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"Quero serexemplo"

30-04-2020 | 07:30
Por Liga Nacional de Basquete

Em bate-papo na live do NBB, Raulzinho também falou sobre início de carreira no Minas, NBA e desejo de defender a Seleção no Pré-Olímpico: “falei que queria jogar”

Raulzinho foi o convidado da live do #BasqueteEmCasa no Instagram do NBB (Divulgação/NBA)

Passado, presente e futuro. Assim foi a dinâmica do bate-papo de Raulzinho Neto, armador do Philadelphia 76ers (NBA) e da Seleção Brasileira, com a repórter Giovanna Terezzino durante a live da campanha #BasqueteEmCasa no Instagram do NBB (@NBB), realizada na última quarta-feira (29/04).

O jogador falou diretamente de Salt Lake City, onde está passando seu período de quarentena ao lado da namorada há quase um mês, realizando treinamentos e sendo monitorado frequentemente pelo staff do Sixers.

Revelado pelo Minas, o armador nascido em BH relembrou sua passagem pelo Minas Tênis Clube, onde jogou três temporadas do NBB, e dissecou cada passo de sua carreira. Aos 28 anos, Raul ainda falou sobre sua atual temporada em Philadelphia e a situação do time com as paralisações.

Inspirações, Seleção Brasileira, momentos marcantes e até um time dos sonhos foi montado por ele nessa live, que acontece todas as segundas, quartas e sextas-feiras no Instagram do NBB.

A carreira de Raulzinho começou em Poços de Caldas (MG), depois teve passagens por Bauru e Minas, tudo isso ainda na base. Despontou no adulto do Minas cedo e, aos 19 anos, partiu para a Espanha, onde ficou por cinco anos (Lagun Aro e Múrcia).

Em seguida, foi escolhido na 47ª posição do Draft de 2015 pelo Atlanta Hawks, mas acabou indo para o Utah Jazz na mesma noite. Em Salt Lake City, foram quatro anos. Agora, mais maduro, é jogador do Philadelphia 76ers em seu quinto ano na NBA.

Confere aí como foi a resenha! 

Paralisações na NBA e nos Estados Unidos

“Aqui em Utah está um pouco mais controlada a situação do Covid-19, diferente de New York e Philadelphia. Não tiveram tantos casos, então estão começando a abrir lojas aos poucos. Falaram que terão Estados que abrirão restaurantes e cinemas com limite de pessoas, começar a abrir comércio novamente… Até os CT’s de alguns times também começarão a ser abertos, mas não quer dizer que a temporada vai voltar. Mas, de uma forma geral, estamos um pouco mais avançados que o Brasil nesse sentido”.

“Faço reuniões todo mês via videoconferência para os técnicos e todo o pessoal do Sixers ficarem na mesma página. Eles monitoram como está cada um, se está treinando ou não, se está tendo alguma dificuldade de executar os treinamentos em casa, onde cada um está… Teve jogador que foi para Miami, Nova York, cada um na sua cidade. A reunião é para eles atualizarem a situação e também para nos passarem o que a NBA vai decidindo, sobre chances de voltar, quão avançadas estão as conversas, etc…”.

Amadurecimento no Minas

“No Minas passei por um processo de amadurecimento, tanto dentro quanto fora de quadra. Aprendi a cuidar do corpo, quando treinar, quando descansar… Na quadra aprendi muito com os veteranos, principalmente os armadores. Eram Facundo Sucatzky, que sempre foi o titular enquanto estive lá, e o Luiz Felipe (Lemes). Foi uma transição ótima e por isso sou muito grato ao Minas pela oportunidade que eles me deram de ser tão jovem (16 anos) e já jogar no profissional”.

