HOJE
REVIRAVOLTAS
Por Arthur Salazar
A primeira fase da LDB proporcionou jogos incríveis e, o mais especial, viradas emocionantes que entraram para a história do maior torneio de base do país
Artigo escrito por Arthur Salazar via Collab NBBxPosterizamos
Na LDB cada jogo vale muito. Cada cesta muda o patamar de um jogador; cada bola perdida muda o futuro de um time e cada virada muda completamente a narrativa da competição. As reviravoltas constantes nas partidas da Liga de Desenvolvimento podem criar uma familiaridade com o inesperado, que, às vezes, normaliza alguns momentos com consequências gigantescas para o decorrer da competição. No caso da etapa que aconteceu no Rio Grande do Sul, duas viradas já mudaram o destino para alguns protagonistas dessa LDB e contam muito na matemática da classificação para a próxima etapa.
Logo de início, no primeiro dia de jogos em Santa Cruz do Sul, o duelo entre o Cerrado Basquete e o Coritiba Monsters já ditou o ritmo imprevisível da competição mais importante do basquete de base. Liderados pelo ala João Camargo, o time do centro-oeste controlou a partida e entrou no último período com a liderança no placar (54 a 45) e caminho traçado para uma vitória esperada do time que carregava o status de equipe a ser batida. Tudo nos conformes para o Cerrado. Mas como o texto de hoje é sobre viradas, é óbvio que rolou uma reviravolta nos dez minutos decisivos.
Com oito no relógio, o placar sinalizava uma vantagem constante para o Cerrado (56 a 49), que, mesmo com altos e baixos, caminhava rumo a estreia esperada contra um adversário, na teoria, inferior. Pulando três minutos e dezesseis segundos pra frente, o Coritiba Monsters acumulou dez pontos seguidos sem tomar uma cesta e assumiu a liderança com toda imposição que uma virada de último quarto garante. Após essa corrida paranaense, o momento da partida (aquele que normalmente conta a história do jogo melhor do que qualquer análise) nunca mais escolheu o lado brasiliense, que se tornou refém do próprio desleixo com a hegemonia no placar. Basicamente, foram 25 pontos do time paranaense no último período, contra apenas 10 do rival brasiliense, que viu sua liderança e a possibilidade de começar com o pé direito desmoronarem em questão de minutos.
Para o Cerrado, essa derrota significou a necessidade de superar todos os seus adversários para se garantir no topo da etapa (coisa que o time do centro-oeste fez). Ao todo, quatro vitórias e uma derrota neste início de LDB ainda colocam os brasilienses na disputa séria para o mata-mata, mas, é fato que sem a virada contra o Coritiba o caminho para o Cerrado estaria muito mais pavimentado. Afinal, o Grupo B é recheado de favoritos como: Paulistano, Corinthians e Franca; que definitivamente não vão vender um espaço no Top 3 com desconto. A derrota para o Coritiba força uma vitória do time do centro-oeste contra um dos principais do seu grupo, ou seja, o Cerrado não pode se permitir errar desse jeito de novo se sonha com uma LDB22 acima da performance de 2021.
Além do Cerrado, o Vasco/Tijuca foi o outro time da etapa de Santa Cruz do Sul a ganhar quatro das cinco partidas, porém, se o brasiliense perdeu vítima de uma virada, os cariocas foram os donos de uma guinada no placar de proporções épicas.
O confronto contra o Caxias era daqueles que os jogadores marcam a data no calendário, vestem o melhor tênis e ouvem a playlist mais motivacional possível, o famoso jogo de seis pontos (referência futebolística chata mas que explica tudo). Para muitos, a campanha fenomenal do Vasco, até o momento do embate, só seria de real importância com uma vitória neste confronto entre dois times de mesmas ambições e patamares na LDB.
O primeiro quarto foi do Vasco. 23 a 17, com direito a 13 de Matheusinho que mais uma vez liderava o seu time de formação e a turma de meninos que o acompanhava com maestria. Mas, se o começo de jogo foi bem vascaíno, o segundo quarto foi o do ajuste caxiense e da experiência de um time mais rodado e que tem todas as qualidades de uma boa zebra. 21 a 7 para o time gaúcho, e apenas um ponto de Matheusinho do lado cruzmaltino. Resultado de uma equação baseada em erros vascaínos e uma defesa muito mais consciente do Caxias Basquete. Ao fim dos primeiros vinte minutos, o placar favorecia o time do Rio Grande do Sul: 38 a 30, mas aquele mesmo “momento” (que já usei pra defender minha linha de raciocínio) era totalmente gaúcho.
Na volta para a parte decisiva do jogo, mais do que a liderança do líder conhecido e do qual não repito o nome por redundância, foi necessário grande atuação do coadjuvante mais promissor do time carioca: Cauã Euler. Até porque, logo de cara, o Vasco escolheu o ataque à defesa e contou com 18 pontos feitos e 11 sofridos, na primeira metade do terceiro quarto, para forçar um tempo técnico adversário que consolidava a mudança de ares da partida. Ao fim do período, a dupla Matheusinho-Cauã acumulava 36 dos 47 pontos vascaínos e diminuía a vantagem caxiense pela metade (61 a 57). Vale pontuar também a maturidade dos meninos do Caxias, que, mesmo sofrendo pressão e atrás do placar em alguns momentos, chegaram ao último quarto com a liderança e o jogo ainda em mãos.
Evidentemente, foi nesse momento decisivo que o Vasco/Tijuca aplicou a injustiça e a justiça máxima e se apegou à liderança com seis minutos restando na partida. Para o Caxias, a injustiça mora no fato de que esse foi o dono da partida por mais da metade do tempo de jogo e que sofreu uma virada depois de aplicar uma. Já a justiça, se baseia exatamente nessa reabilitação carioca e na capacidade impressionante de fechar jogos muito por conta daquela dupla de armadores. O ídolo: Matheusinho fechou o quarto período com 9 pontos e a partida com 32p/11r/5, enquanto o sucessor em formação: Cauã Euler, terminou os últimos dez minutos com 6 pontos e o jogo com 21 totais; nenhum erro e apenas cinco tentativas que não contaram no placar.
Ao fim de jogo, o Vasco se sagrou vitorioso; consolidou seu status no topo da etapa (ao lado do Cerrado); venceu o jogo de seis pontos; tirou o Caxias do caminho e enriqueceu a história desse timaço com potencial de zebra escancarado consciente de que cada jogo vale muito na LDB.