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Trabalho de limpeza
Por Juvenal Dias
Ruan Miranda, do Flamengo, e Lucas Cauê, do Corinthians, treinam muito duro para fazer o "trabalho sujo" no garrafão, mas também podem ser protagonistas nas quartas
No Clássico das Multidões, que será um dos confrontos de quartas de final do NBB CAIXA 2024/25, há muitos candidatos a protagonistas e dá para pensar em equilíbrio de forças fora do perímetro. Dessa forma, com todos os olhos nos arremessadores de três pontos, quem tiver um diferencial no garrafão pode fazer a balança pesar a seu favor. Assim, Ruan Miranda, do Flamengo, e Lucas Cauê, do Corinthians, têm as artimanhas e explicam como podem se destacar no confronto que reedita as quartas de final da temporada 2021/22.
Apesar de Flamengo e Corinthians terem ficado em colocações distantes na temporada regular, o confronto sugere uma igualdade digna das camisas que carregam. Se for analisar posição por posição de dois possíveis quintetos titulares, Alexey tem um conjunto muito bom, mas Elinho é uma máquina de assistências. Há dois americanos para cada lado que são bons chutadores de longe: Shaq Johnson e Jordan Williams, pelo Rubro-Negro, e Melvin Johnson e Elyjah Clark (ou Munford), para o Timão. Na posição quatro, muita entrega, força e técnica de Kayo e Victão. Dois fatores podem fazer diferença: a qualidade no banco e a posição que restou, os pivôs.
Trabalho pesado
No caso dos titulares de Flamengo e Corinthians, Ruan e Lucas Cauê têm sido dominantes na área pintada e contribuem muito para a evolução dos seus times ao longo da temporada. Com 23 anos de idade e muito vigor físico, Ruan é o terceiro do time com a maior pontuação, 11,2 pontos, e segundo em eficiência, 13,2. Quatro anos mais experiente e voltando ao seu auge, Lucas Cauê tem uma atuação ainda mais destacada para seu time, sendo o terceiro em pontos (11,6) e líder em eficiência (16,1), sem contar que figura entre os cinco com mais assistências.
Em comum, os dois lideram suas equipes na busca do tão famigerado rebote. Ruan, com 5,9 por jogo (19º de todo o NBB CAIXA), e Lucas Cauê, com 7,3 (6º). O pivô do Flamengo vai muito bem no ataque, com 2,51 por partida, o que o coloca como o 5º melhor da temporada. Isso gera seguidas segundas chances ao ataque rubro-negro. Com 5,45 nos defensivos, Lucas Cauê é o 4º que mais desafoga a defesa e impede novos ataques do oponente. No basquete, é o chamado “trabalho sujo”.

Ruan Miranda não tem vida fácil na busca dos rebotes ofensivos para o Flamengo. Foto: Hermes de Paula/ CRF
“O ‘trabalho sujo’ dos rebotes é algo que nós treinamos todos os dias, porque sabemos que nos playoffs cada posse é decisiva. Gosto dessa função porque sei o quanto ela impacta no desempenho do time”, explicou Ruan. “Essa questão de ‘trabalhar sujo’ no que diz respeito ao rebote, trabalhamos ela todos os dias. O Wesley (de Aguiar), o assistente técnico, é um cara que martela muito nessa questão. Ele sempre está lá todos os dias falando, principalmente para mim, mas também para todo mundo, o quão importante é pegar o rebote. Quando se diz ‘trabalho sujo’, para mim fica muito mais evidente a minha função no time”, completou Lucas Cauê.
Outras valências
Mas essa não é a única característica que os faz ótimos pivôs. “Um bom pivô precisa ter presença física, leitura de jogo, posicionamento e muita entrega. Acredito que minha energia e força no garrafão são meus pontos fortes, mas sigo trabalhando bastante minha leitura ofensiva e movimentação sem a bola para seguir evoluindo”, avaliou o pivô flamenguista.
“Para mim, as principais características que um pivô deve ter são, primeiro, altura. Mas ser forte e duro dentro do garrafão e fazer ‘trabalho sujo’, pegar rebote, dar toco, proteger o aro e fazer bons bloqueios para que possamos abrir caminho para os laterais (alas) ou armadores. Acho que faço muito bem essa função do corta-luz e no bloqueio de rebote. Preciso muito melhorar ainda para dar tocos e ser mais ágil defensivamente. Mas pegar rebotes e fazer bloqueios, sou muito bom, além da bolinha de dois, já que temos que dominar o garrafão e acredito que faço isso bem nas oportunidades que tenho”, analisou o pivô corinthiano.