Raulzinho, do Minas, e Valtinho, do Uberlândia

Raulzinho desde cedo atuou em alto nível com a camisa do Minas no NBB (Divulgação/LNB)

Aos 17, Revelação do NBB

“Apesar de ter ficado com o troféu de Revelação do primeiro NBB aos 17 anos, sempre tive objetivos de crescer. Meu pensamento era: se em um ano ganhei Revelação, nos próximos quero ganhar Armador do Ano, MVP, e por aí vai… Sempre me mantive tranquilo para não deixar que nada tirasse minha concentração. O importante para chegar longe é visualizar algo maior, sempre. Ganhar aquele prêmio não queria dizer que tinha cumprido meu objetivo. Meu caso dentro de casa, meus técnicos, sempre ajudaram a me manter com a cabeça no  lugar, não deixar que achar que era o melhor”.

Primeiras inspirações

“Tive muitos exemplos de pessoas que eu me espelhava. Meu pai (Raul Togni, ex-jogador e técnico), sempre foi a inspiração, por estar mais perto. Sempre tive atletas que via jogar e queria ser igual. Na minha época de base em Bauru tinham muitos bons atletas, mas o Leandrinho era diferente. Ele era jovem, tinha 19 anos eu acho, mas já mostrava um talento absurdo.  Ele jogou pouco mais de um ano em Bauru e já foi para a NBA”.

“Depois que fui para o Minas, comecei a jogar na Seleção, também com o Leandrinho, comecei a ter mais contato com o Marcelinho Huertas. Ele é um cara incrível e foi nele que me espelhei, queria ser igual, tanto dentro quanto fora de quadra. Esses dois são os caras que me ajudaram e me davam a vontade sonho de um dia ser igual a eles”.

“Antes deu ir pra Espanha eu já me inspirava no Marcelinho Huertas, que naquela época já estava atuando no mesmo nível do Sergio Llulll, Sergio Rodriguez… Então eu sempre tentava ver como Huertas fazia, atacava, defendia, e isso me preparou para competir contra esses jogadores do nível dele. Não foi fácil, sofri para jogar contra esses caras, e contra o Huertas também, mas ter ele na Seleção, me ajudando, me dando dicas, me preparou para chegar na Espanha e sentir menos dificuldade do que poderia”.

As diferenças entre Brasil, Europa e NBA

“No Brasil eu comecei a me destacar bem cedo, então era um jogador que na base podia fazer basicamente o que queria. Por isso, as decisões não eram as melhores muitas vezes. Quando fui para a Espanha vi que o nível de detalhes é absurdo. Um erro custa muito caro lá. É um jogo mais pensado, mais baseado em movimentação. Principalmente como armador, tive que aprender a respeitar o espaço de cada um, sentir o jogo, não forçar bolas. Já senti de cara essa diferença para o Brasil. Já quando fui para a NBA meu baque foi em relação ao físico. Nos meus primeiros treinos eu pensei ‘meu Deus, o que eu vou fazer aqui’. Não conseguia fazer uma bandeja, então o nível físico me assustou muito nos primeiros dias. Depois você vai se adaptando. Portanto, a dinâmica do basquete espanhol e o físico do basquete da NBA foram as grandes diferenças que senti entre as minhas transições.

Raulzinho pousou ao lado de Adam Silver na noite do Draft NBA 2013 (Divulgação/NBA)

A noite do Draft

“O Draft é um sonho. Sempre fui um cara que tenta manter os pés no chão. Tudo que conquistei teve um preço, um trabalho por trás. Tive meu pai ao lado, um dos meus melhores amigos que estava por Nova York lá… Era um sonho, mas ao mesmo tempo eu sabia que faltava um passo. Sabia que tinha sido draftado, mas que ainda não tinha assinado, faltavam outras coisas antes de fechar, estrear. Então ao mesmo tempo que foi um sonho, emocionante, eu ainda sabia que faltava algo. Mas felizmente tudo deu certo no final. Certamente foi um dos momentos mais marcantes da minha carreira. Ouvir seu nome sendo chamado, independente da posição, é algo indescritível”

 

Os altos e baixos em Utah

“Foi uma fase de adaptação em Utah. Quando cheguei aqui foi tudo novo. Idioma, maneira de treinar, estrutura da NBA… ficou foi uma fase marcante, principalmente no primeiro ano. Já tive oportunidade de ser titular logo no início, então já cheguei na NBA com uma responsabilidade grande, com minutos, então tive que aprender e me adaptar ‘na marra’. Foi meu primeiro ano, tive muito aprendizado, mas passei uns apertos, pois me jogaram dentro da cara e foi como um ‘vai, joga aí contra o Westbrook, Chris Paul’, então não tem melhor maneira de aprender (risos)”.

