#JOGAJUNTO

LNB

Palavrasde ouro

17-07-2017 | 08:14
Por Liga Nacional de Basquete

Respeito, admiração e saudades: personalidades do basquete brasileiro relembram trajetória do Dr. João Paulo Rossi, um “médico de almas”

Dr. Rossi, ao lado de Ary Vidal, esteve presente na histórica conquista do ouro nos Jogos Pan-Americanos de 1987 (Arquivo/CBB)

O basquete brasileiro sofreu uma grande perda no último final de semana. No último sábado (15/07), faleceu o Dr. João Paulo Rossi, médico que prestou inúmeros serviços à modalidade da bola laranja no Brasil e pai do atual presidente da Liga Nacional de Basquete (LNB), João Fernando Rossi.

Durante um longo tempo, João Paulo Rossi foi médico do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) e esteve em nada menos que cinco Olimpíadas. Antes disso, como atleta, jogou no EC Pinheiros entre as décadas de 40 e 60 e chegou a jogar ao lado de lendas como Amaury Pasos, Wlamir Marques e Jatyr.

Em um período como treinador de basquete, comandou as categorias de base do EC Sírio e foi o responsável por revelar o ex-jogadores Nenê Sucar, campeão mundial em 1963 e duas vezes medalha bronze nos Jogos Olímpicos (1960 e 1964) com a Seleção Brasileira.

Mas um dos momentos mais marcantes de sua carreira foi a participação nos Jogos Pan-Americanos de 1987, em Indianápolis. Como médico da equipe brasileira masculina de basquete, fez parte da delegação que marcou época ao vencer os Estados Unidos na decisão e conquistar a medalha de ouro.

Além de referência no ramo esportivo e da saúde, João Paulo Rossi sempre foi um homem querido e respeitado por todos à sua volta. Ainda como médico, chegou a trabalhar de graça para o Continental (SP), onde seu filho, o atual presidente da LNB, João Fernando Rossi, jogava.

Ao longo de sua carreira, conviveu com diversos ícones do basquete e do esporte em geral. Nesta publicação, foram reunidos depoimentos de pessoas ligadas a João Paulo Rossi, que como definiu bem o ex-jogador André Brazolin, era um “médico de almas”.

Confira os depoimentos:

Marcel de Souza – ex-jogador da Seleção Brasileira e campeão do Pan de 87

“O João Paulo Rossi foi médico do COB enquanto fui atleta, foi aí que se deu nosso contato. Estivemos juntos em Olimpíadas e em Jogos Pan-Americanos, um deles aquele de 1987 nos Estados Unidos. Ele era uma pessoa muito divertida, muito legal, positiva. Fui duas vezes técnico do Pinheiros, e ele sempre fazia questão de participar de tudo. Foi uma pessoa muito simples com tudo que tinha, sempre positivo, pra frente, sem problemas. Vemos o reflexo da pessoa dele na educação que deu aos filhos. O João Fernando (presidente da LNB) nem preciso falar, o João Manoel estava entrando na faculdade quando eu estava me formando, e o João Paulo me lembro de juvenil. Ele realmente criou uma família muito bonita. Éramos colegas de profissão, costumávamos dar risada juntos, era um excelente companheiro que tive”.

Magic Paula – ex-jogadora da Seleção Brasileira

“Ele sempre esteve mais ligado ao basquete masculino, mas nas Olimpíadas de Atlanta em 96 nos aproximamos pois ele acompanhava todos os jogos. Depois disso sempre o encontrava nos eventos de basquete, por conta do Pinheiros e da forte ligação dele com a modalidade. É um cara que respeito e admiro muito. É um cara que viveu o esporte, colocou os filhos no esporte e sempre foi um apaixonado. Com certeza ele é dono de um caráter que a gente nunca vai esquecer”.

Cláudio Mortari – ex-técnico da Seleção Brasileira e do Pinheiros, onde conviveu com João Paulo Rossi

“Foi uma vida toda dedicada ao basquete, uma história muito brilhante e que deve ser preservada e que merece o respeito de todos as pessoas envolvidas na modalidade. Tínhamos contato direto no Pinheiros. Em toda minha trajetória lá ele sempre me aconselhou muito, sempre com opiniões valiosas e que carregarei para o resto da minha vida. Não chegamos a ter um convívio direto na minha época de Seleção Brasileira, porque havia um revezamento grande entre os médicos da época, mas ele sempre esteve por perto. Na Olimpíada de Moscou ele não foi o médico do basquete, mas esteve no corpo clínico do COB. Ele sempre foi uma pessoa muito confiável, bastante incentivadora. A morte dele foi uma notícia realmente muito triste e todos nós temos que lamentar, pois uma grande pessoa nos deixou”.

