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NBB Caixa

Via de mão dupla

05-12-2024 | 09:55
Por Marcius Azevedo

Ricardinho e Jamelão vivem uma relação de aprendizado no Corinthians; o pai é auxiliar técnico da comissão e trabalha com o filho de 17 anos, que faz parte do elenco de Jece Leite

A conversa acontece ao pé do ouvido, na beira da quadra. A semelhança física entre Ricardinho e Jamelão não é uma mera coincidência. Pai e filho vivem uma relação de mão dupla. Ambos estão no começo de suas trajetórias no Corinthians e, todo dia, buscam aprender um com o outro. O pai é auxiliar da comissão técnica e trabalha para, quem sabe, se tornar treinador principal no futuro. O filho, aos 17 anos, é considerado uma das grandes promessas do NBB CAIXA e dá os primeiros passos na equipe profissional para comprovar que o basquete está no DNA da família.

O sorriso de pai e filho é inconfundível. Foto: Beto Miller/Corinthians

“É uma rotina bem legal, porque ele é um menino que, diferentemente dos irmãos, desde pequeno, eu via algo diferente nele. Ele sempre foi muito centrado no que queria, sempre foi muito reto nas coisas que queria. As escolhas que ele fez até agora foram muito acertadas e ele está colhendo esses frutos. Ele trabalha demais, faz tudo certo. Ele dorme cedo, se alimenta direito, bebe a quantidade de água que tem de beber”, elogiou Ricardinho.

O ex-armador tem longa carreira no basquete. Defendeu os quatro grandes do Rio de Janeiro antes da criação da Liga Nacional de Basquete e ainda tem uma Liga Ouro, inclusive conquistando o título, e participou de uma edição do NBB CAIXA em 2016/17, ambas pelo R10 Score Vasco da Gama. Por conhecer os caminhos e já ter trabalhado com os três filhos  – Leonardo, Lucas e o próprio Jamelão foram seus atletas em categorias de base -, Ricardinho se preocupa em cobrar o filho ainda mais do que os outros. Não há espaço para fofocas de um possível favorecimento.

“Para mim, como pai, é um orgulho, e, como técnico, ele sabe disso, foi meu atleta lá atrás, dos 11 aos 15 anos, e agora com 17, vou cobrar muito mais dele do que dos outros. Não quero que as pessoas pensem que eu estou passando a mão na cabeça dele. Eu vou sempre pecar pelo excesso e ele sabe disso. Mas ele é um exemplo para mim dentro do time. A liderança do time, não por imposição, mas pelas atitudes que ele tem. Ele tem o respeito de todos, inclusive dos mais velhos e isso, para mim, é motivo de orgulho”, afirmou.

Jamelão admite que, muitas vezes, o papo com o pai se torna uma discussão. Mas logo essa animosidade é superada. “Temos uma relação maravilhosa. Não afeta nada dentro de casa. Óbvio que discutimos, normal, é o mesmo sangue, pensamos igual, às vezes não, e aí dá problema. Mas é uma relação maravilhosa, querendo ou não, nos amamos e queremos sempre ganhar. Quando você quer ganhar muito, você discute, passa do ponto, pede desculpa e vai vivendo, com muito amor e harmonia”, disse.

Ricardinho com o troféu de campeão da Liga Ouro de 2016 pelo Vasco. Foto: Allan Conti/Divulgação

Diferentemente de LeBron James, que exigiu do filho Bronny que o tratasse pelo nome quando foram jogar juntos no Los Angeles Lakers, na NBA, Ricardinho confessa que Jamelão o chama de pai. “Ele fala pai, chama de senhor, ele é bem respeitoso. Quando ele passa do ponto, ele pede desculpa. É uma relação difícil, não falo que é fácil não, é muito difícil porque é uma linha tênue, mas consigo lidar bem com isso. Dirigi o irmão dele também, mas, com ele, eu tive mais tempo”, disse o ex-armador, que revela que o segredo para ter paz em casa é não falar de basquete após os jogos do Corinthians.

“A nossa relação é muito boa, tanto que em casa quase não falamos de basquete. É para não ter esse estresse. Gostamos de falar muito sobre futebol. Lógico que falamos de basquete. Apenas não comentamos sobre os nossos jogos para não ficar uma coisa muito estressante para ele porque ele tem apenas 17 anos. Depois do nosso jogo, não comentamos nada. Comentamos uma coisa ou outra, saímos para comer e está tudo certo”, contou Ricardinho.

Questionado sobre o que herdou de positivo do jogo do pai, Jamelão cita o arremesso do perímetro. O clima fica um pouco menos descontraído quando o aspecto em seu jogo que precisa ser aperfeiçoado se torna o ponto central do bate-papo. “Preciso melhor na defesa. É um ponto familiar delicado. A defesa é sempre um assunto delicado”, disse o filho. O pai interrompe: “O nome do jogo é baloncesto”, respondeu, abrindo um sorriso, Aliás, outra característica que passou de pai para filho.

Além do pai, claro, Jamelão tem como espelho dois armadores: Yago Mateus, que brilhou no Paulistano e Flamengo antes de ir jogar na Europa (atualmente defende o Estrela Vermelha, da Sérvia) e Elinho, companheiro de Corinthians e líder de assistências na história do NBB CAIXA. “São inspirações para mim. Com o Elinho, eu convívio todo dia, vejo o que ele faz todos os dias e vejo que ele merece tudo que ele vive. É trabalhar muito e ter humildade que um dia chego lá.”

Antes de continuar falando sobre o futuro do armador do Corinthians, vale abrir um parêntese para explicar o apelido. Matheus se tornou Jamelão por causa de um vídeo que viralizou na internet em que um skatista chamado Jamelão faz uma presepada, derrubando os amigos que estão andando com ele de skate em uma estrada. “Foi lá no Vasco. O pessoal mostrava o vídeo e ele ria. Se mostrar agora esse vídeo, ele vai rir. Ele sempre ri”, revelou Ricardinho.

Apelido à parte, Jamelão não quer pular etapas. O armador ainda está com poucos minutos em quadra com o técnico Jece Leite no NBB CAIXA, mas é paciente. Trabalha diariamente para ganhar mais oportunidades. “Todo mundo quer acelerar, quer jogar, mostrar o que sabe fazer, mas vai ser tudo no tempo certo. Confio muito na comissão daqui, sei que vou jogar no momento certo, vou ficar no banco no momento certo e eu confio neles. É um processo, todo mundo passa, querendo ou não, todo mundo passa, sendo difícil ou não, sendo legal ou chato, é um processo que tem de se passar. Estou no caminho certo para tornar as coisas mais fáceis”, afirmou.

Para Ricardinho, o sucesso do filho é apenas uma questão de tempo e confio que ele pode se tornar melhor jogador do que ele foi. “Tomara que seja muito melhor do que o pai. O caminho é longo, mas ele está no caminho certo. Foi MVP de Sul-Americano, foi campeão sul-americano, que nem o pai, foi campeão de CBI, vice-campeão da LDB, campeão paulista. Está no caminho certo. Tem tudo para ser melhor do que eu e tomara que seja melhor do que eu.”

De fato, Jamelão já mostrou nas categorias de base que tem muito potencial. Agora é ter paciência, trabalhar e, claro, aproveitar essa via de mão dupla na relação com o pai.

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Sportsbet.io, Penalty e UMP e apoio oficial Infraero, IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.