“Depois, nos anos seguintes, fiquei na luta por minutos, comecei a nem ser relacionado, até virei o 4º armador. Segui brigando por espaço, depois tive algumas lesões que me atrapalharam quando eu estava bem. Mas no geral, foram 4 anos de muito aprendizado, que que me prepararam para me manter focado como estou hoje”.

O lado psicológico na NBA

“O que me afetava muito nesses momentos difíceis era mais o lado psicológico do que outra coisa. No Utah eu cheguei a ficar, 11, 12 jogos sem entrar. Ai no 13º eu jogava 20, 30 minutos. Então tinha essa responsabilidade de render mesmo depois de muito tempo sem jogar. O mental se trabalha muito nesse momento. Hoje comecei a lidar comecei a lidar melhor. Às vezes meditando, visualizando coisas positivas, isso me deixa mais preparado do que eu era nos primeiros anos. Ficava com raiva dos técnicos, mas percebia que isso acabava se voltando contra mim. Me lesionava porque eu estava estressado, muito negativo, então comecei a lidar melhor com isso no meu 5º ano agora. Realmente não é fácil, são muitos fatores que tem que trabalhar pra não afetar e manter a cabeça boa”.

Jogadores que o impressionam

“São vários jogadores que me deixam de queixo caído quando jogo contra. Poderia fazer uma lista de uns 30… Mas o Steph Curry é fora de série. Todo mundo já sabe como ele é, nem preciso falar muito. Posso falar vários outros armadores, que é minha posição, como Kyrie Irving, Damian Lillard sempre deu trabalho, Westbrook é fora de série também… Marcar esses caras não é tarefa fácil. Mas se for para escolher um, é o Curry, ele é realmente fora de série”.

Os parças na NBA

“Fiz muitos amigos ao longo desses 5 anos na NBA. O Rudy Gobert (Jazz) e eu fomos draftados no mesmo ano, passamos versões juntos treinando, então criamos uma amizade muito boa. Atualmente o Kyle O’Quinn (76ers) é um grande amigo meu. Tem vários caras que a gente cria intimidade, são muitos, passamos muitos treinos e momentos juntos. Ricky Rubio (ex-Jazz e atualmente Suns) é um cara que me ajudou bastante, um veterano na NBA, que me ajudou muito a lidar com momentos de dificuldade. E não posso deixar de citar o Joe Ingles (Jazz), passamos 4 anos em Utah juntos e ele é um cara sensacional também, até comentou aqui na live (risos)”.

Português e futebol com Joel Embiid

“Ele é um cara muito legal. Quando cheguei em Philadelphia ele chegou falando umas coisas em português, brincando. Às vezes ele pergunta coisas do Brasil, adora futebol, conversamos sobre os jogadores… Somos bem parecidos nos gostos. Ele gosta de futebol, adora o Brasil, da comida do Brasil. Ele foi com a namorada e gostou muito, então isso nos dá bastante conversa e cria uma relação muito boa entre nós”.

Novo desafio em Phila

“Foi uma mudança grande para mim. Depois de 4 anos em um time, ir para outro completamente diferente, time, técnicos, cidade, staff… Não só os jogadores, mas a cidade influencia bastante também, e Phila e Salt Lake são completamente diferentes. Foi bom para mim. Eu estava numa zona de conforto, eu sabia onde era tudo, já tinha meu lugar, então foi muito sair dela e vir para um novo desafio. Todos aqui no Sixers têm um pensamento coletivo, todos brincam, têm o mesmo objetivo. Apesar de os resultados não terem sido o que nós e a mídia esperavam, temos um grupo fechado e sabemos que se houver Playoffs teremos condições de brigar pelo título. Só precisávamos melhorar nosso entrosamento, pois são muitos jogadores novos, estrelas jogando com outras estrelas por muito tempo… então estamos confiantes para a sequência da temporada”.

