha um algo a mais para auxiliar Carioca em sua recuperação. Depois de se aposentar, o ex-futebolista se formou em Educação Física. Então, além de trabalhar em academias da cidade de Uberlândia (MG), passou a ser uma espécie de um personal trainer do garoto.
“Treino ele desde pequeno. Mesmo antes de ele começar no basquete. Fazemos trabalhos de condicionamento físico, musculação e exercícios com bola também. Ele é um garoto muito dedicado e esforçado. Deixo colado na porta do armário dele os objetivos que queremos atingir e trabalhamos duro para alcançá-los”, contou o pai do armador.
Depois de superar a lesão e retornar às quadras, o armador recebeu uma ligação que mudou os rumos da sua carreira. Do outro lado da linha estava Jefferson Teixeira, técnico do Ginástico. O motivo da chamada? O treinador gostaria de contar com os serviços do atleta no clube de Belo Horizonte. Empolgado com a oportunidade de poder atuar no time Sub-22 na disputa da LDB e também na equipe adulta, durante a Copa Brasil Sudeste, a resposta do jogador não poderia ser outra: sim.
“Em dezembro de 2012 eu voltei a treinar. Voltei a treinar forte e praticamente na mesma época, o Jefferson me ligou e me convidou para jogar no Ginástico. Estava voltando de lesão e aceitei o convite na hora. O Jefferson foi um cara que sempre acreditou na minha carreira. Depois que eu me machuquei ninguém acreditava em mim, mas ele foi atrás de mim e me contratou. Foi então que tudo começou a acontecer muito rápido na minha carreira”, exaltou o garoto, de 1,86m de altura.
Dono de um estilo de jogo ousado, que combina um bom físico com uma incrível capacidade de encontrar espaços vazios nas defesas adversárias, Carioca aproveitou a chance dada pelo treinador e se tornou o grande destaque do Ginástico, atual dono da oitava colocação da LDB 2013, com 46 pontos (11 vitórias e oito derrotas). Novo recordista de pontos em uma só partida do maior campeonato de base do basquete brasileiro, o armador soma médias de 16,6 pontos, 6,1 rebotes e 3,4 assistências por jogo na competição Sub-22.
Mas se engana quem pensa que todo esse talento foi descoberto há anos. Inspirado no esporte praticado por seu pai, Carioca jogou futebol por toda sua infância. Nascido no Rio de Janeiro, o armador mal sabia o que era basquete. Até que um problema familiar obrigou o garoto, na época com 14 anos, a mudar com seu pai para Uberlândia. Foi então, na cidade interior do Estado de Minas Gerais, uma das “capitais” da modalidade no país, que o camisa 4 do Ginástico “descobriu” o esporte da bola laranja.
“Na semana em que eu ia me federar no futebol lá em Uberlândia, eu comecei a matar os treinos para poder ir jogar basquete. Eu me encantei pelo basquete e falei para o meu pai que eu queria jogar basquete. No começo ele achou ruim porque eu levava jeito para futebol (risos), mas me apoiou na minha decisão e me colocou para jogar basquete. Comecei no UTC, com 15 anos, e foi um início tarde na modalidade. Mas eu sempre fui um cara muito dedicado ao esporte. Sou atleta mesmo, nunca fui de sair, beber. Meu pai sempre colocou na minha cabeça que eu tenho que treinar muito para eu poder chegar no lugar que eu quero”, explicou Patrick Luís de Ana Vieira, que em solo mineiro rapidamente virou Carioca.
Mesmo com seu início tardio no basquete, Carioca não demorou a colher os frutos da troca dos pés pelas mãos. Depois de dois anos de destaque nas categorias de base do UTC (Uberlândia Tênis Clube), o armador foi contratado pelo Unitri/Universo para fazer parte do elenco uberlandense para a disputa do NBB 2010/2011. Mas a concorrência era dura. Durante as duas temporadas em que passou no plantel do atual vice-campeão do NBB, o atleta atuou em apenas cinco partidas da competição nacional.
Porém, o tempo que passou no esquadrão de Uberlândia não foi em vão. Com apenas dois anos de basquete, Carioca teve a chance de treinar diariamente ao lado de jogadores de alto nível e conseguiu “recuperar o tempo perdido”. Com mentores como o experiente armador Valtinho e o norte-americano Robby Collum, o jogador conseguiu evoluir dentro de quadra e aperfeiçoar seu jogo, mesmo tendo jogado muito pouco no maior campeonato de basquete do país.
“Por mais que eu não tive oportunidades de jogar, foi muito bom poder treinar esse tempo todo com jogadores de extrema qualidade. O Robby (Collum) foi um dos caras que mais me ajudou, e inclusive é meu amigo até hoje e sempre nos falamos por mensagem. Ele foi um cara que me ajudou muito, sempre me deu toques sobre o que eu precisava melhorar no meu jogo e todo final de treino me chamava para treinar mais um pouco com ele. Outro que também me auxiliou muito foi o Valtinho, que é um cara de extrema humildade e que eu admiro ele bastante, acho que ele até não sabe disso (risos). Só de eu estar ali observando os caras, sem mesmo entrar em quadra, aprendi muito”, disse.
Agora, mais experiente e completamente recuperado da lesão na tíbia, Carioca está de bem com a vida. Porém o garoto não está satisfeito. Bastante exigente, o armador sabe que precisa melhorar alguns aspectos de seu jogo e inclusive utiliza um de seus rivais na LDB 2013 como exemplo para evoluir em sua posição.
“Eu sou um cara muito autoconfiante, e isso às vezes atrapalha um pouco. Tem momentos do jogo que eu quero chutar uma bola, mas pode ser um arremesso precipitado. O Jefferson me cobra bastante neste aspecto, ainda mais por eu ser o armador do time. Inclusive, eu observo muito o Gegê, do Flamengo, que é um cara que cadencia bastante o jogo, um armador mesmo. Eu sou um cara que pontua bastante, mas preciso saber a hora certa para correr, para chutar e para fazer o time jogar”, explicou.
Para ter boas atuações e despontar para o cenário nada melhor para Carioca do que poder disputar a LDB. Um dos destaques da atual temporada do maior ampeonato de base do basquete brasileiro até o momento, o armador sabe da importância da competição Sub-22 na mudança de patamar de sua carreira.
“A LDB é importante não só para mim, mas também é fundamental para muitos jovens jogadores que estão tendo a chance de aparecer. Para mim, essa temporada, está sendo importantíssima. Estou sendo visto, sendo sempre falado e de certa forma vão ter clubes atrás de mim, o assédio vai aumentar. Até porque, há um ano, eu estava praticamente despercebido lá em Uberlândia e essa LDB para mim está sendo maravilhosa. É um campeonato que eu sempre quis jogar. Agora, estou jogando, sendo bastante elogiado e estou muito feliz com essa oportunidade”, concluiu.
A Liga de Desenvolvimento de Basquete (LDB) é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete (LNB) em parceria com o Ministério do Esporte e tem a chancela da Confederação Brasileira de Basketball (CBB).