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NBB Caixa

Homens de confiança

13-06-2024 | 04:02
Por Juvenal Dias

LNB apresenta profissionais de Sesi Franca e Flamengo que ajudaram as equipes a chegarem na decisão de NBB CAIXA; por fim, os assistentes técnicos Pablo Costa e Fernando Pereira

Sesi Franca e Flamengo buscam o título do NBB CAIXA 2023/24 por causa de sua competência e talento nas quadras. Mas há outros fatores que os ajudam a obter um algo a mais. Além da estrutura para trabalhar, contam com profissionais nos bastidores que são fundamentais para o sucesso de cada equipe. São nutricionistas, fisioterapeutas, preparadores físicos, psicólogos, médicos e mordomos, cujo o trabalho é revertido em arrancadas, saltos, arremessos, enterradas e naquela bola capaz de decidir uma partida. Mas como juntar todas essas informações e definir as melhores estratégias com elas? Esse é um dos papeis dos auxiliares técnicos, os profissionais (assim como todos os demais) de confiança do treinador.

A Liga Nacional de Basquete conversou e fecha a série de profissionais das comissões técnicas dos finalistas do NBB CAIXA, Pablo Costa, do Sesi Franca, e Fernando Pereira, do Flamengo, para entender como é o trabalho de passar tantos dados para Helinho Garcia e Gustavinho de Conti, respectivamente. Além disso, entender como o auxiliar técnico atua no cotidiano do time, o quanto tem de autonomia para trazer um toque a mais para o jogador no tempo técnico e como ajudaram suas equipes a chegar até esse momento decisivo da competição.

As perguntas foram exatamente as mesmas para os assistentes técnicos. Confira o que cada um respondeu e conheça as particularidades que cada clube tem.

Ao longo da série de entrevistas com os profissionais de cada clube, vimos que são muitas informações relevantes de diversas áreas para o técnico analisar. Qual o papel do auxiliar para compilar as informações e filtrar para o técnico?

Pablo: A função do auxiliar técnico, como o basquete, evoluiu muito e a quantidade de informações, de possibilidades de análise que você pode ter tanto da sua equipe quanto da equipe adversária, hoje nós temos. Os argentinos ainda falam que são o treinador principal e o segundo treinador, além de mais auxiliares. Quanto mais pessoas tiverem nessa função para poder ajudar e organizar essa parte é importante demais. O papel do auxiliar técnico é fazer essa análise de tudo que está passando. Primeiramente, no começo da temporada, nós fazemos uma análise muito mais direta da nossa equipe. E depois, durante as partes decisivas das competições, a gente foca nos adversários e passar mais informações detalhadas tanto coletivas quanto individuais dos outros times para que a gente possa preparar o nosso treinamento e o nosso plano de jogo contra cada equipe adversária.

Fernando: Na verdade, o que acontece no Flamengo é uma comunicação direta de cada profissional responsável por sua área com o Gustavo, o que procuramos fazer para não ter muitos contatos, é juntar algumas informações de determinadas áreas e um profissional só passá-las, como exemplo: diretoria/gerência/supervisor, preparação física/nutrição, medicina/fisioterapia. Com isso, o deixamos sempre informado sem fazer contatos em demasia.

Além disso, o auxiliar tem um papel de ajudar nas estratégias e táticas. Quanto que é o seu papel nessas funções? O quanto há de trocas com o treinador?

Pablo: A função do auxiliar é passar o máximo de informações possíveis para o treinador. Ali, eu até algumas vezes brinco, a diferença do auxiliar técnico para o técnico é de sugestão e decisão. Ter o bom senso de entender que é para você ser um assistente técnico e não ser um cara insistente para que seja feito o que você está pensando. Você tem de se moldar com as características do treinador. Já fui assistente técnico do Hélio Rubens (pai), do Lula Ferreira, do Léo Costa, hoje estou como assistente do Helinho. Cada treinador tem a sua característica e o auxiliar técnico tem que ir se moldando e aprendendo como conversar no momento certo. Não levar uma dificuldade para o treinador, trazer mais confusão com as informações. Esse ‘timing’ é muito importante e ter essa situação de passar para ele o panorama tanto pré-jogo como durante o jogo é fundamental. Durante o jogo a dinâmica é muito mais rápida, as informações precisam ser muito mais diretas. No pré-jogo, nós articulamos isso com situações de vídeo e conversas pré-treino para ajudar a equipe a fazer esse plano de trabalho.