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Relação com o Brasil

“Tenho muitas amizades no Brasil. Fui para Bauru em 2017 ver a final do NBB contra o Paulistano porque tinha muitos amigos em quadra. São essas amizades me mantém perto do basquete brasileiro. Em relação aos fãs, é o carinho que eles têm por mim que faz sempre eu tentar me aproximar quando consigo. É a maneira que tento retribuir, fazendo camps, dando atenção, respondendo fãs quando consigo. É o mínimo que posso fazer para retribuir o carinho que todos eles têm por mim e pelas amizades que fiz. Eu adoro isso”.

O baile contra a Argentina em 2014

“Esse certamente foi o jogo mais marcante da minha carreira. Não só por ter sido contra a Argentina, mas porque não últimas competições, que foram Mundial de 2010 e Olímpíadas de 2012, fomos eliminados por eles. Estavam entalados, pegamos eles nas oitavas do Mundial de 2014 na Espanha. Todo mundo se motivou muito a ganhar. Ninguém esperava que eu ia sair do banco e ter o desempenho que tive, e ainda ganhar de mais de 20 pontos. Foi muito marcante”.

Seleção Brasileira e o Pré-Olímpico

“Sempre quero defender a Seleção Brasileira, desde que não me coloque em risco, ou então algum contrato. Como todos sabem, existem algumas coisas que às vezes que nem me envolvo, coisa de seguro e etc… Mas minha vontade é sempre jogar com a Seleção. Inclusive eu já tinha até conversado com o Petrovic, falei que queria jogar o Pré-Olímpico, mas infelizmente foi adiado, não sabemos quando será. Mas eu estava, sim, preparado para disputar esse campeonato e ajudar a Seleção”.

Pergunta dos fãs: dicas para ser um armador

“Minha dica para quem quer ser armador, primeiro de tudo, é assistir muito basquete. Cresci com meu pai, indo em jogo e treino, sempre amei assistir basquete, então aprendi muito com isso. Treinar muito, mas principalmente, se eu for citar três coisas essenciais para um armador, seriam o drible, controle de bola, o passe e o arremesso. Armador no basquete moderno tem que ser mais agressivo e se não tiver um bom arremesso você praticamente não consegue ser tão efetivo, comparado com as outras posições”.

Time dos Sonhos

“Se eu fosse fazer um quinteto, me colocando de armador, para jogar a vida toda ao lado, começaria pelo Leandrinho de ala, por ser um cara que me espelhei no início da carreira, jogar com ele ao lado é sempre bom. Colocaria o Joe Ingles (Utah Jazz), é um grande jogador e uma pessoa fantástica. De ala/pivô teria o Anderson Varejão. Tenho muito carinho e devo muito a ele por tudo que fez por mim. De pivô, pela qualidade, por estar conhecendo e ter muito carisma, coloco Joel Embiid (76ers). Me identifiquei muito com esses caras e por isso gostaria de tê-los no meu time dos sonhos”.

O sonho de ser exemplo

“Quero chegar o mais longe possível na NBA. Por ser brasileiro, ter saído da base do Brasil, quero chegar no nível que chegaram Nenê, Leandrinho, Varejão… Visualizo até m ais longe, mas isso seria um sonho. Ser exemplo para tanta gente no Brasil, para os fãs de basquete, é meu sonho. Mais do que ganhar um título, um MVP, ser esse exemplo de atleta e pessoa é o que eu tenho como objetivo. Claro que títulos e prêmios gratificam ainda mais a carreira, mas eu sonho com esse status de exemplo e referência para o meu país”.

Cria do Minas, Raulzinho é um dos principais brasileiros na NBA

O NBB é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete (LNB), com chancela da Confederação Brasileira de Basketball (CBB) e em parceria com a NBA, e conta com os patrocínios oficiais da Budweiser, Unisal, Nike, Penalty, Plastubos e VivaGol.