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LDB

PRANCHETA DO GUSTAVINHO - A IMPORTÂNCIA DOS ARMADORES!

22-09-2022 | 04:13
Por Gustavinho Lima

Em mais um capítulo de sua série de artigos no site da LNB, Gustavinho atesta sobre a importância dos armadores no basquete com exemplos da LDB 2022

Somos feitos de um apanhado de influências. Da criação, da cultura, dos ambientes de convívio e dos meios em que estamos inseridos. O esporte se molda com esses aspectos, apresentando novas tendências de acordo com a evolução e modernidade.

A Liga de Desenvolvimento de Basquete em 2022 vem mostrando novos conceitos táticos sendo postos em prática e jogadores se destacando pela capacidade de acompanhar as novas ondas do basquete internacional.

No mundo globalizado, o acesso à informação está disponível para praticamente todos e se dá bem quem consegue absorver novas ideias e mesclar com padrões mais conservadores para uma nova filosofia de jogo.

Uma tendência de sucesso para uma equipe que não é de hoje, é ter um bom armador. O jargão é verdadeiro: o armador costuma ser “o cérebro da equipe, o técnico dentro de quadra”. Em espanhol, armador é chamado o base.  E com todo respeito às demais posições, o armador é a BASE de um time vencedor. Há exemplos frescos que evidenciam essa suposição.

Na Copa América, vimos o base argentino Facundo Campazzo jogar o fino e abocanhar a medalha de ouro. No Eurobasket, o base espanhol Lorenzo Brown dominou as ações ofensivas e se sagrou campeão da Europa. Na NBA, vimos Curry deitar e rolar na final e vencer mais um anel pelo Golden State Warriors. Assistimos de perto no último NBB Georginho de Paula, um “filho da LDB,” ser imarcável e liderar o Franca ao título.

Com exceção do Curry (que é um fenômeno), nenhum deles ganhou MVP nesses torneios. O que é mais intrigante, pois conseguem ter o seu papel de destaque e ainda tornar melhores os seus companheiros.

Esses são armadores com características totalmente distintas, mas com um fator super importante em comum: a agressividade! Com o passar dos anos, o armador deixou de ser aquele jogador que só organiza as jogadas e não tenta a cesta. Muitos ainda têm uma mentalidade que eu, como ex-armador, aprecio muito: o “pass first” (primeiro passe).  Ou seja, preferem organizar as jogadas e municiar seus companheiros antes de tentar a finalização.

Atentos ao que o jogo pede atualmente, um jogador que não tem agressividade em relação ao aro se tornou obsoleto em 2022. A LDB acompanha essa nova propensão e entre os oito classificados para as finais temos armadores com essa habilidade de liderar e fazer cestas.

Os técnicos dentro de quadra na Liga de Desenvolvimento – Líderes com boas opções na armação

Quem vem jogando numa intensidade impressionante é Adyel Borges. Cria das categorias de base de Franca, deu seu grande salto de qualidade ao se tornar armador titular da equipe do Paulistano.  Adyel é craque e ter a “chave do time” fez muito bem ao armador. Vem sendo o destaque do CAP, o único invicto na competição, liderando o grupo B.

Adyel Borges, armador do Paulistano (Deco Pires/LNB)

Acompanhando o basquete jogado na NBA, ele puxa o ritmo de maneira frenética. Muito atlético, corre a quadra o tempo todo, sempre abusando da criatividade. Tem 16,9 ppj, sendo capaz de pontuar através de infiltrações, enterradas e bolas de três. Enxerga bem o jogo e costuma arriscar passes geniais no meio da defesa adversária. Com ótima envergadura para a posição 1, Adyel é muito bom defensor. Pressionando quadra inteira os rivais, força muitos turnovers e “bate muitas carteiras”. Rouba 3,3 bolas por jogo em somente 25 minutos em quadra. Já deixou jogos com 30 pontos no Campeonato Paulista adulto e sem dúvida será essencial no esquema do coach Demétrius Ferraciú pro NBB.

Matheus Buiú vem atuando na posição 2 ao lado de Adyel, mas também pode jogar como 1.

Buiú tem capacidade para marcar pontos de diversas formas. Vai muito alto nas bandejas e tem bom tiro de três pontos.

O Pinheiros, líder do grupo A, também se beneficia por ter ótimos jogadores na armação. Tico Faria é destemido em quadra! Muito ofensivo em relação à cesta. É um armador pontuador que costuma aparecer em momentos decisivos das partidas. O “baixinho” de 1,79 só tem dois jogos abaixo dos 12 pontos nesta temporada. Anota 13,3 ppj, vem melhorando sua leitura no pick and roll e tem 4 assistências de média.