Jorge Guerra, o Guerrinha – ex-jogador da Seleção Brasileira e campeão do Pan de 87

“O Dr. Rossi era o médico do COB e esteve em várias Olimpíadas e Jogos Pan-Americanos. Na vila olímpica todas as modalidades eram uma família e ele sempre esteve lá, junto de todos. Ele era o médico do basquete, pois toda a formação dele veio com o basquete no meio. Ele jogou basquete, foi técnico de basquete. Ele era uma pessoa calma, sensacional, do bem, passava energia diferenciada, e nos ajudava muito no jogo, em momentos de estresse ele ia lá e nos acalmava, o que mostra que além de médico, era como um assistente do basquete, dando uma palavra de consolo, um carinho. Sempre foi uma pessoa muito discreta, positiva. Sempre que eu ia jogar no Pinheiros eu o procurava para dar um abraço, pois sempre foi uma pessoa muito querida. Nunca falei isso a ele, mas o Dr. Rossi significava e ainda significa muito para mim”.

André Brazolin –  ex-jogador que conviveu com João Paulo Rossi nos tempos de médico no Continental

“Tem pessoas no mundo que deveriam ser eternas, e ele é uma dessas. Ele só fez bondades nessa vida. Apesar da grandeza como médico, a prioridade dele era o ser humano. Ele não era só um médico, era um médico de almas. Se preocupava com a vida dos atletas, com família, nunca deixou de atender ninguém. Sempre foi respeitado, não só na medicina, mas pelo lado pessoal mesmo, pois ele era um verdadeiro paizão de todos. Com ele era um minuto de consulta e outros 59 minutos de amizade, carinho, respeito, conselhos. Como médico o Brasil nunca terá igual. É um verdadeiro mito da medicina. Ele é imortal.

Naquela época o Continental não tinha muito dinheiro, mas era um clube que vivia de pessoas que colaboravam. O Nando (João Fernando Rossi, filho) jogava comigo. Não tínhamos estrutura, mas tínhamos o melhor médico do Brasil. Ele cuidava da gente, gastava do próprio bolso quando precisava e tinha orgulho disso. Sempre passou muita segurança a todos, já levou muito atleta machucado pra casa à meia noite, madrugada, e no dia seguinte perguntava se estava bem. Nas consultas ele primeiro passava a mão na cabeça, dava um beijo no rosto, um abraço, e aí sim começava a consulta… Ele é importante, um médico de almas. Certamente sua missão foi cumprida nessa Terra”.

Wlamir Marques – ex-jogador da Seleção Brasileira que jogou com João Paulo Rossi em uma seleção paulista

“Fui bicampeão brasileiro juvenil pela seleção paulista e em um dos anos joguei com o Dr. Rossi, em 1953 em Florianópolis. Nos encontrávamos pouco, mas sempre que acontecia era uma festa. Éramos jovens naquela época, eu tinha 16 anos. Ele era uma pessoa muito, mas muito legal, muito prestativo. Sempre que a gente se encontrava era uma festa, porque voltávamos a ser criança falando sobre coisas do passado. Fiquei muito sentido com a morte dele, pois ele era uma pessoa maravilhosa, assim como os filhos. É um cara que merece todas as homenagens”.

Nenê Sucar – ex-jogador da Seleção Brasileira revelado por João Paulo Rossi na base do EC Sírio

“O Rossi foi meu primeiro técnico, na primeira equipe juvenil que foi feita no Sírio. Ele jogava na equipe principal do Sírio e foi meu técnico, quando eu tinha uns 15 ou 16 anos. Sempre foi um cara super bacana, companheiro, sempre nos levando para cima. Tínhamos adversários duros naquela época, mas sob o comando dele chegamos a ser vice-campeões. O Rossi foi um cara muito importante para o esporte em geral. Como médico era excelente também, tanto que foi para cinco Olimpíadas, mas como médico geral, de todas as modalidades, não só do basquete. Chamávamos ele de ‘rosca’, um apelido que demos a ele (risos). Foi uma pessoa linda e muito importante para nós. Eu estava começando no esporte competitivo, mas ele sempre foi carinhoso, cuidou e orientou. Com certeza teve uma importância muito grande para mim e para o esporte”.

Cadum Guimarães – ex-jogador da Seleção Brasileira e campeão do Pan de 87

“Ele sempre esteve presente nas Seleções e esteve ao nosso lado no Pan de 1987. Era muito atencioso e um cara de total confiança, me sentia seguro com ele. Sempre fui amigo da família dele, convivi com os filhos, ele era amigo do meu pai. Inclusive, ele foi o médico que tratou do meu pai enquanto estive jogando um Mundial na Argentina, em 1990. Ele sempre deu atenção à minha família, sou muito grato a ele. Sempre tive e tenho um carinho especial pela família dele também. Com certeza ele é daquelas pessoas que deixam um buraco no mundo. Era uma pessoa realmente sensacional”.