Fernando: Por ser o assistente principal e por estar com a equipe o tempo todo, além de ser o responsável pelo scouting, acabo tendo uma participação mais ativa no que se refere a estratégia e plano de jogo em cada partida, levando sempre para as nossas reuniões material das outras equipes (vídeos e números), na qual debatemos juntos aos outros assistentes o plano de jogo ideal, de acordo com aquele adversário e com o perfil da nossa equipe. Em relação as trocas, fazemos isso constantemente, pois estamos sempre juntos nos treinos e viagens, e também o Gustavo me dá total liberdade de dar a minha opinião.

Como funciona a sintonia de ideias entre o que o treinador pensa de jogo e o que o auxiliar pensa? Tem situações que há uma divergência e como é resolvido? 

Pablo: É fundamental que tenha uma sinergia, uma sintonia, porque, caso contrário, é uma relação que não vai dar certo. Para começar, é uma relação de extrema confiança, que o treinador precisa te dar liberdade para ter motivação e se sinta parte integrante do processo de elaboração de tudo. O Léo é meu irmão, temos uma relação direta, mas o Helinho também tenho uma relação muito próxima. Nós jogamos juntos, depois fomos adversários em quadra. Eu fui assistente técnico do pai dele quando ele era jogador, temos uma relação de anos. Isso facilita muito a liberdade para falar, para divergir e chegar em um consenso. Sempre sabendo que a decisão e o posicionamento final é ele que vai tomar e, a partir de um momento que tomamos essa decisão, nós já estamos focados em como fazer o melhor caminho dentro daquilo que foi decidido.

Fernando: Depois de tanto tempo trabalhando juntos (seis temporadas), a nossa sintonia é muito boa, mas nem sempre temos a mesma opinião, algo totalmente normal, porque acho que se sempre o assistente pensar igual ao técnico, ele não precisaria de um assistente. Quando há esta divergência debatemos até alguém ‘ceder’, quando ninguém cede tem de prevalecer a opinião do Gustavo, porque ele é o técnico principal, ele está na frente, passo logo a incentivá-lo a fazermos aquilo e compro totalmente o que ele propõe.

Fernando Pereira é o assistente técnico de Gustavinho de Conti no Flamengo. Foto: CRF

Teve alguma situação que o técnico não enxergava o problema de fato e você apontou uma solução que mudou o jogo a seu favor?

Pablo: Com certeza, divergimos em várias situações e eu acho que isso é bom, é produtivo. Porque se tem uma situação que todos que pensam sempre igual, a dificuldade de você enxergar um panorama diferente tanto na evolução da sua equipe como como análise do outro time, fica limitada. A relação de confiança para saber que, mesmo divergindo, tem situações que é para o bem da equipe e isso é resolvido de uma forma muito tranquila. A gente tem uma relação muito tranquila. O técnico vê o assistente como uma grande função na equipe que pode estar auxiliando ele para visualizar coisas que, naquele momento, não enxergou tanto em uma análise de pós-jogo ou pré-jogo. Lógico que, em vários momentos, é uma decisão conjunta de uma solução. Mudar o jogo acontece a todo momento. É um trabalho de várias pessoas que estão ali para ajudar e conciliar, para que a equipe tenha melhor produtividade.

