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Liga Ouro

Relatos deuma batalha

21-06-2018 | 03:16
Por Marcel Pedroza

Algumas histórias tornaram o épico jogo de quatro prorrogações ainda mais especial: confira crônica especial da partida insana entre Corinthians e São José

60 minutos de muita emoção e muitas histórias para contar: Jogo 3 das Finais da Liga ouro 2018 entrou para história do basquete nacional (Arthur Marega/São José Basketball)

A emoção proporcionada pelo basquete atingiu um nível poucas vezes visto. Se uma partida normal for decidida na prorrogação, o coração de todos os envolvidos – atletas, comissão técnica, torcida e até mesmo daqueles que estão trabalhando no jogo – vai bater mais forte. Mas uma partida válida pelas Finais de um campeonato nacional ter seu vencedor declarado após quatro prorrogações é algo difícil até de ser explicado.

+Estatísticas, fotos, vídeos e a matéria completa da “Batalha do Lineu de Moura”

Para todos os que estavam presentes no Ginásio Lineu de Moura – inclusive este que vos escreve – a noite de 20/06/2018 ficará para sempre na memória. Como não lembrar da tensão no ar toda vez que o cronômetro ia chegando nos segundos finais? É mais do que se recordar de um grande jogo de basquete, mas sim sentir uma emoção descomunal, mesmo não estando envolvido diretamente com nenhuma das duas equipes.

A “Batalha do Lineu de Moura” – vencida pelo Corinthians, por 122 a 115, após “uma partida e meia” de basquete – também foi acompanhada Brasil afora por conta das transmissões dos canais ESPN e milhares de pessoas puderam sentir a mesma emoção, mesmo que a quilômetros de distância do ginásio localizado em São José dos Campos. A audiência foi incrível e, não à toa, a #LigaOuroNaESPN foi um dos assuntos mais falados no Twitter no Brasil nesta quarta-feira, mesmo em meio à Copa do Mundo.

Mas para quem pôde acompanhar a partida in loco, mais especificamente de dentro da quadra de um dos ginásios mais especiais do basquete nacional – como é bom voltar a ver o Lineu de Moura PULSAR -, a emoção certamente foi diferente. Mais do que isso, tive o prazer de ver com meus próprios olhos algumas histórias que marcaram uma das partidas mais históricas do basquete nacional, quiçá mundial.

Reggie monstro, Schneider clutch, Brandon “maluco” e torcida no banco

Reggie, talvez o personagem principal da “Batalha do Lineu de Moura”, foi monstruoso. Dos 60 minutos de jogo, o norte-americano atuou por mais de 47, recebeu 13 faltas e seus incríveis 38 pontos – maior marca da história da Liga Ouro – foram para lá de fundamentais para o triunfo alvinegro. Só entre o último período e as quatro prorrogações, o ala/pivô anotou 23 pontos. Seu aproveitamento nos arremessos de quadra foi espetacular, com 11 acertos em 17 tentativas, um deles a jogada mais bonita do jogo, numa cravada espetacular.

Outro atleta clutch na vitória do Corinthians foi Schneider. Sempre com muita vibração e intensidade dentro de quadra, o camisa 13 superou um início ruim na partida e marcou 13 de seus 24 pontos no jogo durante as duas últimas prorrogações. No último tempo extra, o ala de 32 anos fez lindas jogadas individuais e deu ao Corinthians uma tranquila vantagem no placar.

A atuação de Schneider fica ainda mais gigante, já que nas duas últimas prorrogações, o Corinthians não tinha seus dois principais condutores, Gustavinho e Humberto, ambos eliminados com cinco faltas, e ainda perdeu Brandon, que trombou com o companheiro Pastor em disputa no garrafão no final da segunda prorrogação e sofreu um profundo corte na boca e no nariz.

Com um sangramento muito forte, o norte-americano foi levado rapidamente para os vestiários e o mais indicado seria ir direto para o hospital. Mas ele não queria saber disso e voltou para a quadra. Mesmo com o fisioterapeuta do Corinthians insistindo “cara, é a sua vida”, o camisa 22 bateu o pé e com uma gase no nariz e outra na boca voltou para o banco de reservas para ainda jogar mais dois minutos durante a terceira prorrogação.