No banco do Pinheiros ainda tem outro bom armador. O ligeiro Joãozinho Capela tem um jogo muito plástico e sempre faz jogadas de efeito quando entra. Ainda peca pela regularidade, mas traz flashes dignos de top 5. O time azul e preto está muito bem servido e parece não ter sentido a saída do ótimo Gabriel Campos para o Corinthians.

Diferentes camisas mas o mesmo ideal

O talentoso Gabi Campos é um jogador que foi contratado pelo alvinegro do Parque São Jorge para jogar no adulto e até o momento atuou em apenas duas partidas na LDB, onde ainda não encaixou seu melhor jogo. Felipe Dalaqua então dividiu a responsabilidade de armar a equipe com outro Gabriel, o Landeira, e rendeu bons frutos.

Dalaqua não fugiu à sua característica de ser um arremessador e lidera a LDB em chutes de três convertidos (31). Já Landeira trouxe na sua bagagem por passagens no basquete europeu um jogo mais cadenciado e inteligente com ótimas decisões. Tem 11,9 ppj e 3,4 apj.

No basquete moderno não são só os pequenos que criam as jogadas e no Corinthians a bola constantemente passa pelas mãos do point-center (pivô-armador) Alê Ludwig, que pela leitura de jogo é uma espécie de segundo armador em quadra.

Já o São Paulo tem visto dois armadores “ex corinthianos”, Jean e Pedro, sendo peças chave na classificação para a fase final. Jean foi o líder de assistências da LDB jogando pelo rival em 2021 e agora, mesmo baixando um pouco os números (3,4 apj) no tricolor, é cabeça pensante e líder da equipe dentro de quadra.

Jeanzinho sabe aproveitar e envolver os bons chutadores do time. O SPFC é o time que mais mata bolas de 3 três pontos na competição. Pedro é um dos cestinhas do time (13,4 ppj) e vem tirando proveito desse alto volume de arremessos. Muito afiado, tem média de três bolas triplas convertidas por jogo com 39,1% de aproveitamento.

O motor, “o ladrão”, o novinho e o cérebro

No Cerrado o motorzinho da equipe é Robsinho. O armador é quem mais permanece em quadra pela equipe candanga (35 mpj). Muito rápido, “fura” as defesas adversárias, ora pra passar, ora para pontuar. Faz um pouco de tudo, tem 12,3 p, 5,8 reb, e 4,7 passes para cesta.

Robsinho, armador do Cerrado (Deco Pires/LNB)

Outro que precisa ser enaltecido é Ruan Miranda. Mesmo com seus 2,04m, vem correndo muito bem a quadra, driblando ou sem bola para finalizar. É praticamente um “point-forward” (armador-ala/pivô). Anota 18,5 ppj e tem 25,9 de eficiência, a melhor do campeonato. Já foi peça importante no elenco do Cerrado no NBB em 21/22 (12 ppj e 6,9 reb) e essa edição da LDB sem dúvida está sendo fundamental para que tenha mais volume de jogo e exerça maior protagonismo.

Na classificação inédita do Praia Clube para a fase final, quem literalmente roubou a cena foi Ale. O armador roubou incríveis 11 bolas em um jogo só e lidera o campeonato nesse fundamento (3,5 br). Alternando bem o ritmo do jogo, é o cestinha da equipe de Uberlândia e também o melhor passador: 15,3 pontos e 5,4 assistências por jogo.

Alê, armador do Praia Clube

Da nova geração, o jogador que mais chama atenção é João Guizardi, de Bauru. Não é fácil atingir a maturidade necessária para comandar uma equipe aos 18 anos. Mas Guizardi esbanja equilíbrio e regularidade. Com muita categoria, faz 13,8 e tem boa visão, deixando 5,7 vezes seus companheiros livres para anotar.

São José dos Campos tem no jogo coletivo sua principal arma. Tem um armador puro arquitetando as ações do ataque. Léo Abreu dá 7,6 assistências e é do tipo clássico, desses que fazem a bola correr e não tentam tantos chutes. Mas consciente de que muitos times, para evitar que distribua o jogo vão apostar no seu arremesso, vem melhorando seu tiro de longa distância (37,5 % de para 3 pontos) e no campeonato Paulista sub-20 vem colecionando triple-doubles.

A evolução do esporte é constante, e gosto muito de jogadores versáteis que podem atuar em mais de uma posição. Ou do pivô que pega o rebote e sai batendo, dos grandes chutando de três pontos e dos ataques cada vez mais acelerados.

Acredito que a mudança é uma virtude! Contudo – neste caso podem me chamar de conservador -, mas por mais que mude não acho que o basquete pode ser jogado sem bons armadores. Afinal, que treinador vai abrir mão de ter o seu “técnico dentro de quadra”?

E nesse quesito a fase final da Liga de Desenvolvimento de basquete está muito bem servida!