Impacto no duelo dos snipers
Ruan Miranda e Lucas Cauê enxergam que Flamengo e Corinthians possuem muitas peças de qualidade para buscar muitos pontos na partida do lado de fora do perímetro. De toda a temporada, o Mengão é o quarto melhor na quantidade de cestas de três (30,16 pontos) e na taxa de conversão desses lances (34,58%). Já o Alvinegro marca ainda mais pontos (31,5) sendo o terceiro melhor do NBB CAIXA, mas tem uma taxa de conversão ligeiramente inferior (34,64%), sendo o quinto da competição.
Aí que entra o papel dos pivôs, já que os números, quando se tratam de dois pontos, não são tão semelhantes. O Flamengo é o quarto na pontuação interna (39,89 por jogo) e é o segundo na taxa de conversão (56,36%). O Corinthians ocupa a nona colocação nos pontos (37,11) e é o sétimo na taxa de conversão dos arremessos (52,77%). É claro que estatística não entra em quadra e dá apenas um parâmetro, o jogo se resolve com quem entra. Não à toa, o time paulista levou a melhor nos dois confrontos da temporada regular sobre a equipe carioca.
Mas, esses números ajudam a corroborar com o que pensam Ruan e Lucas Cauê sobre a importância de ter um garrafão forte. “Contra o Corinthians, com dois times que chutam bem de fora, o jogo no garrafão pode sim fazer a diferença. Precisamos nos impor lá dentro, buscar os rebotes e abrir espaço para os nossos chutadores”, alegou o camisa 30 do Rubro-Negro. “O jogo dentro do garrafão pode ser o diferencial pela classificação, pelo fato de eles também terem um garrafão muito forte. Eles têm o Ruan, infelizmente, o Gallizzi está machucado, mas também têm o Kayo, o Siewert, o Jhonatan nem preciso nem falar. Mas nós também temos um garrafão bem forte, o Victão, que apesar de chutar de fora, joga muito bem dentro do garrafão. O Munford é um jogador muito duro que vai executar bem essa função dentro do garrafão. O rebote ofensivo pode ser um diferencial muito grande nessa questão do jogo, porque nós temos bons chutadores, então, vamos ficar mais com esse trabalho de brigar dentro do garrafão”, completou o camisa 23 do Timão.
Diferencial que vira zoeira
Quando se fala de pivôs, quase ninguém relaciona que jogadores dessa posição podem dar assistências e servir os companheiros. Geralmente, é o contrário, pois estão mais próximos do aro. Na atual temporada, Ruan tem média de 0,46 assistências por jogo e é o 9º do Flamengo. Já Lucas Cauê tem 1,47 assistências por jogo e é o 4º do Corinthians. Quando esses fatos raros ocorrem na partida, o restante dos elencos até brinca com os pivôs. “O pessoal sempre tira uma onda quando rola um passe mais bonito, mas é algo que venho buscando desenvolver, porque sei que ajuda o time”, afirmou Ruan.
“O pessoal tira sarro só quando saem umas diferentes, umas de costas, umas sem ver. Aí o pessoal fala que baixou o espírito de armador. Eu, com o Elinho lá, todo dia… Você tenta pegar um pouquinho do ‘poder’ dele. Mas depende da assistência, se foi um negócio muito absurdo, a galera dá uma brincada sim depois”, revelou Lucas Cauê.

Lucas Cauê comemora muito quando dá aquele toco para o Corinthians. Foto: Beto Miller/ Corinthians
Outra coisa que marca atuações de pivôs são as enterradas e os tocos. Na temporada, Ruan protagonizou 33 enterradas, com uma média de 0,94 por partida, sendo o terceiro maior de todo o NBB CAIXA. Lucas Cauê tem 22 cravadas, com média de 0,58 por jogo (16º entre todos os jogadores). Já de tocos, Ruan tem 17 e, com média de 0,49 por partida, é o 27º, enquanto Lucas Cauê tem 32 e, com 0,84 de média, é o 5º melhor. Mas, afinal, o que preferem: um toco que a bola vai longe ou uma cravada correndo livre?
“Entre uma cravada e um toco, eu fico com o toco. Aquele que levanta a torcida e mostra que quem manda ali somos nós”, declarou Ruan. “O toco é mais desmoralizante. Agora, enterrada na cabeça de alguém que está tentando te dar esse toco desmoralizante, é pesado também. Mas entre a cravada de caminho aberto e o toco, eu fico com o toco, é mais desmoralizante”, concordou Lucas Cauê.
De “trabalhadores sujos” a “garçons desprestigiados”. De pontuações mais simples aos lances mais imponentes. Assim é a vida dos pivôs Ruan Miranda e Lucas Cauê, que vão se digladiar para que Flamengo ou Corinthians avance às semifinais e possam viver mais glórias.
O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica e Governo Federal, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Penalty, Universidades Cruzeiro do Sul, UMP, Whirlpool e apoio oficial Infraero, IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.