Depois, com o bom rendimento da equipe no quarto tempo extra, Brandon acabou preservado por Bruno Savignani e foi mais um “no bando de loucos” que se transformou o banco corintiano. Praticamente como uma extensão da torcida alvinegra, que fez muito barulho mesmo em pouco número no Lineu de Moura, todos do banco do Corinthians fizeram muita festa a cada lance. Titulares absolutos, mas eliminados com faltas, Gustavinho e Wagner, por exemplo, foram uns desses principais “torcedores”.

Alexandre “guerreiro”, Atílio frio, Márcio aos 42 e estreia de garoto

Do lado joseense, um dos grandes personagens da história intensa e emocionante do jogo 3 das Finais da Liga Ouro foi Alexandre Pinheiro. Com lindas jogadas individuais, o camisa 7 puxou a reação do São José no quarto período – a equipe perdia por dez pontos, com quatro minutos para o fim – e ainda foi o responsável pela assistência para Márcio Dornelles empatar o jogo praticamente no último lance. Só que nesta jogada, ele sentiu uma fisgada na coxa e, ainda assim, seguiu no jogo para atrapalhar o último arremesso do Corinthians.

Logo que o cronômetro estourou e a decisão foi para a prorrogação, Alexandre desabou no chão e, assim que o médico do São José se aproximou, o jogador já sabia que algo sério tinha acontecido: “estirou”, disse apontando para o músculo posterior da coxa esquerda. Sem condições de atuar no restante da partida, o jogador “não saiu do jogo” e quando Hélio precisou deixar a quadra após receber falta, Alexandre rapidamente colocou o tênis e, em um ato de valentia, se ofereceu para bater lances livres decisivos na segunda prorrogação.

+Tem que suar: equilíbrio toma conta da decisão da Liga Ouro 2018

Apesar dele estar disposto a ajudar a equipe, o técnico Jaú não quis “sacrificar” o atleta e optou por outro para a dura missão de arremessar dois lances livres a três segundos do fim da primeira prorrogação, com o São José perdendo por dois pontos. O escolhido foi o experiente pivô Atílio, que tinha apenas 31 lances livres arremessados em toda a competição antes da partida. Com muita frieza, o grandalhão de 2,05m de altura converteu os dois e levou o jogo para mais um tempo extra.

O pivô voltaria a ser protagonista na partida, no final da segunda prorrogação, novamente com dois lances livres convertidos, desta vez para deixar sua equipe em vantagem, com 12 segundos para o fim.
Em meio a todo o cansaço dos atletas em quadra, depois de mais de 50 minutos de basquete, Rafa Moreira teve câimbras na panturrilha. Mesmo sem conseguir correr direito, o atleta seguiu em quadra e ao passar perto do banco de São José ouviu um sonoro incentivo do companheiro Márcio Dornelles, que se levantou e disse “bora pro jogo, bora guerreiro”.

Aos 42 anos, Márcio também certamente será um dos personagens a serem lembrados do eterno 20/06/18. Mesmo com uma lesão na costela, o jogador atuou por mais de 40 minutos e só deixou a quadra quando foi eliminado com cinco faltas, na metade da segunda prorrogação. Quem diria que o consagrado atleta iria vivenciar uma partida dessa em sua 23ª temporada como profissional.

Já para o jovem pivô Sergio, de apenas 17 anos, a sensação de participar de uma partida histórica veio logo na estreia entre os profissionais. E que estreia! Prata da casa, o promissor atleta de 2,08m de altura fez sua primeira partida na equipe adulta do São José, em uma situação nada tranquila. No começo da quarta prorrogação, Rafa foi eliminado com cinco faltas e o técnico Jaú escolheu o garoto. O desempenho não foi dos melhores, mas certamente Sergio tirará importantes lições e lembrará daqueles “eternos” quatro minutos para sempre.

Obrigado, basquete

Em meio a 60 minutos de muita emoção e conta muita história para contar, a única coisa que posso dizer é “obrigado, basquete”. Todo esporte tem sua peculiaridade, mas o nosso da bola laranja mostra cada dia mais o quão emocionante, impressionante e apaixonante é. Certamente, a “Batalha do Lineu de Moura” será um exemplo eterno das três características mais marcantes da modalidade que encanta, impressiona e apaixona cada dia mais.