Fernando: Em um jogo de basquete existem muitas informações que nenhum ser humano consegue perceber todas elas. Porém, o Gustavo é um treinador que tem uma percepção no jogo acima do normal, a maior parte das vezes, quando eu vou falar algo, ele já percebeu e imediatamente propõe algum ajuste. Podem ter acontecido algumas situações que propus algo diferente e deu certo, mas não fico me prendendo a isso, porque seria muita prepotência minha atribuir a minha participação a alguma mudança drástica no jogo.

O quanto dá para atribuir ao auxiliar o fato do time chegar em mais uma final de NBB CAIXA, pensando em participações de treinos, seleção de vídeos dos adversários e outras funções que é incumbida aos auxiliares?

Pablo: Nós temos uma equipe multidisciplinar fantástica! Não vejo a função do auxiliar de chegar em mais uma final, eu sou parte desse todo. Nós temos um trabalho muito bacana da comissão técnica de uma liberdade, de uma coesão em todos os departamentos, dessa equipe multidisciplinar. Nós temos uma gestão fora da quadra também com o Sesi, com o Franca Basquete, com uma estrutura que nos permite também focar 100% no que precisa ser feito do jogo, isso também nos ajuda bastante. É um conjunto com um treinador com uma visão de equipe que consegue fazer uma gestão de pessoas com muita maestria. Essa característica propicia a todos ter muita liberdade e ter muito comprometimento e, ao mesmo tempo, motivação para trazer ideias novas e a formação e poder contribuir com a equipe dentro da sua área.

Fernando: Acredito que não mais do que nenhum outro profissional do nosso time, porque sem o trabalho da diretoria, gerencia, supervisor, médico, fisioterapeuta, nutricionista, massagista, preparador físico, mordomo, motorista, assessor de imprensa, assistentes, analista e etc., não alcançaríamos o que alcançamos nesta temporada, como o Estadual, Super 8, Final da BCLA e agora disputando a final do NBB CAIXA. Sou apenas mais um profissional que busca fazer o seu melhor em prol do basquete do Flamengo.

Quanto é permitido de autonomia para falar com cada jogador individualmente, principalmente (mas também não só) nos tempos técnicos, e com o coletivo?

Pablo: A autonomia e a liberdade para falar com os jogadores, com ele, e nos tempos, é total. Pré-jogo, na partida, é uma relação de muita liberdade. Eu acredito que é uma forma de gestão do Helinho isso. Tenho muita possibilidade de incrementar situações novas, de a gente falar sobre novos sistemas e formas de jogar. Vejo que isso é muito relevante e essa parte de você também ter essa liberdade, em alguns momentos dessa temporada foram muito legais, eu tive 40 dias com a equipe antes do campeonato mundial, que o Helinho estava com a seleção, então dirigir o time por 10 jogos no Campeonato Paulista, depois dirigir alguns jogos no NBB. Por ter essa liberdade, nesses momentos, facilita muito o trabalho do auxiliar técnico para poder estar à frente da equipe em alguns momentos, que também é uma das funções do auxiliar. Assumir em caso do técnico não estar disponível ou alguma situação que possa acontecer em alguma partida. E essa autonomia, liberdade, ela é total. Os princípios que regem a função do auxiliar técnico são você poder desenvolver o seu trabalho e, ao mesmo tempo, colocar as suas ideias sabendo o que a decisão final e toda a hierarquia do processo é do head coach, mas que você também pode desenvolver seu trabalho de forma autônoma e com muita liberdade, e isso facilita muito.

Fernando: Sou muito grato ao Gustavo pela oportunidade e confiança, tenho total autonomia para procurar qualquer jogador individualmente ou coletivamente. E, depois de seis temporadas, acredito que sei, na maior parte das vezes, qual o momento adequado para fazer alguma fala, seja num treino ou jogo, fico muito focado no que ele está falando para saber se existe algum espaço para um informação complementar, e, acima de tudo, relevante. E aí sim, neste momento dou a minha opinião.

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal e Loterias Caixas, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Sportsbet.io, Penalty, EMS e UMP e apoio IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.